A primeira vez que o vi, soube que era errado.
Ele estava sentado no fundo da sala, um copo de uísque na mão, o terno escuro desalinhado como se tivesse acabado de sair de uma briga. Ou de uma cama. O olhar dele me atravessou como uma lâmina. Era dono do lugar, e de todos os pecados que ali nasciam.
Na boate, todos o chamavam de Sr. D.. Eu só descobri seu nome verdadeiro quando ele me puxou pelo braço e sussurrou no meu ouvido:
— Você vai se acostumar a gemer meu nome: “Dante.”
Era minha primeira noite como dançarina. Meu vestido era curto demais, minha maquiagem, borrada de nervosismo. Mas ele… ele parecia ter esperado por mim a vida inteira.
— Por que está aqui? — ele perguntou. A mão em minha cintura queimava mais do que o holofote.
— Porque preciso de dinheiro.
— E vai vender-se por tão pouco?
Engoli em seco.
— Só vou dançar. Nada mais.
Dante sorriu. Um sorriso de predador.
— Todos dizem isso… no início.
Naquela noite, dancei como se estivesse sendo observada por um Deus do submundo. E estava. A cada movimento, sentia os olhos dele me despindo. A cada rebolado, o poder dele me cercava como uma corrente invisível.
No final do número, ele me esperava atrás do palco.
— Venha comigo. — ordenou. Não pediu. Ordenou.
— Não sou esse tipo de garota.
— Vai ser. Pelo menos, pra mim.
E antes que eu pudesse responder, ele me puxou pela nuca e selou meus lábios com um beijo que não era beijo. Era invasão. Era profanação. Era possessão. Quando nossos lábios se separaram, eu já não era a mesma.
— Você é minha. Só não sabe ainda.
Nos dias seguintes, ele me observava em silêncio. Sentado na mesma poltrona, no mesmo canto escuro. Nunca tocava em mim. Mas eu sentia o corpo arder só com o olhar dele.
Às vezes, mandava presentes: uma gargantilha de couro com uma rosa vermelha, um par de saltos altíssimos, uma caixinha com um bilhete escrito à mão:
— “Para quando decidir se ajoelhar.”
Era cruel. Era erótico. Era como se ele entrasse na minha cabeça e bagunçasse tudo o que eu achava que conhecia sobre mim mesma. E eu... eu odiava o quanto queria me render.
Na terceira semana, não resisti.
Fui até a cobertura dele após o expediente. Entrei sem bater. O segurança apenas assentiu, como se já esperasse. Ele estava de pé, perto da janela. Camisa aberta, copo de uísque na mão.
— Pensei que demoraria mais pra vir rastejar. — disse, sem se virar.
— Não rastejei. Vim por vontade própria.
— Isso é o que você pensa.
Ele se virou lentamente. Me olhou como se já me tivesse há anos.
— Tire a roupa.
— Achei que quisesse conversar.
— Não vim ao mundo para conversar, princesa. Vim para dominar.
Minha pele arrepiou.
Tirei a roupa. Cada peça, sob o olhar dele. Quando fiquei nua, ele se aproximou com passos lentos, como um lobo farejando a presa.
— Olhe para mim.
Obedeci. E os olhos dele queimaram dentro de mim.
— Vai aprender a gritar no silêncio. — sussurrou, antes de se ajoelhar diante de mim.
Dante não fez amor. Ele marcou. Com os dentes. Com as mãos. Com as palavras.
Me amarrou à cama com fitas de cetim preto. Tocou cada centímetro do meu corpo com um controle absurdo. Era paciente. Devasso. Intenso.
Me fez gøzar só com a boca na minha bct. Só com a voz.
— Você é minha obsessão, minha maldição. Vai implorar pra ser minha. E eu… ainda vou dizer não, só pra ver você se perder mais.
Eu perdi a noção do tempo. Gemi, supliquei, chorei e implorei sem pudor. E ele apenas sorria, satisfeito por me ver ruir.
A cada encontro, uma nova camada de mim era arrancada.
Dante era mais do que um amante. Era um demônio com mãos de amante e olhos de carrasco. Eu sentia prazer... até mesmo na dor. E ele sabia.
— Você sente isso porque nasceu pra mim, boneca. Qualquer outro te amaria… mas só eu te destruo do jeito que você deseja.
Ninguém jamais me tocou como ele. Ninguém jamais me viu como ele via. Então ele desapareceu. Sem explicação. Sem aviso.
Fiquei três semanas sem notícias. Achei que tinha sido abandonada. Mas o inferno dele... já tinha morada dentro de mim. No 23º dia, chegou um envelope. Dentro, apenas uma foto:
Eu, dormindo na minha cama. E uma frase:
— “Se você acha que fugiu… está enganada. O jogo só começou.”
Na noite seguinte, entrei no meu apartamento e senti o cheiro dele no ar. Estava escuro, silencioso. Mas eu sabia. Sabia que ele estava lá.
— Dante? — minha voz saiu baixa.
A porta se fechou atrás de mim. Ele surgiu da penumbra como um fantasma sensual. Camisa preta, olhos famintos.
— Senti sua falta, boneca.
— Então por que me deixou?
Ele me encurralou contra a parede. Segurou meu rosto entre as mãos.
— Porque precisava que sentisse a minha falta. Precisava que entendesse… que eu sou o vício do qual você nunca mais vai se livrar.
Me beijou. Devastador, obsceno, sujo de desejo. Me levantou no colo e me levou até o chão da sala. Lá, me despiu como se fosse a primeira vez. E a última. Transamos ali, entre promessas sussurradas e gemidos abafados.
— Você é minha doença. Minha cura. Meu abismo e meu céu. Vai gritar meu nome, até o mundo esquecer o seu.
E eu gritei.
E desejei nunca mais me lembrar de quem fui antes dele.