Dark Side
Capítulo 1 — O Mundo Sem Cor
Chovia como sempre naquela cidade onde o céu parecia ter esquecido como era ser azul. As gotas desciam pesadas, como lágrimas velhas e cansadas, lavando ruas vazias e corações partidos. Sentada perto da janela do quarto, uma garota observava o mundo lá fora como quem observa um filme estrangeiro sem legendas.
Seu nome era Elena.
— "Deve ser bonito viver lá fora..." — murmurou para si mesma, traçando com o dedo um caminho invisível no vidro embaçado.
Aos 17 anos, Elena não acreditava mais em promessas, nem em finais felizes, nem em pessoas. Na sua visão, o mundo era preto e branco — não como um filme clássico, mas como uma prisão emocional, onde cada cor tinha sido drenada por uma força que ela não compreendia.
O tempo todo, todos diziam:
— “Você precisa sair mais, Elena.”
— “Vamos ao cinema!”
— “Temos uma festa sábado, vai ser divertido!”
Mas ela sempre sorria de leve — aquele sorriso educado, vazio, automático — e dizia:
— “Ah, desculpa... tenho que ajudar minha mãe.”
— “Não tô muito bem hoje...”
— “Quem sabe na próxima?”
Mas não havia próxima. Nunca havia. Porque não era a falta de tempo. Era a falta de sentido.
Na escola, as cores vibravam nas roupas, nos corredores, nos cadernos dos colegas. Mas tudo o que ela via era um tom cinza espalhado pela vida. Os sorrisos dos outros pareciam falsos, as risadas soavam como ecos vazios.
> "Será que eles realmente estão felizes ou só estão fingindo melhor que eu?"
"Será que alguém mais sente esse buraco, esse cansaço de existir?"
Era isso o que martelava na sua mente todos os dias.
E a pior parte?
Ela não sabia dizer o que estava errado.
Ninguém via o que acontecia por dentro. Por fora, Elena era apenas a garota silenciosa, a tímida, a "meio esquisita", mas bonita. Alguns garotos se interessavam, algumas meninas tentavam ser amigas. Mas ninguém ficava. Porque ela nunca deixava.
Ela sempre erguia barreiras invisíveis.
Medo. Desgaste. Insegurança.
Como se estivesse tentando se proteger... de si mesma.
Certa tarde, enquanto voltava da escola, uma colega, Ana Clara, se aproximou.
— “Elena! Ei! Me espera!”
Ela hesitou, mas parou. Ana Clara correu até ela, ofegante.
— “Você... tá bem? Faz dias que eu queria te chamar pra sair. Eu e o pessoal vamos no parque hoje. Só caminhar, dar risada, nada demais. Vem com a gente?”
Elena olhou diretamente nos olhos dela. Queria dizer sim. Queria tanto...
Mas o peso no peito falava mais alto.
— “Desculpa... não posso hoje. Tenho umas coisas pra fazer.”
Ana Clara franziu a testa, desconfiada.
— “Você sempre tem coisas pra fazer, Elena.”
— “Eu sei... desculpa mesmo. Outro dia, talvez.”
Ana Clara sorriu, mas era aquele sorriso que tem gosto de decepção. E foi embora.
Sozinha, novamente.
Naquela noite, Elena se trancou no quarto, como fazia todos os dias. Ligou a música no fone de ouvido — mas nenhuma canção conseguia preencher o silêncio real que existia dentro dela.
Era como viver num mundo quebrado onde ninguém percebia que você estava despedaçada.
Ela pegou o caderno onde escrevia frases, pensamentos soltos. Havia páginas inteiras preenchidas com palavras como:
> “Cansaço é viver fingindo estar bem.”
“Sorrisos são máscaras bonitas.”
“Não me peça para explicar o que nem eu entendo.”
Lá fora, os trovões cortavam o céu.
Mas aqui dentro... ela era o próprio caos.
Deitou-se na cama, olhando para o teto. A respiração lenta. A mente agitada.
— “Talvez eu seja só assim. Sozinha mesmo. Algumas pessoas simplesmente não nasceram para o mundo…”
E então, algo sussurrou em sua cabeça.
> “Ou talvez... você só esteja presa no seu próprio lado escuro.”
Ela fechou os olhos, assustada.
Esse pensamento não era só um pensamento.
Era uma voz.
Fria.
Familiar.
Sombria.
Ela não estava sozinha dentro da própria mente.
E isso… era só o começo.
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