O quarto de Jackson estava mergulhado numa penumbra confortável, iluminado apenas pelas luzes azuladas da fita de LED no teto. Era sábado à noite, e Eli estava ali mais uma vez, sentado na beirada da cama com as mãos cruzadas entre os joelhos, tentando fingir que o coração não estava batendo como se quisesse escapar do peito.
Jackson falava animado, jogado de lado, com a cabeça apoiada em uma das almofadas e os pés descalços tocando levemente os dele. As garotas que iriam à formatura com eles tinham mandado mensagem, confirmando o plano: depois da festa, iriam todos para a casa de praia da família de Jackson, sem adultos, sem limites.
— Cara, vai ser perfeito.
Jackson disse.
— A noite toda só nossa. A Olivia é muito na dela, mas acho que ela curte você.
Eli forçou um sorriso.
— Hm. Legal.
— Legal? Só isso? Achei que você ia estar surtando de empolgação.
Eli hesitou. Olhou pro teto, depois pro rosto despreocupado do amigo.
— É que… não sei se tô pronto, Jackson.
— Pronto? Como assim?
Silêncio. Eli sentiu a garganta secar. Ele podia simplesmente dar risada, fingir que era timidez e seguir o plano. Mas algo dentro dele apertou.
— Eu nunca… nunca fiz nada com ninguém, sabe?
— Ué, tudo bem, por isso mesmo é legal. Primeira vez e tal…
— Mas nem beijar eu sei direito. Tipo… eu beijei uma gaita de plástico uma vez quando era criança. E juro que nem foi um beijo bom.
Tentou brincar, rindo fraco.
Jackson riu alto, rolando para o lado.
— Você é bobo, cara. Ninguém nasce sabendo.
Mas Eli ainda parecia triste. Jackson se compadeceu de alguma forma e pensou em como poderia ajudar o amigo. Sem pensar muito,perguntou:
— Quer que eu te mostre?
Eli travou.
— Quê?
Jackson se sentou, ainda sorrindo divertido como sempre.
— Tipo… posso te beijar agora. Só pra você ver que não é um bicho de sete cabeças.
Eli ficou em silêncio. Era isso. O que ele imaginou mil vezes em sonhos silenciosos. O que fantasiou escondido, com vergonha de si mesmo. E agora estava ali, de verdade, na forma de uma oferta casual. Como se não fosse nada.
— E então?
— Tá… tá bom.
Ele disse baixo, quase sussurrando.
Jackson se aproximou. O quarto pareceu encolher, o som do ventilador ficou abafado. Eli sentiu um calor subir pela nuca, as mãos suando. Quando os olhos de Jackson encontraram os seus, por um instante tudo parou.
Então, devagar, Jackson encostou os lábios nos dele.
Foi um toque simples, mas Eli sentiu como se o universo tivesse prendido a respiração. Os lábios eram macios, quentes. O beijo não tinha pressa. Era como um segredo sendo revelado com cuidado, como se Jackson estivesse lendo uma carta esquecida dentro dele.
Eli fechou os olhos. Seu corpo ficou rígido no começo, mas aos poucos cedeu. A respiração ficou rasa. O estômago revirava. Não pela ansiedade, mas por um tipo de felicidade misturada com tristeza que ele não conseguia nomear. Ele queria que aquilo durasse. Queria que fosse real.
Jackson afastou-se devagar, abrindo um sorriso pequeno.
— Tá vendo? Você sabe beijar sim. Vai se sair bem com a Olivia.
E foi até a estante, pegando um pacote de salgadinhos, como se tivesse acabado de falar sobre o tempo.
Eli ficou parado. Os lábios ainda formigando. O coração ainda acelerado. Mas o mundo já tinha voltado ao normal, pelo menos, para Jackson.
Para Eli, não.
Para Eli, aquele beijo foi tudo.
E talvez, só talvez, Jackson não tivesse ideia do quanto tinha mexido com ele.