Título: "Os Corações Condenados"
Em um reino onde o Céu e o Inferno coexistiam em equilíbrio, dois mundos distintos nunca se tocavam. O Céu, radiante e sereno, era governado pela perfeição; o Inferno, sombrio e tumultuado, pela desolação. Entre os seres imortais, as leis eram claras: anjos e demônios eram inimigos naturais, opostos em tudo. Mas, como em todas as histórias que desafiam as leis do destino, o amor surge nos lugares mais inesperados.
Capítulo 1: O Encontro
Elyon, um anjo de asas douradas, era conhecido por sua pureza e devoção. Sempre cumprindo suas tarefas com uma serenidade que fazia inveja aos outros, ele nunca questionou as regras que governavam sua existência. No entanto, tudo mudou quando ele foi enviado a uma missão no reino do Inferno, uma tarefa simples: observar e reportar os movimentos das forças demoníacas.
Azrak, um demônio de aparência feroz, com chifres esculpidos como espadas e olhos que refletiam o fogo eterno, era o oposto de tudo o que Elyon representava. Ele governava um dos círculos mais violentos do Inferno, onde os demônios lutavam sem cessar e a dor era a única moeda de troca. Azrak jamais imaginou que algo pudesse romper sua existência impiedosa. Até que, em uma noite escura, ele encontrou Elyon.
O anjo estava ferido, sua missão falhara, e o destino o havia colocado diante do inimigo. Azrak, mais curioso do que hostil, decidiu não matá-lo. Em vez disso, ele ofereceu abrigo no calor de seu território. Elyon, ainda atordoado pela ideia de estar no Inferno, viu naquele olhar feroz algo diferente, algo que nunca imaginou ser possível: compaixão.
A princípio, Elyon tentou resistir à gentileza de Azrak. O anjo acreditava que, como era dever dos celestiais, ele deveria condenar o demônio, mas algo dentro dele se quebrou. A conversa que começou com uma frieza impessoal foi se tornando mais profunda, mais pessoal. Azrak revelou suas dores e frustrações, enquanto Elyon, em silêncio, compartilhou suas dúvidas sobre o sistema celestial e suas próprias inseguranças.
Com o tempo, os encontros tornaram-se mais frequentes, e, contra todas as expectativas, o que começou como uma amizade impossível foi se transformando em algo muito mais poderoso. Os sentimentos de Elyon por Azrak eram confusos, intensos e cheios de culpa. Ele sabia o que significava amar um demônio, mas o que fazer quando o coração não obedecia mais a razão?
Capítulo 2: A Queda
A verdade sobre o relacionamento entre o anjo e o demônio não passou despercebida. O Céu, representado por seus conselheiros e líderes, ficou em alerta. Amar um demônio era um crime tão grande quanto a traição, uma violação das leis mais antigas. A decisão foi unânime: Elyon deveria ser expulso, não apenas do Céu, mas também de seu próprio ser. Para o bem do universo, ele deveria ser apagado.
Azrak, ao descobrir a ordem que havia sido dada a Elyon, sabia que perderia seu amor, mas também compreendeu o peso da consequência. Ele tentou interceder, argumentando que o amor não deveria ser uma condenação, mas nada mudou. Ele mesmo estava condenado, pois seu envolvimento com um anjo era igualmente proibido e uma afronta às leis do Inferno.
O confronto foi inevitável. A luta entre o Céu e o Inferno explodiu como um furacão de fúria e luz. Elyon foi banido do Reino Celestial, suas asas queimadas até se tornarem cinzas, e Azrak, com seu próprio destino marcado, desceu ao abismo mais profundo do Inferno, onde se tornaria um prisioneiro de sua própria dor.
Capítulo 3: O Amor Condenado
Ambos estavam agora no limbo, exilados de seus reinos, condenados à solidão e ao esquecimento. Elyon e Azrak se encontraram uma última vez, em um lugar onde as estrelas já não brilhavam e o horizonte era apenas uma linha de escuridão.
“Será que foi realmente errado?”, Elyon perguntou, sua voz tremendo com a dor do arrependimento.
Azrak olhou-o nos olhos, os dois refletindo a mesma dor, a mesma perda. “Eu não sei, Elyon. Talvez o amor não devesse ter sido nosso. Mas, em algum lugar, eu acredito que ele existiu para nos mostrar que somos mais do que os seres que fomos feitos para ser.”
Elyon, com lágrimas nos olhos, tocou o rosto de Azrak, sentindo o calor do fogo que o envolvia. “Nosso amor foi uma chama que queimou tudo o que conhecíamos, mas talvez, só talvez, isso tenha sido o necessário para que ambos entendessem a verdade. Que não somos definidos pelas regras, mas por aquilo que sentimos.”
Eles se abraçaram, não como anjo e demônio, mas como dois corações condenados. Sabiam que não havia mais volta. O destino que os separava agora não importava, pois juntos, naquele instante de desesperança, encontraram algo que nenhuma lei do céu ou do inferno poderia destruir: a verdade de seu amor, mesmo que condenado.
Fim.