O ateliê cheirava a tinta fresca e mistério. Lucas era pintor — desses intensos, que carregam cicatrizes nos olhos e desejo nos dedos. E Daniel? Daniel era só o novo modelo contratado. Ou pelo menos era o que dizia ser.
— Pode tirar a camisa — disse Lucas, com a voz baixa, quase um sussurro carregado de intenções.
Daniel obedeceu, o tecido deslizando pelos ombros com a lentidão de uma provocação. Lucas não fingia. Seus olhos desciam pelas linhas do corpo à frente como se pintassem cada curva com fogo.
— Você sempre olha assim? — Daniel perguntou, a boca curvando num meio sorriso.
— Só quando estou prestes a me perder — respondeu Lucas, dando um passo à frente.
O silêncio se esticou entre eles como um fio prestes a se romper. Lucas se aproximou devagar, os dedos manchados de tinta tocando a clavícula de Daniel.
— Acho que essa pose precisa de mais... intensidade — murmurou, a mão descendo pelo peito nu, deixando marcas de tinta vermelha como se o estivesse pintando ali, vivo, respirando.
Daniel segurou o pulso dele, firme.
— Cuidado... você pode acabar me moldando demais.
— E se for isso que eu quero?
Os lábios se encontraram antes que qualquer outro aviso fosse dado. O gosto era de urgência, tinta e desejo contido. O cavalete caiu. A tela ficou esquecida. E naquela noite, entre pinceladas e toques, arte e prazer se misturaram num só quadro impossível de apagar.