Ó, era uma vez...
Era uma vez uma jovem, tão... impecável. Tão... intocável.
Era tão apaixonada, mas tão pouco amada. Ela era uma flor, um amor. Mas o seu esplendor... havia falecido.
Onde estava quando suas lágrimas brotaram em seus olhos puros, caindo para fora e escorregando em suas bochechas pardas?
– "Ela nunca será a primeira! Um homem como ele, não creio que, jamais estivesse só."
– "Claro que sim! Ela é a primeira! Não vê como ele a observa? Como seus olhos brilham ao vê-la? O sorriso que de seus lábios sai?"
"Veneno, veneno, veneno... [...]"
Esse som era... arrepiante.
Em todas as suas manhãs e noites, era ele que possuía seus pensamentos.
"Nojento, nojento, nojento... [...]"
A sua maior idade, Clotilde, tão sensível quanto porcelana, mas tão bruta como uma leoa a defender seu filhotes, acreditava que aquele homem, haveira de tê-la como primeira em sua vida.
Ora... mais que pesadelo.
Suas manhãs, quando saia de casa, se enchia de alegria ao vê-lo! Seus olhos brilhavam, um esboço de sorriso surgia, olhares furtivos, acenos suaves...
E quem diria, que isso seria, os últimos momentos antes do fim de suas lágrimas...
Ele a olhava, sorria.
Mas... com que olhar? Com que sorriso?
"Diversão, diversão, diversão... [...]"
Ela procurava, caçava no mais fundo abismo informações de sua vida. Era amor?... Paixão?... Obsessão?...
De um dia em diante, ela se perguntava...
– "Será que sou a primeira em sua vida? Será que estou em seus sonhos como ele está nos meus?" – Sua voz era tão suave, mas no fundo, estava cheia de pensamentos... pensamentos malignos.
"Não, não, não... diversão... [...]"
– "Ela se ilude com essa mentira? Garota tola. Ela nunca será a primeira! Um homem como ele, não creio que, jamais estivesse só." – O racional somente falou. Carregado em tons de aborrecimento e frustração.
– "Claro que sim! Ela é a primeira! Não vê como ele a observa? Como seus olhos brilham ao vê-la? O sorriso que de seus lábios sai?" – A emocional refutou, tão fraca, mas esperançosa. Era quase... idiota.
Ela continuou, procurando aos quatro ventos sobre seu amado, por seu nome achado, Valter.
Ora, mas seria ele solteiro, namorado, casado, divorciado?
Ela lançava seus olhares, ele retribuía. Mas será que era apenas fantasia?
Quanta enganação... tão pouca paixão...
O que seus pais diriam? Uma jovem tão crescida, tão querida, mas tão iludida...
Ele era realmente seu homem, que ela tanto declarava com as forças de sua alma?
Mas a sua alma está presa! Ela grita e espernea. Seu coração rasgado como se por mil facas.
[...]
Na noite, aquela noite, após tantos anos de tamanha ilusão e paixão... ela encontrou, o seu tão famoso amor.
Mas...
Havia algo mais...
Não era ele, não o homem que era dela. Mas o homem que era da outra.
Ó, maldita...
– "Como? Quando?" – Ela se perguntou. – "Isso é a visão do próprio inferno."
Mas... por que?
Ele era mais velho. Tinha que casar-se, não?
Uma obsessão...
Foi o fim da picada.
Ela sentiu-se traída, enganada... mesmo não tendo nada.
A mulher... aquela mulher... era a mulher dele. Ela não era a mulher dele, nunca foi.
Aquela foto... estava tão... feliz...
A forma como ela sorria, como ele... sorria. Aquele menino... havia um menino. Seu filho.
– "TRAIDOR!"
Ela chorou.
Seu racional estava certo. Ela nunca havia sido a primeira.
A sua noite foi miserável. Ó, como chorou. Mais que dor.
Seus dias tão alegres, se tornaram amargos. Seus olhos que tanto brilhavam ao vê-lo, escureceram, como o breu mais escuro. E, em seus pensamentos, ele morreu, faleceu como o ser que sempre foi, mas que por sua paixão, por sua ilusão, ela não o percebeu, e assim como ele, a sua alma morreu.
[...]
E ele se tornou, como todos, um homem invisível...