Prólogo: A Fortaleza em Ruínas
O cheiro acre de sangue e fumaça pairava no ar. O céu, tingido de um vermelho opressivo, refletia a carnificina que se desenrolava abaixo. Gritos de soldados feridos ecoavam pelas muralhas destroçadas da Fortaleza da União, misturando-se ao bramido do aço e ao estalar das chamas devorando o campo de batalha.
No meio do caos, Caim avançava com passos pesados. Seu corpo estava coberto de cortes profundos, e o calor do próprio sangue escorrendo por sua pele o mantinha ciente da gravidade de seus ferimentos. Ainda assim, sua determinação não vacilava. Sua espada, manchada com o sangue dos inimigos, era tudo o que restava entre ele e a morte.
Com um golpe impiedoso, ele trespassou o peito de um soldado inimigo, sentindo o tremor do corpo quando a lâmina rompeu ossos e carne. Retirou a espada num movimento brusco e deixou o cadáver tombar sem olhar para trás. O Império estava esmagando a União, reduzindo sua resistência a meros gritos moribundos. Mas ele não lutava por eles. Sua única razão para empunhar aquela lâmina era sua irmã. Furiae.
Um estrondo ressoou na fortaleza quando uma força colossal abalou as muralhas. Caim ergueu os olhos e viu a origem da destruição: um dragão vermelho, suas escamas brilhando como brasas incandescentes sob o céu carmesim.
Mas o que mais lhe chamou a atenção não foi sua imponência. O dragão estava acorrentado, aprisionado por enormes lanças de luz que selavam seus movimentos. O Império pretendia matá-lo ali mesmo, uma execução pública para provar sua força.
Caim sempre desprezou dragões. Criaturas arrogantes e destrutivas, que olhavam os humanos com desdém. Mas agora, enquanto sentia a própria morte se aproximando, compreendia a verdade amarga: se queria sobreviver, precisava da força daquela besta.
Ele se arrastou até o corpo ferido do dragão e apoiou uma das mãos em suas escamas quentes.
Uma voz ecoou em sua mente, profunda e imponente.
Você deseja viver?
A pergunta pairou no vazio. Caim cerrou os dentes.
Sim.
Uma luz ofuscante os envolveu. A magia do Pacto consumiu suas almas, unindo-as de forma irreversível. Caim caiu de joelhos quando sentiu sua voz ser arrancada dele, o preço pelo poder concedido. Mas naquele instante, sua força retornou. O dragão rugiu, suas correntes se rompendo como vidro.
A batalha começava de verdade.
Capítulo 1: A Deusa do Selo
O vento cortante chicoteava o rosto de Caim enquanto ele voava sobre as terras devastadas da União, montado no dorso de Angelus, o dragão com quem firmara o pacto. Abaixo deles, a destruição se alastrava como uma praga vilarejos queimados, campos de batalha repletos de cadáveres, rios tingidos de vermelho. O Império avançava sem piedade, esmagando qualquer resistência.
Mas nada disso importava para ele. Seu único pensamento era Furiae.
A Fortaleza da União, última resistência contra o Império, erguia-se no horizonte. Paredes robustas e torres de pedra sustentavam uma esperança frágil, mas cada vez mais próxima do colapso.
Quando pousaram no pátio interno, soldados recuaram, aterrorizados pela presença de Angelus. Mas um homem de vestes sacerdotais caminhou em sua direção sem hesitar. Era Verdelet, o sumo sacerdote da União.
Você fez um pacto com um dragão...
murmurou, seus olhos percorrendo a marca selada na língua de Caim.
Caim apenas o encarou. Sua voz havia sido tomada pelo pacto, e ele não perderia tempo tentando explicar suas razões. Verdelet, no entanto, compreendia a gravidade da situação.
Precisamos proteger a Deusa. Se Furiae cair, o selo que mantém o mundo em equilíbrio será rompido. O caos reinará.
Ele o guiou pelo interior da fortaleza até os aposentos de Furiae. Quando a viu, algo dentro dele se acalmou.
Ela estava sentada à beira da cama, as mãos cruzadas no colo, os olhos perdidos em pensamentos distantes. Sua beleza era frágil, etérea, como se pertencesse a um mundo que não deveria conhecer a guerra. Quando ergueu os olhos para Caim, um sorriso suave surgiu em seus lábios.
Irmão... você voltou.
Caim queria responder, dizer que nunca a deixaria sozinha, mas sua voz não existia mais. No entanto, Furiae parecia entender.
Inuart, um cavaleiro de confiança da União e amigo de infância de ambos, estava próximo. Seu olhar carregava algo sombrio, uma angústia que se intensificava a cada minuto.
Isso não é certo. Furiae não deveria carregar esse fardo. Ela não deveria ser um sacrifício.
Verdelet interveio.
Ela é a Deusa do Selo. O mundo depende dela. Não podemos questionar isso.
Mas Inuart apertou os punhos. Seus olhos traíam um desejo crescente.
Eu não posso aceitar isso. Não posso vê-la sofrer assim.
Caim não confiava em Inuart. Algo dentro dele lhe dizia que aquela obsessão ainda se tornaria um problema.
Antes que pudessem discutir mais, o alarme da fortaleza soou. O Império estava atacando.
O céu trovejava com o som de tambores de guerra.
Os portões da Fortaleza da União estremeceram quando os aríetes do Império os golpearam mais uma vez. Soldados da União corriam em todas as direções, gritos e ordens se misturando à confusão. O ar cheirava a cinzas e sangue.
Caim estava no alto das muralhas, observando a horda inimiga se aproximar. Angelus estava ao seu lado, as asas parcialmente abertas, os olhos escarlates brilhando com desdém.
Esses humanos são tolos. Insistem em lutar uma guerra perdida.
Caim não respondeu. Seus olhos estavam fixos em Furiae, que estava protegida em uma torre central, sob a guarda de Verdelet e alguns cavaleiros. Mas ele sabia que aquilo não seria suficiente.
O primeiro impacto foi devastador. As catapultas do Império lançaram pedras flamejantes, que abriram crateras nas muralhas e esmagaram soldados sob os escombros. Flechas negras cruzavam o céu como enxames de gafanhotos, perfurando carne e armaduras.
Irmão! A voz de Furiae ecoou em sua mente.
Caim saltou sobre o parapeito e caiu no campo de batalha, espada em punho. Cada golpe era preciso, cada movimento letal. O sangue espirrava em seu rosto, e seus músculos ardiam, mas ele continuava a avançar. O único pensamento que o impulsionava era proteger Furiae.
Mas então, um rugido ecoou pelos céus.
Um dragão negro.
Ele desceu como uma sombra da morte, suas asas imensas bloqueando a luz do sol. E, montado sobre ele, estava Inuart.
Caim sentiu um frio cortante no peito. O que ele fez?
Inuart pousou no centro do campo de batalha. Sua armadura negra reluzia com um brilho perverso, e seus olhos estavam diferentes vazios, mas ao mesmo tempo tomados por um fervor insano.
Caim... você nunca entendeu. Eu farei qualquer coisa para salvá-la. Mesmo que isso signifique destruir o mundo.
Seu tom era frio, como se estivesse convencido de que aquela era a única verdade.
Caim avançou, e suas lâminas se cruzaram em um choque de faíscas. O duelo foi feroz. Inuart, fortalecido pelo pacto, era mais rápido e mais forte do que antes. Caim bloqueou um golpe, mas o impacto o fez recuar.
E então, num instante de descuido, Inuart girou a espada e acertou um corte profundo no ombro de Caim. Ele cambaleou, e Inuart aproveitou a abertura para desferir um golpe brutal, lançando-o ao chão.
Caim tentou se levantar, mas sua força o traiu. Ele viu, impotente, enquanto Inuart erguia Furiae nos braços e subia em seu dragão.
Não!
Mas sua voz nunca veio.
Furiae o olhou enquanto era levada embora. Seus olhos estavam cheios de tristeza.
A última coisa que Caim ouviu foi o rugido do dragão negro desaparecendo no horizonte.
E então, silêncio.
Ele falhara.
A raiva queimava em seu peito como uma ferida aberta.
O corpo de Caim ainda doía da batalha contra Inuart, mas a dor física era insignificante comparada ao ódio que pulsava em suas veias.
Furiae estava nas mãos do Império.
E ele não perdoaria.
Montado em Angelus, ele cruzava os céus, rastreando os movimentos do Império. Vilarejo após vilarejo, apenas ruínas e cinzas restavam. O Império deixava um rastro de destruição, e Caim não hesitava em responder com o mesmo grau de brutalidade.
Ele descia do céu como um arauto da morte, sua espada cortando fileiras de soldados, seu dragão queimando tudo ao redor. O campo de batalha era um oceano de chamas, gritos e carne carbonizada.
E foi então que ele o encontrou.
Uma criança.
Um menino de cabelos prateados, ajoelhado no meio das ruínas de uma vila. Seus olhos estavam arregalados, fixos no corpo inerte de uma mulher caída ao seu lado. Sua mãe, talvez.
Caim hesitou.
O menino ergueu a cabeça e o encarou.
Você... também está aqui para matar?
Sua voz não carregava medo. Apenas um vazio amargo.
Caim observou melhor. Havia algo de estranho naquele garoto. Seus olhos carregavam uma sabedoria incomum para alguém tão jovem.
Meu nome é Seere. Ele se levantou.
Minha irmã, Manah, está por trás disso tudo.
O Império a segue. Mas... ela não está bem.
Ela está sendo manipulada.
Caim franziu o cenho.
Seere abaixou a cabeça.
Eu quero impedi-la. Por favor... deixe-me ajudar.
Ele não sabia por que, mas algo no garoto o convenceu. Talvez fosse a mesma dor que compartilhavam.
Sem dizer nada, Caim assentiu.
Seere agora fazia parte de sua jornada.
Uma jornada manchada por sangue, vingança... e um destino incerto.
O vento cortante soprava entre as ruínas de uma cidade devastada. O céu estava tingido de vermelho, como se o próprio mundo sangrasse diante do caos sem fim.
Caim e Angelus sobrevoavam a área, atentos a qualquer sinal do Império. Seere estava montado atrás de Caim, segurando-se firme para não cair.
Esta cidade... foi completamente
aniquilada. de tristeza. Seere murmurou, a voz carregada
As ruas estavam cobertas de corpos e escombros fumegantes. Casas reduzidas a esqueletos carbonizados, e o cheiro de carne queimada impregnava o ar. O Império havia passado por ali e, como sempre, só deixara destruição.
Angelus desceu, e Caim saltou da sela, caminhando com cautela pelos destroços
Foi então que um som ecoou.
Risos.
Alguém ria em meio à destruição.
Seere agarrou o braço de Caim, assustado. A risada não era de alegria. Era um som vazio, perturbador, como se a sanidade tivesse sido consumida pelo próprio horror ao redor.
E então, entre os destroços de um edifício, uma mulher apareceu.
Seus cabelos desgrenhados caíam sobre os ombros, e seus olhos tinham um brilho maníaco. Seus lábios se curvavam em um sorriso estranho, e ela abraçava os próprios braços, balançando o corpo de um lado para o outro.
Tão lindos... tão pequeninos... tão macios...
Ela murmurava para si mesma, ignorando completamente Caim e Seere.
Caim levou a mão à espada, mas Seere segurou seu pulso.
Espere! Eu... eu conheço essa mulher.
Caim franziu o cenho.
Ela se chama Arioch.
Arioch continuava a rir, mas então, como se apenas naquele momento tivesse notado os dois, ela ergueu a cabeça e os encarou.
Vocês... também vieram brincar?
Seu olhar vazio encontrou o de Seere, e por um instante, algo mudou em sua expressão.
Ah... uma criança. Tão puro... tão jovem...
Ela se aproximou, mas Caim instintivamente puxou Seere para trás. Arioch parou e inclinou a cabeça.
Eu tinha filhos, sabiam? -
Ela sussurrou.
Mas eles foram levados... devorados...
Seu sorriso se desfez, e um lampejo de dor atravessou seu rosto.
Eu ouço suas vozes. Eles me chamam...
Mas eu não posso alcançá-los.
Caim permaneceu em silêncio. Ele sabia bem o que era perder alguém. Mas a insanidade nos olhos daquela mulher ia além da dor comum.
Foi então que o chão tremeu.
Criaturas bestiais emergiram dos destroços, seus corpos grotescos contorcendo-se como sombras vivas. Eram lacaios do Império.
Os olhos de Arioch brilharam.
Ah... mais convidados para a brincadeira.
Ela estendeu as mãos, e um brilho azul pálido surgiu ao seu redor.
Espíritos da água... deem-me poder!
A energia tomou forma, e Arioch se transformou diante deles. Seu corpo foi envolvido por uma aura gélida, e uma expressão de êxtase surgiu em seu rosto.
Vamos dançar, meus queridos!
Ela avançou.
E o massacre começou.
Arioch limpava o sangue do rosto com as costas da mão. Seu peito arfava, mas seu sorriso ainda permanecia.
Os lacaios do Império haviam sido reduzidos a pedaços, seus corpos dilacerados pela magia de Arioch e pela lâmina de Caim. O chão estava encharcado de sangue negro.
Ah... como é maravilhoso matar. riu baixinho. Arioch Mesmo que nunca traga meus filhos de volta...
Seere a observava com um misto de medo e compaixão.
Você... vai vir conosco?
Arioch piscou, surpresa.
Com vocês?
Caim olhou para Seere, mas não disse nada.
Arioch soltou um suspiro teatral e se abraçou.
Bem, eu estava ficando entediada aqui sozinha. Se isso significa ter mais diversão... então por que não?
E assim, a elfa insana se juntou ao grupo.
Mas eles não tiveram tempo para descanso.
Caim montou em Angelus e tomou o céu mais uma vez, levando Seere e Arioch consigo. Seu destino: uma fortaleza do Império.
Eles precisavam de respostas.
A viagem foi silenciosa. O ar estava pesado com a expectativa do que encontrariam.
E, quando finalmente chegaram, as respostas foram ainda mais horríveis do que imaginavam.
Eles invadiram a fortaleza e passaram por corredores sombrios, cheios de inscrições estranhas. Quanto mais avançavam, mais claro ficava que o Império não era apenas um exército ambicioso.
Eles estavam seguindo algo maior.
E então, na câmara central, eles viram.
Uma criança.
Uma menina de cabelos brancos, sentada em um trono ornamentado com crânios e correntes douradas. Seus olhos estavam cheios de um brilho cruel.
Seere congelou.
Manah...
Ela sorriu.
Finalmente chegou, irmãozinho.
O ar tremeu ao seu redor. Era como se o próprio espaço estivesse se dobrando à sua vontade.
Vocês vieram para impedir o Império? Para impedir que eu destrua os selos?
Ela inclinou a cabeça, seus dedos finos tamborilando sobre o braço do trono.
Mas vocês não entendem... Eu não sou a verdadeira vilã.
Os olhos dela brilharam.
São os Deuses.
A terra tremeu.
E então, o inferno se abriu.
O silêncio que antecedia a batalha era mais pesado do que o próprio medo.
Caim, Angelus, Seere e Arioch estavam diante de Manah, a menina que comandava o Império. Seu trono imponente contrastava com seu pequeno corpo, mas a aura de poder ao redor dela era sufocante.
Os Deuses mentem para vocês. Manah sussurrou, inclinando a cabeça. Eles criaram este mundo... mas apenas para se divertir com nosso sofrimento.
Seere deu um passo hesitante à frente.
Irmã... pare com isso. Os selos existem para manter o equilíbrio!
Os olhos de Manah brilharam.
Equilíbrio?
Ela riu. E o que é equilíbrio, senão uma gaiola? O mundo já está podre. Eu apenas acelero sua ruína.
Caim apertou a empunhadura da espada. Ele não queria ouvir mais nada.
Ele se lançou contra Manah.
Mas antes que sua lâmina a alcançasse, uma força invisível o arremessou para trás.
As sombras se contorceram, e os lacaios do Império emergiram, distorcidos e monstruosos.
Manah se ergueu do trono, e sua risada ecoou como um sino quebrado.
Se querem impedir meu destino... terão que me matar.
E então, a luta começou.
X
O templo tremeu enquanto magia negra se espalhava pelo ar.
Caim cortava os monstros com golpes precisos, mas eles pareciam infinitos. Angelus soltava labaredas, queimando as sombras que rastejavam nas paredes.
Arioch girava no campo de batalha, seus olhos selvagens brilhando.
Ah... a matança nunca para, não é?
Seere recitou encantamentos, tentando conter os inimigos com sua magia.
E então, quando a batalha parecia não ter fim, Manah gritou.
Um tremor percorreu o templo.
Os olhos dela estavam arregalados, como se algo a tivesse ferido... algo que não era físico.
Ela cambaleou para trás, e um sussurro ecoou no ar.
Está feito.
Caim se virou na direção do som.
E viu Verdelet.
O sacerdote estava ajoelhado ao lado de um corpo imóvel.
O corpo de Furiae.
O tempo pareceu parar.
Caim largou a espada e correu.
Furiae!
Ele se ajoelhou ao lado dela, virando seu corpo gentilmente.
O sangue se espalhava pelo chão de pedra.
Uma adaga estava cravada em seu peito.
Seus olhos ainda estavam abertos, mas sem brilho.
Sem vida.
Não...
A voz de Verdelet era um sussurro Ela... tirou a própria vida. trêmulo
Caim não conseguia respirar.
Ele segurou Furiae nos braços, mas ela não se movia.
O choque foi substituído por algo pior.
Ódio.
Ele olhou para Manah, e seus olhos brilharam com uma fúria inumana.
Mas Manah apenas riu.
A Deusa está morta.
Ela abriu os braços.
O último selo caiu. O mundo vai acabar.
O templo estremeceu.
E então, o caos começou.
O corpo de Furiae jazia frio nos braços de Caim.
Angelus pousou ao lado dele, suas asas cobrindo-o como um escudo contra o mundo.
Caim. A voz dela era baixa. Serena.
Mas ele não respondeu.
Ele sentia algo dentro de si... algo que nunca havia sentido antes.
Não era apenas dor.
Era como se uma parte dele tivesse sido arrancada, deixando para trás apenas vazio.
Precisamos ir. Disse Angelus. O templo
está desmoronando.
Seere estava de joelhos, os olhos arregalados de horror.
O selo foi quebrado... o mundo está condenado!
Verdelet cambaleou até eles, suas vestes cobertas de sangue.
Ainda há uma chance.
Caim ergueu a cabeça.
O selo pode ser restaurado. Mas... um novo sacrifício deve ser feito.
O silêncio que se seguiu foi sufocante.
E então, Angelus falou.
Eu serei o selo.
Todos se viraram para encará-la.
Seere balançou a cabeça freneticamente.
Não! Você não pode!
Angelus sorriu, mas havia algo triste em seus olhos.
É a única forma de impedir que o mundo desapareça.
Caim a encarou.
Ele sabia que não poderia detê-la.
Ele sabia que ela estava certa.
Mas isso não tornava a dor mais suportável.
Vamos.
Angelus olhou para o céu, onde nuvens negras começavam a se abrir, revelando algo terrível além delas. perder. Não temos tempo a
E assim, eles partiram para a última batalha.
O mundo estava morrendo.
O céu, antes vermelho como sangue, agora era uma escuridão infinita, rasgada por fendas luminosas. Criaturas abissais rastejavam por entre os escombros das cidades destruídas, e os exércitos da União estavam reduzidos a sombras do que foram.
No centro desse caos, Caim e seu grupo avançavam.
— Estamos sem tempo. — Verdelet murmurou, segurando seu cajado com força. — Os Deuses já começaram a se manifestar. Se não selarmos o portal... tudo estará perdido.
Angelus estava tensa, suas asas abertas, como se já sentisse o destino que a aguardava.
Caim nada disse. Seu olhar estava fixo no horizonte.
O templo que antes abrigava os selos estava agora irreconhecível, distorcido por uma energia que não pertencia a esse mundo. No topo, Manah os aguardava.
A menina, agora a profetisa dos Deuses, ergueu os braços em triunfo.
— Vocês demoraram.
Sua voz estava alterada, ressoando com ecos múltiplos.
— O mundo precisa ser purificado. E para isso, ele deve ser destruído!
As fendas no céu se abriram ainda mais.
E os Deuses começaram a emergir.
⚔
Caim correu.
Sua espada cortou o ar, avançando contra Manah.
Mas antes que ele pudesse atingi-la, uma força invisível o lançou contra o chão.
Manah riu, e ao seu redor, as monstruosidades dos Deuses começaram a tomar forma.
Seres de pele pálida, sem rosto, com membros longos e desproporcionais, emergiram das sombras, seus corpos pulsando como se estivessem vivos... e famintos.
Angelus rugiu, lançando uma torrente de fogo sobre eles.
Seere levantou as mãos, invocando sua magia.
Arioch, rindo como uma louca, se jogou na batalha, cortando tudo ao seu redor.
Mas os inimigos continuavam surgindo.
Caim se ergueu, seu corpo doendo, mas sua fúria intacta.
Ele avançou novamente, cortando as criaturas sem hesitar.
Ele não tinha mais nada a perder.
Se Manah quisesse destruir o mundo...
Então ele a destruiria primeiro.
⚔
A batalha foi brutal.
O templo tremia com o impacto da luta.
Seere caiu de joelhos, exausto, sua magia quase esgotada.
Arioch estava coberta de sangue, rindo e chorando ao mesmo tempo.
Verdelet tentava recitar feitiços de proteção, mas suas mãos tremiam.
Angelus... Angelus estava diferente.
Seus olhos brilhavam com uma luz estranha.
Ela olhou para Caim.
— Chegou a hora.
Caim soube o que isso significava.
Mas ele não queria aceitar.
Angelus se virou para Manah e ergueu as asas.
— A Deusa morreu. Mas o selo ainda pode ser restaurado.
O corpo dela começou a brilhar.
Manah arregalou os olhos.
— Não... NÃO!
A energia ao redor do templo ficou descontrolada.
E então, tudo explodiu em luz.
O vento cortava as ruínas do templo, levando consigo a poeira e o cheiro de sangue que impregnava o ar.
Caim estava ajoelhado no chão.
Ao seu redor, os restos da batalha ainda queimavam: soldados caídos, escombros das colunas que sustentavam o santuário e o rastro deixado pelo desaparecimento das criaturas deformadas que serviam aos Deuses.
Tudo estava acabando.
Angelus pousou ao lado dele, suas asas imponentes dobrando-se suavemente.
Ela o observava em silêncio, seus olhos dourados refletindo algo além da compreensão humana.
Caim, com as mãos sujas de sangue e poeira, finalmente levantou o rosto para encará-la.
— O mundo foi salvo... mas por quanto tempo? — A voz de Angelus ecoou dentro da mente dele.
Ele não respondeu.
Não havia nada a dizer.
A Deusa do Selo estava morta.
O selo havia sido quebrado.
E agora, alguém precisava substituí-la.
Verdelet, o sacerdote, aproximou-se com o pouco de força que lhe restava. Seu rosto estava pálido, e seus olhos carregavam o peso da verdade que ele estava prestes a pronunciar.
— Apenas um novo selo pode conter os Deuses. — Sua voz tremia. — Ou tudo o que fizemos será em vão.
Caim sentiu sua garganta apertar.
Ele já sabia a resposta.
Angelus também.
Ela estendeu uma asa, tocando suavemente o ombro dele.
— Caim... você sabe que isso deve acontecer.
Ele apertou os punhos.
Seu corpo tremia.
Ele queria lutar contra aquilo.
Queria recusar.
Mas não podia.
Ele sempre soube que essa era a única escolha.
Caim se ergueu lentamente.
Seus olhos encontraram os de Angelus.
— Você vai... morrer? — Ele finalmente perguntou, mesmo sem poder pronunciar as palavras.
Ela balançou a cabeça.
— Não morrerei... mas deixarei de ser livre.
Verdelet ergueu o cajado.
— Precisamos iniciar o ritual.
⚔
O ritual foi realizado no altar sagrado.
Caim permaneceu em silêncio, assistindo enquanto Angelus se posicionava no centro, cercada por círculos de luz que se erguiam ao seu redor.
A magia antiga começou a envolvê-la.
Seus olhos brilharam uma última vez.
Então, seu corpo começou a mudar.
As chamas que sempre a rodeavam desapareceram.
Sua carne se tornou pedra.
Suas asas se estenderam para os céus.
E então, Angelus se tornou o novo selo.
⚔
O mundo foi salvo.
Os Deuses foram silenciados.
E o caos foi contido.
Mas Caim...
Caim perdeu tudo.
Ele permaneceu de pé diante da forma petrificada de Angelus, incapaz de desviar o olhar.
Seere observava à distância, sem palavras.
Verdelet fez um sinal de reverência e se afastou, sabendo que sua missão estava cumprida.
Caim permaneceu ali por muito tempo.
O tempo passou.
O mundo mudou.
E Angelus continuou ali, imóvel.
O selo que mantinha a ordem do mundo.
E a lembrança da única coisa que Caim jamais poderia recuperar.
O Caminho para o Futuro
Anos se passaram.
A lenda do cavaleiro e do dragão foi contada por gerações.
Mas Caim desapareceu.
Ninguém sabia onde ele estava.
Até o dia em que um novo império começou a se erguer.
E com ele, a ruína de tudo o que foi protegido.
Angelus... estava começando a despertar.
Cinzas dançam no vento... promessas quebradas sussurram ao longe...
O destino de Caim ainda não terminou...
Mesmo que as asas o levem aos céus... o destino o arrastará de volta ao abismo.