"Retornaremos ao mesocarpo, quando o inevitável nos beijar" - Sr. Ingênuo
É diferente dessa vez, é mais forte que o reflexo dourado dos anjos. A luz é o néctar da proibição, é o aroma do doce sabor exaustivo dos elytras. As escolhidas do mar, moldadas a vidro e sal, polinizam os frutos de seus ventres com um olhar de mil vidas. Caberiam a elas moldar as aréolas dos caídos, mas há tempestades em suas mentes. Tempestades cruéis, que destroem todas as embarcações de parábolas. Nem o verde que se estende ao infinito, é capaz de compreender tamanha ambição pela morte do tempo, dos lábios, dos olhos, e dos destroços que escorrem pelos ouvidos. Não sabem porquê bebem dessas lágrimas amargas, tragando a dor e engolindo a labuta. Caladas, mas resta o peito, perpetuando o silêncio que no jardim não se escuta.
Hespérides - De que me vale ser fruto da santa?
Anirtz - Não compreendes a dor que causaste? Não compreendes as linhas nuas de minhas mãos?
Hespérides - Não reconheço a ti, reconheço o fascínio da dor que causaste. Em teu aniversário, te darei as rosas de mil espinhos.
Anirtz - Sangrarei se é assim que queres, apenas deixe o tempo fluir como o ventre salgado do nosso nascimento.
Hespérides - Pensas apenas em ti, não é? Não te aflige pensar que os pedaços do meu coração dependem do teu sofrimento?
Anirtz - Devo ser para ti, o que tu representas para mim. Somos coração e desejo, mantendo os jardins frescos para a reciprocidade do mundo.
Hespérides - Teu destino é selado, assim como os frutos desse jardim. Pensas em mim, Anirtz. Tu queres notar minha infelicidade fatal pela eternidade?
Anirtz - É para cá que sempre voltaremos, é para mim que você está destinada a vigiar com teus belos vitrais coloridos. É para nós que o jardim roga, o tempo não é o culpado.
Hespérides - Quantas vezes viste meu coração se erguer? Em quantas vidas eu te amei? Em quantas delas eu choro diante de ti?
Mil vidas, mil anos, mil frutos, mil perdões. O jardim nunca se foi, e nunca partirá.
Fim.