Capítulo 1: O Barulho na Escuridão
A noite estava tão silenciosa que até mesmo o farfalhar das folhas parecia um sussurro distante. A pequena vila de Rochedo Sombrio adormecia sob um céu sem estrelas, envolta em uma névoa espessa que rastejava pelas ruas de paralelepípedo. As casas, antigas e rangentes, mantinham suas janelas fechadas, como se até as paredes temessem algo. No entanto, aquele silêncio absoluto foi despedaçado por um som ensurdecedor.
— PAM!
A pancada ecoou como um trovão dentro de um quarto, fazendo a poeira cair das vigas de madeira do teto. Augusto, um jovem de cabelos desgrenhados e olhos arregalados, quase pulou da cama ao ouvir o barulho. Seus lençóis voaram pelo quarto enquanto ele tentava acender a vela ao lado da cama, mas suas mãos tremiam demais.
— O quê... o que foi isso? — ele gaguejou, olhando ao redor.
O som não vinha da porta nem da janela. Parecia ter surgido do próprio chão. Ou de dentro das paredes. Talvez até… debaixo da cama.
Augusto hesitou. O medo era como um nó apertado em sua garganta, mas a curiosidade — ah, a curiosidade — era ainda maior. Com uma respiração trêmula, ele pegou um cabo de vassoura, sua única arma, e começou a cutucar cuidadosamente o espaço embaixo da cama. Nada. Apenas poeira acumulada e um par de meias esquecidas.
— Só pode ter sido minha imaginação… — ele murmurou, tentando se convencer.
Então, outra pancada.
— PAM!
Dessa vez, o som veio da cozinha.
Augusto quase tropeçou em seus próprios pés ao correr para lá, seu coração batendo mais forte que um tambor. As sombras dançavam nas paredes enquanto a vela lançava um brilho trêmulo pelo cômodo. A porta do armário estava aberta. E algo — algo pequeno, peludo e incrivelmente rápido — disparou lá de dentro, correndo em círculos pela cozinha.
— Um rato? — Augusto exclamou, incrédulo.
Mas não… aquilo era grande demais para ser um rato. Era… um guaxinim usando um chapéu minúsculo?
O animal correu pelo chão, derrubando panelas e esbarrando em uma prateleira de temperos, espalhando pimenta, sal e ervas pelo chão. O barulho era infernal.
— O que… o que será aquilo?! — Augusto gritou, ao mesmo tempo em que o guaxinim, sem motivo aparente, parou, olhou para ele, e ergueu uma patinha como se estivesse o saudando.
Então, com uma última e teatral batida da porta do armário — PAM! — o animal desapareceu pela janela, deixando Augusto sozinho, confuso… e com uma cozinha totalmente destruída.
Mas aquele era só o começo. Algo muito maior e muito mais estranho estava apenas começando em Rochedo Sombrio.