A chuva castigava Namimori naquela noite, a água deslizando pela calçada como sangue escorrendo de uma ferida aberta. Gokudera Hayato caminhava pelas ruas desertas, a mente tomada por uma tempestade tão violenta quanto a que rugia acima de sua cabeça. Ele cerrava os punhos dentro dos bolsos do casaco, tentando conter o turbilhão de sentimentos que o corroía.
Ele não devia estar aqui.
Mas não podia evitar.
Seus passos o levaram até o antigo galpão abandonado, um refúgio esquecido da época em que tudo parecia mais simples. Encostado contra a parede desgastada, um cigarro aceso entre os lábios, estava Yamamoto Takeshi. Seu sorriso usual havia desaparecido, substituído por algo sombrio, um brilho frio nos olhos.
— Sabia que você viria — a voz de Yamamoto cortou o silêncio, rouca, quase provocativa.
— Vai se ferrar — Gokudera cuspiu as palavras, mas não se afastou.
Yamamoto riu baixo, tragando o cigarro antes de jogá-lo no chão e esmagá-lo com a ponta da bota. Ele deu um passo à frente, e Gokudera sentiu o ar rarear entre eles. As sombras da noite pareciam engolir tudo ao redor, tornando aquele encontro ainda mais proibido.
— Por que você sempre foge, Gokudera? — Yamamoto murmurou, inclinando-se ligeiramente.
— Porque você é um maldito problema — Gokudera rosnou, mas sua voz falhou quando Yamamoto ergueu uma mão, tocando de leve seu rosto.
O toque era frio, contrastando com o calor que crescia dentro dele. Gokudera queria afastá-lo, mas seu corpo se recusava a obedecer. Yamamoto o conhecia bem demais, sabia exatamente onde apertar para quebrá-lo.
— Você gosta do perigo, não gosta? — Yamamoto sussurrou contra sua pele, os lábios pairando próximos demais.
Gokudera fechou os olhos, sua respiração entrecortada. Ele estava afundando, e sabia disso. Mas, no final das contas, talvez já estivesse perdido desde o início.
O silêncio foi quebrado apenas pelo som da chuva batendo contra o metal enferrujado do galpão. Yamamoto deslizou os dedos pelo maxilar de Gokudera, sentindo a tensão rígida sob sua pele. Seus olhos, escuros e indecifráveis, analisavam cada reação do outro.
— Você precisa admitir, Hayato… a gente sempre acaba voltando um para o outro — Yamamoto murmurou, a voz um fio de tentação e ameaça.
Gokudera abriu os olhos, sua expressão uma mistura de fúria e rendição. Ele odiava o controle que Yamamoto tinha sobre ele, odiava como seu próprio corpo traía sua razão. E, acima de tudo, odiava o fato de que, por mais que tentasse, nunca conseguia se afastar.
— Isso não significa nada — ele disse, tentando ignorar a pulsação acelerada em seu peito.
Yamamoto sorriu de lado, seu rosto perigosamente próximo. — Então me prove.
O desafio pairou no ar entre eles, carregado de eletricidade. Gokudera sentiu seu autocontrole ruir pouco a pouco, a fúria se mesclando ao desejo até se tornarem indistinguíveis. Num movimento brusco, agarrou Yamamoto pela gola do casaco e o puxou para perto, os lábios se chocando num beijo faminto e carregado de sentimentos não ditos.
Era um jogo de poder, um embate tão feroz quanto suas batalhas. Mas, naquela noite, sob a tempestade de Namimori, Gokudera sabia que já tinha perdido desde o momento em que pisou naquele galpão.