Ela estava esperando.
Longe o suficiente para não ser notada, mas perto o suficiente para observar a oficina esvaziar-se aos poucos.
O dia morria em tons de laranja e púrpura, tingindo o céu enquanto os últimos funcionários limpavam as mãos sujas de graxa e recolhiam suas ferramentas. Um a um, iam embora, até que a movimentação se dissipou quase por completo.
Seu coração batia rápido demais. A ansiedade a percorria em ondas quentes, deixando sua pele eletrizada, como se a expectativa fosse um toque invisível.
Não sabia seu nome. Apenas o tinha visto umas duas vezes, por acaso, quando passou pela oficina no mês anterior. Mas foi o suficiente para cravar nele o olhar e sentir o desejo de tomar forma dentro de si.
Ele era um homem de presença marcante, com um corpo forte e braços definidos pelo trabalho árduo na oficina. Os cabelos loiros estavam sempre bagunçados, desalinhados pelo hábito de passar os dedos sujos de graxa por eles.
Algumas mechas caíam sobre sua testa, realçando o contraste com os olhos claros e intensos, que pareciam sempre avaliá-la com uma mistura de curiosidade e desafio.
A pele bronzeada trazia pequenas marcas e cicatrizes do ofício, mas o que realmente chamava atenção era a tatuagem de um dragão chinês que se estendia por suas costas. O desenho detalhado serpenteava desde da nuca até o final da sua cintura, as escamas minuciosamente sombreadas parecendo quase vivas quando os músculos dele se moviam.
Seu rosto tinha traços fortes e uma expressão naturalmente desafiadora, um ar despreocupado e insolente que se refletia no sorriso de canto de boca que às vezes ele exibia—sempre carregado de algo indecifrável. Ele exalava perigo e confiança, como alguém que sabia exatamente o efeito que causava nos outros.
Ele não a viu naquela tarde, mas ela o viu. A camiseta justa marcada pelo suor, os músculos dos braços tensionando enquanto apertava uma porca de metal.
As veias salientes na mão, a expressão de concentração, o movimento ritmado do corpo enquanto trabalhava. Tudo nele exalava um tipo de masculinidade crua, instintiva, como algo primitivo e essencial.
E aquilo a atingiu em cheio.
Desde então, não conseguiu tirá-lo da cabeça. Criou cenários, fantasiou palavras que nunca foram ditas, imaginou as possibilidades. Agora, ali parada, sentia o peso do desejo e do medo.
E se ele não a notasse?
E se notasse e a rejeitasse?
Ou pior, e se notasse e desejasse da mesma forma intensa que ela?
A ideia a fez prender a respiração.
O barulho de metal se chocando ecoou na oficina quase vazia, seguido por um murmúrio abafado. Ele ainda estava lá.
Sozinha na calçada, hesitou por um segundo antes de dar o primeiro passo. O asfalto quente sob seus pés contrastava com o frio que percorria sua espinha. O jogo começava. E ela estava disposta a jogar.
Ela se sentia como um animal faminto, cada fibra de seu corpo vibrando com a urgência de saciar um desejo latente.
Assim que o viu adentrar a oficina e abaixar meia porta, foi como se um instinto primitivo tomasse conta dela. Seu corpo se moveu por conta própria, passos firmes e silenciosos ecoando no chão de madeira desgastado.
Curvou-se para passar pela abertura estreita, deslizando para dentro do ambiente impregnado pelo cheiro de graxa e metal aquecido. Quando ergueu o olhar, encontrou os olhos dele fixos nela, a surpresa misturada com algo indecifrável.
Ele largou a ferramenta que segurava sobre a bancada e limpou a palma das mãos no avental sujo de óleo antes de dizer, num tom automático e levemente rouco:
“Desculpa, estamos fechados.“
A frase saiu sem muito pensamento, como um reflexo condicionado, mas ela percebeu o modo como ele hesitou ligeiramente ao dizê-la.
Em vez de responder, ela apenas sustentou o olhar dele, prendendo-o naquele silêncio carregado. Sem pressa, esticou o braço para trás e puxou a porta até fechá-la completamente, fazendo questão de abaixar-se junto com o movimento.
Seus joelhos se separaram propositalmente enquanto descia, o tecido da saia subindo sutilmente contra suas coxas. Um arrepio percorreu sua espinha ao notar como o olhar dele, antes fixo em seu rosto, desceu instintivamente.
Os olhos curiosos traçaram um caminho ansioso, procurando vislumbrar o que ela escondia entre as sombras de seu corpo.
Internamente, ela sorriu. Ele já estava preso antes mesmo de perceber.
Assim que a porta se fechou atrás dela, o ambiente pareceu encolher, carregado por uma tensão quase palpável. Sem desviar o olhar dele, ela deu um passo à frente, sentindo o coração martelar contra as costelas. Ele fez o mesmo, mas com mais pressa, como se algo dentro dele exigisse urgência.
Num movimento firme e decidido, sua mão grande envolveu a nuca dela, puxando-a sem hesitação. O calor do toque fez sua pele se arrepiar, e então seus lábios se encontraram num choque de desejo contido. O beijo foi intenso, bruto, carregado de fome e reconhecimento. Não era apenas ela que sentira aquilo naquele dia.
Mas não havia tempo para prolongar. Quando sentiu o volume rígido pressionando contra seu corpo, ela rompeu o beijo, ofegante, e se afastou apenas o suficiente para girar sobre os calcanhares. Com movimentos rápidos e precisos, inclinou-se sobre o capô do carro ali estacionado, sentindo o metal frio contra seus antebraços nus.
Sem cerimônia, ergueu o próprio vestido, expondo-se sem vergonha alguma.
“Precisa acabar com isso rápido.“ A voz dela saiu carregada de expectativa.
Ela sorriu quando ele não hesitou. Nenhuma pergunta, nenhum segundo desperdiçado.
Apenas se aproximou por trás, afastando a calcinha dela com um gesto impaciente antes de possuí-la de uma só vez.
O impacto a fez soltar um arquejo curto, sua mão de apoio deslizando pelo capô liso.
Antes que pudesse ajustar a postura, ele investiu novamente, ainda mais forte. O choque repentino fez seu queixo bater contra o metal, arrancando um gemido entre dor e prazer.
Ela abriu os olhos, focando o reflexo distorcido no para-brisa do carro. Ele estava ali, atrás dela, devorando-a com a mesma necessidade que queimava dentro dela. E ela sabia que nenhum dos dois pararia até que tudo estivesse consumado.
As mãos dele deslizaram para as laterais do quadril dela, os dedos afundando na carne enquanto a puxava para si, ajustando-a à posição perfeita. Sem hesitação, ele a inclinou mais, fazendo-a empinar para ele.
E então começou.
Uma sequência bruta, ritmada e avassaladora tomou conta do espaço entre eles. Cada investida fazia seus dedos escorregarem pelo capô liso, os joelhos dela ameaçando ceder. Ela mordeu o próprio pulso, tentando conter os sons que escapavam de seus lábios, mas ele sequer parecia se importar.
Estava completamente focado, como um animal rosnando sobre sua presa, perdido na urgência de possuí-la.
A tensão foi se acumulando dentro dela, um nó quente e latejante se formando em seu ventre. As pernas começaram a tremer, a resistência enfraquecendo, como se estivesse prestes a desmoronar.
Procurou apoio, qualquer coisa para se segurar, numa tentativa vã de se preparar para o ápice que se aproximava.
Mas algo ainda faltava.
Era como se, por mais fundo que ele fosse, existissem partes dela que ele ainda não conseguia alcançar.
Então ele urrou, a respiração pesada e entrecortada, o corpo inteiro tenso em um último golpe avassalador.
Ela sentiu o próprio corpo se arquear em resposta, os dedos se esticando para trás até agarrar uma das nádegas dele, tentando puxá-lo de volta, incentivá-lo a continuar. Mas ele desmoronou sobre ela, os músculos relaxando de repente, o peito colando contra suas costas em uma exaustão satisfeita.
O silêncio caiu sobre a oficina, quebrado apenas pelo som da respiração descompassada de ambos. Ela fechou os olhos por um instante, sentindo o próprio coração pulsar contra as costelas.
E sorriu.
Ela esperou alguns segundos, sentindo o peso quente e ofegante dele sobre suas costas. O cheiro de suor e desejo impregnava o ar abafado da oficina.
Com movimentos lentos e calculados, começou a se mover sob o corpo dele, deslizando para longe até finalmente se desvencilhar.
Ainda sem olhá-lo, ajeitou a calcinha no lugar, alisando a saia do vestido sobre as coxas. Cada gesto era mecânico, quase indiferente, como se estivesse fechando um capítulo que já sabia como terminaria.
Sem uma palavra, caminhou até a porta, os passos ecoando no chão manchado de graxa. Não olhou para trás. Não havia necessidade.
O ar da rua pareceu frio contra sua pele quente quando saiu. O céu estava escuro, os postes lançando sombras alongadas pela calçada. Poderia pegar o ônibus, mas decidiu andar. Precisava sentir o vento, o peso dos próprios passos, qualquer coisa que a fizesse se conectar consigo mesma.
Então era isso. Era nisso que tudo havia se resumido.
Ela seguiu em frente, sem pressa, sem arrependimentos.
Assim que entrou em casa, o peso da noite ainda impregnado em sua pele, ela encontrou o marido sentado no sofá. Ele parecia cansado, os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos entrelaçadas, os olhos carregados de algo entre preocupação e exaustão.
Ele ergueu o olhar ao vê-la.
“Onde você estava?“ A voz saiu baixa, mas firme.
Ela largou a bolsa sobre a mesa, tirou os sapatos com um gesto automático e respondeu sem encará-lo:
“Fui dar uma volta.”
“A essa hora?” Ele franziu a testa, estudando-a.
Ela respirou fundo, sentindo o cheiro familiar da casa.
“Acho que precisava de ar.”
Ele suspirou, passando a mão pelo rosto.
“Tá tudo bem?”
Ela forçou um sorriso breve.
“Tá, sim. Só estou cansada. Vou tomar um banho.”
Ele assentiu lentamente, mas a observou enquanto ela seguia para o quarto. Seu olhar dizia que queria perguntar mais. Mas não perguntou.