Tudo começou em um dia melancólico e nublado, quando eu estava saindo de casa para caminhar e esclarecer meus pensamentos perdidos. Me aproximei de um dos bancos da praça e me sentei. O ar estava frio e o vento soprava as folhas secas no chão, e as árvores balançavam como um sussurro vindo em minha direção. Em minha frente, havia crianças brincando de gangorra e pega-pega. Era algo reconfortante para mim, lembrar de quando eu era apenas uma criancinha brincando com os amigos aqui. Aquelas crianças ficaram brincando por média de 40 minutos, até que seus pais foram embora e as levaram. Eu estive esse tempo todo lendo, mas o tempo estava ficando mais denso, com um aroma de chuva que pairava em todo aquele lugar. Então, resolvi voltar para casa antes que a chuva viesse, no entanto, quando eu ia saindo, gotas de água já estavam escorrendo em mim. Escondi meu livro o máximo que pude e corri, mas cada vez mais a chuva se intensificava, encharcando meu livro e a mim. As páginas começaram a se desintegrar; talvez, devido à capa do meu livro não ser dura, ela também estava sendo danificada. Continuei correndo, mas tropecei em uma pedra que me fez cair. Naquele momento, não senti raiva, muito pelo contrário, eu me senti triste por ter esperado tanto de um dia ruim. Meu livro caiu naquele lamaçal e eu estava toda suja. Me sentei ali mesmo e comecei a chorar. Até que alguém veio e me estendeu a mão e disse:
— Levante-se.
— Quem é você? — perguntei.
— Meu nome é Steven e o seu? — ele continuava com a mão estendida para mim.
— Meu nome é Tifanny — peguei sua mão e levantei — obrigada.
— Por que parou de correr? — perguntou.
— Você me viu? — perguntei me sentindo envergonhada, sem poder nem sequer olhar em sua face.
— Sim, você passou por mim parecendo uma mulher fresh — ele riu.
Levantei minha cabeça com uma expressão de raiva em meu rosto, porém, ao ver o rosto daquele garoto, me senti estranha, pois ele era tão lindo que, em meio àquele alvejar de inverno, ele me trazia o conforto do outono. Seu cabelo preto molhado e olhos castanhos que brilhavam mesmo na nevasca da chuva conteram minha raiva e frustração.
— Não vai correr mais para casa? — falou ele.
— Não foi uma boa ideia ter feito isso. — expressei meu ressentimento enquanto dava tapinhas em mim mesma para me limpar.
— Claro que foi uma boa ideia. A sua má ideia foi ter parado de correr para se ressentir de algo que não podia voltar atrás.
— Que?
Antes que eu pudesse dizer algo, ele pegou meu braço e começou a correr, me puxando junto a ele.
— Sua casa está por ali? — perguntou ele enquanto corria junto comigo.
— Sim. — respondi enquanto segurava sua mão firme.
Não paramos de correr nem sequer um minuto e foi tão divertido que, de forma rápida, eu esqueci do que tinha acontecido antes. Rimos bastante enquanto pulávamos as poças de água até que cheguei em casa.
— Aqui é minha casa. — ainda ofegante, paro e coloco as mãos na perna, tentando controlar a respiração.
— Chegamos então. Esta é a casa da menina desconhecida cujo nome eu sei. — rimos juntos do que ele disse.
— Bom, agora eu já vou. Mas não pare de correr quando as coisas estiverem difíceis, hein? Apenas aprenda a lidar com elas e, se não conseguir, apenas faça isso. — ele gesticulou os ombros para um lado e para o outro com as mãos fechadas, expressando como se estivesse correndo. — Corra. Mas corra rindo, sentindo o que de bom virá depois de tudo isso. Tchau tchau.
— Deixando sair um sorriso, eu me despeço dele e ele vai embora.
Eu entro dentro de casa e vou direto para o banheiro tomar banho, para que minha mãe não note a sujeira que estou e para evitar um resfriado. Após acabar meu banho, fui jantar e dormir. No dia seguinte, eu me levanto bem cedo e não consigo parar de pensar no garoto de outono. Meus pais estavam na casa ao lado ajudando os novos vizinhos com a mudança. Quando eu olhei pela janela, parecia mentira o que meus olhos estavam a ver. Era aquele garoto, era o garoto de outono que estava em frente à casa. Será que ele é meu novo vizinho? Corri e fui me arrumar o mais rápido possível e fui até lá com a desculpa de dar as boas-vindas aos vizinhos.
— Olá, vocês são os novos vizinhos, certos? Sejam bem-vindos! — De forma gentil estendi minha mão para um comprimento.
— Oh, muito obrigada! Agradeceu a nova vizinha enquanto dava-me um aperto de mão.
Ficamos conversando enquanto arrumamos as coisas, mas eu não conseguia tirar os olhos daquele garoto, embora eu disfarçasse o máximo que podia. Depois que colocamos boa parte das coisas em ordem, a nova vizinha nos convidou para almoçar lá, mas meus pais não aceitaram, pois provavelmente os vizinhos estavam cansados de toda aquela mudança, então não seria legal ficarmos lá. Dias se passaram e o que mais era legal é que eu e aquele garoto ficamos próximos. Eu e ele nos víamos todos os dias, graças a janela dos nossos quartos que eram de frente uma à outra, trocamos nossas redes sociais e conversávamos até tarde. As férias acabaram e as aulas retornaram; íamos todos os dias juntos e eu o ajudava a conhecer a escola e a interagir com meus amigos. Infelizmente, não ficamos na mesma sala, mas passávamos o intervalo juntos na maioria das vezes. De forma mágica aquele garoto de outono virou alguém especial para mim, do qual eu só precisava vê-lo para sorrir. Quando ele me elogia dizendo que meu cabelo moreno está bonito ou quando minha roupa está bela eu me sinto importante, eu sinto um sentimento indescritível a cada palavra que eu ouço sair de sua boca. Não demorou muito para o momento que meu coração tanto almejava chegar. Em uma linda sexta-feira nublada, ele chegou em frente à minha casa e me chamou para passear. Ele me pediu para segui-lo e o que foi estranho, pois ele me levou para o mesmo lugar que nos conhecemos.
— Lembra daqui? — perguntou ele.
— Como eu poderia esquecer? Lembro até da primeira palavra que você falou — respondi com um sorriso em meu rosto.
— E o que eu disse? — ele riu olhando em meus olhos.
— LEVANTE-se — falo, forçando a voz, o imitando, até que escuto sua risada e não consigo sustentar a voz e começo a rir também.
— Sabe, uma coisa que você talvez não percebeu naquele momento foi que eu também estava chorando. Eu não queria vir para essa cidade desconhecida.
— Eu realmente não percebi…me desculpe. — me senti mal por não ter notado, mas agora entendo o porquê de seus olhos estarem brilhando tanto.
— Não se desculpe, por favor. Você foi o motivo pelo qual eu não me sinto nem um pouco infeliz neste lugar. Graças a você, eu amei e amo viver aqui. Obrigado, Tifanny, por me fazer tão feliz. Eu amo você tanto e eu apenas não consigo esperar um segundo a mais. Quero estar contigo e correr na chuva com você. Você aceita? aceita namorar comigo? — De forma suave ele pegou em minha mão quando suas palavras tão doces terminaram com um ponto de interrogação
Com meus olhos cheios de lágrimas, respondi:
— Steven, graças a você, todos os dias nublados e chuvosos se tornaram felizes. Desde o momento que te vi, você cresceu em mim de uma forma indescritível. Então sim, eu aceito está com você! Aceito correr na chuva com você! E sem dúvidas eu aceito namorar com você!
Nossos olhos lacrimejavam e, juntos com as lágrimas de nossos olhos, uma chuva caiu para intensificar aquele amor que em nossos corações reinou. Com um beijo, selamos nosso primeiro e único amor de inverno que, de uma forma tão pura, cresceu e irá crescer dentro de cada um de nós.