Sobre um cobertor macio, um pequeno garoto tremia desesperadamente. Algo parecia estar pisando em seu corpo, sobre o cobertor. Eram os pés dos demônios, que vagarosamente afundavam seus narizes, sentindo seu cheiro "delicioso". Algo peludo roçou em seu pescoço, separado apenas pelo lençol.
— Ahh! — O garoto cobriu a boca para não fazer barulho.
Aquela manta era seu único território seguro. No entanto, se saísse debaixo dela, nem poderia imaginar o que aconteceria. Seu coração batia cada vez mais rápido, como se quisesse escapar de dentro dele. Isso o deixava ainda mais nervoso, porque os demônios pareciam ser capazes de ouvir as batidas de um coração humano.
Seus membros — braços, pernas, pescoço — tremiam descontroladamente, como se tivessem corações próprios.
Em movimentos involuntários seus músculos se contraíram, sua pele formigava, algo parecia se rastejar de dentro de sua carne, mexendo-se de dentro para fora. "Eles podem me controlar assim?".
A bexiga latejava entre suas pernas. Ele se apertou, tentando segurar. Quanto mais o tempo passava, mais insuportável ficava.
A dor o fez se contorcer, suas pequenas mãos agarraram o pano da cama, puxando-o com força. Ele não queria sentir medo. Não queria sentir dor. Seu pai sempre dizia que precisava ser forte, que choramingar era coisa de criança pequena.
Mas, no fundo, o mais aterrorizante para ele... era seu próprio pai.
Então, ele chorou silenciosamente. Não fez barulho. Não gemeu. Apenas suportou.
O suor deslizava por sua pele. Queria chamar pela mãe, mas sabia que não podia. Sua garganta estava travada. Um nó doloroso crescia ali, sufocando-o por dentro. Seus ouvidos latejavam, com um zumbido agudo.
A dor na bexiga se intensificou, mas, estranhamente, começou a sentir prazer na dor. Um arrepio percorreu seu corpo. Ele sabia que a dor podia ser moldada, transformada em algo diferente. Bastava acreditar nisso.
Os demônios deviam tê-lo possuído.
A dor não existia mais.
— Você está sozinho. . ..
— Ninguém liga para você... .
— Ninguém vai chorar se você partir.. .
Os sussurros rastejaram em seus ouvidos como dedos invisíveis, cada palavra arranhando sua mente. O menino se sentir ternamente solitário. Mas, de repente, eles gritaram.
— SEU VERME!
— POR QUE NÃO DESAPARECE???
— A VIDA DA SUA MÃE FOI QUASE ARRUINADA POR SUA CULPA MAS GRAÇAS AQUELE HOMEM QUE VOCÊ CHAMA DE "PAI" NÃO FOI
Um som ensurdecedor explodiu dentro de sua cabeça.
CRACK!
A dor foi instantânea. Um estalo horrível ressoou dentro de seu crânio, como vidro se partindo. Seus tímpanos pareciam ter se rasgado. Um zumbido cortante substituiu qualquer outro som, um chiado interminável que latejava em sua cabeça como marteladas.
Seus olhos se arregalaram. Ele tentou tapar os ouvidos, mas o toque de seus próprios dedos só intensificou a dor lancinante. Um calor escorreu pelo lado do rosto, pingando sobre o travesseiro. Sangue.
Ele tentou gritar, mas sua voz não saia. A pressão em sua cabeça aumentava. Seu equilíbrio vacilou, mesmo deitado. Era como se seu cérebro estivesse afundando em um mar revolto, prestes a ser engolido.
Seu peito subia e descia rápido demais.
O quarto ao redor parecia girar. As sombras dançavam, e os demônios riam.
Os gritos dentro de sua mente não paravam.
Seu próprio corpo começou a desobedecer. Suas mãos tremiam, seus músculos se contraíam involuntariamente, e uma dor aguda pressionava seu peito.
Seu coração estava batendo forte demais.
Ele não ia aguentar.
Foi quando, sem pensar, jogou a manta para longe. Finalmente ele pode respirar melhor.
As vozes cessaram dando um momento de alívio. Aquilo tinha sido mais doloroso do que a dor na bexiga.
E encarou o vazio.
A escuridão diante dele não era apenas ausência de luz. Era viva. Um breu profundo que parecia devorá-lo por dentro tomando forma. Ele piscou, tentando distinguir alguma coisa, qualquer coisa, mas não havia nada além do abismo negro.
Então, mãos tocaram sua nuca.
Dedos enrugados fecharam-se ao redor de seu pescoço.
Instantaneamente, o menino estremeceu.
— N-não... — Sua voz saiu fraca, trêmula.
Tentou lutar. Mas foi inútil.
Estava atrás dele.
O demônio. A criatura cuja face não podia ser vista.
Os dedos frios apertaram seu pescoço. Sua pele delicada logo ficou vermelha, sufocada pelo aperto.
— Ahh... — O menino arfou, o ar escapando em soluços desesperados.
O medo se espalhou por seu corpo como veneno. Seu estômago revirou. E então, um calor úmido escorreu entre suas pernas.
Urina.
Ele queria lutar. Queria respirar. No fundo, não queria morrer.
Seus pequenos dedos tentaram afrouxar o aperto. Mas era impossível. Era um demônio.
— P-por... f-favor...
A voz vazia sussurrou em seu ouvido.
— Ninguém vai ligar mesmo.
A escuridão no quarto parecia parte do corpo das criaturas. Elas estavam por toda parte. Os outros demônios riram, zombando dele. Garras afiadas fincaram-se em sua pele.
Ele não conseguia falar. Não conseguia respirar. A garganta queimava. Seus pulmões ardiam.
Era obra do próprio Diabo.
As lágrimas desceram por seu rosto. Mesmo sabendo que eram inúteis, simplesmente escorreram.
Os dedos frios apertaram mais. Seu corpo se debatia, mas sem força. O ar faltava. Seus pulmões queimavam.
A escuridão dentro de sua mente crescia. Seus últimos pensamentos foram devorados pela escuridão dos demônios.
Ninguém ligaria mesmo, certo?
Que estúpido.
Ele não aguentava mais. Sua visão estava turva, sua mente estava escurecendo. Os demônios estavam lá, rindo, se alimentando de sua miséria. Quando seus olhos se fecharam, a dor finalmente parou.
Seu corpo ficou frio. Os olhos, antes cheios de pavor, agora estavam vazios. Os demônios riram. Suas bocas se abriram em fendas grotescas, devorando as vísceras do menino enquanto a escuridão consumia tudo ao redor.