00 - Prólogo
“Cortesã de Maranwethiel”
Esse é meu estilo de vida…
Mas nem sempre fui assim…
Carrego um passado sombrio, mas graças a minha deusa Maranwethiel eu consegui forças para superar meu passado…
Eu encontrei meu caminho na arte de ser cortesã e desde então sigo seus ensinamentos e tiro vantagens deles…
Quando eu era mais nova as coisas eram bem difíceis devido ao ódio que Nerissys, minha irmã mais velha, tinha por mim, mas isso não foi problema por muito tempo pois assim que pude eu a matei…
Mesmo após a morte dela, ela continua me atormentando até hoje e provavelmente irá continuar até meu último suspiro…
Às vezes até penso que as coisas poderiam ter sido diferentes, mas não me arrependo do que eu fiz…
Mas não possuo o poder de mudar o passado…
Ainda não pelo menos…
Já ia esquecendo de me apresentar…
Meu nome é Sariandi Petren e essa é a minha história!
01 - Nascimento bastardo
Vou começar minha história do princípio, não que eu me lembre, mas Yllauvial, minha mãe, me contou sobre o dia do meu nascimento.
Ela nunca falou sobre meu pai, acho que ela não queria decepcionar ainda mais Saeliel, o marido dela, pois eu sou uma filha bastarda, fruto da traição da minha mãe.
Saeliel era um simples artesão, eu sempre o respeitei, mas nunca o vi como meu pai, apesar dele sempre ter me tratado como as filhas dele, e ele me ensinou como ser uma artesã habilidosa.
Já a minha mãe era uma cavaleira, Saeliel sempre odiou isso pois temia pela morte dela.
Apesar da traição de minha mãe, Saeliel a perdoou, e eles conseguiram retomar a vida deles como era antes, e ela passou a não se importar com os insultos que recebia pois ela o amava e ele retribuía e isso já era o bastante para ela.
Antes de eu nascer minha mãe engravidou e nasceu a Nerissys, sete anos depois eu nasci e seis anos depois do meu nascimento veio a Naevys, as três filhas de Yllauvial, crianças tão pequenas e indefesas, mas com um futuro tão sombrio que ninguém poderia ter previsto.
02 - Infância complicada
Nunca achei Amborn um país muito grande, mas sempre que eu andava com minha mãe pelas ruas da cidade eu percebia os olhares que minha mãe recebia.
Quando eu era pequena estranhava não ter muitas pessoas parecidas com as pessoas da minha família, eu não entendia porque vivíamos em uma sociedade mista ao invés de morar com outros iguais a nós, mas nunca me importei muito com isso, apenas achava estranho.
Ainda pequena descobri que minha mãe era cavaleira, e na primeira vez que a vi em sua armadura fiquei fascinada.
Ao completar seis anos, pedi para ser cavaleira também, na época minha mãe achou que era apenas fascínio de criança por causa da armadura reluzente e ela fez de tudo para me convencer a aprender a fazer artesanato com o Saeliel, e no fim acabou me convencendo.
Após um ano aprendendo artesanato eu já era uma exímia artesã, e eu sabia disso, mas Nerissys sempre me odiou por eu não ser filha do pai dela, e sempre fez questão de demonstrar o ódio que sentia por mim, pois se lembra do quanto seu pai ficou decepcionado quando soube que foi traído e isso a fez nunca gostar de mim, sempre que podia ela falava mal de mim, implicava comigo, me batia,e apesar de minha mãe falar que me amava tanto quanto minhas duas irmãs, tudo isso fez com que eu acabasse duvidando de mim mesma, e essa dúvida se tornou em minha maior fraqueza.
Tudo que eu tentava fazer, eu nunca terminava pois achava que não era boa o bastante para poder fazer, independente do que fosse, então acabei abandonando o artesanato.
03 - Crime e lição
Quando eu tinha oito anos eu já me sentia péssima em tudo que eu fazia, eu não aguentava mais ser maltratada por minha irmã mais velha, então um dia eu aproveitei que minha mãe estava ocupada cuidando de Naevys e Saeliel estava fora de casa trabalhando com artesanato, então eu fui no quarto da minha mãe, peguei sua espada e assim que Nerissys saiu do banho eu enfiei a espada bem no meio de suas costas.
No momento de susto ela não gritou de imediato, mas quando finalmente se deu conta de que sua vida estava para ser extinta ela começou a gritar mas eu rapidamente a impedi tampando sua boca, quando ela viu que já não tinha mais forças para se debater ela gentilmente segurou a minha mão e eu soltei a boca dela.
Foi quando ela me pediu perdão pelo jeito que me tratou durante toda a minha vida e disse que apesar de tudo ela me amava, mas já era tarde demais, talvez as coisas pudessem ter sido diferente entre nós, se ela tivesse demonstrado esse amor por mim antes em vez de todo o ódio que ela sentia, talvez nós pudéssemos até ter sido amigas, mas já não tínhamos mais tempo para isso, e em seu último suspiro ela me pediu para cuidar da Naevys e nunca deixar a nossa irmã mais nova ser igual a ela, eu prometi a ela que faria isso.
Quando minha mãe finalmente havia acabado de cuidar da Naevys e foi ver porque a Nerissys estava demorando tanto para sair do banho ela nos encontrou ali no chão em frente ao banheiro abraçadas, eu estava encharcada com o sangue da Nerissys mas não queria soltá-la, só quando minha mãe forçou para eu soltar o corpo da minha irmã para entender o que tinha acontecido que eu fui perceber o quanto eu estava chorando, mas não sabia ao certo o motivo daquelas lágrimas pois eu estava muito confusa com meus sentimentos.
Após explicar para minha mãe o que eu havia feito com minha irmã ela pegou a espada e saiu de perto de mim, eu fiquei com muito medo pois no momento não sabia o que ela faria, minha mãe sempre brigou com a Nerissys pelo jeito que ela me tratava, eu não imaginava o que minha mãe poderia fazer comigo por eu ter tirado a vida da minha irmã, então eu simplesmente fiquei ali no chão paralisada.
Após um tempo minha mãe voltou, pegou o corpo da Nerissys, o levou de volta ao banheiro e me chamou para lavar o corpo dela para limpar o sangue, ela viu que eu não estava conseguindo levantar por estar paralisada, mas não me apressou, após alguns minutos eu finalmente consegui me levantar e fui fazer o que ela havia mandado, após lavar o corpo de minha irmã ela mandou eu ir buscar toalhas limpas, para eu poder me lavar também e me secar e também para poder secar o corpo de minha irmã.
Após eu me lavar fui me vestir, minha mãe tinha mandado eu pegar roupas limpas da Nerissys, eu fui até o quarto dela e peguei o vestido favorito dela, após vestir minha irmã minha mãe me ajudou a levar o seu corpo até o quintal onde fez eu cavar um buraco para fazer um túmulo para Nerissys, após cavar eu coloquei o corpo da minha irmã no buraco.
Depois de tapar o buraco minha mãe me disse que fez eu fazer tudo isso para que eu aprendesse o valor de uma vida, que apesar de minha irmã sempre passar ódio pra mim no fundo ela me amava, e eu teria que conviver para o resto da vida com a vida dela tendo sido tirada por minhas mãos.
04 - Guardiã
Após eu ter enterrado minha irmã, minha mãe me mandou entrar e esperar na sala e foi em direção ao quarto da Naevys e depois de alguns minutos voltou com ela no colo e pediu para que eu a segurasse, e foi em direção a mesa onde pegou uma folha e um lápis e começou a escrever algo, após terminar de escrever ela dobrou o papel e o deixou sobre a mesa e foi para o seu quarto.
Após alguns minutos ela voltou com duas malas na mão, ela pegou Naevys do meu colo e me entregou a mala falando para pegar algumas roupas e coisas que fossem importantes para mim.
Eu não entendi do que se tratava, até cheguei a pensar que ela ia me expulsar de casa, mas a obedeci, quando voltei ela já estava com a mala dela arrumada e uma mochila com as coisas da Naevys e falou que nós iríamos fazer uma viagem.
Há um ano eu matei a Nerissys e fugi de casa com minha mãe e Naevys, no caminho minha mãe não havia falado nada, mas quando finalmente chegamos em Darvyre minha mãe me explicou que não sabia qual seria a reação do Saeliel ao chegar em casa e encontrar sua filha mais velha morta e por isso fugimos.
Após fugirmos de casa, minha mãe abandonou o sobrenome de casada dela, Maghorn, e voltou a usar seu sobrenome de solteira que era Petren, e também tirou o Maghorn do meu nome e do da Naevys, substituindo também por Petren, eu gostei disso, pois não gostava daquele nome.
Durante esse um ano que estamos morando em Darvyre as coisas estão sendo bem diferentes de como era antes, eu ajudava minha mãe a cuidar da Naevys que já estava com três anos.
Em meus momentos livres eu explorava o país de Darvyre em toda sua vastidão de planícies onduladas e já conhecia cada segredo da região e era muito boa lidando com os animais locais
Aos dez anos decidi pedir novamente para minha mãe deixar eu ser cavaleira e dessa vez ela aceitou e começou a me treinar, a dúvida que eu sentia de mim mesma passou após eu ter matado Nerissys e sentia que era capaz de fazer qualquer coisa.
Eu cresci bastante nesses dois anos após ter matado minha irmã, apesar de não sentir culpa por ter matado ela não consigo esquecê-la, pois ela aparecia para mim todas as noites enquanto eu dormia, mas não me atormentando como fazia antes, apenas estava lá.
Cumprindo com minha promessa me tornei guardiã da Naevys, minha mãe conseguiu um trabalho como Cavaleira em Darvyre e sabia que podia confiar que eu cuidaria da minha irmã mais nova, no meu tempo livre eu treinava o que minha mãe me ensinava, e já não explorava tanto o país mas quando o fazia levava a Naevys comigo.
Mais um ano se passou e eu já estava com onze anos, mas era só eu e minha irmã Naevys, nossa mãe havia morrido na guerra poucos meses antes do meu aniversário, a guerra não durou muito mais foi devastadora, Darvyre foi muito afetado mas saiu como vencedor na guerra, após isso veio a calmaria que parecia anteceder um novo desastre.
05 - Mercenária
Aos doze anos as coisas estavam começando a ficar difíceis para minha irmã e eu, então decidi seguir o legado de minha mãe e me tornar cavaleira de Darvyre, mas fui recusada por ser muito nova, então tomei uma decisão que não sabia se minha mãe sentiria orgulho de mim ou não, me tornei cavaleira, mas não foi com o código de honra do país, foi com outro código de honra, me tornei uma cavaleira mercenária.
Foi a forma que consegui de arrumar dinheiro para trazer comida para nós e poder sustentar a casa que nossa mãe nos deixou.
Naevys já estava com cinco anos e sentia muita falta da nossa mãe, eu tinha um caminho muito difícil pela frente para poder cuidar dela, sabia que cuidar dela era o certo a fazer pois estávamos naquela situação graças a mim, se eu não tivesse matado a Nerissys ainda estaríamos morando em Amborn, minha mãe não teria morrido na guerra e estaríamos vivendo em paz.
Sempre que Nerissys aparecia para mim enquanto eu dormia, mesmo sem ela fazer nada me voltava toda a humilhação que ela me fez no passado, mas no final quando eu estava perto de acordar eu me lembrava dela ter dito que me amava e isso me dava forças para seguir em frente, por mim e pela Naevys, e isso me fazia sentir que estava sendo observada pela Nerissys enquanto eu estava com os outros mercenários fazendo com que eu me destacasse no meio deles apesar de ser a mais nova entre eles.
E pude provar o meu valor sendo convocada do meio deles para me tornar a cavaleira oficial de Darvyre mais nova a ser convocada na história do país, após eu ter me tornado cavaleira do país alguns antigos companheiros mercenários se revelaram como inimigos, mas os derrotei a todos em combate.
Dois anos se passaram desde que me tornei cavaleira de Darvyre, finalmente eu tinha certeza do quão orgulhosa minha mãe estaria de mim, pois além de ter me tornado uma cavaleira como ela era, eu cuidava da Naevys todos os dias e a ensinava como ser uma artesã assim como eu aprendi com o pai dela, assim como nossa mãe achou perigoso para mim me tornar uma cavaleira quando falei isso aos seis anos, eu tinha a mesma preocupação com a Naevys, pois já sabia o quão perigoso era, mas pra minha sorte ela nunca teve esse interesse.
06 - A mística
Quando eu completei quinze anos me lembrei que foi com essa idade que Nerissys foi morta por mim e chorei escondida da Naevys, quando percebi que ela estava acordada eu fui pra cidade com a desculpa que iria dar uma volta e mandei ela ficar em casa.
Eu corri para um esconderijo que eu tinha na cidade que ninguém mais sabia dele, pois nos seis anos que estava em Darvyre nunca vi ninguém além de mim indo lá, mas daquela vez algo estava diferente, alguém esteve lá e deixou um livro, quando me aproximei era um tomo sagrado de Maranwethiel a deusa da vingança, trapaça e luxúria.
Comecei a ler o tomo, e quando terminei de ler fiquei curiosa para conhecer mais dos ensinamentos da deusa pois sentia que aquilo que li condizia com minha vida, pois eu já tinha me vingado da Nerissys quando era criança e a matei e utilizei da trapaça enquanto estava com os mercenários, foi quando eu senti que a deusa parecia estar me guiando durante a minha vida toda.
Quando saí do meu esconderijo dei de cara com uma mulher vestida como uma roupa que destacava as curvas de seu corpo, ao me aproximar ela se apresentou para mim como Bryseis Domarien, a Mística, e me disse que havia deixado o tomo para que eu o encontrasse, pois Maranwethiel a havia instruído a fazer isso, então ela me levou para o templo de Maranwethiel.
Chegando lá pedi que ela me levasse diretamente à biblioteca do templo pois eu queria aprender mais sobre a deusa Maranwethiel, passei horas lendo sobre seus ensinamentos e quando percebi já havia anoitecido, peguei alguns livros e levei para casa, ao chegar em casa cuidei da Naevys e continuei com a leitura até cair no sono.
Quando terminei de ler todos os livros que eu havia pego voltei no templo procurando a Bryseis, mas ninguém no templo a conhecia, era como se ela nunca tivesse existido, senti então que foi a própria deusa que se personificou para me guiar até ela.
Depois desse acontecimento eu deixei de ser cavaleira de Darvyre e passei a frequentar o templo de Maranwethiel todos os dias e levava a Naevys comigo e lá passávamos horas estudando os ensinamentos de Maranwethiel.
07 - Cortesã
Lembro-me como se fosse ontem quando comecei a aprender os ensinamentos de Maranwethiel, nem acredito que já se passaram seis anos, nesse tempo aprendi muito sobre como conquistar o mundo através da luxúria, por onde eu e Naevys passávamos deixávamos todos aos nossos pés.
A deusa Maranwethiel representa cada etapa da minha vida, a vingança que me fez matar a Nerissys quando eu era criança, as trapaças da minha adolescência quando me juntei aos mercenários e agora a luxúria, com ela aprendi a lisonjear, agradar e ouvir, com isso conquisto a todos por onde passo e faço com que façam tudo o que eu quero, mas não faço apenas por mim, faço também para dar uma vida boa para a Naevys.
No decorrer da minha vida tentei alguns relacionamentos, mas nunca consegui manter uma conexão profunda, não sei ao certo se é o meu passado de dúvida sobre mim mesma querendo me atacar novamente ou se é devido a Nerissys ainda me atormentando.
Minha mãe havia me alertado sobre isso em nossa viagem para Darvyre, que a morte da Nerissys ia me atormentar até o fim da minha vida, e que a vida dela estaria comigo até o meu último suspiro.
Hoje em dia penso em como a morte dela poderia ter sido evitada e que poderíamos realmente ter vivido como amigas assim como eu e a Naevys vivemos hoje, poderia ser nós três aqui em Nifrish.
Mas talvez nem tudo esteja perdido, se a vida dela ainda está comigo talvez ainda exista uma forma de trazê-la de volta dos mortos, e é isso que desejo fazer, vou fazer de tudo que puder para trazer a Nerissys de volta para junto de mim e da Naevys.
Meu nome é Sariandi Petren e essa é a minha história!