**DIÁRIO de VERA KRIZB**
Meu nascimento foi algo feliz, dizia mamãe. Papai estava contente com a notícia, já que eu era a primeira filha deles.
Nossa vida era normal; não éramos pobres, mas também não éramos ricos, classe média, para ser mais exata.
Vivíamos no oeste do reino, na vila de Firost. Lá, a situação era turbulenta; aconteciam vários roubos e mortes, e percebi que isso era parte da desigualdade.
Aqueles que tinham pouco fariam tudo para sobreviver, mas eu não apoiava isso.
Tirar a vida de alguém é tão repugnante e sombrio. Eu não quero isso para a minha vida.
Nossa vila não tinha muitos soldados para fazer patrulha, e por isso aconteciam vários crimes.
Para as pessoas que estão lá em cima, no topo, não importa o que é importante para você, mas sim o que você pode valer para elas.
Percebi isso desde cedo.
Com 9 anos, tive que trabalhar como atendente nas guildas, mas eu trabalhava para servir comidas.
Ali foi quando percebi que existem pessoas más, pessoas com o coração coberto por escuridão.
Eu vi que ninguém está puro neste mundo, mas quero acreditar que as pessoas podem, sim, ter um lado bom.
Como minha mãe trabalhava nas casas dos vizinhos na redondeza para cuidar delas e meu pai era um comerciante que vendia remédios medicinais, estávamos tranquilos. Havia sufoco, mas tentávamos estabelecer o aroma da felicidade.
O que é felicidade? A família se encaixa nisso; a união é a felicidade.
Aos 11 anos, comecei a praticar luta com espada. Queria ser caçadora; ninguém queria isso porque era perigoso.
Mas esse é o meu objetivo. Como caçadora, teria uma boa renda e conseguiria comprar as coisas que desejávamos.
Depois de alguns meses, a vila começou a ficar mais agitada, já que o número de soldados estava diminuindo com o tempo.
Parece que o rei estava com a cabeça a prêmio e ordenou que houvesse vários soldados no reino para protegê-lo.
Faz sentido? Sim, mas só se for para proteção dele. Eu sabia que ninguém se importaria com pessoas como nós.
Lixos sempre serão lixos; a visão da alta sociedade é que eles são deuses.
Aos 15 anos, comecei a me aventurar, matando monstros fracos, mas não para pegar recompensas e sim para treinar.
Um mês depois, veio o falecimento do meu pai. Ele foi morto por bandidos que depois pegaram toda a sua mercadoria.
Meu pai estava trabalhando até de noite porque começou a faltar comida em casa; a vila já não tinha mais expectativa alta de alimentos.
O reino agora era mais opcional, já que todos os "deuses" viviam lá. Existia uma taxa para a vila pagar e transportar uma certa quantidade de comida.
Com a morte do meu pai, fiquei em choque várias noites e dias; não queria fazer mais nada.
Mas minha mãe, que estava sofrendo mais, me erguia e dizia que tínhamos que continuar.
Como ela consegue?
Aos 18 anos, me tornei caçadora. Comecei a treinar ainda mais e ganhei potencial para usar magia de água.
Treinava todos os dias para conseguir controlar essa magia; quanto mais tempo passava, mais eu conseguia aperfeiçoar.
Para você conseguir controlar um elemento, precisa ser um só com ele; sentir toda a natureza era essencial.
Meses depois, consegui aperfeiçoar tanto a água que tive uma surpresa: consegui usar sua variante, que era a magia de gelo.
Fiquei encantada com isso. É estranho falar isso, mas tudo se tornou tão suave, era como se eu conseguisse controlar tudo à minha volta.
Um ano depois, veio a magia do vento. Não sei como surgiu, mas foi do nada; minha mente não estava processando direito com tanto poder.
Percebi que eu era muito talentosa, mas meus olhos começaram a mudar, do preto para um azul escuro, e com isso vinha uma sensação de que tudo ao meu redor era diferente.
Comecei a ver rastros por toda parte, que depois fui entender que eram as magias das pessoas; parecia tão lindo e, ao mesmo tempo, assustador.
Aos 23 anos, virei uma soldada de elite. Muito rápido, já ganhei esse posto e sou respeitada pelo povo. Mas sinto que isso é um exagero por causa de um título.
Após 7 meses, o reino estava em guerra contra as bestas de todos os tipos. Foi um momento de tensão, mortes por todo lado.
Pensei que viveria no inferno; ainda bem que o rei mandou soldados para proteger minha vila natal, assim eu poderia lutar sem me preocupar tanto.
Várias semanas matando bestas e tentando sobreviver a tudo isso.
Dois dias depois, matei pessoas. Eu não sabia que eram um... não consegui parar de vomitar. Estou enojada, não consigo nem me alimentar.
Mas disseram que eram semi-humanos sendo controlados, mas na realidade eram humanos de verdade.
Descobri que os vilarejos estavam com muita falta de comida e as pessoas decidiram ir ao reino, mas estava cheio demais.
Então disseram que as pessoas do outro muro eram semi-humanos, bestas que se transformaram em humanos.
Como fomos enganados por isso? Eu não consigo acreditar.
Aos 24 anos, despertei uma nova habilidade que eu não sei usar direito; era como um déjà vu, mas só acontecia quando eu estava lutando.
Contei ao reino sobre meus olhos e eles declararam que eu estava amaldiçoada.
Fiquei fora treinando, mas também sendo vigiada. Foi um treinamento brutal e torturante para reforçar a mente.
Eles fizeram uma tatuagem na minha barriga, um selo de amaldiçoada. Minha vida está nas mãos deles.
Se eu for um potencial perigo, eles irão me caçar e matar.
Aos 25 anos, foi o dia mais triste da minha vida: minha mãe morreu de fome. A vila estava em completo caos; ninguém estava comendo, as condições estavam precárias.
O reino não estava mandando soldados e dobraram as taxas e a quantidade de comida; eu estava fora.
Passei dois anos sem ver minha mãe, e agora estou vendo-a sem alma, largada no chão. Eles nem tentaram enterrá-la, e as pessoas aqui...
Eu tenho uma vontade imensa de destruir tudo, mas há uma parte de mim que não deixa. Você não queria isso, né mãe?
Eu odeio todas as pessoas do reino. Estou cansada de ser otimista, achando que esse mundo vai melhorar.
Passei o dia todo olhando o corpo sem vida da minha mãe, mas não consigo fazer nada. Parece que tudo está desmoronando.
Enterrei minha mãe ao lado do túmulo do meu pai. Quanta dor eu tenho que carregar para ficar em paz?
Aos 27 anos, me tornei comandante do reino. Mesmo que eu não goste desse povo, não tenho outro jeito de proteger a todos.
Como comandante, acho que consigo trazer um pouco de paz para a vila. Eu não quero mais pisar em corpos.
Que o gelo da minha espada possa congelar todos os meus inimigos, e a água do meu corpo possa afogar todos os pensamentos negativos enquanto o vento me guie até a paz que eu tanto almejo.
FIM...