Eu tinha apenas cinco anos quando, pela primeira vez, senti o peso de ser a segunda opção. Naquela época, eu tinha duas amigas mais velhas, ambas com seis anos e no segundo ano do fundamental. Estudávamos juntas na mesma sala, já que as turmas eram pequenas, e tínhamos a mesma professora.
Eu as admirava tanto que achava que éramos inseparáveis, mas, na verdade, elas sempre me tratavam mal. E, mesmo assim, eu continuava correndo atrás delas, insistindo na ideia de que éramos amigas. Tudo mudou em uma manhã, quando uma nova aluna chegou à sala. Ela também era do segundo ano e, rapidamente, tornou-se o centro das atenções delas. Fui deixada de lado.
Eu me perguntava: "Por que elas me tratam assim, mas a novata não?" Foi então que me afastei. Pela primeira vez, percebi que merecia ser tratada com respeito. Não odiei a nova aluna nem senti inveja dela. Pelo contrário, ela me abriu os olhos. Ainda assim, eu chorava sozinha, tentando entender por que parecia tão difícil para mim ter amizades verdadeiras.
Os anos passaram, e eu continuei me sentindo deslocada, pulando de grupo em grupo, como se nunca pertencesse de verdade a lugar nenhum. No entanto, eu tinha um consolo: minha amiga de infância. Nós crescemos juntas e, mesmo quando ela se mudou para longe, nossa amizade continuou especial. Quando ela vinha visitar, era como se o tempo não tivesse passado.
Quando completei 11 anos, fiz uma amizade que parecia diferente. Ela era minha melhor amiga. Nós nos divertíamos tanto que, mesmo quando brigamos por causa de uma música do Luan Santana, foi impossível não rir depois. Mas minha felicidade durou pouco. No final do sexto ano, ela me contou que iria se mudar e não estudaria mais comigo.
Fiquei devastada. Ela era a única que não participou de uma espécie de “greve de silêncio” que a turma decidiu fazer contra mim. Ela era minha única aliada. Quando ela partiu, me senti sozinha novamente.
Pouco depois, minha amiga de infância se mudou para perto de mim. Fiquei feliz por tê-la de volta, mesmo sabendo que sua família estava passando por dificuldades. Foi como se minha vida ganhasse um novo fôlego. Estávamos juntas novamente, compartilhando segredos e momentos que eu sabia que eram únicos.
No sétimo ano, me tornei alguém diferente. Cansada de ser pisada, comecei a reagir. Não deixava ninguém me ofender sem resposta. Apesar disso, os problemas continuaram. Meu primeiro namoro foi um desastre. Ele dizia gostar de mim, mas sempre ficava do lado daqueles que me faziam mal. Outro garoto apareceu, mas o ciclo de desrespeito e decepção se repetiu. Parecia que eu tinha cara de idiota.
Depois de muitos altos e baixos, conheci outro garoto. Ele parecia diferente, mas, mais uma vez, as coisas não deram certo. Quando ele sugeriu um relacionamento aberto, decidi terminar. Não era para mim. O pior foi ver minha amiga de infância e um amigo ficarem do lado dele.
Aos poucos, percebi que estava cercada por pessoas falsas. Elas falavam mal de mim pelas costas e desconsideravam meus sentimentos. Cansei de relevar. Fui me afastando. No ensino médio, embora a sensação de ser a segunda opção persistisse, as pessoas ao menos eram mais diretas comigo.
Mesmo na universidade, a história se repetiu. Uma amiga que eu acreditava ser diferente provou que, mais uma vez, eu estava errada. A sensação de ser sempre a segunda opção continuava me perseguindo, tanto na amizade quanto no amor.
E então me pergunto: "Por quê?" Não sou feia. Tenho 1,67 de altura, um corpo de modelo, cabelos bonitos, pele sem espinhas e um sorriso alinhado. Sou educada, calma, gosto de aprender e tenho interesses variados. Por que, então, as pessoas ainda me deixam para trás?
A verdade é que, apesar de tudo, continuo acreditando que mereço algo melhor. Talvez a resposta para essa pergunta não esteja nas pessoas ao meu redor, mas na maneira como aprendo a valorizar a mim mesma.