Fabell observava Sávio de longe, escondida entre as flores que emolduravam a janela de seu quarto. O sol da tarde tingia o céu de tons alaranjados, e a melodia da flauta de Sávio se misturava ao canto dos pássaros, criando uma canção melancólica que ecoava em seu coração. Ela sentia a alma dividida entre o desejo de voar com ele, de se perder nas estradas poeirentas e nos céus azuis, e a necessidade de permanecer enraizada em sua pequena vila, onde a vida seguia um ritmo calmo e previsível.
Sávio, com seu olhar penetrante e sorriso travesso, parecia sentir o olhar de Fabell sobre si. Ele interrompeu a melodia, erguendo o olhar e encontrando o dela. Um sorriso tímido se abriu em seus lábios, e ele gesticulou para que ela se aproximasse.
"Por que você se esconde, flor de camomila?" Ele perguntou, sua voz rouca e melodiosa, como o canto de um pássaro noturno.
Fabell hesitou, sentindo o coração bater forte em seu peito. A distância entre eles, a barreira invisível que separava seus mundos, parecia se tornar mais real a cada dia.
"Eu... eu só gosto de observar", respondeu, evitando o olhar de Sávio, que a atraía como um ímã.
Sávio se aproximou, seus passos firmes e silenciosos, como os de um gato. A cada passo, a distância entre eles diminuía, e a sensação de apreensão e fascínio tomava conta de Fabell.
"Você tem um olhar que me fascina", disse Sávio, seus olhos escuros e intensos penetrando em sua alma. "Você me lembra a primavera, o renascimento, a esperança."
Fabell corou, sentindo o calor tomar conta de suas bochechas. Ela nunca havia se sentido tão viva, tão intensa, como na presença de Sávio. Mas a cada palavra que ele dizia, a cada toque de seus dedos em seu braço, a certeza de que seu amor era impossível se tornava mais real.
"Não posso ficar", sussurrou Fabell, sua voz quase inaudível. "Minha vida é aqui, na vila. Com meus pais, com meus sonhos..."
Sávio a fitou com tristeza nos olhos. "E seus sonhos não podem voar? Não podem se perder nas estradas, nas cores do mundo? Você é como uma flor que floresce em uma gaiola, Fabell. Você precisa sentir o vento, a chuva, a liberdade..."
Fabell se encolheu sob o olhar de Sávio, sentindo a verdade em suas palavras. O desejo de voar, de se libertar, se acendia em seu coração como uma chama incontrolável. Mas o medo, a segurança que a vila lhe oferecia, a mantinham presa.
"Eu te amo, Fabell", disse Sávio, sua voz rouca de emoção. "Mas eu sei que o nosso amor é um pássaro ferido, que não pode voar. Eu preciso seguir meu caminho, e você precisa seguir o seu."
Fabell sentiu uma lágrima rolar por seu rosto. As palavras de Sávio ecoavam em sua alma, a dor da despedida se espalhando por seu corpo como um veneno.
"Eu também te amo, Sávio", sussurrou, sua voz tremendo. "Mas você é a tempestade e eu sou a flor. Somos diferentes, e nosso amor é como um sonho que se desfaz ao amanhecer."
Sávio se aproximou, seus dedos acariciando o rosto de Fabell. Seu toque era quente e suave, como um raio de sol em uma manhã fria.
"Não deixe que o medo te prenda, Fabell", disse ele, sua voz carregada de uma tristeza profunda. "Viva, ame, sonhe! E nunca se esqueça de mim."
E então, com um último olhar que carregava o peso de uma despedida eterna, Sávio se afastou, desaparecendo na névoa da tarde como um fantasma.
Fabell ficou ali, parada, seus olhos fixos no caminho por onde Sávio havia se ido. O sol se punha, e a escuridão da noite se aproximava, envolvendo-a em um abraço melancólico.
Ela sabia que jamais se esqueceria de Sávio, do amor impossível que os uniu, da dor da despedida que a assombrava como um fantasma. Mas ela também sabia que era hora de seguir em frente, de buscar seu próprio caminho, de encontrar sua própria liberdade.
E com o coração partido, Fabell voltou para a vila, para sua vida previsível e segura, mas agora carregando em sua alma a lembrança do amor que a havia feito florescer, e a dor da despedida que a havia marcado para sempre.