A Voz na Escuridão
O silêncio da noite era absoluto, exceto pelo som das botas de Kalran esmagando o gelo sob seus pés. Ele caminhava rápido, a respiração formando nuvens de vapor no ar gélido. A floresta ao redor estava mergulhada em trevas, e as árvores retorcidas pareciam sombras vivas.
Ele não deveria estar ali. Ninguém deveria.
Mas Kalran não tinha escolha. O rei de Tunskard havia ordenado a busca de um artefato perdido — uma lâmina lendária chamada Coração de Dragão. Diziam que ela estava escondida nas profundezas da Floresta Negra, guardada por algo que não era humano.
A cada passo, o peso da missão se tornava maior. Ele sentia o olhar invisível de algo o observando. Sua mão tocava o punho da espada com frequência, como se isso fosse suficiente para afastar o perigo.
Foi então que ele ouviu.
Uma voz.
Baixa, sussurrante, como o vento através de um corredor.
— Kalran...
Ele parou. A mão apertou a espada com força. Olhou ao redor, mas não viu nada além da escuridão.
— Quem está aí? — gritou ele, tentando soar firme, mas sua voz soou fraca no vazio.
Nenhuma resposta. Apenas o silêncio opressor.
Kalran deu mais um passo, e a voz retornou, desta vez mais próxima, mais clara.
— Por que veio até aqui, mortal?
Ele virou rapidamente, a espada desembainhada, mas viu apenas as árvores imóveis.
— Estou atrás do Coração de Dragão. Mostre-se!
A risada que ecoou pela floresta era fria, cruel.
— Tolos sempre buscam o que não compreendem.
A floresta pareceu mudar ao redor dele. As sombras se tornaram mais densas, as árvores mais altas, e o ar mais pesado. Kalran sentiu como se estivesse sendo puxado para um lugar diferente, um lugar que não pertencia ao mundo que ele conhecia.
— Saia das sombras! — gritou ele, tentando não demonstrar o medo que crescia em seu peito.
E então, algo se moveu.
Uma figura alta emergiu da escuridão. Não era humano, mas também não era completamente uma fera. Seus olhos eram fendas de luz brilhante, e sua pele parecia feita de obsidiana viva, reluzindo com um brilho fraco.
— Você deseja o Coração de Dragão, mas não sabe o preço que ele cobra. — A criatura deu um passo à frente, sua voz ecoando como trovões distantes.
— Eu não tenho medo de pagar o preço — respondeu Kalran, embora soubesse que estava mentindo.
— Então prove — disse a figura, estendendo uma mão esquelética. No centro de sua palma, uma chama azul começou a arder, crescendo até tomar a forma de uma lâmina.
O Coração de Dragão.
Kalran sentiu sua respiração falhar. Ele estendeu a mão para pegar a espada, mas, antes que pudesse tocá-la, a criatura recuou, sua risada reverberando pela floresta.
— Apenas um coração puro pode carregar esta lâmina. O seu está cheio de sombras.
— Isso não é verdade! — gritou Kalran, mas as palavras pareciam fracas até para seus próprios ouvidos.
— Então me diga, Kalran... quantos morreram por sua ganância? Quantos você traiu para chegar aqui?
O rosto dele empalideceu. Ele sabia a resposta, mas não queria admitir. Ele havia matado, enganado e abandonado seus companheiros para alcançar o Coração de Dragão.
A criatura riu novamente, e a floresta ao redor começou a desmoronar, as sombras engolindo tudo.
— Você buscou o poder, mas encontrou seu fim.
Antes que pudesse reagir, Kalran foi consumido pela escuridão, sua própria culpa transformada em uma prisão eterna.
E assim, a Floresta Negra permaneceu inalterada, aguardando o próximo tolo que ousasse desafiar seus segredos.