Eva
Era uma vez, em uma aldeia pequena e antiga, uma mulher chamada Eva que vivia com sua avó Claude, uma senhora de setenta anos. Seus pais foram embora e deixaram Eva, a filha que eles nunca quiseram ter, pois ela era um pouco diferente das outras pessoas.
Ela gostava de brincar com os animais e jurava que eles falavam com ela. Seus pais a repreendiam com medo de serem queimados juntos com ela. Eva não via onde estava o problema; afinal, o que esses “dons” poderiam fazer de mal aos outros?
— Vó, vou para a floresta!! — gritou do quintal para que sua avó a ouvisse. A senhora de cabelos brancos já não sabia como convencer a garota de que precisava ficar longe da floresta, pelo seu próprio bem.
— Minha neta, quantas vezes preciso dizer que isso não é seguro? — Dona Claude falava enquanto se aproximava da porta com um pedaço de pão com geleia de morango. Eva mordiscou a parte interna da bochecha, não sabendo o que dizer.
— Mas vó, ninguém vai me ver na floresta! Todos têm medo das criaturas de lá — tentou convencê-la novamente. Eva realmente não conseguia compreender como estava se colocando em perigo ao contrariar sua avó. Seus olhos castanhos eram tão doces e inocentes. Falar com os animais era a única coisa que ela fazia porque realmente gostava. Seu emprego de meio período na única padaria existente naquele lugar era sufocante; os clientes podiam falar o que quisessem, mas ela nunca tinha o direito de se defender, temendo perder o emprego que ajudava muito sua única família.
Claudete tocou o ombro dela, pedindo sua atenção total.
— Não vai hoje, minha neta. Estou com um pressentimento ruim — suplicou pela última vez, já sem nenhuma esperança. Uma coisa que ela sabia era como sua neta era teimosa.
— Isso é só crendice; não vou demorar! — Eva sussurrou, tentando não machucar os sentimentos de Claudete, que deu um suspiro resignado.
— Cuidado, por favor! — foi a única coisa que pediu. O medo de perder sua neta era tão assustador, pois ela a amava muito.
— Pode deixar, vó. — Ela falou, depois de dar um beijo na bochecha de Claudete. Eva já estava no meio da floresta quando viu um dragão filhote sozinho e perdido. Ela se aproximou lentamente do bichinho, da mesma cor do fogo, não querendo assustá-lo.
— Olá, criaturinha, como está? — sussurrou baixo em outro idioma. No início, ela não sabia que mudava automaticamente o idioma ao se comunicar com os animais. Só quando seu pai ouviu e gritou que Eva percebeu.
— Onde estão seus pais? — continuou ao ouvir o dragãozinho sussurrar de volta. Para os outros humanos, aquilo não passou de um fluir. — Está com fome? — indagou, pegando um pedaço de pão que sempre levava na sua bolsa de pano velho. Era um hábito comum, já que sempre encontrava algum animal sem comida. Eva demorou alguns minutos para ganhar a confiança do dragão e mais cinco minutos para descobrir o nome dele.
— Bruxa! Bruxa! — ouviu um grito vindo do lado esquerdo, fazendo com que ela caísse no chão. Seu coração disparou junto com sua respiração; o medo dominou cada pedacinho do seu corpo. Eva correu de volta para casa, não sabendo o que dizer, sussurrando para si mesma: “eu não sou bruxa”. Ao chegar em casa, caminhou para o banheiro, se trancou lá dentro, tirou suas roupas e entrou na banheira, não se importando com o fato de ela estar vazia. Não queria que sua avó descobrisse e ficasse mal.
— Queimem a bruxa! Bruxa maldita! — os gritos do lado de fora fizeram com que as duas mulheres acordassem. Eva caminhou devagar para o lado de fora, pois suas pernas não paravam de tremer. Sua avó já estava do lado de fora, tentando acalmar a situação.
— Eva estava falando com um dragão — o homem que a viu mais cedo contou, aumentando de uma forma ridícula.
— Sim, mas… — Eva até tentou, mas logo foi cortada pelo rei daquela aldeia. Era ridículo acusarem-na sem ao menos ouvir sua versão. Era verdade que estava falando com um dragão, porém era mentira que ela estava o incentivando a atacar o local em que cresceu.
— Sem mais, vamos jogar ela do penhasco! — O rei, com uma voz arrepiante, avisou os guardas que já estavam em sua direção. Eva sentiu seu coração parar por milésimos de segundo; não sabia o que fazer para sair daquela situação.
— A minha neta, ninguém vai atirar no penhasco! — vociferou a senhora, entrando na frente da sua neta. O rei deu um suspiro irritado com tudo aquilo.
— Se continuar, a senhora vai junto… — avisou, querendo colocar algum juízo na senhora.
— Obscurum Vanishes! — Claudete sussurrou, segurando a mão da sua neta, e de repente as duas já não estavam ali, e sim no sudeste do país. Eva estava tendo dificuldade para entender o que havia acontecido. Primeiro, foi acusada de algo que nunca fez, e depois descobriu que sua avó era uma bruxa.
— A senhora é bruxa?! — Não dava para saber se era uma pergunta ou uma afirmação; seus pensamentos continuavam confusos. Claudete se apoiou em uma árvore meio torta, esperando sua neta se recuperar. Sabia que era normal Eva se sentir confusa.
— Por que nunca me contou? — indagou.
— De onde você acha que veio o seu dom? — perguntou de volta.
— Mas por quê? — questionou novamente. Se sua avó tinha um dom tão incrível, e ela também, por que tinham que esconder?
— Minha querida, o mundo não compreende que não somos maus — foi a única coisa que a senhora falou antes de voltar a caminhar para o lado esquerdo da floresta.
— O que faremos agora? — Eva perguntou, perdida em pensamentos.
— Vamos para as margens do rio Darya; há alguns bruxos e bruxas morando lá. — As duas continuaram andando até chegar às margens do rio. Claudete foi até uma caverna, dando duas batidas na pedra, esperando receber alguma resposta.
— Olá? — Eva sussurrou baixinho, ainda assustada com tudo o que aconteceu. Uma mulher alta, com cabelos vermelhos e olhos claros, abriu a “porta” magicamente.
— Quem são vocês? — a ruiva perguntou educadamente, com um sorriso gentil. Só os bruxos sabiam o local exato do esconderijo e por isso ela não sentiu medo.
— Somos da aldeia leste; precisamos nos esconder — Claudete contou rapidamente, sem muitos detalhes. A ruiva deixou as duas entrarem, e o que havia dentro daquela caverna era surpreendente. Havia muitas casas modernas, uma escola, bares, biblioteca, banco, padarias, mercados, lojas de roupas. Eva se sentia encantada com tudo aquilo; a aura daquele lugar era tão mágica.
— Podemos ficar aqui para sempre? — perguntou animada para sua avó. Claudete se sentia feliz ao voltar ao lugar em que cresceu e foi muito feliz.
— Claro, minha querida. — Afirmou, dando um beijo na bochecha dela.
— Você vai aprender muitas coisas sobre esse seu dom único e o melhor: não vai precisar se esconder. — A ruiva voltou com uma prancheta para fazer seu cadastro na escola e poder aproveitar tudo no lugar. Eva, a cada dia, foi se destacando mais e sendo cada vez mais feliz. Depois que se formou na escola de bruxos, abriu um negócio para os animais e seus donos, se apaixonou por um homem tão gentil e amoroso quanto ela e teve uma filha chamada Marye.
**Fim.**