O som da guitarra ecoava pelo corredor da Escola Musical Harmonia. Era o ensaio do Grupo Avançado, onde os melhores alunos se preparavam para o famoso Concurso Anual. Lara passava por ali cabisbaixa, carregando seu caderno de partituras como se fosse um escudo. Ela não fazia parte do Grupo Avançado, mas sua irmã, Clara, era a estrela principal. Como sempre.
Lara não era tímida por falta de talento — suas composições eram incrivelmente emocionantes, mas ela preferia o anonimato. O palco a aterrorizava. E naquela manhã, as coisas pioraram: o professor Almeida anunciou que o concurso exigiria duplas. E Lara foi emparelhada com... Rafa.
Rafa era conhecido como o “palhaço do campus”. Sempre atrasado, sempre inventando piadas e odiando regras. Lara quis protestar, mas o professor foi claro: ou competiam juntos ou estavam fora.
O primeiro ensaio foi um desastre.
— Tu nem sabe cantar direito! — reclamou Lara, enquanto Rafa dedilhava um violão como se estivesse numa roda de amigos.
— E tu escreve músicas que ninguém consegue entender. Parece poesia de livro chato. — Ele sorriu, tentando desarmá-la com charme, mas ela bufou e saiu batendo os pés.
Os ensaios seguintes não foram melhores. Rafa esquecia as letras, Lara surtava com os erros dele. O ápice foi quando ele chegou com um tamborim, dizendo que queria fazer uma “versão samba” da música que ela tinha escrito.
— Rafa, sério? Isso não é Carnaval! — Ela jogou uma almofada nele.
Mas, aos poucos, algo mudou.
Numa tarde, enquanto Lara tocava sozinha, Rafa a surpreendeu. Ele trouxe um café e ficou ouvindo. Quando ela terminou, ele disse:
— Tá vendo? É disso que eu tô falando. Quando tu toca, parece que o mundo para. Só que tu se esconde demais, Lara.
Ela corou. Era a primeira vez que ele falava sério.
Na semana seguinte, Rafa começou a levar os ensaios a sério. Ele revelou que a música era a única coisa que o fazia se sentir livre. “Mas o medo de falhar sempre me trava”, confessou ele. Pela primeira vez, Lara sentiu que os dois tinham mais em comum do que imaginavam.
Chegou o dia do concurso.
Eles tinham preparado uma música original, mas minutos antes de subirem ao palco, a partitura de Lara desapareceu. Rafa a encontrou chorando nos bastidores.
— A gente não precisa disso. Tu lembra de cada nota.
— Eu não consigo, Rafa.
Ele segurou suas mãos.
— Consegue sim. Porque eu tô aqui contigo.
A apresentação começou hesitante, mas Rafa improvisou na guitarra, incentivando Lara a cantar. Aos poucos, ela ganhou confiança, sua voz crescendo como se estivesse quebrando todas as barreiras que a mantinham presa. No final, a plateia ficou de pé.
Eles não ganharam o concurso. Mas algo melhor aconteceu. Rafa e Lara descobriram que juntos eram mais fortes. Na saída, ele brincou:
— Acho que a gente formou uma boa dupla. Bora gravar um álbum?
Ela riu.
— Com você cantando samba? Acho que não.
E assim, entre risadas, eles perceberam que o verdadeiro prêmio era o que tinham encontrado: música, superação e amor.
Fim.