Aviso: Este conto aborda a perspectiva de uma pessoa vivendo com esquizofrenia, explorando as distorções da realidade e os desafios da percepção e identidade. As experiências descritas são intensas e podem ser desconcertantes.
12 de dezembro de 2017
Hoje, eu acordei. Ou pelo menos, acho que acordei. Às vezes me pergunto se realmente estou vivendo ou se isso tudo é um reflexo quebrado de uma vida que eu perdi. O relógio da parede está marcando 11h57, mas o dia já não importa. Às vezes os números parecem se mover, como se eles estivessem tentando escapar de mim, como se o tempo tivesse medo de ser capturado.
Eu tentei sair da cama. O peso nas minhas pernas, ou seria o peso da minha mente? Não sei. Às vezes, meus próprios braços parecem ser feitos de concreto, e eu sou forçado a arrastá-los, como se fosse o único trabalho que eu tivesse. O que me assusta é que, por um momento, eu pensei que os braços estavam se arrastando sozinhos, como se estivessem se afastando de mim. Eu tentei chamá-los de volta, mas nada aconteceu.
A casa está silenciosa demais. Eu consigo ouvir os sussurros da parede. Eu juro que ouço. Sabe, os dias estão começando a me consumir. Não é o cansaço físico, é a coisa que se esconde nas sombras, que me observa com olhos que não consigo ver. Eu sei que ela está lá. Ela sempre está. Ela me chama de “fraco”, “inútil”... Eu tento ignorar, mas o eco da sua voz me arrasta para dentro dela, como um redemoinho. Se eu olhar para os cantos da sala, posso ver as sombras dançando, se contorcendo como se estivessem tentando me engolir.
Acho que algo está tentando me dizer algo. Ou será que sou eu? Eu sou o que não existe. Sou um eco de uma mente quebrada. Os rostos, eles se multiplicam. De repente, minha própria imagem aparece no espelho. Mas não é eu. Eu sei que não é. Está sorrindo. Ou está chorando? Não consigo dizer. Ela... não, ele... olha para mim com olhos vazios e me chama de fraco. De novo. Eu queria quebrar aquele espelho, mas minhas mãos estão tão trêmulas, tão fracas. Não sou mais eu. Eu sei disso.
A chuva começou a bater na janela. Mas eu sei que não é chuva. Não pode ser. Está indo embora, se afastando. De repente, a casa parece estar cheia de gente, só que eu sou o único a vê-los. Eu vejo os olhos deles em mim, grandes e cheios de julgamentos. Eles falam, mas não posso ouvir. Só vejo as bocas se mexendo, sem som. Eu queria saber o que estão dizendo. Mas, na verdade, eu não quero saber.
A noite chegou, mas eu não sei se é noite. Eu estou perdido em algum lugar entre a realidade e esse vazio. Algo me observa, algo que não posso tocar. O espelho está em frente a mim agora. A pessoa lá dentro está sorrindo. Ou será que está me dizendo algo? Não, não, não é isso. Não sou eu. Não sou mais. Ele, ele me diz que estou morrendo, que estou deixando tudo para trás. Ele me mostra a morte, mas eu não sei se ela é real. É como um sonho, ou será que é uma lembrança?
Às vezes, eu olho para o fundo dos meus olhos e vejo algo que não deveria estar lá. Algo escuro, sem vida. Algo que me diz que eu deveria apenas... deixar de existir. Não é fácil, porque, na verdade, não sei se eu existia antes. Eu sou só uma peça quebrada nesse quebra-cabeça, tentando encontrar seu lugar, mas não há mais espaço. Então, o que resta? Eu me sinto como uma sombra, flutuando, esperando para ser apagada. Quando tudo isso terminar, o que restará de mim?
Eu só quero que isso pare. Mas sei que não vai parar. Não enquanto eu estiver olhando.
Não enquanto eu ainda ouvir minha própria voz.