Nota do autor:
Este conto é uma homenagem ao legado literário de H.P. Lovecraft e às suas contribuições para o gênero de horror cósmico. As temáticas de desconhecido, insignificância humana diante do vasto universo e o terror de forças além da compreensão foram fontes de inspiração para a criação de Akthalar. Qualquer semelhança com elementos do horror cósmico é intencional e faz parte do tributo a essa grande influência literária.
Diário de Akthalar - Entrada 1
12 de dezembro, 1990
Não sei exatamente como começar. Escrevo isso porque sinto que, de alguma forma, devo registrar tudo o que está acontecendo. Caso algo dê errado — ou pior, caso eu não volte para contar a história.
Tudo começou com os sonhos. Toda noite, a mesma visão: uma cidade submersa, Akthalar, emergindo de um abismo sem fundo. Suas torres ciclópicas pareciam gritar em silêncio, enquanto um olho colossal, como uma estrela negra, me encarava. O nome da cidade, Akthalar, surgiu em minha mente sem que eu soubesse de onde. Por semanas, acordei banhado em suor, com aquela sensação de que algo... ou alguém... me observava.
Hoje de manhã, algo mudou. Recebi uma carta, escrita em um pergaminho que parecia tão antigo quanto as visões. As palavras estão gravadas em minha mente:
"O abismo conhece seus filhos. Aguardamos sua chegada."
Será coincidência? Não sei. O fato de estar escrevendo isso mostra que não consigo simplesmente ignorar o chamado.
Diário de Akthalar - Entrada 2
13 de dezembro, 1990
Passei o dia inteiro tentando entender. Pesquisei em bibliotecas, procurei mapas antigos, até conversei com alguns estudiosos sobre mitologias submersas. Nada. Nem uma única menção a Akthalar.
Foi quando entrei em um antiquário — um daqueles lugares que parecem esquecidos pelo tempo. O dono, um velho com olhos profundos e uma voz rouca, pareceu congelar quando mencionei o nome. Ele sussurrou algo sobre o Atlântico Negro e apontou-me para um homem chamado Garreth, um capitão mercenário que talvez pudesse me levar até lá.
Minha curiosidade agora é mais forte que meu medo. Não há mais como voltar atrás.
Diário de Akthalar - Entrada 3
Hoje é 14 de dezembro? Ou foi ontem? Não tenho certeza.
Garreth é exatamente como eu imaginava: um homem de poucas palavras, com um olhar vazio que parece já ter visto horrores demais. Ele aceitou me levar até o local indicado pelos antigos rumores, embora tenha deixado claro que não era seguro.
Agora estamos no mar. O céu parece mais escuro aqui, como se as estrelas tivessem nos abandonado. A tripulação está inquieta, e até eu começo a questionar minha sanidade. Mas algo dentro de mim — algo profundo e incontrolável — me empurra adiante.
Hoje Garreth desapareceu. Não sei como explicar isso. Apenas uma trilha de água salgada permanece no convés, indo até a borda do navio.
Diário de Akthalar - Entrada 4
1990?
Chegamos.
As águas aqui estão imóveis, negras como petróleo. O silêncio é quase insuportável. Então, a vimos. Akthalar.
A cidade brilha em um verde fosforescente, emanando do fundo do mar. Suas torres, mais altas do que qualquer coisa que já vi, pareciam pulsar como se fossem vivas. Não sei se é medo ou fascínio o que sinto, mas não consigo desviar o olhar.
Algo me chama. Não sei o que é, mas sei que preciso descer.
Diário de Akthalar - Entrada 5
Desci ao abismo hoje.
O traje de mergulho que usei era improvisado, mas funcionou. Conforme afundava, sentia minha mente escorregar. A gravidade parecia inexistente, e as torres de Akthalar brilhavam com um padrão hipnótico.
No centro da cidade, encontrei um templo. Uma estrutura colossal, com portas que pareciam moldadas para deuses antigos. Entrei.
Dentro, havia uma câmara circular iluminada pelo mesmo brilho esverdeado. No centro, um altar... e o olho colossal dos meus sonhos. Ele me observava. Foi ali que entendi: não fui chamado por acaso. Eu era uma peça de algo muito maior.
Diário de Akthalar - Entrada 6
O olho começou a se abrir, revelando infinitas camadas de pupilas. Cada uma mostrava algo impossível: galáxias sendo devoradas, mundos reduzidos a pó, e entidades colossais caminhando entre as estrelas.
Uma voz reverberou em minha mente:
"Você é um fragmento de algo maior. Venha e reúna-se ao todo."
Eu deveria ter fugido, mas a promessa de conhecimento me segurou. Toquei o altar, e tudo ficou claro. Akthalar não é uma cidade. É um organismo vivo, que consome mundos e consciências. E agora, eu fazia parte disso.
Diário de Akthalar - Entrada 7
Talvez seja.. 20 de dezembro, 1990
Acordei na praia. Meu corpo estava intacto, mas minha mente... não. Parte de mim ainda está lá, presa no abismo. Outra parte foi enviada de volta, com um propósito.
As torres de Akthalar emergirão em breve, e quando isso acontecer, ninguém estará a salvo.
Escrevo estas palavras para registrar o início do fim. Não como um aviso, mas como uma certeza:
Akthalar despertará. E quando isso acontecer, o mundo será apenas mais uma célula no organismo infinito.