Em uma certa noite de penumbra, uma criança nascia.
O dia tão esperado do nascimento do menino Charles foi um momento estonteante para seus pais (Marie e Robert) e seus familiares, mas com o passar dos anos, os dias felizes foram desmoronando.
No começo, a infância de Charles tinha sido regada de amor, cuidado e carinho. O amor era proporcionado principalmente por Robert, mas o vício na bebida destruiu tudo de bom na vida do menino.
Certa noite, o menino ressonava baixo em sua cama, quando no silêncio da noite ouviu gritos femininos e sons de objetos sendo quebrados. De repente, os gritos pararam. Assustado, o menino correu até o quarto de seus pais para notificar o acontecimento, mas quando chegou a porta e a abriu, não viu seus pais no quarto. Olhou para as escadas e o som de objetos quebrando vinham do andar de baixo da casa. Apressado, desceu as escadas e quando chegou no último degrau, viu a cena que nunca sairia de sua mente e que pensou que nunca presenciaria. Seu amado pai, que nunca teve coragem de matar uma mosca, estava em cima de sua mãe á sufocando. Então era esse o motivo do silêncio dos gritos, ela não tinha mais forças para gritar por socorro. Chocado com a cena que se desenrolava em sua frente, o menino ficou paralisado.
Robert logo se deu conta que o menino estava lá presenciando aquela cena e parou de sufocar sua esposa Marie.
Na cabeça de Charles, não havia nenhum pensamento. Ele simplesmente ficou em choque.
Robert logo veio em sua direção e ajoelhou-se aos seus pés lhe pedindo perdão. O menino não entendia porque ele lhe pedia desculpa se ela deveria ser direcionada a sua mãe, porque foi ela que sofreu a violência.
Robert ajoelhado e aos prantos aos pés de Charles, dizia que nunca mais beberia e faria aquele ato repugnante. Mas já não tinha como apagar aquela cena da mente do menino. Algo dentro de si se quebrou e pensamentos que ele nem cogitava em ter em relação ao seu pai, estavam agora presentes em sua mente já não tão mais inocente e bondosa.
Depois que Robert se acalmou mais, ele foi até Marie e lhe pediu desculpas pelo que tinha acontecido. Deu uma desculpa esfarrapada, na visão de Charles. Marie acreditou e perdoou Robert, mas Charles não havia perdoado o seu pai e ele achava que nunca o perdoaria.
Passado um tempo, Charles pensou que aquela cena nunca mais aconteceria, já que as coisas estavam de novo calmas e seu pai estava cumprindo a promessa que havia lhe feito. Mais uma vez ele se enganou.
Na noite em que aquela cena completaria um mês, a cena se repetiu de novo. E de novo, Charles presenciou tudo, Robert se desculpou de novo e Marie perdoou de novo.
E de novo, de novo, de novo, e assim por diante o ciclo continuava. A única coisa que mudava era o sentimento de raiva, ódio, mágoa e culpa que crescia no menino a cada dia.
Charles havia crescido e já era quase um adulto, faltava apenas 2 dias para seu aniversário de maioridade.
Passou-se anos e o ciclo ainda continuava bem vivido.
Os sentimentos de Charles continuavam os mesmos em relação ao seu pai. A raiva estava mais forte e vivida, o ódio estava insuportável e a mágoa mais dolorosa.
Seus pais eram o casal exemplar na frente de todos, mas por de trás dessa máscara, havia violência e perdão. Tudo que não deveria haver, tinha entre quatro paredes.
A cada dia ficava mais insuportável para Charles vê o teatrinho pela manhã e todo o resto do dia e na penumbra da noite ser aquela cena horrível e de dar ânsia.
Charles havia passado anos torcendo para que aquele ciclo vicioso terminasse e foi que ele se deu conta que se fosse por seu pai ou sua mãe, o ciclo nunca se encerraria. Então, ele teve uma ideia bastante conturbada. Mas o que na vida dele não era conturbado?!
E foi com essa ideia que ele planejou tudo. Só lhe faltava coragem e o momento perfeito.
Certa noite, Charles botava seu plano em prática. Ele deu um sonífero para sua mãe e foi para sala para esperar seu pai chegar. Robert chegou em casa e como sempre, ele estava bêbado.
A casa estava escura, então Robert não viu Charles sentado no sofá o observando.
Robert passou por Charles e foi em direção a cozinha. Chegando lá, ele abriu a geladeira e pegou a comida que continha lá e levou ao fogão para esquentar, mas não ligou o fogo. No processo, ele fez muito barulho, como sempre, só que dessa vez Marie não veio vê o que estava acontecendo. Robert estranhou isso e já ia em direção da escava para ir ao quarto deles. Foi nesse momento que Charles se levantou em total silêncio e cheio de coragem que ele apertou a corda que estava em sua mão e seguiu na direção de seu pai. Chegando perto de Robert, Charles enlaçou a corda no pescoço de Robert. Robert tentou lutar, mas estava muito bêbado e não pode fazer mais nada do que tentar se debater, o que não funcionou muito.
Charles continuou com o aperto até que seu pai parasse de se mexer. Feito isso, ele levou seu pai até o porão e o colocou em uma cadeira e o amarrou.
O porão da casa estava coberto de sacolas plásticas que envolviam o chão e paredes.
Charles não esperou seu pai acordar e foi logo seguindo com o plano.
Ele colocou luvas, pegou uma garrafa de cerveja e a quebrou, ficando só com o gargalo da garrafa.
Charles seguiu até o seu pai e pegou em seus cabelos e sustentou a cabeça de Robert com o aperto. Com o gargalo da garrafa, ele foi e fez um corte na garganta de seu pai e o viu engasgar no seu próprio sangue. Em seguida, ele pegou o corpo e levou até o carro. Colocou no porta-malas e tirou as luvas, seguindo viagem com o corpo.
Charles desovou o corpo perto de um bar e fez parece que outro bêbado havia feito isso com o seu pai. Em seguida, ele foi até um lago e tomou banho lá, tirando todo o vestígio de sangue, foi até o carro e pegou um par de roupas que tinha levado.
Charles fica mais um pouco no lago pensando no que tinha feito e resolve voltar para casa. Ele volta com o maior cuidado para que não o vejam, estaciona o carro, verifica se está tudo certo e entra em casa sem fazer barulho. Ele segue para o portão e começa a limpar tudo. Em poucas horas o porão está totalmente impecável. Não havia nada que o comprometesse.
Charles subiu as escadas, verificou se sua mãe ainda estava dormindo e foi até o seu quarto, deitou em sua cama e ficou olhando para o teto por um tempo. Passou-se alguns minutos e acabou dormindo.
Na manhã seguinte, Charles acordou com barulhos de choro e sirenes policiais. Ele ficou um pouco nervoso, mas resolveu descer. Chegando lá em baixo, viu sua mãe chorando e polícias contando que acharam o corpo de seu pai perto de um bar. Disseram que possivelmente ele tinha se envolvido em uma briga com um outro bêbado e infelizmente, ele havia tido sua garganta cortada por um gargalo de uma garrafa de cerveja.
Quando sua mãe o viu, correu até ele em prantos e Charles a confortou.
Seu ser não sentia remorso do que tinha feito, mas vê sua mãe naquela situação, o fez sentir pena dela. Mas não havia mais como voltar atrás.
Marie sofreu muito com a perda do marido, mas no fundo ficou aliviada por não sofrer mais nenhuma violência.
Dias depois, Charles chegou a maioridade.
Anos se passaram e Charles guardou esse segredo até o seu último suspiro.
A vingança de Charles foi feita e tudo ocorreu bem para ele. Mas será que alguém vai descobrir sobre isso.
Como dizem “mentira tem perna curta”. Só basta saber quão curta ela é.