A angústia tomou conta de Antônio, e ele se viu imerso em uma névoa de desespero. As palavras do bilhete ecoavam em sua mente, repetindo-se como um mantra que o fazia questionar sua própria existência. Quem tinha deixado aquela mensagem? E o que queria dizer com "agora, é tarde demais"?
Ele tentou se olhar no espelho novamente, mas a figura que refletia parecia não ser mais sua. A imagem era turva, uma silhueta indistinta que não possuía forma ou identidade. Era como se ele tivesse sido apagado, sua essência dissolvida no vazio ao seu redor.
A sensação de estar preso em um limbo se intensificava a cada segundo. Antônio sentiu um frio crescente, um aperto no peito que o impedia de respirar direito. Ele se afastou do espelho, mas seus pés pareciam pesados, como se algo o segurasse no lugar, como se ele estivesse sendo puxado para um lugar desconhecido.
O som do relógio na parede era o único barulho que se destacava no ambiente, marcando o tempo de maneira cruel. Cada tique-taque parecia enfatizar a perda irreparável, o desespero crescente. Antônio começou a caminhar, sem destino, atravessando a sala com passos lentos e vacilantes.
De repente, a luz piscou, e o ambiente ao seu redor mudou. As paredes do apartamento começaram a se distorcer, as sombras dançando de maneira grotesca, como se a própria casa estivesse se retorcendo em agonia. O ar ficou mais denso, e Antônio sentiu como se estivesse sendo observado, mas não havia ninguém ali.
Foi então que ele ouviu uma voz. Baixa e arrastada, como se surgisse do fundo de sua mente, ou de algum lugar além da realidade.
"Você já sabia, Antônio. Sempre soube."
A voz era como um sussurro dentro de sua cabeça, mas ele não conseguia identificar sua origem. Ele olhou para todos os cantos do apartamento, mas nada parecia real. As cores estavam distorcidas, e os objetos se moviam de maneira errática. Ele sentiu sua sanidade desmoronar.
A sensação de estar sendo consumido por algo maior, por algo que o engolia lentamente, o fez cair de joelhos. "O que é isso? O que está acontecendo comigo?" ele gritou, mas sua própria voz soou estranha, vazia, como se ele já tivesse perdido o poder de existir.
De repente, tudo se apagou. O som do relógio cessou, as sombras se extinguiram, e o vazio tomou conta do espaço. Antônio se viu em total escuridão, sem saber mais onde estava ou quem ele era. O tempo parecia ter parado, e ele estava preso, sem saber o que fazer, sem saber como escapar de sua própria aniquilação.
A voz sussurrou novamente, agora mais forte, mais clara.
"Você não pode escapar. Já está perdido. E agora, finalmente, você se vê como realmente é."
A escuridão foi preenchida por uma imagem, a imagem de um homem, mas não de Antônio. Era uma versão distorcida dele mesmo, uma versão feita de medos e arrependimentos. Um reflexo do que ele se tornara: um ser vazio, uma alma errante, marcada pela indiferença e pela solidão.
E então, a escuridão o engoliu por completo.