Você já olhou para alguém e pensou… “Eu foderia essa pessoa.”
Quando indago isso, não estou dizendo no sentido mais… maldoso; ou seja, você ativamente ir lá, empurrar alguém na piscina, cuspir no copo de alguém escroto que merecia essa cuspida com toda a certeza, e sem qualquer margem para dúvida, obviamente. Em suma, não ferrar com outro ser humaninho por capricho, tédio, merecimento e blá-blá-blá.
Não. Minha intenção de questionamento não é a de fazer você responder maldade com mais maldade.
E sim, a de se entregar a alguém com gosto e sem parar para respirar…
Simplificando, sem uma comparação boba como a da frase acima.
Sim.
ESTOU FALANDO DE SEXO.
Ok? Ok.
Se você está pensando que estou enrolando ou qualquer coisa remotamente parecida… Seu pensamento é correto. Tenho um problema grave com detalhes e conversa fiada. Sério. Consigo passar um dia inteiro conversando. E apenas falando sobre o tempo, já que sei o motivo de ser possível nevar no deserto…
Mas não farei muito disso aqui.
Então, pode relaxar.
Se quiser dormir, à vontade. Não é como se eu fosse desaparecer ou algo parecido. Você sempre pode reler quantas vezes forem necessárias este texto.
Certo… onde eu tava mesmo?
Ah…
Lembrei! Foder.
Serei direta: eu não transo muito e também certas informações serão omitidas.
Por quê?
Não te interessa, palhaço ou palhaça!
Continue lendo.
Pode ser difícil acreditar, mas sou uma dama.
Em minha própria opinião, infelizmente, e isso não é exposição de minha depreciação ou arrogância, eu sou linda.
Entendeu?
Nem bonita, nem fofinha.
Sou linda e maravilhosa. Do tipo que faz qualquer pessoa desviar os olhos para não encarar por muito tempo… Hummm… A refeição que você hesita em tocar com o talher para não estragar a imagem perfeita, mas o aroma e o sabor são irresistíveis demais para não dar uma mordida. No primeiro toque da sua língua o meu gosto já é viciante…
Porra… Isso foi ridículo. (Não posso esquecer de apagar essa merda.)
Bem… Tirando o elefante da sala, enfim, não é mesmo?
Estou a fim do meu chefe. Quero muito foder aquele homem em todas as posições possíveis e inimagináveis.
Um minuto para você me julgar. E eu, claro, me acalmar para não escrever uma ofensa gratuita contra sua pessoa…
…
Certo. Agora, dependendo do título que coloquei para isso, você já deve estar entendendo onde isso termina… Para ficar mais explícito e contextualizado… Eu meio que estou com esse meu chefe que quero transar neste exato momento. É! Você não esperava por isso, né?
Eu também não esperava que a respiração dele fosse tão quente na minha orelha esquerda. Não é uma reclamação, óbvio. Só que o cheiro de álcool está muito forte e… tenho problemas com bebida. Muitos problemas, na verdade.
De qualquer forma, uma reclamação rápida… Se você for o dono ou a dona de empresa, não seja uma pessoa mesquinha com o esforço dos seus funcionários, caralho! Trabalhei que nem uma condenada, perdendo até cabelo, e já vi festas de empresas mais divertidas e com bebidas mais caras…
Você é rico ou rica, e eu tenho um vinho comprado com empréstimo mais caro que todas as bebidas servidas aqui em um tempo de no mínimo duas horas. Algum problema de avareza existe, não acha?
Voltando ao ponto importante… Seria muito questionável eu dizer que tocaria em alguém embriagado?
Não me entenda errado, OK?
Os botões da camisa dele estão abertos e, apesar de ele não ser muito robusto, há bastante pele exposta… Boa de se aconchegar e tirar um cochilo de domingo depois do almoço. Hummm…
Talvez eu esteja olhando fixamente demais, mas já não tem muita gente pela festa para me julgar… Ah, porra, tá todo mundo indo embora e eu não posso ficar com ele no meu ombro para sempre.
O que pensei em fazer com ele mesmo?
…
Carro…
Não, carro caro.
Pouco me importando com sua opinião, apalpei e pesquei as chaves do carro dele no bolso de sua calça.
Antes que você se pergunte, pense, torça o nariz, etc. Nenhuma gota de álcool está no meu corpo… hoje. Estou em plenas capacidades mentais e sou uma ótima piloto. Porém, se você quer me questionar sobre algo, lhe entrego duas perguntas, às quais tenho as respostas, então, não se preocupe em ficar com dúvida (se preocupe apenas caso eu esqueça de responder): como carreguei um cara de 1,85 m? E como sei dirigir tão bem, sendo que nem tenho uma carteira de habilitação?
Sei que a última pergunta fez você se questionar sobre minha dúbia moralidade, mas, olha, essa última coisinha aí não é totalmente minha culpa, entendeu?
Abreviando, eu tinha um pai… Se você não se impactou com essa frase, considere-se alguém com muita sorte, acredite.
Só que, além de ter um pai, tive a alegria de tê-lo como um ótimo pai… Sério, meu véio era do caralho! Mas ele sempre quis ter um garoto, não uma garota.
Agora faça a soma de dois mais dois com essas informações e chegue ao seguinte resultado: no primeiro momento em que meus pés alcançaram os pedais de um carro, eu já estava aprendendo a dirigir em alta velocidade e perigosidade. Minha mãe enlouquecia às vezes quando eu e meu pai saíamos para uma rodovia, gastando gasolina a rodo apenas por adrenalina? Sim! Óbvio que sim. Mas, olha, sinto muita saudade de fazer besteiras assim…
Velho desgraçado, você disse que iria me enterrar primeiro.
Ah, eu também sei dirigir motos, caminhões, retroescavadeiras — só um pouquinho, na realidade. Ehhh, uma vez eu até tentei…
— Para qual inferno você está me levando exatamente? — perguntou o meu chefe, ao meu lado no banco do passageiro. Ele estava devidamente com o cinto de segurança, antes que surja alguma dúvida sobre isso. Sua voz, descortês e branda, assim como cada palavra que ecoou pelo espaço do carro, soou arrastada pelo álcool.
— Huh… — Estava formulando uma boa resposta, enquanto o fitava pelo canto do olho, observando o quanto ele estava tranquilo. Calmo demais, na verdade. Algo típico e habitual dele? Sim; nem estou exagerando quanto à serenidade dele. Às vezes, se parece mais com uma estátua do que com um ser vivo. Ô homem denso pra cacete, viu! Porém, considerando as circunstâncias inteiras, eu definitivamente esperava mais do que uma simples pergunta e um semblante meio fofo e bobo de atordoamento. — Estou apenas te levando para casa, chefe.
Uma quantidade considerável de dígitos em segundos e, talvez, minutos passou-se entre nós.
A infinidade de luzes passageiras, indo desde aquelas vindas dos postes até as lanternas traseiras de outros carros, além das ocasionais sombras que sobressaíam em nossos rostos, foi nossa única companhia ao som de nossas respirações e do barulho baixo do motor. Eu estava um pouquinho desconfortável; ele estava… ah… normal, com a cabeça inclinada para a janela e apenas olhando para o que passava atrás do vidro.
— E você sabe onde é a minha casa?
Demorou cerca de longos — longuíssimos mesmo — dez segundos de raciocínio e constrangimento para eu concluir que: primeiro, não faço ideia de onde é a casa dele. Segundo, eu estava dirigindo para minha própria casa… Ou, usando as palavras da minha corretora, o meu apartamento-estúdio, que é ideal para pessoas independentes e que buscam praticidade… Ela podia ter me dito que apartamento-estúdio e quitinete são quase sinônimos. Eu, pelo menos, posso informar que não limpo minha casa já faz um tempo… Em algum momento, já disse que recentemente trabalhei igual uma condenada?
— Não… — respondi apenas. Lamentavelmente, a minha hesitação e vergonha foram nítidas em cada uma das três letras da minha resposta.
Nunca vi bochechas estufarem tanto e um ruído tão preciso e descarado de alguém contendo uma risada quanto no momento em que toda a seriedade no rosto dele desapareceu para dar lugar a uma careta idiota e risonha. Juro que, se ele não fosse o meu chefe e as minhas mãos não estivessem no volante, meus punhos se amassariam em cada uma das bochechas ruborizadas dele pelo álcool.
Após mais alguns segundos silenciosos, uma respiração forte e quase arfante escapou dele, além de um odor de suor pairar em minhas narinas e impregnar o espaço do carro. Desviei o rosto em direção a ele, observando o momento em que o dorso de sua mão direita enluvada limpava a testa encharcada.
As pálpebras de seus olhos se estreitaram ao ver os pingos translúcidos de sua transpiração sobre o tecido da luva preta. Enquanto a mão dele ia para o próprio abdômen, ele me fitou e murmurou hesitante, o som de sua voz soando mais áspero e grave que o comum:
— Pare o carro, por favor.
Ao ver toda aquela cena, como uma alcoólatra desde a minha infância — de novo, meu pai era muito liberal — já entendi o que queria acontecer. Então, fui freando o carro devagar e fazendo as curvas o mais de mansinho possível, até parar em um beco; porém, cinco segundos antes disso tudo, meu chefe já havia saído do carro e se enfiado pelo beco.
Ele tropeçou nos próprios pés e, por pura sorte, não caiu contra alguns sacos de lixo preto largados no beco.
Se você esperava uma descrição horrível, desconfortável e detalhada do meu chefe expulsando o próprio estômago para fora do corpo… Só posso reafirmar que sou uma dama, e que tu é esquisito ou esquisita! Vai se tratar com algum terapeuta!
Porém, como algumas pessoas não são esquisitas e, teoricamente, só gostam de fisgar detalhes iguais a mim… O barulho de cada jorrada de tripas foi grosseiro, e o odor de vômito foi abafado pelo de lixo. Ou, talvez, o de lixo só tenha ficado mais forte…? Aí, que nojo! Vamos esquecer que escrevi isso.
Não, pera aí!
Teve uma coisa boa dessa situação inteira.
Na verdade, depende…
Foda-se. Você já deve ter me julgado pra caramba até agora, não é?
Mesmo com a distância e a escuridão, consegui ver com exatidão o contorno curvilíneo e amplo da bunda dele sob o tecido da calça; isso muito porque ele havia se inclinado contra a parede de tijolos do beco. Em minha defesa para com essa observação… indecorosa, a calça dele, seja pela posição (que dá muito dinheiro) ou por estar muito justa às suas pernas e quadris, foi o que acentuou a visão inteira. Em nenhum momento me inclinei para o banco do passageiro para ter uma visão melhor. Ok? Ok.
Com menos de seis passos, respiração ofegante e um semblante ainda contorcido de dor e desconforto, meu chefe saiu do beco escuro, a luz pálida de um poste acima e ao lado do beco iluminando sua persona. De verdade, mesmo com todo o momento péssimo, ele ainda parecia bonito. Apesar de que suas roupas formais — uma camisa social de mangas longas em cor azul-marinho e calça e sapatos também sociais, porém todos na cor preta — formavam um contraste gritante com o ambiente sujo e degradante ao nosso redor… Nem tanto, talvez, considerando certos detalhes e também o certo amarrotado das suas roupas.
Seus olhos me encararam por um instante longo, com apenas três ou cinco piscadas. Então, ele desviou o olhar para a rua, observando atentamente algo:
— Vamos para aquele motel — falou ele, apontando um dedo enluvado para o aparente fim da rua. — Vai indo primeiro estacionar o carro. Preciso de um pouco de ar e andar um pouco…
— Tem certeza?
— Sim. Se eu entrar nesse carro agora, meu estômago vai tentar, de novo, sair do meu corpo — respondeu apenas, já começando a caminhar.
Nem um segundo depois, liguei o carro e comecei a dirigir para a placa de néon vermelha que dizia “Hirlartes Motel: Descanso e Relaxamento”. Devo admitir que o nome inteiro me soou bastante eunuco ou eufemista para um motel…
Se você está questionando sobre a minha calma quanto a ir a um motel com o chefe que quero transar até as pernas ficarem bambas, devo lembrar que não transar muito e não ter relações sexuais, sejam quais forem, são coisas muito diferentes. Mais uma coisa: eu não sou uma adolescente viciada em romance e fanfic +18, OK? Sou uma jovem adulta com essas peculiaridades ainda se arrastando nas minhas costas, ou seja, mais uma vez, coisas e conceitos diferentes.
Além disso, qual é o problema em ir a um motel? O lugar não é apenas feito para sexo. Você pode muito bem pagar uma diária no sábado e passar o resto do seu domingo aproveitando uma suíte… Ih, caralho… Tô revelando demais.
De todo modo, depois que estacionei perfeitamente o carro, não demorou muito para eu chegar à entrada do motel, onde meu chefe já estava. Assim que me viu, desencostou as costas da parede perto da porta e a abriu, mas permaneceu me esperando. Claro, nenhuma palavra ou sugestão de um semblante diferente de indiferença. Também não tinha palavras, mas fiz o melhor para que meu aceno de cabeça soasse como um agradecimento pela decência em me esperar.
O hall de entrada do Hirlartes Motel não era luxuoso… Quero dizer, eu nem saberia como é um lugar luxuoso, na verdade. Independente disso, era aconchegante e bem cuidado, mesmo com pouca luz o iluminando. No entanto, minha atenção e a do meu chefe foram para a recepcionista baixinha no balcão de atendimento, a qual abriu um sorriso que ia de orelha a orelha, mas não mostrava os dentes:
— Boa noite. Presumo que não tenham uma reserva, não é mesmo?
— Tão óbvio assim? — indagou meu chefe, já em frente à recepcionista atrás do balcão, e eu ao seu lado direito.
— Anos de trabalho me ensinaram a diferenciar os prováveis dos já clientes, meu querido rapaz — respondeu ela. Mesmo falando, os lábios dela ainda pareciam impossivelmente sorridentes e calorosos.
— Admirável… — Enfim, seu semblante sério mudou, tornando-se questionador. Com a cabeça inclinada para a esquerda e olhos fixos na mulher à nossa frente, perguntou: — Por um acaso, você não teria uma escova de dentes e pasta dental sobrando, senhora?
Meu gancho de esquerda quase subiu para o queixo dele; pelos motivos anteriores que já apresentei, não o agredi. No entanto, o outro motivo foi a resposta da recepcionista.
— Ha! — Ela se abaixou, deixando apenas seus cabelos visíveis, enquanto parecia procurar alguma coisa na prateleira mais baixa do balcão. Após alguns segundos, com ela apenas resmungando algumas coisas incompreensíveis, ergueu-se devagar e inclinou a mão para o meu chefe. E sim… havia uma pasta de dente cheia e uma escova de dentes em sua palma aberta. — Seu dia de sorte, rapaz! Acabei de voltar de uma compra. E o banheiro fica à sua esquerda, antes que pergunte.
— Na verdade… — Sem mudar o semblante para esse absurdo de coincidência, meu chefe pegou ambos os itens de higiene da mão pequena da recepcionista e fixou o olhar em seus olhos. — Estava me perguntando se a senhora é casada ou não.
— Ó, rapaz — mais uma vez, um sorriso largo e chegando à altura das orelhas enfeitava o rosto dela —, me desculpe dizer, mas você está uns 30 anos atrasado para colocar um anel em meu dedo. Além disso, estou mais do que feliz em meu casamento.
— Infelizmente para mim, então — respondeu meu chefe, saindo para a esquerda em direção ao banheiro, e eu juro ter visto um sorriso curto em seus lábios… mas talvez tenha sido a minha imaginação? Hmmm… eu não te—
— Gostaria de avisar que só temos uma suíte disponível, senhorita.
Pisquei os olhos duas vezes e voltei para o momento presente. Então, fiz a pergunta que havia se escorado em meus pensamentos depois de toda a conversa que se desenrolou à minha frente:
— Quantos anos você tem exatamente?
— 62, claro.
— Nem fodendo. — Sei que é tarde, mas tenho a consciência de que é errado falar palavrão, especialmente na frente de uma aparente senhora de idade, mas nem ferrando que a mulher na minha frente tinha 60 anos… Se eu tivesse que chutar, diria 33, no máximo do máximo, arriscaria uns 40.
— Olha a língua, senhorita.
— Desculpa… O que a senhora estava falando antes mesmo?
— Só tem uma suíte disponível. Adianto que é a mais… bem… — as mãos dela gesticulavam em compasso com seu discurso e raciocínio, sendo tão eloquentes quanto sua forma de falar — modesta deste motel, mas não menos em qualidade que as outras, claro. Me desculpe, mocinha, vocês deveriam ter reservado uma suíte para terem suas primeiras vezes de forma mais marcante.
— QUÊ!? DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO?
— Hã? — A senhora me encarou de cima a baixo, com um olhar que só poderia ser descrito como misto: um pouco de surpresa, certa quantidade de dúvida e um percentual alto de atordoamento. — Fui muito presunçosa?
— Totalmente! Eu não sou virgem!
— Ok… — respondeu ela, ao mesmo tempo que terminava de digitar algo no computador ao seu lado. Sem que eu percebesse, a senhora na minha frente, sempre me encarando nos olhos, já tinha feito o check-in. — Mas o… seu parceiro, ele é virgem. Posso afirmar isso sem nenhuma dúvida.
— … Você literalmente acabou de errar sobre mim. Por que eu deveria acreditar em você?
— Não precisa, de verdade. — Ao fim de suas palavras, ela deu de ombros. — Mas não costumo errar duas vezes.
— Não querendo ofender, mas já ofendendo de qualquer forma, você é meio orgulhosa demais, velha do caralho!
— Ah, isso faz parte do meu charme. Então, obrigado pelo elogio, mocinha.
O sorriso triunfante no rosto dela, além de suas mãos apoiadas em ambos os lados da cintura, fazendo-a parecer uma ganhadora imbatível, me fez querer perder meu réu primário.
— A senhora vai querer ficar com a pasta de dente? — perguntou meu chefe, já ao meu lado de repente.
Eu só não pulei de susto porque sou bastante controlada, mas com toda a certeza perdi um mês de vida com a volta despercebida dele por minha parte.
— Nah, fique com ela — disse a senhora baixinha, jogando a chave da suíte para ele. Logo depois, apontou com o polegar para a escada à direita, atrás de si, que, assim como a escada à esquerda, flanqueava ambos os lados do balcão. — Ganhei de promoção, então não faz muita diferença pra mim. O quarto de vocês é no segundo andar, e o número está na chave… Tenham uma ótima noite juntos~!
Mesmo sem olhar para trás, enquanto acompanhava meu chefe subindo a escada, conseguia sentir o olhar afiado e provocante da senhora na minha nuca. Nunca mais vou dar papo para gente idosa, especialmente para aqueles que não parecem velhos demais… 62 anos, meu cu, mentirosa.
Como já é de se imaginar, e previsível para mim, a caminhada até o quarto foi silenciosa. No entanto, o que me pareceu estranho, na realidade, foi o silêncio pelos corredores e também nas escadas… Sério, esperava, pelo menos, ouvir um gemido ou ‘bater de palmas’. Mas não. Absoluto e ininterrupto silêncio.
Quando meu chefe abriu a porta, um aroma de lugar recém-limpo e álcool etílico veio da suíte, algo que deixou meus nervos irrequietos e fumegantes.
Por outro lado, meu chefe apenas foi entrando: um sapato social dele deixado no meio do caminho até a cama, enquanto o outro ficou de frente para a mesma. E, completamente derrotado, caiu de bruços nos lençóis e no colchão. Um zumbido de satisfação escapou dele.
— Nunca mais vou beber na minha vida — murmurou ele baixinho. Parecia mais um monólogo pessoal do que algo diretamente para mim.
De qualquer forma, ao mesmo tempo que fechava a porta e a trancava, já que ele deixou a chave na fechadura, falei:
— É só um mal-estar temporário… Com certeza, você vai querer tomar uma ou duas taças de vinho ainda, mesmo depois disso tudo.
— Não, já estou muito bem satisfeito com essa primeira tentativa de beber — respondeu ele. Apesar disso, foi meio difícil de entender, visto o tom baixo de sua voz e o abafamento de suas palavras por falar contra o colchão.
— Essa foi realmente sua primeira vez bebendo? — Meus olhos se arregalaram. O tom desacreditado da minha voz soou com total ausência de decoro e controle. Talvez até tenha elevado a voz.
— Sim.
As minhas palavras seriam: “Então, por que caralhos você tem a cara e a postura de alguém que bebe álcool igual água, seu desgraçado?”
Porém, substituí pelo que estava, invariavelmente, mais curiosa… É, aquela velha alugou um triplex na minha cabeça e nem pagou um mês de aluguel ainda.
— Huh… Você é virgem, não é?
Silêncio.
Daqueles que incomodam até a alma.
Apenas me mantive observando-o por um tempo considerável.
Então, quando achei que deveria me desculpar, ele respondeu:
— Mais ou menos.
— Mas você quer perder a virgindade?
— Hum… Não.
— Ok, então… Pera aí, o que você disse?