A noite descia como um véu pesado sobre a cidade, e com ela, os segredos mais sombrios ganhavam vida. Nas ruas desertas, onde as luzes piscavam como se estivessem prestes a se apagar, um ser caminhava entre as sombras, sem ser visto, mas sempre observando. Ele estava lá, aguardando. Ele sempre estava.
Ninguém sabia ao certo quando ele chegava, ou como ele sabia quem o invocava. Mas havia sempre alguém — uma alma perdida, um coração quebrado, um desejo desesperado por poder. E, naquele momento, ele sentia a presença de uma mulher à beira da escuridão. Sua alma estava prestes a ser consumida pela dor, pela perda, e o vazio que ela carregava. Ele a escolhera.
Ela era uma entre milhares, mas seu nome não importava. O que importava era sua fragilidade, sua desesperança. Ele se alimentava disso. Ele a viu. Ele soubera, desde o início, que ela faria o que fosse necessário para salvar o que mais amava. Ele soubera que ela aceitaria o preço.
Ele não precisava se mostrar de imediato. Ele a observava de longe, notando a fraqueza no olhar dela, a luta interna entre a moral e a necessidade. Ela estava à beira de ceder, mas ainda resistia. Isso o fascinava. Ele sentia o desejo dela, aquele impulso insano de querer algo além do que o mundo podia oferecer. E era isso o que ele oferecia: mais, muito mais do que ela podia imaginar. Ele sabia o quanto isso a atrairia.
Quando finalmente se apresentou, ela não o viu como ele realmente era. Ele usava uma forma que atraía a confiança, uma forma que dizia tudo o que ela queria ouvir. Ele sabia como manipular os sentimentos humanos, como se tornar o reflexo daquilo que a pessoa mais desejava, e, naquele momento, ele se tornava tudo o que ela precisava.
Ele sabia que o preço seria alto, mas isso não importava. Nada importava. Ele fez o pacto, e a partir daquele momento, ela foi dele. Ela só não sabia ainda. Ele se divertia com a incerteza, com a luta interior que a consumia. Ela tentava resistir, tentava se convencer de que não precisaria dele, mas a verdade era que ela já estava perdida. Ele sentia isso como se fosse parte de si.
Os dias passaram, mas ela não conseguia se livrar da sensação de ser vigiada. Como se ele estivesse ali, sempre por perto, sem nunca realmente aparecer. Ele a observava, e ela sabia disso. Ele a controlava sem tocá-la, sem fazer mais do que o necessário. Ela sentia a presença dele em cada pensamento, em cada momento de fraqueza. Ele estava lá.
E, então, ele apareceu. Não fisicamente, não diretamente, mas de uma forma tão intensa que parecia estar dentro dela. Ela sentiu o calor do toque que nunca aconteceu, ouviu a voz que não se fez audível. O pacto estava cumprido. Ele estava dentro dela, não apenas como um ser de sombras, mas como um desejo constante, uma obsessão silenciosa.
Ele a dominou, e ela sabia disso. A luta terminou quando ela entendeu que não havia mais fuga, que ele já havia tomado tudo o que ela era. A dor que ela sentia não era mais apenas sua. Ele agora fazia parte de sua carne, de seu espírito. Ele a possuía, não com uma força bruta, mas com a suavidade do inevitável.
E enquanto ela lutava contra a realidade de que havia cedido, ele se alimentava da fragilidade dela. Ele se tornava mais forte a cada respiro dela, a cada movimento que ela fazia em direção ao inevitável. Aquele pacto não tinha fim. O preço era alto, mas ela não sabia que não haveria mais um "de volta". Ele tomava tudo, não importando o quanto ela tentasse se reter.
Ela agora sentia a verdade daquelas palavras que ele tinha sussurrado em seu ouvido, mesmo que não tivesse sido audível: "Você nunca mais será livre."
O pacto que ela fez com as sombras não se desfazia. Ela sabia disso agora, da maneira mais dolorosa. Ele era a escuridão e a luz, a promessa e o fim. Não havia como escapar, não havia como voltar. Ela era dele. E, mais do que isso, ela sentia que, em algum lugar, em algum momento, havia desejado ser dele. Ele estava nela, e ela sabia que nunca mais poderia se livrar de sua presença.
O pacto havia sido selado.
E ela, agora, vivia para sempre à sombra dele.
Fim.