O luxuoso escritório no 35º andar da Skyline Industries oferecia uma vista de tirar o fôlego da cidade. As luzes cintilavam como estrelas urbanas, e as janelas refletiam o poder e a influência que Ralph Donovan, o CEO da empresa, acumulava ao longo de sua carreira meteórica. No entanto, naquela noite, não eram as luzes da cidade que chamavam sua atenção. Era o e-mail anônimo em sua tela.
"Eu sei o que você fez."
Ralph franziu o cenho. Ele havia sido um visionário, mas também não era ingênuo. Sabia que no mundo corporativo, quanto mais alto se sobe, mais perigosas se tornam as quedas. Ameaças veladas eram comuns, mas aquele e-mail parecia diferente. Havia algo na simplicidade da mensagem que o deixava inquieto.
No fundo, Ralph sabia do que se tratava. Dez anos atrás, em sua escalada ao topo, ele havia tomado decisões... difíceis. Negócios sujos, espionagem corporativa, algumas mãos sujas de sangue — no sentido figurado, é claro, ou pelo menos era o que ele pensava. Ralph apagou o e-mail e se reconfortou pensando que era apenas mais um concorrente tentando intimidá-lo. Ele não tinha medo.
No dia seguinte, um segundo e-mail apareceu. Desta vez, continha um arquivo de vídeo. Ralph hesitou, mas abriu. A gravação era granulada, de baixa qualidade, como uma filmagem de segurança antiga. Ela mostrava o rosto de um homem — um ex-sócio que desaparecera misteriosamente. Henry Wilson. O nome soava como um fantasma do passado.
Henry tinha sido seu maior obstáculo em uma fusão crucial. Ralph sabia que Henry não aceitaria o suborno, então, misteriosamente, o rival simplesmente... sumiu. Ninguém questionou. O mercado corporativo seguiu em frente. Mas agora, aquela imagem de Henry, com os olhos assustados e confusos, parecia uma acusação silenciosa.
"Ele sabe", dizia o e-mail abaixo do vídeo.
Nos dias que se seguiram, Ralph começou a sentir a pressão. Outros e-mails começaram a chegar, cada um mais ameaçador que o anterior. O conteúdo variava — documentos comprometedores, transferências bancárias sigilosas, e até mesmo gravações de reuniões confidenciais. Quem quer que fosse, conhecia todos os seus segredos mais sombrios.
Ralph começou a desconfiar de todos ao seu redor. Paranoia corroía sua mente. Ele demitiu seu assistente pessoal, trocou a equipe de segurança, e até questionou sua esposa sobre qualquer envolvimento. Ninguém parecia confiável. Ele isolou-se em sua bolha de riqueza, mas a sensação de perigo estava sempre presente.
Uma noite, enquanto voltava para casa, Ralph sentiu que estava sendo seguido. Os faróis de um carro escuro piscavam no retrovisor, mantendo-se à distância. Ele desviou o trajeto, tentando despistar o veículo, mas o carro seguiu. Ralph apertou o acelerador, entrando em ruas desconhecidas, quando, de repente, o carro atrás acelerou e colidiu com sua traseira. O impacto fez com que ele perdesse o controle, rodando na pista e batendo em um poste.
Atordoado e sangrando, Ralph saiu do carro cambaleando. O veículo que o seguira parou, e de dentro saiu um homem de terno preto, com o rosto coberto por uma máscara. Ele andou calmamente até Ralph e sussurrou em seu ouvido:
— Não é sobre o dinheiro, Ralph. É sobre o poder. E você já o perdeu.
Antes que Ralph pudesse reagir, uma seringa foi enfiada em seu pescoço. Tudo ao seu redor escureceu.
Quando Ralph acordou, estava em um quarto escuro, amarrado a uma cadeira. À sua frente, um grande monitor foi ligado, e na tela apareceu a figura que ele temia mais que tudo: Henry Wilson, ou o que restava dele. Henry estava vivo, mas mal. Cicatrizes cobriam seu rosto, e seu corpo estava debilitado. Ele sorriu de forma amarga para a câmera.
— Você pensou que me destruiu, Ralph. — A voz de Henry era áspera, como se cada palavra fosse uma lâmina afiada. — Você usou tudo ao seu favor, me tirou do caminho para construir seu império. Mas agora, vou te mostrar o que é perder tudo.
Ralph tentou falar, mas a mordaça impediu. Desesperado, olhou ao redor em busca de uma saída. O monitor piscou e, uma a uma, as contas bancárias de Ralph começaram a desaparecer. Empresas fantasmas, holdings e investimentos secretos, todos evaporando diante de seus olhos.
— Vou te deixar com o que me restou, Ralph. Nada. Quando terminarmos, você será um fantasma, assim como tentou me fazer.
O pânico tomou conta de Ralph. Ele balançou a cadeira, tentou gritar, mas a tela piscou uma última vez. A última imagem que ele viu foi de sua própria empresa sendo vendida por uma fração de seu valor, para ninguém menos que Henry Wilson.
A máscara caiu, revelando que, por trás de todo o plano, estava alguém que ele jamais desconfiaria: seu ex-assistente, aquele em quem Ralph nunca viu uma ameaça. Ele havia sido subestimado, e agora, pagaria o preço por isso.
Henry fez um gesto para o assistente e, com uma última palavra, o monitor desligou:
— Bem-vindo ao fim, Ralph.
A partir daquela noite, Ralph Donovan desapareceu do mundo, sem deixar rastros, assim como Henry havia feito uma década antes.
---
Eu estava revisando algumas histórias no bloco de notas e agora estou transformando-as em contos únicos. Espero que gostem.