Naquela noite, o vento cortava as árvores retorcidas como um lamento. O casarão abandonado, escondido no alto da colina, era uma sombra imponente contra o céu enegrecido. Há décadas, ninguém ousava cruzar o portão de ferro enferrujado que cercava a propriedade. Histórias de desaparecimentos e murmúrios de almas perdidas ecoavam pela vila ao pé da colina, e todos sabiam que, ao cair da noite, o casarão despertava.
Elisa, curiosa e cética, decidiu que era hora de desvendar o mistério. Ignorando os avisos e sussurros temerosos dos aldeões, ela subiu a colina, a luz da lanterna vacilando contra a neblina densa. O ar estava carregado, como se o próprio vento se segurasse antes de tocar o lugar.
Ao atravessar o portão, Elisa sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Não era apenas o frio; havia algo mais, uma presença invisível, mas palpável. A casa parecia respirar, o chão rangendo debaixo de seus pés como se reagisse à sua presença. Ela empurrou a porta principal, que se abriu com um gemido longo e profundo, revelando um saguão vasto, repleto de móveis cobertos por lençóis empoeirados.
Um antigo candelabro balançava suavemente, mesmo sem vento, lançando sombras dançantes nas paredes. Elisa avançou, seus passos ecoando no vazio, até avistar uma escadaria que levava ao andar superior. No topo, uma figura indistinta a observava. Era um vulto esguio, vestido em trajes que lembravam outra época. Elisa congelou, incapaz de desviar o olhar. A figura, envolta em uma névoa turva, levantou uma mão pálida, apontando para uma porta à sua esquerda.
Uma voz gélida sussurrou em sua mente: "Eles esperam por você."
Com o coração batendo no peito, Elisa hesitou, mas a curiosidade a venceu. Ela seguiu a direção apontada, abrindo a porta com um empurrão trêmulo. O quarto estava impecável, como se o tempo não tivesse passado ali. Um retrato pendia sobre a lareira, retratando uma mulher de aparência austera, seus olhos negros parecendo seguir cada movimento de Elisa.
Ao se aproximar do retrato, ela notou algo peculiar: os olhos da mulher não estavam pintados. Eram reais, espiando por pequenas fendas na tela. O medo subiu em sua garganta, e Elisa deu um passo atrás, tropeçando e derrubando uma vela. O fogo lambeu o carpete, iluminando o cômodo com um brilho quente e feroz.
Foi então que ela ouviu o som. De trás da parede, um arrastar pesado, como unhas raspando a madeira. A figura do retrato se moveu levemente, e Elisa percebeu que aquilo que a observava de trás da pintura não era humano.
A porta atrás dela se fechou com um estrondo, e a última coisa que ouviu antes que as chamas engolissem o quarto foi um sussurro rouco e cheio de malícia: "Agora você faz parte da casa."