A aldeia de Esmere sempre foi conhecida por suas lendas antigas e pelo mistério que cercava a floresta ao seu redor. Diziam que bruxas viviam nas profundezas dessa floresta, praticando magia negra e lançando feitiços que ninguém ousava desafiar. Porém, ao longo dos anos, os habitantes de Esmere aprenderam a coexistir com essas forças ocultas, mantendo-se distantes e em silêncio sobre o que sabiam.
No entanto, uma dessas bruxas, Isolde, era diferente. Não era cruel nem vingativa como as outras de seu clã. Isolde era uma jovem de coração puro, porém amaldiçoada desde o nascimento com um poder incontrolável: ela podia manipular o tempo. Seus cabelos negros como a noite e olhos prateados denunciavam sua linhagem mágica, mas sua alma ansiava por algo mais do que a escuridão que a cercava.
Todas as noites, Isolde subia até o topo de uma colina escondida na floresta, onde o vento soprava livre e o luar banhava tudo com uma luz prateada. Ali, ela contemplava as estrelas e imaginava como seria uma vida longe das restrições de sua magia. Mas sua solidão terminou em uma noite em que o destino a uniu a um estranho inesperado.
Durante uma de suas visitas à colina, Isolde encontrou Cedric, um cavaleiro do reino vizinho, que havia se perdido em sua jornada. Ele era forte, com cabelos loiros desgrenhados e olhos azuis intensos, um homem de honra e dever. Cedric estava em uma missão para proteger o reino de uma guerra iminente, mas ao se deparar com Isolde, ele percebeu que havia encontrado algo ainda mais importante.
Eles se encararam em silêncio por alguns segundos, até que Cedric, surpreendido pela beleza e presença mística de Isolde, quebrou o silêncio:
"Quem é você, que parece pertencer tanto às estrelas quanto à terra?"
Isolde o olhou com desconfiança, mas algo em sua postura honesta e em seus olhos puros a fez relaxar. "Eu sou Isolde, uma filha da floresta. E você? O que faz em terras tão perigosas para um cavaleiro?"
Cedric contou sua história – sobre o rei que o enviara para explorar as fronteiras, a guerra que se aproximava e como ele se perdera em meio às árvores densas. Ele não sabia que estava conversando com uma bruxa, e Isolde hesitou em revelar sua verdadeira identidade, temendo que ele fugisse ou a visse como inimiga. Mas à medida que as noites passavam e Cedric retornava à colina, eles foram se aproximando.
Com o tempo, o amor entre os dois cresceu. Cedric prometeu a Isolde que, uma vez que sua missão estivesse concluída, ele voltaria para levá-la consigo, para longe da escuridão e das sombras que a cercavam. Mas o destino tinha outros planos.
Isolde sabia que sua maldição, a habilidade de manipular o tempo, carregava um preço. Ela podia ver vislumbres do futuro, e em uma dessas visões, viu o destino trágico de Cedric – morto em batalha, sem jamais retornar para ela. Desesperada, Isolde decidiu quebrar todas as regras de sua magia. Usaria seu poder para alterar o tempo e salvar a vida do homem que amava, mesmo que isso pudesse custar sua própria alma.
Na noite da meia-noite sagrada, quando a lua estava em seu ponto mais alto e o véu entre o presente e o futuro estava mais fino, Isolde subiu novamente à colina. Lá, ela começou a entoar um feitiço proibido, um que seus ancestrais advertiam ser fatal para qualquer bruxa que ousasse usá-lo. Com cada palavra, o tempo ao seu redor começou a distorcer, os ventos uivando, as estrelas girando no céu. Ela viu o futuro se dobrar, as linhas do destino se desfazendo. Cedric não morreria, mas a consequência disso seria sua própria destruição.
Enquanto o tempo se reescrevia, Cedric, longe dali, no campo de batalha, sentiu um frio gélido percorrer sua espinha. Algo estava errado. Ele lutou bravamente, mas algo o puxava para longe da luta – uma força invisível o chamava de volta à floresta, à colina onde conhecera Isolde.
Quando ele chegou ao topo da colina, encontrou Isolde de joelhos, esgotada, seu corpo frágil lutando para permanecer no presente. Cedric correu até ela, segurando-a nos braços enquanto ela lhe sussurrava as últimas palavras:
"Eu quebrei todas as regras por você, Cedric... mas agora nosso tempo acabou."
Desesperado, ele implorou para que ela parasse, para que não entregasse sua vida por ele. Mas era tarde demais. O feitiço já estava feito, o tempo já havia sido alterado, e Isolde não poderia escapar do preço que pagara. Em seus braços, a bruxa que ele tanto amava se desfez em uma luz suave, como o luar dissolvendo-se na noite.
Cedric, agora salvo pela magia de Isolde, jamais esqueceria o sacrifício que ela fizera. Em cada noite de lua cheia, ele subia até a colina e, sob a luz prateada, jurava que um dia encontraria uma maneira de reverter o feitiço, de trazê-la de volta.
Mas a magia do tempo é implacável, e Cedric sabia, no fundo de seu coração, que o verdadeiro preço do amor eterno era a perda irreversível.