No longínquo reino de Valdrak, onde castelos erguiam-se em montanhas nebulosas e florestas escuras escondiam segredos ancestrais, dois reinos travavam uma guerra secreta há séculos: os vampiros da Casa Noctis, governados pelo temível Conde Vladar, e os lobisomens da tribo Lupina, liderados pelo astuto Alpha Fenrir. A rivalidade entre as duas raças era mais antiga que o próprio reino, alimentada por sangue e ódio. Para os habitantes comuns, essas criaturas eram lendas contadas para assustar crianças, mas para os que viviam nas sombras, a batalha era tão real quanto o aço das espadas.
Dentro desse cenário de hostilidade e medo, algo inesperado floresceu. Um amor proibido, nascido no silêncio da noite, ameaçava abalar os pilares dessa guerra milenar.
Seraphine Noctis, a única filha do Conde Vladar, era uma vampira de beleza etérea. Seus cabelos negros caíam em cascata até a cintura, e seus olhos vermelhos brilhavam como rubis ao luar. Dotada de uma inteligência afiada e uma alma inquieta, Seraphine sempre questionou o sentido da guerra entre vampiros e lobisomens. A sede de sangue de sua espécie nunca a atraiu verdadeiramente, e o fardo de ser a herdeira da Casa Noctis pesava sobre seus ombros. Embora fosse treinada na arte da caça e do combate, Seraphine ansiava por algo mais, algo que seu mundo sombrio não podia oferecer.
Do outro lado da guerra, Kellan, o bravo filho do Alpha Fenrir, era um guerreiro feroz, conhecido entre os lobisomens por sua força inigualável. Quando a lua cheia brilhava, ele se transformava em um lobo majestoso, de pelagem cinza prateada, liderando a matilha nas batalhas contra os vampiros. No entanto, assim como Seraphine, Kellan sentia uma inquietude. Ele não compreendia por que gerações de sua espécie estavam condenadas a essa guerra sem fim. O desejo de vingança que sua tribo carregava parecia vazio, e ele sonhava com a liberdade, com um futuro onde pudesse ser mais que apenas uma arma contra os vampiros.
O destino desses dois jovens se cruzou em uma noite fria, durante um confronto nas profundezas da Floresta Negra. Os lobisomens haviam atacado um grupo de vampiros que patrulhavam a fronteira, e entre os guerreiros estava Seraphine, lutando ao lado de seu clã. O choque entre as criaturas sobrenaturais foi brutal, gritos e uivos ecoando por entre as árvores.
No entanto, no meio da batalha, Seraphine foi separada de seu grupo e, enquanto fugia por entre as sombras, foi emboscada por Kellan, que estava em sua forma humana. Os dois se enfrentaram, prontos para matar. Kellan avançou com suas garras, e Seraphine o confrontou com sua lâmina afiada. O choque de aço e carne foi intenso, mas, em um momento de hesitação, seus olhos se encontraram.
Seraphine viu algo nos olhos de Kellan que a fez parar — não havia crueldade ou ódio neles, mas sim uma dor profunda, um desejo por algo diferente. E, de alguma forma, Kellan viu o mesmo nos olhos dela. Por um breve instante, esqueceram que eram inimigos. Aquele olhar silencioso foi mais eloquente do que qualquer palavra.
"Por que lutar por uma guerra que nenhum de nós deseja?" Kellan murmurou, sua respiração ofegante enquanto suas garras se retraíam.
Seraphine baixou sua espada. "Porque esse é o nosso destino... ou pelo menos é o que dizem."
A tensão entre eles dissipou-se lentamente, dando lugar a algo mais profundo, mais perigoso. Sem pensar, Kellan pegou a mão de Seraphine, e o contato entre eles foi como uma corrente elétrica. Eram seres que, por natureza, deviam se odiar, mas ali, no coração da floresta, um laço começou a se formar.
A partir daquela noite, encontros secretos entre Seraphine e Kellan tornaram-se mais frequentes. Eles se reuniam nas clareiras escondidas da Floresta Negra, sob o manto de estrelas e o brilho da lua cheia. Conversavam sobre seus anseios, sobre a guerra e o fardo de serem herdeiros de duas dinastias condenadas. Com o tempo, o amor floresceu entre eles — um amor intenso e perigoso, alimentado pela consciência de que, se descobertos, ambos seriam mortos por suas próprias famílias.
O romance proibido entre um vampiro e um lobisomem era uma heresia impensável, e ambos sabiam disso. Contudo, a paixão que os unia era mais forte do que o medo. Durante meses, eles viveram em um mundo próprio, onde eram apenas Seraphine e Kellan, duas almas que desafiaram o destino e as regras impostas por seus clãs.
Mas o tempo, como sempre, era impiedoso. Quando o Conde Vladar começou a suspeitar do comportamento estranho de sua filha, colocou seus espiões para vigiá-la. Logo, descobriu a verdade terrível: Seraphine estava envolvida com um lobisomem. Enfurecido, jurou punição severa para ambos.
Do outro lado, Fenrir também descobriu o envolvimento de Kellan, e a traição de seu filho foi considerada a maior afronta à sua liderança. Ele ordenou que a matilha o caçasse e trouxesse sua cabeça como prova de lealdade à tribo.
Seraphine e Kellan, agora fugitivos, foram forçados a abandonar tudo. Perseguidos por suas próprias famílias, encontraram refúgio em uma antiga ruína, escondida nas montanhas. Lá, sob o céu vermelho de um eclipse lunar, juraram amor eterno. Mesmo que o mundo os odiasse, mesmo que suas raças se destruíssem, eles se amariam até o fim de suas existências amaldiçoadas.
No entanto, o fim veio mais rápido do que esperavam. Em uma noite fatídica, ambos os clãs se uniram em uma última caçada. Cercados, Seraphine e Kellan lutaram juntos, até suas últimas forças, mas sabiam que o destino os havia alcançado.
No instante em que a lâmina de um vampiro cortou o coração de Kellan e a estaca de um lobisomem atravessou o peito de Seraphine, o céu escureceu, e um grito de dor ecoou pela montanha. O sangue de ambos misturou-se ao chão, e naquele momento, algo mudou para sempre no reino de Valdrak.
Dizem que a guerra entre vampiros e lobisomens cessou por um breve tempo após aquela noite. A morte de Seraphine e Kellan havia deixado uma marca nos corações de ambos os clãs. Embora o ódio não tenha desaparecido por completo, o sacrifício dos amantes proibidos mostrou que, talvez, houvesse algo maior do que a guerra.
Nos anos seguintes, histórias sobre um lobo prateado e uma vampira de olhos vermelhos vagando pelas montanhas sob a luz da lua se espalharam. Alguns dizem que são apenas lendas, outros juram tê-los visto juntos, eternamente unidos, livres do peso de suas raças.