**Capítulo 1: O Segredo de Ísis**
Ísis Santos era uma adolescente de 15 anos com um olhar que parecia carregar o peso de um universo inteiro. Seus cabelos castanhos desgrenhados e os olhos verdes penetrantes escondiam mais do que apenas uma típica adolescência em crise. Na verdade, eles escondiam um segredo profundo, um segredo que ela guardava com a precisão de um mestre relojoeiro. Mas vamos começar pela superfície antes de mergulharmos no abismo.
A vida de Ísis era um caos bem organizado. A casa, uma pequena residência de dois andares no bairro mais sombrio da cidade, estava sempre em desordem. O papel de parede já descascado contava histórias de dias melhores que jamais haviam chegado. Sua mãe, Eva, estava frequentemente ausente, sempre encontrando algo para fazer fora de casa. Quando estava presente, a atmosfera não melhorava muito: Eva, com seus lábios sempre pintados de vermelho vibrante e roupas reveladoras, tinha um trabalho noturno que não era exatamente o tipo de ocupação que Ísis mencionaria com orgulho.
Ísis andava pela casa com uma calma surreal, uma calma que contrastava com o tumulto ao seu redor. Suas únicas constantes eram as três coisas que sua mãe havia colocado na casa como um lembrete do que ela não era: uma escola onde Ísis passava suas manhãs com uma sensação de desgosto, um pai ausente que nunca tinha sido muito mais do que uma assinatura num documento de nascimento, e uma vida que parecia mais uma série de desventuras do que qualquer coisa que se assemelhasse a um sonho realizado.
— Bom dia, Ísis! — A voz de Eva ecoava da cozinha enquanto Ísis entrava para o café da manhã, se é que se podia chamar aquilo de café da manhã. Era uma mistura de restos de comida e alguns cereais empoeirados.
— Bom dia, mãe — Ísis respondeu, sua voz era mais uma formalidade do que um verdadeiro cumprimento.
Eva levantou os olhos do seu celular por um momento, examinando Ísis com um olhar crítico. — Vai para a escola de novo? Já não te disseram para não ser a última a sair?
Ísis deu um sorriso forçado. — Sim, mãe. Vou para a escola.
Enquanto Ísis se dirigia para a porta, Eva a seguiu, com um olhar de desinteresse se misturando com a apatia. — Tenha um bom dia, querida. E não se esqueça de que hoje é o dia do nosso encontro com a senhora Rosa para a entrevista de estágio. Não se atrase.
Ísis sabia que, na mente de sua mãe, aquele estágio era a chave para a redenção da família. Mas para Ísis, era apenas mais uma das muitas coisas que ela tinha que suportar sem realmente entender.
Ao chegar na escola, Ísis sentiu uma onda de alívio misturada com ansiedade. Seus colegas de classe eram uma mistura de adolescentes que pareciam ter tudo o que ela não tinha: pais presentes, sonhos de futuro e, acima de tudo, uma sensação de pertencimento.
Ísis se dirigiu para a sala de aula, onde sua professora, Elisabeth, estava explicando a fórmula de matemática que ela nunca realmente conseguia entender. Ao entrar na sala, Ísis percebeu que estava sendo observada pela turma, um olhar de curiosidade misturado com julgamento.
— Olá, Ísis — Elisabeth disse, seu tom de voz era uma mistura de formalidade e leve curiosidade.
— Olá, Dona Elisabeth — Ísis respondeu, tentando manter a calma.
Enquanto o dia se desenrolava, Ísis percebeu que havia algo diferente no ar. Um novo aluno havia chegado, um garoto de cabelos castanhos bagunçados e olhos azuis brilhantes que parecia não se importar com a opinião dos outros. Seu nome era Levi, e ele estava se esforçando para se enturmar, mas algo em seu jeito despreocupado chamou a atenção de Ísis.
Durante o intervalo, Levi se aproximou de Ísis, que estava sentada sozinha em um banco no pátio da escola.
— Olá, você é a Ísis, certo? — Levi perguntou, seu sorriso era genuíno e relaxado.
— Sim, sou eu — Ísis respondeu, com um misto de curiosidade e cautela.
— Eu sou o Levi — ele disse, sentando-se ao lado dela. — Parece que você está sempre por aqui sozinha.
Ísis deu um sorriso pequeno, algo que não costumava mostrar com frequência. — É, normalmente fico por aqui. Não sou exatamente a maior fã dessa escola.
Levi riu. — Bem, eu também não estou muito empolgado com a escola. Mas, como dizem, temos que passar por ela. O que você gosta de fazer quando não está aqui?
Ísis hesitou. Não tinha muitos amigos para conversar sobre seus interesses, e seu segredo era algo que ela não estava pronta para revelar. — Eu... eu gosto de ler e escrever.
— Interessante! — Levi respondeu. — E eu sempre estou procurando por novas leituras. O que você recomenda?
Ísis sorriu, e pela primeira vez naquele dia, sentiu-se um pouco mais leve. A conversa com Levi parecia uma válvula de escape do mundo complicado que a cercava. Mas enquanto a conexão começava a se formar, Ísis sabia que precisava proteger seu segredo a todo custo.
Ao final do dia, enquanto voltava para casa, Ísis refletiu sobre o encontro com Levi. A ideia de ter alguém com quem compartilhar um pouco da sua vida parecia um alívio, mas também uma preocupação. Seus segredos eram como uma mala pesada que ela carregava a cada passo, e agora, com Levi entrando em sua vida, ela se perguntava se o peso dessa mala poderia um dia ser aliviado.
Ao chegar em casa, Eva estava na cozinha, já se preparando para a noite. — Como foi o seu dia, querida?
Ísis hesitou antes de responder, dando um sorriso pequeno. — Foi bom, mãe. Nada de mais.
Eva não pareceu notar nada de estranho, e Ísis subiu para o seu quarto. Sentada à sua escrivaninha, começou a escrever em seu diário, um hábito que tinha desde pequena. Suas palavras eram um refúgio para ela, uma forma de expressar seus pensamentos e emoções sem medo de julgamento.
"Hoje conheci alguém novo", ela escreveu. "Levi parece ser uma pessoa legal. Ele me fez sentir como se eu não estivesse tão sozinha, mesmo que eu saiba que meu segredo continua aqui, pesando sobre mim. Será que algum dia vou encontrar uma maneira de lidar com isso?"
Ísis fechou o diário e olhou para a janela, onde o sol estava se pondo. Enquanto o dia chegava ao fim, ela se perguntava como seria sua vida se ela pudesse, de alguma forma, revelar seu segredo e ainda assim ser aceita e compreendida.
Mas por enquanto, o segredo de Ísis permanecia escondido, e a história dela estava apenas começando a se desdobrar.