Ana estava atrasada. O campus estava deserto, e o silêncio da noite era quase ensurdecedor. Ela apertou o casaco ao redor do corpo, sentindo o vento frio cortar sua pele. O céu estava coberto de nuvens espessas, sem nenhum sinal da lua ou estrelas. As luzes dos postes ao longo do caminho piscavam, lançando sombras estranhas pelo chão.
"É só a minha imaginação", murmurou para si mesma, tentando afastar o medo que começava a surgir.Enquanto caminhava apressada, algo parecia fora do lugar. Os sons ao seu redor estavam estranhos, abafados. Ana tirou os fones de ouvido e olhou em volta, mas não havia nada além das sombras. Tentando se acalmar, ela decidiu ligar para sua amiga Clara.
"Oi, Clara, estou voltando para casa. Só queria ouvir sua voz. Está tudo bem aí?" Ana disse, forçando um tom descontraído.
"Estou bem, Ana, mas... você parece nervosa. Aconteceu alguma coisa?" Clara respondeu, sua voz cheia de preocupação.
"Não, é só essa maldita rua deserta. Me faz sentir como se estivesse sendo observada."Clara riu levemente.
"Você e suas paranoias! Respira fundo, você já está quase em casa."Ana tentou seguir o conselho da amiga, mas então, do outro lado da linha, ela ouviu algo estranho. Um sussurro baixo, quase inaudível.
"Clara, você disse algo?" Ana perguntou, sua voz trêmula.
"Não... Eu achei que fosse você," Clara respondeu, agora soando alarmada.
"O que você ouviu?"Antes que Ana pudesse responder, o sussurro veio novamente, desta vez mais claro.
"Ana...", a voz murmurou, prolongando seu nome em um tom gélido.Ana parou de andar, o celular quase caindo de sua mão.
"Clara, eu... eu acho que ouvi alguém... chamando meu nome."
"Ana, sai daí agora! Vem direto para minha casa!" Clara exclamou, mas a linha cortou antes que Ana pudesse responder.O celular dela ficou mudo, e a tela apagou-se completamente. Ana tentou reiniciá-lo, mas nada aconteceu. O sussurro, entretanto, continuou, cada vez mais próximo.
"Você não pode escapar, Ana...", a voz disse, soando de todos os lados.Ana começou a correr, o medo tomando conta. As ruas pareciam se alongar infinitamente à sua frente, cada esquina levando a um beco sem saída, cada sombra parecendo se mover por conta própria.Quando finalmente avistou sua casa, ela quase desmoronou de alívio. "Por favor, por favor...", murmurava enquanto buscava as chaves na bolsa. Seus dedos trêmulos quase as deixaram cair várias vezes.Finalmente, conseguiu destrancar a porta e se jogou para dentro, trancando-a logo em seguida. Encostada contra a madeira, tentou acalmar a respiração, mas o silêncio que a envolveu era ainda mais aterrorizante.
"Estou segura... estou segura agora..." Ana sussurrou para si mesma, tentando acreditar.Mas, então, uma risada suave ecoou pela sala escura. Ana congelou.
"Segura, Ana? Nós estamos aqui... com você." A voz sussurrou, agora nitidamente próxima.Lentamente, ela se virou para a escuridão da sala, e foi quando viu. No fundo, um par de olhos vermelhos brilhava, fixando-se nela.
"Quem... quem é você?" Ana conseguiu perguntar, a voz quase falhando.
"Alguém que você nunca deveria ter encontrado..." A resposta veio, e antes que pudesse gritar, a escuridão a envolveu completamente.Na manhã seguinte, a porta da casa de Ana foi encontrada entreaberta. Clara foi a primeira a chegar, mas não encontrou sinais da amiga. Apenas um leve sussurro continuava a ecoar pela casa vazia, um lembrete sinistro de que algo a mais estava à espreita na escuridão.