Viviam todos em uma grande e elegante mansão, no entanto, o lugar onde ela ficava era o mais simples e desconfortável possível. Astheria a filha mais velha, era quem vivia naquele espaço apertado, ao qual achava algumas vezes repouso e paz. Pobre menina, sua vida se tornava cada dia mais terrível, não bastasse o desprezo, o cruel abandono, ainda havia muito por vir, inclusive os abusos. Sua breve lembrança de quando esse tormento começou, foi aos seus sete anos, quando recebeu um bracelete com pedrinhas em azul de seu frio pai. Quando a lua iluminou a janela de seu quarto, um espírito lhe apareceu, com uma voz doce, e com olhos azuis que a fazia lembrar do mar, curiosa a menina questionou quem ele seria e a resposta que teve foi: “Sou sua salvação”; aquilo a surpreendeu, e o espírito se fingiu de amigo, e aos poucos conquistou a garotinha. Mas um mês mais tarde se mostrou, tirou a máscara, e sem chances de se defender, Astheria foi atacada, abusada e marcada por um tormento sem fim. A cada maldito toque daquele ser maligno, a moça estremecia e mais força ele obtinha. Aquela senhorita devia ter tido uma vida de donzela, sendo bem cuidada e adornada, contudo ela achava que apenas nasceu para ser atormentada. Ela não tinha o conforto de um colo de mãe, vivia uma vida sombria, que estava se tornando cada vez mais vazia. E não importava seus gritos, seus medos chorados, seu desespero marcado no corpo e nem a angústia expressada, apenas era vista naquela linda casa como a filha abandonada. Taxada como “a loca”. No que achou que seria sua última noite, um fim tranquilo, olhou as estrelas e tristemente em sua frente olhos azuis lhe miraram, e lábios carmesim lhe disseram: “Tu és eternamente minha, querida”.