Capítulo 1:
O Chamado Inesperado
O vento frio de outono soprava pelas ruas estreitas da cidade, trazendo consigo o cheiro das folhas secas que se amontoavam nas calçadas. Helena fechou a porta do pequeno café onde trabalhava, apertando o casaco ao redor do corpo enquanto caminhava para casa. A vida era tranquila, quase monótona, na pequena cidade de Willowbrook. Seus dias eram uma repetição constante: trabalho, casa, algumas leituras noturnas e, ocasionalmente, uma saída com amigos para o pub local. Ela nunca imaginou que algo inesperado pudesse mudar completamente o curso de sua vida.Quando chegou à sua casa, uma pequena e aconchegante construção de tijolos vermelhos, notou um envelope na caixa de correio. Estava endereçado a ela, mas o remetente era desconhecido. Com curiosidade, Helena rasgou o lacre e tirou de dentro um papel denso e amarelado, como se tivesse sido escrito há muitos anos.
"Prezada Senhorita Helena Moore",começava a carta em um caligrafia elegante e arcaica, "É com grande honra e responsabilidade que venho informá-la de sua recente herança. Sua presença é requisitada no Castelo de Ravenswood, localizado na região montanhosa de Brimstone, para tratar de assuntos relacionados à propriedade, que agora pertence a você."
Helena sentiu o coração acelerar.
-Um castelo? Brimstone? Ela leu a carta novamente, acreditando que havia algum erro. Nunca ouvira falar de Ravenswood ou de qualquer parente em Brimstone. Sua mãe nunca mencionara nada sobre um castelo ou sobre raízes familiares tão distantes.Confusa, ela decidiu ligar para o número indicado no final da carta. Do outro lado da linha, uma voz grave e polida atendeu.
-Escritório de Robertson & Filhos, em que posso ajudar?
-Olá, meu nome é Helena Moore. Recebi uma carta sobre... bem, uma herança de um castelo em Brimstone. Há algum engano?
-Humm... Senhorita Moore, certo? Não, não há engano. Você é a única herdeira legítima do Castelo de Ravenswood, conforme os registros de nossa firma. O testamento de seu parente distante, o Conde de Ravenswood, foi atualizado recentemente, indicando-a como a única beneficiária.
-Conde de Ravenswood? Mas... eu nem sabia que tinha um parente conde, respondeu Helena, ainda mais confusa.
-O senhor Augustus Ravenswood era um homem muito reservado. Pelo que sei, ele não mantinha contato com outros membros da família. De qualquer forma, tudo está devidamente registrado e legalizado. Aconselho que venha o quanto antes a Brimstone para que possamos discutir os detalhes.
Helena sentiu um misto de emoção e apreensão. Era um convite para uma nova vida, para um lugar que ela nunca imaginou existir. Mas, ao mesmo tempo, era um salto no escuro. O que a aguardava em Ravenswood? Quem era esse misterioso Augustus Ravenswood?Ela passou a noite em claro, imaginando o que deveria fazer. Mas, ao amanhecer, já sabia sua resposta. Willowbrook sempre seria seu lar, mas algo maior a chamava. Talvez fosse o destino, ou apenas a necessidade de descobrir suas raízes. De qualquer forma, ela sabia que precisava ir.
Capítulo 2:
A Viagem a Brimstone
Dois dias depois, Helena estava no trem que cortava as paisagens montanhosas da região. As árvores densas e escuras, intercaladas com penhascos íngremes, davam ao lugar um ar misterioso e um tanto sinistro. Era uma visão completamente diferente das colinas suaves e pacatas de Willowbrook.Conforme o trem se aproximava de Brimstone, a neblina se tornava mais espessa, criando uma sensação de isolamento e mistério. Quando finalmente chegou à pequena estação, um homem a aguardava com um cartaz em que se lia seu nome. Era o Sr. Albert, o mordomo do castelo, um homem idoso com uma expressão séria, mas cortês.
-Bem-vinda a Brimstone, Senhorita Moore, ele disse com uma leve reverência.
-O carro está pronto para levá-la ao castelo.Helena assentiu, ainda absorvendo tudo o que estava acontecendo. Durante a viagem de carro, Sr. Albert falou pouco, mas quando o castelo finalmente apareceu à vista, Helena prendeu a respiração. O Castelo de Ravenswood erguia-se imponente no topo de uma colina, envolto por uma floresta densa e, naquele momento, parcialmente coberto pela névoa. Suas torres e muralhas antigas pareciam ter sido esculpidas diretamente na rocha, e as janelas altas e estreitas lembravam olhos que espreitavam silenciosamente o vale abaixo.
-Chegamos, disse o Sr. Albert, parando o carro em frente à grande porta de madeira maciça. Ela mal teve tempo de se preparar antes que a porta se abrisse, revelando um vasto hall de entrada, com piso de mármore e uma escadaria majestosa que levava ao andar superior. Candelabros antigos pendiam do teto, e retratos de figuras sombrias adornavam as paredes.
-Este é o seu novo lar, Senhorita Moore, disse o Sr. Albert, observando sua reação.Helena sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Era como se o castelo tivesse vida própria, como se a observasse tanto quanto ela o observava. Mas, ao mesmo tempo, havia algo profundamente familiar ali, como se ela já tivesse estado naquele lugar antes, talvez em sonhos.
-O que aconteceu ao Conde Ravenswood?Helena finalmente perguntou, sua voz ecoando nas paredes de pedra.
-Ele faleceu há poucos meses, de causas naturais, segundo o médico, respondeu Sr. Albert.
-Foi um homem solitário, mas deixou tudo para a senhora.Helena assentiu, embora ainda não conseguisse compreender totalmente o que isso significava. Ela estava ansiosa e curiosa para explorar o castelo, mas algo lhe dizia que as respostas que procurava não seriam fáceis de encontrar.
-Venha, eu a levarei aos seus aposentos, disse Sr. Albert, guiando-a pelo corredor.
-Há muito para descobrir sobre tudo.
Capítulo 3:
O Diário Esquecido
Os aposentos que o Sr. Albert designou a Helena eram grandiosos, mas carregavam o peso do tempo. As paredes eram revestidas com tapeçarias antigas, e a cama de dossel, com cortinas de veludo, parecia saída de uma era há muito perdida. Helena percorreu o quarto lentamente, tocando com os dedos os móveis empoeirados, sentindo a história impregnada em cada detalhe.Uma lareira ocupava uma das paredes, e, sobre a lareira, havia um retrato de uma mulher jovem e bela, com olhos tão expressivos que pareciam seguir Helena onde quer que fosse. O quadro a intrigou, pois havia algo de familiar naquela mulher, algo que Helena não conseguia decifrar.Cansada da longa viagem, ela decidiu se deitar e tentar descansar. Mas o sono não veio. A mente de Helena fervilhava com perguntas sobre o castelo, o Conde Ravenswood e o motivo de ter sido escolhida como herdeira. Após algum tempo rolando na cama, ela decidiu explorar mais o quarto, esperando encontrar algo que respondesse às suas perguntas.Foi então que, ao mover uma poltrona perto da janela, Helena percebeu algo estranho no piso de madeira. Uma das tábuas parecia solta. Curiosa, ela se abaixou e, com algum esforço, conseguiu levantar a tábua, revelando um pequeno compartimento escondido. Dentro, havia um caderno de capa de couro, desgastado pelo tempo.Helena sentou-se na poltrona, segurando o caderno com mãos trêmulas. Ao abri-lo, descobriu que era um diário. As primeiras páginas estavam desbotadas e difíceis de ler, mas, à medida que avançava, as palavras se tornavam mais claras. Era o diário de sua bisavó, Elizabeth Ravenswood.
1 de março de 1894
Hoje é meu aniversário de 18 anos, e pai decidiu organizar um grande baile no castelo para celebrar. Tudo está tão bonito, as flores, as luzes... Mas meu coração não consegue se alegrar. Há algo no ar, um pressentimento, como se algo sombrio estivesse prestes a acontecer.Encontrei Augustus hoje, perto da clareira. Ele parecia preocupado, mais do que de costume. Disse que ouviu rumores sobre uma maldição que paira sobre nossa família, uma maldição que se origina do castelo. Mas como posso acreditar nisso? São apenas lendas, histórias para assustar as crianças...
Helena parou de ler por um momento, processando o que acabara de ler. Sua bisavó mencionava uma maldição? Mas como isso poderia estar relacionado a ela agora? Helena continuou a ler, ansiosa por mais detalhes.
15 de março de 1894
Algo terrível aconteceu. Na noite do baile, o pai desmaiou subitamente e, desde então, está gravemente doente. Os médicos não sabem o que fazer, e todos parecem acreditar que é apenas uma doença comum. Mas Augustus insiste que é a maldição. Ele está convencido de que algo antigo e sombrio foi despertado, e que só há uma maneira de acabar com isso. Mas a solução que ele propôs... é impensável.Não sei o que fazer. Se ele estiver certo, como posso arriscar a vida de todos que amo? Mas, se estiver errado, então tudo isso não passa de superstição. Estou perdida.
Helena sentiu um frio na espinha ao ler as palavras de Elizabeth. As páginas seguintes estavam cheias de descrições detalhadas do sofrimento de seu bisavô, dos remédios ineficazes e da crescente obsessão de Augustus em descobrir a verdade sobre a maldição. Cada linha revelava o desespero de Elizabeth, uma jovem mulher dividida entre o amor por sua família e o medo do desconhecido.
Helena fechou o diário, sentindo revelações que acabara de ler. O diário de Elizabeth parecia não apenas uma janela para o passado, mas também uma chave para os mistérios que agora rondavam sua própria vida. A menção de uma maldição, algo que havia atormentado sua bisavó, encheu Helena de uma inquietação que não conseguia ignorar.Helena se levantou e caminhou até a janela, olhando para a paisagem envolta em névoa. O castelo de Ravenswood parecia mais sombrio do que antes, e a escuridão da noite que se aproximava só aumentava a sensação de que o lugar guardava segredos que desejavam permanecer ocultos.Enquanto refletia sobre o que lera, uma batida suave na porta a trouxe de volta ao presente. Helena se virou rapidamente, sentindo o coração acelerar. Quem poderia ser àquela hora?
-Entre, disse, tentando manter a voz firme.A porta se abriu lentamente, revelando a figura do Sr. Albert. O mordomo parecia tão sério quanto antes, mas havia um brilho de preocupação em seus olhos.
-Senhorita Moore,começou ele.
-perdoe-me pela hora, mas achei que deveria informá-la sobre algo importante. O castelo, como a senhora deve ter percebido, é muito antigo e... peculiar. Existem áreas que são melhor evitadas à noite.
-Áreas a serem evitadas? Helena perguntou, intrigada.
-Por quê? Sr. Albert hesitou, como se ponderasse o que poderia ou deveria dizer.
-O castelo tem uma história longa e, em alguns aspectos, perturbadora. Há lugares que carregam... energias que não são bem compreendidas. É melhor manter-se nos aposentos principais até que se familiarize com a propriedade.Helena franziu o cenho, mais curiosa do que assustada.
-O que exatamente quer dizer com energias? Isso tem a ver com a maldição de que minha bisavó falava? O mordomo levantou as sobrancelhas ao ouvir a menção da maldição, claramente surpreso. -A senhorita encontrou o diário de Elizabeth? Ele parecia estar escolhendo suas palavras cuidadosamente.
-A maldição é uma lenda antiga, algo que muitos dos empregados preferem não discutir. Mas sim, há histórias sobre o castelo que sugerem que algo sombrio se esconde em seus corredores.
-Mas o que exatamente aconteceu com o Conde Augustus Ravenswood? Helena insistiu.
-Como ele morreu?
-Augustus foi encontrado morto em seu gabinete, uma morte que, oficialmente, foi atribuída à idade avançada e a problemas de saúde. Mas...! ele fez uma pausa.
-há quem acredite que ele foi vítima da mesma maldição que afetou Elizabeth e sua família. Muitos mistérios cercam essa linhagem.
Helena sentiu uma onda de medo, mas também de determinação. Ela não estava disposta a aceitar meias verdades ou lendas sem tentar descobrir o que realmente estava acontecendo. Se havia algo que afetava sua família há gerações, ela precisava entender, custasse o que custasse.
-Eu agradeço, Sr. Albert, disse ela finalmente.
-Mas não sou do tipo que foge do desconhecido. Acho que é hora de começar a desvendar esses segredos, mesmo que isso signifique explorar as partes mais sombrias do castelo.O mordomo a observou por um momento antes de assentir solenemente.
-Se esse é o seu desejo, Senhorita Moore, eu apenas peço que seja cautelosa. Ravenswood guarda muitos segredos, e nem todos são gentis.Quando o Sr. Albert saiu do quarto, Helena se viu novamente sozinha com seus pensamentos. Mas agora, ao invés de se sentir perdida, ela sentia uma determinação crescente. Algo a chamava, algo enterrado nas profundezas do castelo, e ela sabia que precisava seguir esse chamado.
Capítulo 4:
As Sombras do Passado
Nos dias que se seguiram, Helena começou sua exploração do castelo com mais cuidado, sempre mantendo em mente as palavras do Sr. Albert. Os dias passavam devagar, cada um trazendo à tona novos detalhes sobre Ravenswood e seus antigos moradores. Ela explorou salas antigas e bibliotecas empoeiradas, descobrindo mais sobre sua família e os eventos que moldaram sua história.Um dia, ao investigar uma ala do castelo que parecia há muito desabitada, Helena encontrou uma porta trancada. Era uma porta simples, de madeira envelhecida, mas algo nela chamou a atenção de Helena. Ela tentou girar a maçaneta, mas a porta não cedeu. Determinada a entrar, Helena voltou ao seu quarto para procurar algo que pudesse ajudá-la a arrombar a fechadura.De volta à porta, usando uma antiga chave que havia encontrado em uma gaveta, ela finalmente conseguiu destrancar a porta com um clique suave. A porta rangeu ao abrir, revelando uma sala mergulhada na escuridão. A única luz vinha de uma pequena janela alta, que permitia a entrada de raios de sol fracos e empoeirados.Dentro da sala, Helena encontrou um antigo gabinete, coberto por uma grossa camada de poeira. Sentiu que algo importante estava escondido ali, e ao abrir uma das gavetas, encontrou um maço de cartas amarradas com um laço desbotado. Eram cartas de amor, trocadas entre Elizabeth e Augustus. A leitura das cartas revelou um romance intenso, mas repleto de dor e segredos que Helena ainda estava longe de compreender completamente.As cartas falavam secretos em uma clareira na floresta, de promessas sussurradas sob a lua cheia e de um amor proibido que parecia condenado desde o início.
Através das palavras apaixonadas de Elizabeth e Augustus, Helena começou a entender a profundidade do vínculo entre eles, um vínculo que aparentemente estava entrelaçado com os mistérios e as maldições do castelo.Uma das últimas cartas chamou a atenção de Helena. Escrita por Augustus, a carta estava datada de poucas semanas antes da morte de Elizabeth.
15 de abril de 1894
Minha querida Elizabeth,Os dias têm sido mais sombrios desde que nossos encontros se tornaram mais arriscados. A sombra da maldição parece se aprofundar a cada momento que passamos juntos, e temo que o destino não seja gentil conosco. Há algo que preciso lhe contar, algo que descobri recentemente nos antigos registros da família. O segredo de Ravenswood é muito mais terrível do que poderíamos imaginar, e temo que, se não agirmos em breve, estaremos todos perdidos.Encontre-me na clareira amanhã à meia-noite. Precisamos decidir o que fazer. Há uma última chance de salvar nossa família, mas o preço será alto. Saiba que, independentemente do que aconteça, meu amor por você é eterno.
Com todo meu coração,Augustus.
Helena sentiu um nó se formar em sua garganta ao ler as palavras desesperadas de Augustus. O que ele teria descoberto? E por que a clareira, mencionada repetidamente nas cartas, era tão importante para eles?Determinada a descobrir mais, Helena decidiu que sua próxima exploração deveria ser na floresta ao redor do castelo, em busca da clareira que tanto significava para seus antepassados. Ela precisava entender o que acontecera naquela noite fatídica, e o que Augustus planejava fazer para salvar sua família.No dia seguinte, logo após o amanhecer, Helena vestiu roupas mais apropriadas para uma caminhada e saiu do castelo em direção à floresta. As árvores antigas formavam um denso teto acima dela, filtrando a luz do sol e criando um ambiente de sombras e mistério. O ar era fresco e úmido, carregado com o cheiro de terra e enquanto Helena adentrava cada vez mais na floresta. Cada passo que dava parecia levá-la mais fundo em um mundo à parte, como se a floresta escondesse não apenas a clareira, mas também os segredos mais sombrios do castelo.Depois de caminhar por quase uma hora, Helena finalmente encontrou a clareira. Era um espaço circular, cercado por árvores altas e antigas, com o chão coberto de musgo e pequenas flores silvestres. No centro, havia uma grande pedra plana, quase como um altar, com marcas antigas esculpidas em sua superfície. O lugar tinha uma energia diferente, algo que fez os pelos da nuca de Helena se arrepiarem.Ela se aproximou cautelosamente, sentindo uma estranha familiaridade com o lugar, como se já tivesse estado ali antes, talvez em um sonho. A clareira parecia carregar uma sensação de melancolia, como se os segredos e os lamentos do passado ainda ecoassem nas árvores ao redor.Helena examinou a pedra central mais de perto e percebeu que as marcas nela esculpidas não eram apenas simples entalhes. Eram símbolos antigos, possivelmente relacionados à maldição de que Augustus falara nas cartas. Havia também vestígios de velas derretidas ao redor da pedra, sugerindo que rituais haviam sido realizados ali, possivelmente na tentativa de afastar ou entender a maldição.Enquanto Helena estudava os símbolos, uma brisa repentina varreu a clareira, trazendo com ela um sussurro quase inaudível, como se a própria floresta estivesse tentando lhe contar algo. Fechando os olhos, ela tentou se concentrar, ouvindo o murmúrio do vento entre as folhas. E então, de repente, ela teve uma visão: a imagem de Elizabeth e Augustus na clareira, ambos de pé ao lado da pedra, segurando as mãos e parecendo profundamente preocupados.
Na visão, Augustus estava falando algo, apontando para os símbolos na pedra, enquanto Elizabeth parecia desesperada, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Helena sentiu a dor deles como se fosse sua própria. Ela viu Elizabeth se ajoelhar diante da pedra, enquanto Augustus começava a recitar algo, uma antiga invocação ou uma prece.A visão desapareceu tão rapidamente quanto havia surgido, deixando Helena ofegante e com uma sensação de perda e urgência. Algo terrível havia acontecido naquela noite, algo que, de alguma forma, estava ligado à maldição que ainda pairava sobre sua família. Ela sabia que precisava descobrir mais.De volta ao castelo, Helena passou horas na biblioteca, vasculhando livros antigos e registros da família Ravenswood, tentando encontrar qualquer referência à maldição ou ao ritual que Elizabeth e Augustus poderiam ter realizado. Entre os muitos livros e em manuscritos esquecidos, Helena finalmente encontrou um livro antigo, com uma capa de couro preto e sem título. As páginas estavam amareladas pelo tempo, e a escrita era densa e em uma língua que ela mal conseguia decifrar. No entanto, entre as páginas, havia anotações feitas à mão, em uma caligrafia que Helena reconheceu como sendo a de Augustus.As anotações mencionavam rituais antigos, amuletos de proteção e uma maldição que parecia estar ligada ao próprio sangue da família Ravenswood. Segundo o que Augustus escrevera, a maldição remontava a séculos atrás, quando um antepassado da família fizera um pacto sombrio em troca de poder e riqueza. A clareira era o local onde o pacto fora selado, e a maldição estava enraizada na terra do castelo.Helena sentiu um calafrio ao ler que, para romper a maldição, era necessário um sacrifício. Augustus mencionava a necessidade de sangue da linhagem Ravenswood, um ritual que só poderia ser realizado na clareira, sob a lua cheia. Ele também escrevera sobre uma última ltima esperança, um ritual que ele e Elizabeth planejavam realizar, na tentativa desesperada de livrar a família da maldição para sempre.O tempo parecia parar enquanto Helena devorava cada linha, sentindo-se cada vez mais conectada a seus antepassados e à terrível situação em que se encontraram. Ela agora entendia o desespero de Augustus e Elizabeth, e a coragem necessária para enfrentar um destino tão sombrio.Mas o que mais a preocupava era a pergunta que não saía de sua mente: o que havia acontecido na noite em que Augustus e Elizabeth realizaram o ritual? E, mais importante, por que a maldição ainda parecia ter poder sobre ela e o castelo?
Determinada a descobrir a verdade, Helena decidiu que precisaria refazer os passos de seus antepassados. Ela teria que realizar o ritual descrito por Augustus, na esperança de finalmente libertar sua família da maldição que os assombrava há gerações. No entanto, ela sabia que precisava de mais informações, de mais preparação. Isso significava explorar ainda mais o castelo, decifrar os símbolos e encontrar qualquer pista que pudesse ajudá-la a entender exatamente o que precisava ser feito.Nos dias que se seguiram, Helena explorou o castelo com ainda mais determinação. Ela encontrou uma sala secreta atrás de uma estante na biblioteca, onde Augustus parecia ter conduzido seus estudos e pesquisas sobre o oculto. Mapas antigos, diagramas de constelações e livros sobre magia e alquimia estavam espalhados por toda parte. Em uma mesa no centro da sala, Helena encontrou um antigo amuleto, o qual Augustus havia mencionado em suas anotações como um possível artefato de proteção contra a maldição.Enquanto segurava o amuleto, Helena sentiu uma onda de energia percorrer seu corpo, como se o objeto estivesse imbuído de poder. Ela decidiu que o levaria com ela ao realizar o ritual na clareira.A noite da lua cheia se aproximava, e Helena sabia que o tempo estava se esgotando. O peso da responsabilidade e do medo pressionava seu coração, mas ela estava decidida a seguir adiante, não importando os riscos. Sabia que precisava enfrentar o passado para proteger o futuro, tanto para si mesma quanto para sua família.
Na noite em que a lua cheia iluminava o céu, Helena se preparou para o que poderia ser o momento mais decisivo de sua vida. Com o amuleto em volta do pescoço e o diário de Elizabeth nas mãos, ela fez o caminho até a clareira, onde as sombras pareciam mais profundas e o ar, mais denso. Quando chegou, a lua brilhava intensamente, iluminando a pedra no centro da clareira como se estivesse aguardando sua chegada.Helena posicionou o diário na pedra e começou a seguir as instruções deixadas por Augustus. Recitou as palavras que ele havia anotado, as mesmas que ele e Elizabeth tinham recitado anos atrás. O vento começou a soprar mais forte, e a clareira pareceu vibrar com uma energia antiga e poderosa.No entanto, algo inesperado aconteceu. Conforme Helena recitava as palavras finais, sentiu uma presença atrás de si. Virando-se lentamente, ela viu uma figura surgir das sombras: uma mulher pálida, vestida em um manto antigo, com cabelos escuros e olhos profundos. Era Elizabeth, ou pelo menos uma sombra dela, um eco do passado.
-Helena... A figura sussurrou, sua voz frágil, mas cheia de urgência.
-O sacrifício... não foi suficiente.Helena sentiu um arrepio de pavor.
-O que aconteceu? Por que a maldição ainda persiste?
-Fomos interrompidos,- a figura de Elizabeth respondeu.
-Não conseguimos completar o ritual. Augustus... ele tentou salvar-nos, mas foi tarde demais. Agora, você deve fazer o que não pudemos. Deve terminar o que começamos.Helena assentiu, sentindo o peso do destino sobre seus ombros. Com uma última olhada no diário, ela retomou o ritual, determinada a completar o sacrifício necessário para libertar sua família. As palavras de Elizabeth ecoaram em sua mente, e ela sabia que estava prestes a enfrentar algo muito mais sombrio do que qualquer coisa que pudesse ter imaginado.Conforme Helena finalizava o ritual, a clareira foi tomada por uma luz intensa, e o som de sussurros ancestrais encheu o ar. O chão tremeu levemente, e Helena sentiu uma força poderosa surgir da terra, passando por ela como uma corrente elétrica.
Quando tudo finalmente cessou, o silêncio caiu sobre a clareira. A lua ainda brilhava no céu, mas a atmosfera havia mudado. Helena se ajoelhou, exausta, mas sentindo uma paz que nunca havia sentido antes. Ela sabia, em seu coração, que a maldição havia sido quebrada.Helena voltou ao castelo, onde foi recebida pelo Sr. Albert, que parecia ter sentido a mudança no ar. Ele a olhou com respeito e admiração, entendendo que Helena havia feito o que nenhum outro membro da família havia conseguido.Nos dias que se seguiram, o castelo de Ravenswood começou a parecer diferente, mais leve, como se as sombras do passado tivessem finalmente sido dissipadas. Helena sabia que o castelo ainda guardava muitos segredos, mas agora, eles não estavam mais envoltos em escuridão.Helena decidiu que faria do castelo seu lar, um lugar onde poderia honrar seus antepassados, mas também começar uma nova vida, livre das correntes do passado. E, enquanto olhava pela janela de seu quarto, ela sentiu que, finalmente, Ravenswood havia encontrado a paz.
Fim!