Em uma pequena cidade no interior da Inglaterra, onde o tempo parecia ter parado, havia uma mansão imponente e assustadora conhecida como Holloway. Por décadas, ela ficou abandonada no topo de uma colina, envolta em névoa e cercada de lendas e superstições. Diziam que ninguém que entrou em Holloway saiu o mesmo, e as poucas pessoas que tentaram contar o que viram dentro da mansão nunca mais foram vistas.
Tudo começou quando a família Holloway desapareceu misteriosamente na noite de 12 de novembro de 1889. Os moradores da cidade relataram gritos e luzes estranhas vindas da mansão naquela noite, mas ninguém teve coragem de se aproximar. Quando finalmente decidiram investigar, a família havia sumido sem deixar vestígios. O caso foi encerrado como um desaparecimento inexplicável, e a mansão foi deixada para apodrecer, junto com os segredos que ela guardava.
Mais de cem anos depois, a cidade continuava com medo da mansão, mas para alguns, o medo era substituído pela curiosidade. Uma dessas pessoas era Arthur Bennett, um escritor de mistério e suspense que, após enfrentar um bloqueio criativo, decidiu buscar inspiração na infame mansão Holloway. Fascinado pelos rumores e pelas histórias que cercavam o local, Arthur decidiu que a mansão seria o cenário perfeito para seu próximo livro.
Quando Arthur chegou à cidade, os moradores o advertiram a ficar longe da mansão, mas ele estava determinado. No dia seguinte, com uma mochila cheia de suprimentos, uma câmera e um bloco de notas, ele fez seu caminho até a colina onde Holloway se erguia, desafiando a névoa densa e o vento gélido.
A mansão era ainda mais imponente de perto, com sua fachada em estilo vitoriano, janelas quebradas e trepadeiras que pareciam querer engolir a estrutura. O silêncio era esmagador, interrompido apenas pelo som do vento e do farfalhar das folhas secas sob os pés de Arthur.
Com a chave que havia encontrado na cidade, Arthur abriu a porta principal, que rangeu alto ao ser empurrada. Ele entrou na mansão, iluminando o interior com sua lanterna. O ar era denso, carregado de poeira e de uma sensação opressiva que parecia apertar o peito de Arthur.
Enquanto explorava os corredores longos e cheios de teias de aranha, ele começou a perceber detalhes que não faziam sentido. Havia velas apagadas recentemente, marcas no chão que indicavam que móveis haviam sido arrastados, e o mais estranho de tudo: um grande espelho no fim de um corredor, que estava limpo, sem um único grão de poeira.
Quando se aproximou do espelho, Arthur sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Algo naquele espelho parecia... errado. Ele não refletia apenas o que estava diante dele, mas mostrava um quarto diferente, como se fosse uma janela para outro lugar. No reflexo, Arthur viu um homem com roupas antigas, que parecia estar escrevendo em um diário. O homem parou de escrever, ergueu o olhar e encarou Arthur diretamente, como se o tivesse notado.
Arthur deu um passo para trás, ofegante, mas o reflexo no espelho não desapareceu. O homem no espelho levantou-se lentamente e começou a caminhar em direção a Arthur, como se estivesse atravessando o próprio vidro. O pânico tomou conta de Arthur, que tentou se afastar, mas seus pés pareciam colados ao chão.
Quando o homem estava prestes a atravessar o espelho, uma força invisível lançou Arthur para trás, fazendo-o cair no chão. O espelho rachou, e o reflexo desapareceu, deixando apenas uma tela de vidro estilhaçada. Ofegante, Arthur se levantou e saiu correndo daquele corredor, tropeçando enquanto tentava encontrar a saída.
Quando finalmente alcançou a porta de entrada, ele a abriu com força e saiu correndo pela colina abaixo, sem olhar para trás. Quando chegou à cidade, trancou-se em seu quarto na pousada, tentando processar o que havia visto. Durante a noite, ele teve sonhos perturbadores com o homem do espelho, que o chamava para voltar à mansão.
Na manhã seguinte, Arthur decidiu que precisava entender o que havia acontecido. Ele foi à biblioteca da cidade e passou horas pesquisando sobre a mansão e a família Holloway. Foi então que descobriu algo terrível: o homem que ele havia visto no espelho era Jonathan Holloway, o patriarca da família. Jonathan era um alquimista que estava obcecado por encontrar a vida eterna, e os rumores diziam que ele havia sacrificado sua própria família em um ritual para alcançar esse objetivo.
De acordo com os registros antigos, Jonathan tinha construído um espelho especial que seria a chave para a imortalidade, mas o ritual falhou, e ele ficou preso entre dois mundos, condenado a vagar pela mansão para sempre. O espelho, agora quebrado, era a última conexão que Jonathan tinha com o mundo dos vivos.
Arthur percebeu que estava em perigo. Ao quebrar o espelho, ele havia libertado Jonathan, e agora o espírito vingativo do alquimista poderia persegui-lo para sempre. Desesperado, Arthur tentou encontrar uma maneira de reverter o que havia feito, mas todas as pistas levavam de volta à mansão Holloway.
Sem outra opção, Arthur voltou à mansão naquela noite, determinado a pôr um fim ao tormento. Quando entrou novamente na mansão, ele percebeu que as coisas haviam mudado. A mansão, antes em ruínas, agora parecia mais viva, como se estivesse se restaurando aos poucos. E lá, no mesmo corredor onde o espelho havia sido quebrado, estava Jonathan Holloway, esperando por ele.
A confrontação foi inevitável. Jonathan exigiu que Arthur terminasse o ritual que ele havia começado há mais de um século. Sem saída, Arthur seguiu as instruções de Jonathan, montando os componentes do ritual com mãos trêmulas. Quando tudo estava pronto, Jonathan começou a recitar palavras antigas em uma língua que Arthur não compreendia.
No último momento, antes de completar o ritual, Arthur percebeu a verdade: Jonathan não buscava a imortalidade para ele mesmo, mas para possuir o corpo de Arthur e escapar de sua prisão eterna. Com um último ato de resistência, Arthur pegou a vela acesa que estava no altar e jogou no chão, incendiando tudo ao redor.
As chamas se espalharam rapidamente, e enquanto a mansão ardia, Arthur viu Jonathan gritar de fúria, sua figura se desfazendo em fumaça. Arthur correu para fora da mansão, escapando por pouco das chamas que consumiam tudo. Quando chegou à colina, a mansão Holloway estava em ruínas, destruída para sempre.
Arthur retornou à cidade, exausto e abalado, mas finalmente livre do tormento. Ele nunca escreveu sobre sua experiência na mansão Holloway, mas aqueles que o conheceram notaram uma mudança nele. Arthur havia perdido algo naquela noite, algo que nunca mais poderia recuperar. Ele deixou a cidade e desapareceu no mundo, mas as lendas sobre a mansão Holloway continuaram a viver.
E dizem que, nas noites de nevoeiro, se você escutar atentamente perto das ruínas da mansão, ainda pode ouvir os sussurros de Jonathan Holloway, preso entre dois mundos, para sempre em busca de um corpo que nunca poderá possuir.