Capítulo 1
Minha leitura foi interrompida por um som vindo da porta.
— Quem é? — perguntei.
— Sou eu, Penélope — respondeu minha mãe do outro lado.
— Ah! Entre — disse.
Ela entrou no meu quarto e me olhou com um semblante sério.
— Olá, filha. Desculpe interromper sua leitura, mas seu pai e eu precisamos conversar com você.
— Está bem, mas onde ele está? — perguntei, notando a ausência dele.
— Ele preferiu que tivéssemos essa conversa no escritório.
Levantei-me da cama, deixando o livro na mesa ao lado. Saí do quarto e segui minha mãe pelo corredor, sentindo uma mistura de preocupação e curiosidade. "O que será tão sério para precisarmos ir ao escritório?", pensei.
Meu pai raramente nos permitia entrar no escritório, exceto em casos realmente importantes.
Ao chegarmos à porta, minha mãe bateu suavemente e esperou pela resposta.
— Entre — disse meu pai do outro lado.
Ao entrar, vi meu pai sentado à sua mesa, segurando uma carta.
— Sente-se, por favor — disse ele, tirando os óculos e apontando para a cadeira em frente à sua mesa.
Eu queria ficar de pé, mas acabei me sentando. Minha mãe sentou-se ao meu lado e segurou minha mão, transmitindo-me um pouco de tranquilidade com seu sorriso.
— Esta carta chegou hoje de manhã, e não sei como te explicar, mas...— começou meu pai, mas logo parou, com o olhar pensativo.
— Para que é essa carta, pai? — perguntei, preocupada com o silêncio dele.
— Bem, você vai se casar com o príncipe do Sul.
Ao ouvir essas palavras, meu mundo desmoronou. A partir daquele momento, não consegui ouvir mais nada. Fiquei perdida em meus pensamentos, com aquela frase ecoando incessantemente na minha mente.
— Filha, você está bem? — perguntou minha mãe, visivelmente preocupada.
— Sim, mãe, estou bem — respondi, mas minha voz traiu minha verdadeira angústia.
Levantando-me rapidamente, saí do escritório e fui direto para o meu quarto. Fechei a porta atrás de mim, isolando-me do mundo exterior.
No silêncio do meu quarto, meus sentimentos finalmente transbordaram. Joguei-me sobre a cama, afundei o rosto no travesseiro e soltei um grito abafado de desespero. As lágrimas começaram a cair, molhando o tecido macio. Meu coração estava apertado, e a sensação de impotência e tristeza me envolveu completamente.
As palavras de meu pai continuavam a ecoar na minha mente: "Você vai se casar com o príncipe do Sul". A ideia de um casamento arranjado, com alguém que eu nunca conhecerá, fazia meu peito doer ainda mais. Era como se todos os meus sonhos e desejos fossem esmagados por uma realidade que eu não escolhera.
Chorei até sentir que não havia mais lágrimas. Permaneci ali, deitada, tentando encontrar algum consolo na solidão do meu quarto.
Até que fui interrompida por alguém batendo à porta.
— Quem é? — perguntei, a voz ainda embargada pelas lágrimas.
— Sou eu, Beatriz — respondeu minha amiga, espiando pela fresta da porta
— Entre —
falei, meio desnorteada, tentando enxugar as lágrimas.
Beatriz entrou no quarto com um sorriso gentil, tentando aliviar o ar pesado que pairava.
Ela fez uma brincadeira leve sobre o estado do meu quarto, e eu ri baixinho. Sua tentativa de me fazer sorrir funcionou um pouco, mas a dor ainda estava lá.
Ela se sentou ao meu lado na cama, segurando minha mão com firmeza. Seus olhos estavam cheios de preocupação e empatia.
— Bia — comecei, a voz trêmula — meus pais me colocaram em um casamento arranjado com o príncipe do Sul.
Beatriz arregalou os olhos, surpresa.
— **QUE? O PRÍNCIPE DO SUL? AQUELE QUE NUNCA MOSTROU O ROSTO PARA NINGUÉM?**
— Sim, esse mesmo — respondi, sentindo a tristeza e a raiva se misturarem dentro de mim. A companhia meio doida da Beatriz, no entanto, trazia um alívio inesperado.
— Mas por que isso do nada? Você está pronta para conhecer o príncipe? — perguntou ela, incrédula.
— Não, eu realmente não estou pronta, Bia. Me ajuda, por favor.
— Amiga, eu não posso me casar no seu lugar, mas bem que eu gostaria! Casar com um príncipe...
— Pelo menos você vai ter dinheiro e será da realeza. Pensa pelo lado bom — disse ela, tentando me animar.
— Eu sei, mas e se eu não gostar do príncipe?
— Tenho certeza de que você vai gostar dele. Ele deve ser muito bonito para esconder o rosto.
— Talvez você tenha razão. Quando estiver pronta, falo com meus pais.
— Bom, já que é sua decisão, eu vou indo. Está ficando tarde.
— Está bem, amiga. Obrigada por ter vindo. Sua presença me fez sentir um pouco melhor — disse, dando-lhe um pequeno sorriso.
Vi Beatriz sair pela porta e fiquei na cama, pensando no que fazer. Meus pensamentos foram interrompidos por alguém batendo na porta.
Quando a abri, vi minha mãe me chamando para jantar.
— Filha, venha jantar. Seu pai está esperando.
— Está bem, mãe. Já estou descendo.
Desci as escadas e fui para a sala de jantar, onde vi meu pai com uma expressão de raiva.
— Filha, sobre o casamento...
— Pai, eu não quero falar sobre isso agora.
— Não podemos adiar esse casamento — disse ele com firmeza.
Concordei com a cabeça em silêncio e me sentei, começando a comer calmamente, enquanto minha mente fervilhava com ideias de como evitar o casamento.
Uma ideia começou a se formar. Se eu conseguisse encontrar uma forma de conhecer o príncipe e convencê-lo de que o casamento não seria bom para nenhum de nós, talvez ele desistisse também.
Terminando o jantar rapidamente, decidi sair um pouco, para distrair.
— Mãe, eu vou sair um pouco — falei, retirando-me da sala de jantar e indo para fora.
Andei tranquilamente pelo jardim, refletindo sobre meu plano. Precisava de um pretexto para conhecer o príncipe antes do casamento e, quem sabe, encontrar alguma forma de fazer ele mudar de ideia.
Encontrei uma árvore no fundo do jardim e sentei-me embaixo dela, abrindo meu livro para tentar distrair a mente. Enquanto lia, avistei ao longe os cavalos brancos da guarda real do Sul passando...