Deidara é um pirralho, e Sasori não mudaria tão cedo sua opinião. O garoto loiro era seu novo parceiro, e não precisou de muito tempo com ele para perceber que seu temperamento seria um problema. Na verdade, percebeu isso desde o primeiro contato que teve com o Tsukuri, no seu recrutamento, quando teve sua "luta" contra Itachi… se é que ele poderia considerar aquilo uma luta. O moleque era impulsivo, e tagarela, isso o irritava.
Mas nada se comparava às suas arguições sobre a idiotice que tinha a audácia de chamar de arte. Como algo tão grotesco como uma explosão poderia ser considerada arte? O pior é que ele realmente argumentava bem sobre isso, talvez tão bem, a ponto de ser capaz de manter uma discussão com Sasori por um bom tempo. Mesmo que o Akasuna sempre dissesse que não explicaria uma visão tão complexa quanto a sua para alguém que não tivesse "capacidade de entender", sempre falava que não perdia o seu tempo, deveras precioso, discutindo arte com idiotas. Sasori sempre verbalizou isso… Ainda assim, constantemente estava debatendo (brigando) sobre arte com Deidara, mas ele conseguia ser ridiculamente teimoso. Teimoso a ponto de Sasori ameaçar o envenenar propositalmente.
Entretanto, não é como se o Akasuna possuísse muita paciência para alguma coisa além de suas marionetes.
Nesse momento, a dupla estava em algum lugar de Sunagakure, Deidara esperava Sasori voltar com o que ele supôs ser novos materiais ou alguma coisa útil para os seus "bonecos". Eles tinham brigado novamente, e Sasori prometeu ao loiro que, se ele não ficasse quieto ali e o esperasse, adicionaria uma nova marionete à sua coleção bem rápido. Acredita que o jovem tenha entendido o recado.
O ponto é que Sasori estava realmente demorando, o que não era muito comum, Deidara percebeu. Aguardando desse jeito o seu parceiro, se sentia como uma criança, e quem olhasse de fora facilmente pensaria ser uma garotinha. Deidara sempre odiou quando confundiam seu sexo, mas nunca fez nada para mudar algo sem sua aparência, preferia sair aos socos e pontapés com quem dissesse algo assim do que cortar seu cabelo ou coisa parecida, como já haviam sugerido.
Quando o Marionetista voltou, se separou com a cena do mais novo adormecido, cabeça apoiada na rocha e os fios de cabelo caídos sobre os ombros. Foi adorável, tinha que admitir… Mas Sasori se perguntava se tinha realmente demorado muito ou se era apenas Deidara que era ridiculamente dramático. Mas independente do que fosse, odiava deixar os outros esperando.
Isso fez o ruivo soltar um suspiro pesados logo as aproximando de Deidara e tocando no seu ombro, não querendo mexer no cabelo do jovem para ele não dar chilique.
— Acorde. Estamos indo agora, Deidara — Informa no tom de sempre, começando a guardar suas coisas no Hiruko para poder entrar
Deidara realmente acordou, murmurando algumas coisas inaudíveis porém mesmo assim de levantou
— Achei que tivesse morrido lá dentro — Acua esfregando um dos olhos e bocejando
Ah sim, Sasori pediria desculpas naturalmente, por mais surpreendente que fosse, mas não para ele. A última coisa que precisava era um pirralho irritante para o perturbar quanto a isso o resto da viagem de volta. Então optou pela resposta mais sensata: o silêncio.
Ele continuou organizando suas coisas e logo entrando na marionete, usando as cordas de chakra para a fechar. Era difícil que saísse em sua verdadeira aparência, mas uma hora ou outra, eventualmente, acabava acontecendo. Mas era melhor manter a segurança, e dentro da marionete era mais fácil se manter em alerta. Com o tempo o loiro foi se acostumando com a ideia, por mais "estranho" que lhe parecesse.
O tempo correu, não demorou muito para que chegassem a uma pousada onde passariam a noite. Dormir ainda era uma necessidade para o mais novo e Sasori também precisava de tempo para trabalhar com seus novos materiais, pelo menos começar. Em teoria seria algo tranquilo, mas é claro que "tranquilo" não poderia se aplicar à relação dos dois. Os artistas discutiam novamente sobre qual seria o conceito "certo" de arte, e mais uma vez Sasori estava por perder a paciência.
— Não há sentido na arte ser efêmera, ela precisa ser apreciada pelo maior tempo possível, como alguém poderia capturar toda sua essência se ela fosse momentânea? É estúpido sequer considerar isso seriamente.
Hiruko franziu o cenho, expressando o próprio semblante do ruivo
— Ah então eu sou estúpido?! — Cruzou os braços arqueando uma sobrancelha
— Sim.
Deidara estava cansado, e a cama era bem atraente para descansar os músculos. O mais velho realmente não entendia de onde então havia surgido toda essa energia para discutir
— Bem, eu acho que estúpido é quem não consegue, não tem capacidade, para enxergar a beleza no interino da vida — Ele moldou o sorriso numa linha fina, como um gato
Teve pouco tempo para perceber a péssima escolha de palavras
Com o silêncio pelo lado de Sasori, Deidara pensou ter ganhado a discussão. Apenas para ter a confiança e orgulho desmanchados no rosto ao ouvir um click vindo da marionete, e logo mais um. Ele sabia o que significava. Quando viu o ruivo aparecer e se aproximar dele, podia jurar que seu coração errou uma batida.
— "Interino" você diz…
A distância foi diminuindo, e foi aí que Deidara começou a recuar. O olhar dele não vacilava, e existia uma calma assustadora no semblante do marionetista, embora seus olhos revelassem uma raiva iminente.
— Não entenda errado, eu consigo apreciar muito bem o "interino" da vida. — Em um passo maior, ele agarrou o rosto do loiro
O coração de Deidara acelerava, ansiedade e nervosismo batendo contra as paredes do seu cérebro. Certo, talvez tenha passado dos limites.
— Apreciei consideravelmente quando vi a vida dos shinobis serem retiradas por mim na guerra. Essa "essência" tão efêmera, esvaindo de seus olhos, vidas que foram facilmente descartadas. — Sasori apertou os dedos contra o rosto do mais novo — Como você diz mesmo? Ah sim, eu podia até sentir isso. Me diga, você sabe o porquê de ter "Akasuna" no meu nome, pirralho?
O loiro engoliu seco. Sabia que o parceiro havia participado de uma das grandes guerras ninjas, sabia da fama, embora nunca tivesse chegado de fato a questionar sobre isso. Ele era jovem, e seus estudos em grande parte foram para arte e treinamento físico enquanto estava em Iwagakure. O silêncio fez com que Sasori continuasse.
— Você não deve ter uma noção tão ampla da guerra, mas aqui vai… enquanto lutava por aquele lugar desprezível que é Sunagakure, eu vi muitos ninjas lutando para manter suas pequenas vidas, muitos até preferiam encontrar a morte por outros shinobis, ter um fim mais rápido, efêmero, a ter um encontro comigo. — Sasori aumentou seu aperto — "Akasuna"... "Areia Vermelha", não é bem um sobrenome, você entende isso? Quantas vidas eu tirei para pintar cada grão de areia com tons de vermelho?
Deidara mal conseguia se mexer, ele mal conseguia sequer respirar, sentia que seu coração saltaria do seu peito pela intensidade que pulsava, isso se Sasori mesmo não o arrancasse dele.
— Então, Deidara… se eu fosse você, tomaria muito cuidado com a forma que se dirige a mim. Exijo que um pirralho como você, aspirante a artista, fale com respeito comigo. Nunca fui conhecido por ser muito paciente. E esse é o único aviso que vou dar a você.
Não apenas paciente, mas piedoso também, esses eram dois traços que não eram vistos com frequência na personalidade de Sasori. E o Tsukuri não estava animado para testar isso. Embora Deidara tenha se deixado desfocar quando Sasori o chamou de "aspirante a artista", vindo dele, soava quase como um elogio, quase. Porém Sasori não passou mais muito tempo trocando olhares com o loiro, deixando-o livre ao liberar o aperto em seu rosto, e ele jurou que podia ver marcas sutis de seus dedos gravadas na pele de Deidara. Mas com certeza suas palavras ficaram gravadas na mente dele também.
Nos dias posteriores, não estavam falando muito bem um com o outro, e Sasori até viu isso como uma espécie de paz, em nenhum momento se arrependeu da forma como falou com o parceiro, por mais que isso tenha ficado em sua cabeça quando percebeu que Deidara nem sequer lhe dirigia a palavra por conta própria. Mas seria preciso mais do que isso para fazê-lo tomar a primeira atitude. Felizmente, não precisou fazer isso. Quando ambos foram direcionados para "lidar" com um ninja que tinha informações sobre a Akatsuki, Deidara não mostrou empolgação até explodir alguma coisa pela primeira vez no dia, que nesse caso, foi o tal ninja.
O loiro achava que tinha pegado "leve" na explosão, afinal, tinham restos mortais da pobre alma espalhadas pelo terreno. Havia sido proposital, Sasori queria o pergaminho com as informações que o ninja carregava, e era para o ruivo terminar isso sozinho usando suas marionetes, mas imprevistos aconteceram quando ele tentou fugir e Deidara se viu obrigado a finalizar a situação por conta própria. Caminhando pelo local e olhando ao redor até achar o tal pergaminho e o pegar, sentando-se sobre um tronco de árvore quebrado e começando a ler.
— O que está fazendo? — Sasori se aproximou dele, ignorando a bagunça de restos humanos, armas e roupas no chão.
Deidara riu. Sasori estranhou isso, não porque ele não fazia isso com frequência, mas sim porque o loiro parecia não estar muito bem humorado até algumas horas atrás.
— O que é tão engraçado?
— Isso… — Ele ergueu o pergaminho, mostrando desleixadamente para o parceiro. — Nos chama de "dupla de artistas"
O riso é genuíno, divertido. Sasori não sabia se era ironia ou uma referência séria no papel, sem um contexto era difícil dizer. A única coisa que sabia era que Deidara pareceu contente com a designação do termo. Particularmente, embora não considerasse o que Deidara fazia como "arte" propriamente dita, não negava para si mesmo que ele tinha uma vinha artística, era o seu completo oposto, mas de alguma forma, se ligavam. E achava que essa "ligação" era culpa sua por ter dado tanta corda para isso. Ele precisava assumir.
— O que acha disso, Sasori-no-Danna? — Questionou com um sorriso nos lábios
A sua expressão se moldou em surpresa ao escutar Deidara. O chamar assim era algum tipo de piada com arte? Não, pareceu mais um pedido de trégua. Ele tinha pensado nisso por quanto tempo? "Danna" soava um pouco forte, chamar alguém como, principalmente, mestre… é intenso.
Nunca foi de pedir desculpas, e Deidara também não parecia fazer esse tipo de pessoa, mas podiam se respeitar mutuamente, Sasori tinha que aceitar isso bem. Afinal, tinha certa responsabilidade por instigar tanto Deidara a defender seu ponto de vista, mesmo que inicialmente essa não tenha sido a intenção.
— Soa… adequado.
Às vezes, reconhecimento é tudo que alguém precisa, principalmente um artista.