Nas vastas e sombrias florestas da Nova Inglaterra, havia uma colina que os habitantes locais evitavam mencionar. Não era marcada em mapas, e seu nome era sussurrado apenas nas horas mais tardias da noite, quando os velhos contavam histórias para afastar o frio de suas almas. Chamavam-na de Colina de Ossos, um nome que evocava uma antiga maldição e segredos há muito enterrados.
Certa noite de outono, um jovem estudioso de folclore chamado Jonathan Grey, ou apenas John, apelido dado a muito tempo pelos seus colegas universitários, chegou à pequena cidade de Dunwich, atraído pelas histórias obscuras e lendas sussurradas, buscando uma pesquisa que o alcançaria em sua carreira na ciência. Grey era um cético, fascinado pela lógica que a superstição insistia em negar. Ele decidiu investigar a verdade por trás da Colina de Ossos, determinado a desmascarar o que juravam de pés juntos ser verdade naquela lenda.
Munido de sua mochila, um caderno, uma lanterna e uma coragem que beirava a arrogância, Grey adentrou a floresta na calada da noite. A lua cheia iluminava o caminho entre as árvores retorcidas, cujos galhos pareciam mãos esqueléticas tentando agarrá-lo. O ar estava pesado, e uma sensação de presságio pairava sobre o lugar.
Após horas de caminhada, Grey chegou à base da colina. A vegetação era estranhamente escassa, e o solo parecia coberto por uma fina camada de pó branco. Ao examinar mais de perto, Grey percebeu que o pó era, na verdade, fragmentos de ossos. Um calafrio lhe subiu a espinha.
"Está frio"
Pensou Grey, atribuindo a sensação ao vento frio da noite.
Subindo a colina, Grey encontrou uma antiga mansão em ruínas, meio oculta pela vegetação. A casa era imensa, com janelas quebradas e portas caídas, como se tivesse sido abandonada há séculos. Ele entrou, com a curiosidade sobrepondo-se ao medo. O interior estava repleto de móveis antigos cobertos por poeira e teias de aranha. Em uma das paredes, um retrato desbotado de uma família olhava para ele com olhos vazios e sem vida.
No porão, Grey encontrou um livro antigo, encadernado em couro gasto. A capa estava gravada com símbolos estranhos que ele, mesmo com seus estudos em dia, não conseguia identificar. Folheando as páginas, descobriu vários tomos referentes à magia negra e rituais antigos.
Sua mente se perguntava quem seria responsável por tal obra, cujas palavras pareciam pulsar na página, como se possuíssem vida própria.
À medida que lia, os sussurros em seus ouvidos começaram. Não vinham de algum lugar em particular, mas pareciam rodeá-lo, enredando-se em sua mente. As vozes falavam de sacrifícios e pactos antigos, de horrores que transcendem a compreensão humana. Ele tentou ignorar, mas os sussurros tornaram-se gritos, uma cacofonia de almas atormentadas.
De repente, seu corpo estremeceu, ficando rígido e o ar lhe faltou nos pulmões, Grey sentiu uma presença atrás de si. Virando-se lentamente, viu uma figura espectral, uma mulher com olhos vazios e pele translúcida, digna de um verdadeiro filme de terror.
"Oh Deus…"
Ela levantou uma mão esquelética, e nesse ponto Grey sentia que lhe sugaria a alma, mas o seu dedo apontou para o livro. Grey sentiu um impulso de obedecer, de ler em voz alta as palavras nas páginas antigas.
Enquanto lia, o ar ao seu redor começou a girar, formando um vórtice de sombras e luzes. As paredes da mansão tremiam, e um rugido gutural ecoou das profundezas da casa. Grey percebeu tarde demais que não deveria ter incomodado o que quer que estivesse naquela colina sob a colina por milênios.
A última coisa que ele viu antes de ser engolido pelas trevas foi o sorriso de triunfo e malícia da mulher, ou seja lá o que for realmente aquilo. Seu corpo torceu-se no próprio eixo, e a dor era tanta que seu grito foi gutural, seus próprio ossos rasgando a carne conforme era sufocado pelo fato de que não havia salvação, os estalos de seus membros juntando-se em um ângulo anormal misturavam-se com os estalos da madeira daquela velha residência, e tão rápido quanto começou, Grey parou de gritar, sua voz foi silenciada.
A Colina de Ossos havia reivindicado mais uma vida, e os sussurros retornaram ao seu silêncio eterno, aguardando o próximo incauto que ousasse desafiar os segredos enterrados nas profundezas.
Os habitantes de Dunwich nunca mais ouviram falar de Jonathan Grey, mas nas noites mais escuras, aqueles que se aproximam demais da colina dizem ouvir os sussurros de uma dor fantasma, um dia presente naquela colina.