Eu gosto de escutar os pássaros cantarem, não apenas aqueles consideram extremamente belos, mas também aqueles tão comuns que chegam a ser enjoativos, como os dos pombos, que fazem “Pru, Pru” para todo o lado. Gosto de escutá-los, amo o som de cada um que aparece na minha janela de manhã pronto para escutar sua melodia como se eu fosse a plateia em sua grande orquestra.
Me orgulho de escutá-los, me sinto realizado quando eles me permitem acariciar suas penas macias e felpudas ótimas para voar com seus ossos tão ocos como o buraco no meu peito. As vezes sinto uma grande inveja deles, seres que podem sair por aí sem nenhuma restrição, voar por mares infinitos e florestas misteriosas, se emprenharem em nevoas assustadoras, mesmo assim saírem totalmente ilesos, confiantes para a próxima aventura que podem levá-los a fins infinitos.
Continuo no mesmo lugar, olhando para a janela como se me convidasse para voar junto aos pássaros que tanto amo, mas eu sei que não posso voar, se tentar imita-los cairei no chão e serei como um avestruz que por ter várias penas pensa que conseguiria atravessar um furacão. Mas, o chamado continua, eu não deveria escutá-lo, e mesmo que escutasse a bela gaiola cinzenta não permite um único passo fora da linha que os pássaros adoram atravessar por puro despeito.
Quando o inverno chega me enche de tristeza, murcho como as arvores que brilhavam verdejantes no alto da primavera, os pássaros não gostam do frio, eu muito mesmo, o silencio é maior, é sufocante, me fazendo quase pular para me juntar a eles em meio a sua migração, mas e impossível, a gaiola e infinita, junto as correntes a torna deprimente.
Um dia em meio a esses milhares de invernos não estarei mais ali para cumprimentar os pássaros no início da primavera, dar boas-vindas para um que deseja saber que estou bem, ou apenas queira ter suas penas acariciadas até dormir, em algum momento será a última vez que irei ouvir seus cantos na minha janela tentando animar uma plateia que se tornou silenciosa como os ventos do cemitério. Mas também, nesse dia, escutarei cada um deles uma última vez, desejando imensamente me tornar um deles para juntos voarmos para os lados mais quentes do planeta, fugindo do silencioso e frio inverno.