Com quatro anos de idade sentada em minha cama, ouço os murmúrios que percorrem o corredor de nossa casa. Com uma família grande de seis crianças, o silêncio nunca parece ser uma opção viável.
Ergo-me da cama e deslizo uma fresta da cortina da janela. Da rua, observo um casal passando; a cumplicidade entre eles é visível. Do outro lado da rua, uma senhora dedica-se a regar suas flores, um ritual que repete todas as tardes. Ao lado de sua casa, crianças se divertem em um balanço pendurado em uma majestosa árvore.
Um sorriso desponta em meu rosto, mas é abruptamente dissipado pela voz que me faz arrepiar até a espinha.
— O que você está fazendo aí? Já te disse para não se aproximar da janela — repreende Lauren, puxando-me para longe — Se alguém a vir aqui, estaremos todas encrencadas, Suzi. Mantenha-se afastada da vista deles lá fora, entendeu? — Concordo com a cabeça e reassento-me na cama.
Começo a ponderar por que sou obrigada a viver escondida, enquanto meus irmãos podem brincar livremente lá fora. Parece que Lauren lê meus pensamentos e suspira, olhando para mim.
— Eu sei que é difícil, mas tente entender, lá fora as pessoas não te veriam do mesmo jeito que nós te vemos. Quando eu voltar do mercado e a rua estiver vazia, levarei você até o quintal, está bem? — Ela pergunta, e eu assinto fervorosamente com a cabeça, um pequeno sorriso de esperança brotando em meu rosto.
A revelação de minha mãe marcou o início de uma jornada peculiar e solitária em minha vida. Quando completei oito anos, finalmente reuni coragem para questionar o motivo de minhas restrições: por que não podia brincar como outras crianças, frequentar a escola, ou simplesmente aparecer na rua? Perguntei o motivo dessas regras estranhas, e a resposta dela me feriu profundamente.
Ela olhou para mim com tristeza em seus olhos cansados, como se carregasse um peso que eu não podia compreender.
— Sua voz me irrita — ela disse com sinceridade brutal — Você me lembra que seu pai destruiu a minha vida, aquele imundo. E, infelizmente, você nasceu igual a ele.
Aquelas palavras ecoaram em minha mente como uma sentença. Meu pai, alguém que eu nunca havia conhecido, estava de alguma forma conectado a minha existência, e de maneira nada positiva. Minha mãe, uma figura enigmática que raramente sorria, tornou-se ainda mais distante após esse dia.
Minha infância foi definida por um silêncio forçado e uma solidão profunda. Minha mãe me tratava com uma mistura de indiferença e ressentimento, e eu cresci como uma criança que evitava fazer barulho e passava a maior parte do tempo sozinha, perdida em meus próprios pensamentos.
Com o tempo, aprendi a usar minha voz para mais do que apenas irritar minha mãe; descobri que era uma ferramenta poderosa para descobrir a verdade e curar feridas antigas.
Embora o melhor seria se eu deixasse tudo enterrado, o meu pai causou a ruina da minha mãe, a minha presença ali a lembrava disso todos os dias. Meus irmãos não faziam ideia de que a nossa mãe fora violentada por um homem e abandonada por seu marido.
Mesmo assim ainda acho que ela não deveria fazer isso comigo, hoje com os meus quinze anos de idade, eu não sei ler, ou até mesmo escrever o meu próprio nome, não sei o significado de muitas palavras.
Eu olhava para os meus irmãos que choravam enquanto se abraçavam no canto da sala, o barulho da sirene ecoava por meu ouvido, enquanto a policial me tirava algemada daquela casa em que passei os piores anos da minha vida.
Ao menos a mamãe não precisa mais se preocupar em ouvir a minha voz novamente, agora ela nunca mais ouvirá nada, eu a ajudei.