Na vida todos tivemos ou teremos uma música que marcará nossa história, por diferentes motivos, em diversas ocasiões e lugares, que nos acompanhará em nossa jornada sempre nos recordando do ocorrido. A música pode ter se eternizado em um momento triste em sua vida, de alegria, no encontro do seu grande amor, tantas opções, mas a minha foi a última, a música foi a responsável por achar o grande amor da minha vida, o meu homem com defeitos que nos meus olhos é tão perfeito.
Temos tantas músicas que as vezes e difícil recorda qual tocou em determinado momento, mas ironicamente quando nos vimos pela primeira vez música nenhuma tocava além das batidas acelerada do meu coração. Quando eu revelei isso anos depois que nos casamos, ele sorriu e olhou para mim dizendo que não poderia ter sido música mais linda, e eu não discordo.
A manhã naquele dia parecia normal, apenas mais uma numa rotina tão comum para mim, contudo em poucos segundos isso mudou, tudo graça a melodia que suou inesperadamente do apartamento ao lado há meses desocupado, que deixou de lado o silêncio para tocar All of Me, minha música preferida, mas que pouco tempo depois se eternizou na minha vida mais forte que antes. A música de John acompanhava todas as lembranças mais felizes que tive ao longo da vida, da minha valsa de quinze anos, a formatura na escola, comemoração da graduação na faculdade, jantar em homenagem ao primeiro emprego, sempre esteve ali comigo e parecia que mais do que nunca iria está. Agora no encontro do meu grande amor.
A partir daquele dia All of Me passou a tocar todos os dias, em diferente horários, mas ainda assim não passou um único dia nas próximas semanas que eu não tenha escutado All of Me ao menos uma vez ao dia. Ironicamente demorou mais para conhecer meu novo vizinho do que descobrir seu gosto musical, isso em apenas uma semana foi possível, no entanto, para vê-lo exato um mês. O universo parecia desejar adiar o momentos ou quem sabe nos preparar melhor para ele, e era necessário.
Se um dia imaginei esbarrão no corredor, pegar elevador junto, vizinhos nos apresentando, sinto vergonha pela falta de criatividade, não passou nem perto de tudo que imaginei, porém muitos dirão que foi até trágico, mas isso não torna o momento menos especial. Com os anos aprendi a rir e acha-lo perfeito, e no fim e o que importa.
O dia tinha começado da pior forma que jamais sonhei, não tinha dormido nada na noite anterior e para meu completo desalento meu misterioso vizinho parecia ter esquecido de ligar seu som naquela manhã, o humor que já estava péssimo se tornou insuportável. E fechando com chave de ouro o péssimo dia o céu pareceu querer desabar justo quando meu carro estava na oficina, cheguei na porta do meu apartamento ensopada ao ponto lamentar molhar meu chão antes mesmo de entrar em casa, lembro culpar as pragas que meus amigos jogaram em mim por ter sido uma péssima chefe, gritando com todos se um lápis toca-se o chão na editora. Mas como uma pessoa super esperta, tive um brilhante ideia logo que cruzei a porta, tirar as roupas antes de chegar a sala e poupar meu fofo tapete. Que mal faria? Pensei já tirando a roupa ficando apenas de calcinha. Morava só e o único vizinho no andar não tinha como me ver, uma porta, corredor e paredes nos separava, nada poderia dá errado, mas sorte nunca foi algo que eu tivesse aos montes. Tola burrice confiar na segurança da minha casa.
Aquele definitivamente não era o meu dia ou era, tanto faz, mas a ideia de início tão simples se tornou um grade embaraço quando mal cheguei a sala e a campainha tocou e pro meu total desespero me toquei de ter deixado a porta destrancada, fiquei paralisada por um minuto sem saber o que fazer, o que resultou no som da campainha sendo tocada novamente. O desespero dominou meu corpo, mil pensamentos em segundos cruzou minha mente, rezei para ser algum amigo, todavia, arrependi-me no segundo que lembrei que ao notar a porta aberta entraria como se estivesse em casa, mas se fosse um desconhecido mal intencionado seria um fim pior do que as piadinhas constrangedoras dos meus amigos.
Estava entre a cruz e a espada.
— Espere um minuto. — Gritei quando recordei os sentidos e a coordenação das pernas correndo rumo ao quarto, só que devido ao meu equilíbrio não existente e juntado ao fato de estar molhada caí antes mesmo de deixar a sala. — Aí… — Choraminguei de dor esparramada no chão.
“Que dia meu pai” lamentei em pensamento.
Por meros segundos fechei os olhos e rezei aos céus para não passar de um pesadelo, encostei a cabeça na poltrona sem mais me importar com os cabelos molhados. Pedia aos céus que a pessoa quando não escuta-se mais falas da minha parte desiste-se e fosse embora. Mas foi tudo o inverso.
— Você está bem? — Uma voz preocupada soava atrás da porta, timbre esse que nunca tinha ouvido, mas que me encantou no mesmo instante desejando ouvi-la novamente. Se alguém lê-se meus pensamentos diria que na queda bati a cabeça, não julgaria. — Tudo bem com você? — O desconhecido voltou a questionar com meu silêncio.
Mesmo constrangida me obriguei a falar. Até ali tinha passado vergonhas, mas aquela acabava de ocupar o primeiro lugar do ranking, e provavelmente se manteria lá até meu último dia de vida.
— Estou bem, tive um pequeno tombo apenas. Não se preocupe. — Mal terminei de falar para me arrepender rapidamente. O que estava acontecendo comigo?
—Você se machucou? — O tom rouco, mas suave adentrou meus ouvido por breves minutos inundando meus sentidos, roubando minha razão, deixando-me sem falar ao ponto do homem ao lado de fora bater na porta para me trazer de volta a realidade. — Precisa de ajuda?
Minha única reação àquela altura foi olhar pro meu estado caótico, caída no chão quase nua. Não, eu claramente não precisava de ajuda, mas isso era o que o meu cérebro raciocinava, não o que meu corpo queria e posso dizer que era a dor ludibriando a pequena razão que tinha, aquela desejo que assolou meu corpo com uma voz não era normal. Tentei ficar de pé, mas senti uma fisgada no tornozelo me obrigando a sentar no chão perdida sem saber o que fazer. Tudo que pensei era que naquele dia o diabo queria tirar uma com minha cara, ou Deus me fazendo pagar meus pecados, de duas a uma estava odiando todas.
— Hum… não — respirei fundo tentando apoiar meu peso apenas no pé bom, contudo me desequilibrei e acabei novamente caindo gemendo de dor — aí... inferno! — Praguejei talvez um pouco alto demais.
— Eu vou entrar. — Gelei instantaneamente, um homem, desconhecido ia invadir meu apartamento, e pior ainda EU ESTAVA QUASE PELADA.
Sentimentos confusos dominaram meu corpo, mas o medo se sobressaia mais que todos.
— NÃO PRECISA. — gritei apavorada, só que já era tarde demais.
Um homem que nunca vi na vida se encontrava parado a poucos metros de mim, tão assustado com a situação quanto eu. Sua reação de imediato foi virar o rosto constrangido, eu riria incrédula se a situação não fosse comigo. O desconhecido moreno olhava um ponto qualquer do cômodo, mas nunca me olhou, eu por outro lado em vez de fazer o mesmo ou tentar fugir não conseguir parar de analisa-lo, o cabelo ruivo cacheado revolto com cachos despontando para todas as direções, o porte definido, mas nem tanto, os olhos notei serem azuis, os mais lindos que tive o prazer de ver, lábios tão vermelhos e cheio que por segundos imaginei como seria prova-los, as bochechas rubras me convidando aperta-las, contudo o que mais prendeu minha atenção foi a camiseta rosa com flores e a calça moletom amarela combinando com meias com desenhos de sóis, uma combinação inusitada . Aquilo me arrancou sorrisos, uma pequena risada se for sincera, mas um arranhar de garganta me tirou dos meus devaneios me deixando constrangida.
— Você está bem? — Sua mão coçou a nunca, num gesto claramente nervoso. — Mil desculpas, era que eu queria saber se podia me emprestar um pouco de açúcar, mas aí quando toquei a campainha escutei um barulho de algo caído seguido de gemidos de dores, fiquei sem saber o que fazer, vi a porta destrancada e entrei pra ajudar pensando ser algo sério, mas não imaginei que você estaria assim — Apontou pra mim sem me encarar. — Desculpas, se eu soubesse jamais teria entrando aqui, me desculpa mesmo, deveria ter esperado sua autorização, por favor me perdoar. Que vergonha! Ai Deus!— Olhou pro teto constrangido.
Ele é fofo! Pensei comigo assistindo suas bochechas ficaram vermelha quando apontou pro meu corpo, outros em seu lugar olharia sem pudor para mim, mas ele virou até mesmo de costa com vergonha de me encarar. Eu deveria ter tido medo, essa era a reação comum que deveria ter tido, principalmente lavando em consideração o estado ao qual me encontrava, mas tudo que senti foi uma grande curiosidade para saber quem era o homem a minha frente. A normalidade nunca foi uma característica minha, naquele dia a loucura me dominou.
— Tá tudo bem, a culpa foi minha. E estou bem, só preciso me levantar do chão e ir no meu quarto.
— Precisa de ajuda?
Olhando as costa do desconhecido debatia internamente o que falar, se aceitar sua ajuda era uma das melhores decisões. No entanto, cheguei à conclusão de que pior não podia ficar. A dignidade há tempos me deu um tchau e foi embora.
— Acho que sim…
— O que posso fazer?
— Hum… — penso por alguns instantes antes de continuar. — Na poltrona perto de você tem um lençol, você pode pega-lo e me dá por favor?
Tentando não olhar muito e chegar próximo fez como pedir, pegou o lençol cuidadosamente dobrando na poltrona do seu lado que na noite passada tinha usado para me embrulhar enquanto via um filme para passar o tédio. Com o pano em mãos passei sobre meus ombros, fechando o máximo que conseguir na frente do meu corpo.
— Pode me ajudar a ficar em pé? — o tom que usei foi o mais calmo que conseguir, quem se encontrava em uma péssima situação era eu, mas o outro parecida mais assustado que eu. — A propósito me chamo Leilane.
Me apresentei na intenção de quebrar o clima nervoso entre nós dois, felizmente surtiu efeito e senti suas mãos suavizarem o aperto e tremor em meus ombros. Se fosse em outro momento eu o abraçaria e tentaria o acalmar, mas ali quem precisava de calma e um remédio para dor era eu. A mente nada santa que sempre tive passou a criar cenários nada conducentes com a situação, principalmente com aquelas mãos sustentando o peso do meu corpo. Se ele soubesse o que passou por minha mente quando sentir seu cheiro teria virado as costa e saído do apartamento me deixando largada no chão com cor, ou não, anos depois aprendi que sua natureza é boa demais para tal coisa, no máximo teria me dito uma frase grosseira.
— Sou, Henrique! — Lembro de pronunciar rapidamente na mente seu nome tentando sentir como soaria em voz alta, fiquei por minutos perdida em imaginação que quase não escutei suas próximas palavras — Devo senta-la no sofá e ligar para alguém e pedir ajuda?
A careta veio no mesmo instante, saberia o que aconteceria se chama-se qualquer amigo. Seria tanta zoação, por infinitos meses que desejaria ter morrido solitária no chão da sala, eles nunca iriam me atormentar ou precisaria olha-los envergonhada pela situação. Nem me importava que me encontra-se quase nua, estaria morta para ver tudo isso mesmo.
— Sem dúvidas não, pode me levar para o quarto lá saberei me virar só. — Disse uma quase verdade, eu tentaria me virar só.
— Como quiser Leilane. — Até os dias de hoje tento imaginar como ficou minha cara quando o ouvir dizer meu nome, o arrepio pelo corpo foi perceptível que diria que ele sentiu, mas soube desfaçar bem. — Mas antes preciso saber onde fica.
Foi no automático que indiquei o caminho, fiquei área tentando desvendar seu sotaque que notei naquele instante. Como não notei antes? Não faço a mínima ideia. Mas ao que percebi fiquei tentada a perguntar de onde vinha, certamente não era de Munique.
— Obrigado... — Sussurrei baixo ao que sentei na cama. — Você me salvou.
— Sinto que a culpa disso tudo foi minha. — Olhou em meus olhos ao falar.
— Não foi, eu que sou desastrada de natureza, se não fosse você eu poderia tá caída no chão gemendo de dor e lamento minha cruel morte. — Brinquei ocultando a metade da verdade. — Você foi um herói Henrique...
Falei calma seu nome, apreciando cada letra que deixava minha boca, no fim não poderia ter amado mais a sensação.
— Você ficará bem? — Sorrir por sua preocupação, poderia ser uma desconhecida, mas seu carinho era evidente. — Posso fazer algo mais se precisar.
— Não se preocupe, ficarei bem. — Dei de ombros. — Como agradecimento pode levar toda açúcar da minha cozinha, segunda porta do armário preto entre os dois cinzas.
— Não precisa disso, mas obrigado!
Nem sei como lembro sua fala sendo que foquei inteiramente no sorriso que a seguiu, lindo, encantador, perfeito.
— Não posso deixar meu anjo sem açúcar. — Nem sei o porquê disse aquilo, se pudesse tinha retirado. Dessa vez foi eu a ter as bochechas vermelhas.
— Se precisar de ajuda pode me ligar, aliás sou seu novo vizinho. — Me estendeu a mão envergonhado.
— Foi um prazer conhece-lo, apesar da circunstância. — Rimos juntos — Mas não tenho seu número para ligar...
A vermelhidão tomou conta do seu rosto, sorriria se não fosse o deixar mais constrangido. Ele era é a coisa mais fofa do mundo com vergonha.
— Mas você pode anotar. — Me estiquei na cama até pegar um bloco de notas sorte-mente largado no colchão. — Aqui!
— Foi um prazer Leilane, não hesite me ligar se precisar. — Me devolveu o bloquinho. — Até breve.
— Até. — Acenei o vendo parti.
Demorou dois minutos para a porta bater, não que eu tivesse contado, nunca admitirei isso, mas não tenho culpa se tinha um relógio de frente para minha cama. Eu rir só imagino pegar minha açúcar, na realidade eu gargalhei de toda situação só no silêncio do meu quarto, no entanto quando aprumei o pé no chão para me levantar e tomar um banho gemi de dor e fechei a expressão rapidamente.
Precisei de ajuda naquela fim de tarde, mas mesmo tentada não foi para o vizinho que liguei, mas para minha mãe que morava um andar abaixo do meu. Sua interrogação foi inevitável, mas de momento não falei nada, inventei uma mentira qualquer que se sustentou por meses até Henrique no jantar que o apresentei como namorado para família e amigos revelou nosso lindo encontro. Sofri com piadinhas e sofro até hoje, elas nunca acabam e sinto que nunca acabaram.
Gostaria de dizer que fui forte, mas no dia seguinte mandei mensagem para meu vizinho com a desculpa de agradece-lo mais uma vez e inesperadamente um convite para jantar abanou meus lábios. Fiquei tensa diante do seu silêncio, mordendo os lábios ansiosa, mas para minha total alegria ele aceitou.
A noite foi nosso primeiro jantar de muitos que ocorreram ao longo da semana, todos carregados de músicas e risadas. No terceiro encontro descobrir que era russo com mãe brasileira, no seguinte que sua paixão por música vinha do fato de ser professor dela, com um amor especial pelo violino, me sentir na obrigação de avisar que não entendia nada do assunto, mas ele não ligou para isso. No quinto encontro aconteceu nosso primeiro beijo, sentados no terraço do prédio, Munique a nossa frente, All of Me tocando ao fundo em seu celular, descobrir ainda naquela noite o motivo de amar tanto a música, contou que por ela ter sido umas das primeiras que aprendeu a tocar, eu disse os meus motivos, no entanto, só depois de muitos beijos.
Semanas se passaram e nossa relação crescia cada dia mais, as manhãs tinha declarações em música, ria sempre que uma “picante” acidentalmente tocava. Evoluímos tão rápido que era comum um está sempre na casa do outro, ou achar um objeto pertencente largado pela casa e usar como desculpa para ir no outro apartamento devolver.
Três meses fazia que nós conhecíamos quando o pedido de namorou aconteceu, a cama com lençóis bagunçados foi nosso cenário, o suor brilhava no corpo, a cabeça se encontrava apoiada no seu peito escutando as batidas do seu coração quando fez o pedido. Fiquei paralisada em dúvidas se chorava ou gritava de emoção, sua timidez apareceu diante do silêncio, rir por saber como foi difícil derruba-la e me fazer o pedido. No entanto, depois de minutos com lágrimas nos olhos disse “Sim” e seis meses mais tarde o mesmo no altar. Nem preciso dizer qual música embalou todas as minhas confirmações, muito menos qual no altar jurou tocar em todos os dias do nosso casamento.
Há três anos sempre que abro os olhos vejo ou escuto uma frase de All of Me, seja como som do despertador, Henrique cantando quando me desperta, em um bilhete escrito com uma rosa, independente da forma sempre tá lá. E eu sempre me emociono mesmo com o passar dos anos.
Hoje e nosso aniversário de três anos juntos, com altos e baixos, com lágrimas e sorrisos. E exatamente hoje uma nova fase se inicia, uma jornada que tenho medo, mas que por está do meu lado sei que irei conseguir. Preparei o jantar com todo cuidado e carinho, mas seus olhos estão focado no bilhete que acompanha a caixa de presente que lhe dei. As lágrimas não cobre apenas seus olhos, mas os meus com o sorriso de felicidade que afeita seus lindos lábios.
“ PRONTO PARA ENSINAR PARA NOSSO FILHO(A) A TOCAR NOSSA MÚSICA?”