“Não plante a semente” é mais um dos meus diversos quadros, mas esse em questão tem uma história muito monótona e emocionante por trás.
E era exatamente essa sensação que eu queria expressar na pintura. Mas como nem todos sabem interpretar, eu achei melhor contar sobre o que me inspirou a pintar.
[...]
Tudo começou quando eu estava no ensino médio, eu tinha acabado de fazer uma prova que iria determinar o meu futuro, então nada mais justo do que me desestressar depois de longas horas de estudo.
Meus colegas me convidaram para ir numa cafeteria, quando a minha única vontade era de ir para casa, e sinceramente eu deveria ter voltado para casa, mas não tinha como eu prever o que iria acontecer a partir do momento que eu colocasse os meus pés para dentro daquele café.
Ah... o que dizer daquela cafeteria, se chama Lavie en Kofie, e ainda está de portas abertas mesmo depois de tudo que aconteceu, mas eu não me atrevo a voltar lá, e consequentemente proibi meu marido e minha filha de fazerem o mesmo.
Eu sinto que isso é o mínimo que eu poderia fazer depois de ter causado tanta dor...mas enfim, continuando.
Depois de experimentar o ‘Mocha Latte’ de lá e ler alguns livros, eu não quis ir para nenhum outro lugar, por isso eu continuei frequentando o local.
Foi numa dessas que eu acabei cativando a atenção da Barista, eu havia feito um desenho da mesma enquanto ela preparava o meu café, e antes de ir embora, eu levei o desenho para ela junto com a xícara, infelizmente eu não vi a sua reação, pois eu estava envergonhada, mas no dia seguinte as minhas dúvidas foram sanadas.
Eu não tinha percebido que ela havia se apegado a mim em tão pouco tempo, então um dia ela se ofereceu para me deixar em casa, e antes de ir embora ela se declarou para mim.
Eu não respondi, eu me senti mexida e um tanto estranha com aquilo, eu não gostava de garotas e tinha um crush no meu representante de classe, mas naquele momento eu senti meu coração acelerar.
No dia seguinte eu não fui para à cafeteria, péssima reação da minha parte, graças a isso no fim do expediente aquela Barista veio me ver, ela veio até minha casa saber da minha resposta e eu a rejeitei, ela fingiu estar bem e se desculpou, mas ela não precisava, man verdade ela não deveria.
Uma semana se passou e eu criei coragem de voltar ao ‘Lavie en Kofie’ mas quando eu cheguei lá descobri que Huitara, a Barista, estava adoentada e afastada do trabalho, eu perguntei se ela já tinha ido ver um médico, seus colegas disseram que sim, mas que não havia nada de errado com ela, mas mesmo assim ela estava doente e acamada.
Eu achei que isso fosse consequência do que eu fiz e... Dito e feito, ela havia contraído Hanahaki Byou.
Hanahaki é uma doença causada por um amor não correspondido, e até o momento em que nós tínhamos descoberto isso, não se sabia sobre a cura, já o tratamento...
Eu queria que ela tivesse se apaixonado por outra pessoa, alguém que realmente fosse corresponder ela, mas infelizmente foi por mim e eu não sentia o mesmo por ela.
O tratamento não era nada fácil para mim, eu teria de me apaixonar por ela para que sua vida não fosse comprometida, mas eu só fiz piorar as coisas.
Quanto mais eu me aproximava a fim de ajudar, mais ela se iludia por mim, e mais flores ela vomitava, eu estava fazendo as coisas por caridade porque eu achava que minha humilde amizade poderia reverter os sintomas, mas eu tinha esquecido de um detalhe crucial, era ela quem deveria desapegar por conta própria, mas parecia que ela não queria isso.
Por isso, depois de uma tarde que passamos juntas, ela voltou a se declarar, achando que porque estava fragilizada eu iria ceder, e de fato eu sofri um deslize, mas foi por pena, eu a beijei, não tinha nenhum sentimento romântico envolvido, apenas Pena.
E ela por si só percebeu, essa era a parte ruim, seja lá qual fosse o meu sentimento, ela iria notar, então depois de me beijar ela pediu perdão, e mais flores se espalharam pelo chão.
Sua prima, a Kofie, dona da cafeteria, não sabia da sua situação, e ter que explicar para ela foi a pior parte, claro que ela me proibiu de voltar a ver a Huitara, e eu fiz isso sem hesitar.
Foi quando numa noite a Kofie me ligou chorando em desespero, me perguntando do porquê eu não ter fingido gostar da Huitara de volta só para amenizar a situação, mas eu expliquei para ela que eu já tinha feito isso, o sentimento não era verdadeiro, logo por mais que a Huitara estivesse feliz e se sentindo amada, o seu corpo estava expondo toda a minha mentira.
No fim, a Jovem Barista Morreu, e por algum motivo eu fui convidada para o seu funeral, dentro do caixão não havia um cadáver, ao menos não parecia ou cheirava com um pois dentro havia uma diversidade de flores.
na hora de dizer algumas palavras eu não vou negar que eu coletei algumas, e guardo elas até hoje em um jarro na mesa de centro da minha sala.
Na minha mente, a imagem vivida do caixão cheio de flores persistia, então resolvi pintar, e para eternizar a pessoa que me amou tanto ao ponto de deixar de existir, eu nomeei a minha filha como Huitara.
Meu marido e minha filha não sabem disso, eles apenas acham que eu sou muito talentosa e criativa por pintar um quadro tão lindo quanto o “Não plante a Semente”
Agora vocês já sabem porque meu quadro se chama assim, porque eu plantei a semente do amor no coração de alguém que eu não amava, reguei achando que estava ajudando a não morrer, mas na verdade eu matei sem nem mesmo ter cortado as raizes.