Os gritos que teimavam em intrometer-se durante as visitas dos amigos começaram a ser mais frequentes. Não gostavam de a ver no chão, a contorcer-se de dor, por isso deixaram de ir lá a casa.
Passava os dias, curtos, a dormir com ajuda da medicação. As noites, longas, eram passadas a questionar-se se estaria tudo na sua cabeça.
Mais uma insónia interrompida por pequenas facas que lhe queriam sair do corpo. Abraçou as pernas com força, à espera de que passasse. O seu interior era invadido por dúvidas — tem de ser um castigo por algo que fiz.
Na solidão, os pensamentos eram a pior companhia. Traziam-lhe a esperança de um dia em que não aguentaria mais. Sussurravam-lhe que misturasse comprimidos que não devia, ou que se deixasse adormecer numa banheira a transbordar.
Um dia destes, talvez deixe que a convençam.
