Começo mais um plantão no hospital, atendo o máximo de pacientes da emergência que consigo com o que sabia.
- Descansa um pouco cara\, você não parou desde a hora que chegou.
- Não posso descansar agora\, preciso sair mais cedo\, tenho algumas coisas para resolver.
- Só cuidado para o cansaço não te atrapalhar. - Mark sai e me deixa sozinho sentado em uma maca na área de descanso.
A conversa que tive com meus irmãos noite passada rodava na minha mente, estávamos seno vigiados por alguém, poderia ser qualquer um.
- Preciso que você venha me buscar na escola. Se tiver como. - Lucas diz ao telefone.
- Vou sair daqui meia hora\, você pode esperar?
- Tudo bem\, eu ainda não sai da biblioteca da escola\, fico te esperando aqui então. - ele desliga o telefone.
- Ahh essas crianças. - digo para mim mesmo e reviro os olhos.
- Dr Shina\, esse papeis chegaram para você. - uma enfermeira me entrega um envelope pardo e sai sorridente.
Meu telefone toca irritantemente.
"Luke"
- Ahh roga\, me esqueci dele. - saio o mais rápido possível do hospital\, minutos depois paro em frente a escola dele. - Foi mal\, eu acabei me atrasando.
- Não tem problema\, salvar vidas também é importante. - ele aprecia triste.
- Anthony não ia vir buscar vocês hoje? E cade a Anne?
- Ela já foi\, o tio Lance levou ela\, e o Anthony também esqueceu de vir\, o Lin não atende\, Lia tava na faculdade\, nossos pais não atendem\, e o Jason aparentemente está em lua de mel coma Cloe. E meu carro ainda não saiu da concessionaria.
- Você tem um carro?
- Bom... na verdade não\, mas isso não significa que eu não queira um e não fique no pé dos nossos pais para ter um.
- Você sabe que eles não vão te dar um carro neh.
- É eu sei.
Dou uma risada. Meus pais fizeram todos os filhos trabalharem para que eles conquistassem suas coisas por conta própria, isso não seria diferente com os caçulas.
- Vocês chegaram\, querem comer algo. - Ama sai da cozinha assim que entramos.
- Eu quero vovó. - Lucas vai até ela e lhe da um beijo na testa. - Só vou deixar minhas coisa lá em cima e já desço para ajudar a senhora.
- Oi vó. - eu também lhe dou um beijo na testa. - Não precisa fazer nada para mim não\, vou esperar o jantar.
- Tudo bem querido.
Subo as escadas e vou para meu quarto.
- Pensei que você tivesse na casa do tio Lance.- vejo Anne saindo do quarto dela.
- Ele me trouxe para casa porque o Anthony não apareceu e o Lucas tinha sumido.
- Eu trouxe ele para casa.
- Eu achei que ele já tivesse vindo embora.
- Mas ele ainda tava lá. Ta tudo bem entre vocês?
- Nada que eu não possa resolver. - ela abre um sorriso desanimado e sai andando.
Durante todos esses anos Anne e Lucas sempre foram inseparáveis, qualquer problema que tinham eles mesmo resolviam, era muito difícil eles ficarem sem se falar, algo estava errado. Mas eles resolveriam isso.
Entro no meu quarto e tomo um banho para relaxar um pouco, saio do banheiro e vejo o envelope pardo em cima da cama. Eu o pego e o abro, tinha vários papeis e fotos de um menininho triste ao lado de uma mulher alta e loira com olhar serio, e ao lado deles estava... meu pai.
A curiosidade toma conta de mim e começo a olhar mais atentamente os outros papeis.
Tinha um contrato de casamento, certidão de união estável, uma foto da mulher loira gravida, uma foto de um bebezinho ao lado dela no hospital.
Certidão de nascimento.....
Nome: Shina Fan
Data de nascimento: xx/xx/xxxx
Pai: Chu Fan
Mãe: Shia Fan
Deixo todos os papeis caírem das minhas mão e fico somente com aquela certidão, meus olhos vidrados, minha mente raciocinava o mais rápido possível.
Desço as escadas com presa e abro a porta do escritório com força. Minha mãe estava sentada a mesa, seu óculos na ponta no nariz fino, ela analisava alguns papeis.
- O que significa isso? - coloco a certidão na mesa a sua frente.
- Onde você achou isso? - ela estava preocupada.
- Não importa. Por que não é o seu nome que esta aqui?
- Filho eu posso explicar\, vamos esperar seu pai chegar e conversaremos com calma.
- Você não é minha mãe. - eu digo esperando que Mia Fan negasse.
- eu sou sua mãe\, eu te criei.
- Então quem é essa mulher? - grito.
- Sua mãe biológica.
- Então você é o que? - pergunto de cabeça baixa.
- Eu sou sua mãe\, criei você\, te dei todo o amor que tinha\, fiz tudo o que pude para ser a melhor mãe do mundo para você e seus irmãos.
- O que aconteceu com ela? - sinto meus olhos se encherem de lagrimas\, a mulher parada a minha frente estava aos prantos\, seu olhar desesperado.
- Eu não posso dizer.
- O que aconteceu com ela? - grito e vejo minha mãe se assustar comigo\, o medo transparente em seu rosto\, o que eu estava fazendo?
Pego os papeis e saio da sala.
- Onde você vai Shina?
- Preciso de um tempo.
Entro no meu carro e saio sem rumo. Todas as minhas lembranças da minha vida toda passam diante de mim, eu me sentia uma farsa, uma fralde, como puderam fazer isso comigo? Como deixaram que eu vivesse minha vida toda sem nem ao menos saber quem realmente era minha mãe.
- Ahh merda.... - freio o carro assim que percebo que havia batido em algo\, desço as pressas e vejo uma mulher caída no chão\, sua perna tinha um corte que sangrava\, eu retiro seus cabelos negros do rosto e vejo uma linha fica escarlate que tinha origem na sobrancelha. A pego e levo para o hospital mais próximo.
- Onde ela esta? - ouço vozes preocupadas no corredor.
- Onde eu estou? - eu estava sentado em uma cadeira esperando que ela acordasse.
- Você acordou finalmente. - sinto peso no meu peito dar lugar ao alivio.
- Minha filha.... - uma mulher mais ou menos da idade da minha mãe irrompe pela porta seguida por um homem que aparentava ser da mesma idade.
- O que você...? - a mulher na cama ainda parecia estar confusa.
- Filha você sofreu um acidente e esta no hospital. - ela observo o homem falar e olha ao redor percebendo por fim onde estava\, seus olhos param em mim.
- Quem é você? - ela fala.
- Eu te trouxe ao hospital\, só fiquei aqui para ter certeza de que você estava bem. - me levanto. - Não se preocupem com as contas do hospital\, já estão todas pagas. espero que receba alta logo\, com licença. - saio e deixo eles a sós. Eu realmente esperava que ela ficasse bem.
Minha cabeça estava a mil e continuar dirigindo não era mais uma alternativa, deixo meu carro no estacionamento do hospital e resolvo correr para clarear os pensamentos. Sinto o cheiro das arvores e grama recém cortada, o caminha que levava ao um bosque era calmo e tranquilo, os sons do trafego ficavam cada vez mais longe dando lugar ao farfalhar das folhas, o canto dos pássaros e o suave som do ar passando pelas arvores. Mia Fan não era minha mãe, durante toda a minha infância fui criticado e tiravam sarro de mim por ter cabelos loiros e olhos verdes sendo que todos os meus irmãos tinham cabelos escuros, somente Lin e Anthony que tinha olhos claros, isso me deixava mais tranquilo e me fazia acreditar que eu era parte da família. Sempre me disseram que eu era filho deles, mas não tinha fotos da minha mãe gravida, ou comigo na maternidade, quando comecei a faculdade de medicina até pensei em pedir um teste de DNA, mas durante toda a minha vida eles sempre afirmaram que eram meus pais, então essa ideia acabou deixando de existir.
Deixo os pensamento tomarem conta de mim e deixo meu corpo no automático, correndo, desviando de galhos ou pulando buracos, quanto mais a dor e a duvida crescia dentro de mim, mais rápido meus pés corriam, paro para respirar e sinto minhas pernas pulsarem, olho para cima e vejo o céu cinzento com nuvens pesadas a cima de mim.
- Melhor voltar. - digo para mim mesmo\, mas voltar para onde?
Volto pelo caminha que tinha vindo e sinto as gotas frias e pesadas caírem uma por uma na minha pele quente, um trovão soa ao longe, corro mais rápido por possas de lama. Paro assim que chego a rua, o trafego estava mais intenso devido a chuva forte. Vejo uma mulher tentando atravessar a rua, o sinal estava fechado, ela coloca o pé na rua mas um carro vem a toda velocidade. Corro até ela e a puxo, nós dois caímos no chão.
- Que merda.... - ela se vira para mim..
- Temos que parar de nos encontrar assim moça. - digo assim que a reconheço. - Não era para você estar no hospital?
- Eu estou bem. - ela diz se levantando.
- Você não deveria estar no hospital? - pergunto preocupado.
- Me deixaram sair\, meus pais estão do outro lado me esperando. - olho através dos carros que passavam a toda velocidade a nossa frente e vejo um casal a distancia balançando os braços para chamar a a tenção.
- Você sabe que deveria ficar em observação neh.
- E você é quem para me dizer o que fazer ou não?
- Eu sou medico e sei que você deveria ficar essa noite no hospital.
- Fique sabendo Dr. que eu me sinto muito bem e quero voltar para a minha casa.
- Faça o que quiser. - me afasto dela e volto para meu carro.
As pessoas tinham a irritante mania de querer saber mais do que os médicos e tomarem decisões que colocavam suas vidas em riscos mesmo contra as opiniões medicas, se ela achava que estava bem o suficiente para voltar para casa, que seja, minha parte ue já tinha feito.
Entro no carro e volto para mansão Fan, aquele lugar nunca tinha me parecido tão estranho e vazio quanto aquele momento. Passo pelas portas e ando até as escadas, observo o espaço ao meu redor e me lembro das brincadeiras que já fiz naquela mesma sala com meus irmãos, da minha mãe fazendo lanche para gente, contando historias antes de dormirmos, das refeiçoes em família, mas tudo não passava de uma mentira, toda a minha vida era apena uma mentira. Paro diante meu quarto e me lembro de crianças correndo pelo corredor, entrando e saindo dos quartos, a alegria e magia que rodeava cada canto dessa casa. Aqui não era mais o meu lugar.
Entro no meu quarto e arrumo uma pequena mala. Pelo reflexo do retrovisor eu me despeço silenciosamente da vida que tive até hoje, eu precisava descobrir quem eu era, o que havia acontecido com minha mão biológica, eu tinha outra família?
- Agora é só você por você mesmo Shina. - digo para mim mesmo observando o nascer do sol sob a colina.
Me instalei em uma das casas de campo que tínhamos, longe o suficiente para que ninguém me achasse.
Duvidas circundavam minha mente, por que meus pais esconderam isso de mim? Meus irmãos sabiam? Alguém alem de Mia e Chu Fan sabia sobre meu passado? E o que mais me perturbava, onde estava Shia Fan e por que ela me deixou?
- Preciso comer. - encaro a geladeira vazia e ouço minha barriga roncar.
Vou até a cidadezinha que tinha ali perto. Vejo famílias andando pelas ruas, crianças brinacando nas ruas, em um pequeno parquinho as mães olhavam seus filhos brincando na areia. Lia iria amar uma lugarzinho calmo assim para criar Zoe. Uma dor aperta meu peito, eu sentia falta deles, dos meus irmãos, dos meus pais.
- Seu malucooo.... - sinto uma mão me puxar para trás.
- O que você....?
- Cara você ta me seguindo? Porque se tiver eu vou chamar a policia.
- O que você ta fazendo aqui? - pergunto para a mulher de cabelos negros que eu havia atropelado na noite anterior.
- Eu que pergunto. - ela me olha desconfiada.
- Eu não estou seguindo você\, tenho uma casa aqui perto. - indico a estrada.
- A casa na colina é sua?
- É.... você mora aqui?
- Parece que agora sim. Desculpa por ter falado com você daquele jeito la no hospital e obrigado por ter me socorrido e pago as despesas e salvo minha vida duas vezes. - ela parecia um pouco constrangida.
- Eu não poderia deixar você lá\, até porque fui eu que te atropelei\, e peço mil desculpas por isso.
- Tudo bem\, você já se redimiu por isso. - ela abre um sorriso radiante. - Prazer Alyssa Smith.
- Shina Fan.
- Eu vou indo\, e tome cuidado para não ser atropelado por uma bicicleta de novo. - ri e sai.
Seria apenas coincidência te-la encontrado três vezes em menos de 24 horas? Nada na minha vida era apenas coincidência.
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