Personagens:
Mirian e Daniel - casal que sonha em ter filhos, mas não consegue naturalmente. Economizam dinheiro durante 1 ano, fruto do trabalho de faxineira e pedreiro, respectivamente, para pagar o tratamento de fertilização na clínica de Dr. Clementino. O sonho se torna pesadelo anos depois, quando é descoberto que houve uma troca de embriões e que o filho gerado por Mirian não lhes pertence.
Solange e Vitor - casal apaixonado, possuem uma família peculiar: têm filhos gêmeos, mas apenas um nasceu, pois o outro embrião ficou congelado na clínica de Dr. Clementino. Porém, uma tragédia vai fatalizar a vida de Flávio, filho do casal. Anos depois, Solange procurará pelo geneticista para gerar o gêmeo congelado e descobre que outra mulher o gerou por erro médico.
Margarida e Rogério - casal unido e feliz, porém sofrem com a síndrome rara que a filha deles possui, a pequena Luíza. A harmonia da família será abalada quando Viviane tentará o golpe da barriga em Rogério de uma forma nada convencional.
Dr.Clementino - um geneticista competente e respeitado, dono de uma importante clínica de reprodução assistida. Porém, ele comete um erro grave: implanta no útero de Mirian o embrião de Solange e Vitor. Movido pelo medo, ele esconde a verdade por anos, até que é procurando por Solange para gerar o embrião que deixou congelado na clínica. Pressionado, ele revela o que cometeu e eclode uma guerra entre as famílias pelo menino.
Alcione e Erasmo - casal que vive as turras, moram numa casa simples. Ela é manicure e ele é um folgado que vive fazendo “bicos”. Tem uma filha, a exibicionista Viviane, por quem Alcione deseja que tire a família da miséria em que vivem e vai planejar o golpe do barriga que a filha dará num milionário.
Viviane e Juntadir - casal gato e rato, fogosos e marrentos. Ela sonha com uma vida de luxo, mas não pretende estudar e trabalhar. Ele só quer saber de academia e mulheres. Brigam, se desdenham, mas quando se encontram, pegam fogo.
Glória - na primeira fase, é uma mulher amarga. É mãe de Mirian e debocha do genro, Daniel, por não ser “homem suficiente” para engravidar sua esposa e ter de recorrer à fertilização artificial. Na segunda fase, deixa a amargura de lado e integra o núcleo cômico, fazendo picuinhas com a nova vizinhança que chega ao local, como Alcione e Cláudia.
Cláudia - melhor amiga de Alcione, é uma perua do subúrbio. Ajuda a amiga a arquitetar o golpe da barriga que Viviane pretende dar em Rogério. Possui uma mania um tanto quando estranha: quando vê alguma nota de real, rouba o dinheiro. Compulsão ou falta de caráter?
Kiki - dona de uma pensão no subúrbio, onde reside Cláudia e Jurandir. É uma mulher mesquinha, que exige o pagamento do aluguel o mais depressa possível e cuida tudo o que os hóspedes usam. Tem inimizade com Alcione, mas reviravoltas vão unir as personagens.
Crianças:
Miguel - é o gêmeo “congelado” de Flávio. Será gerado por Mirian por um erro de Dr. Clementino. Foi criado com muito amor e carinho por ela e Daniel, além de sua avó, Glória. Ele será disputado por Solange e Vitor que, ao descobrirem que houve uma troca de embriões e que a criança está com outra família, eles vão lutar para ter o reconhecimento judicial do gêmeo “perdido”.
Luiza - filha de Margarida e Rogério, é uma menina doce e educada, porém sofre de uma síndrome rara que a faz envelhecer precocemente. A luta pela vida será constante e os pais não medirão esforços para tratar do problema e tirar a tristeza dos olhos de Luíza por não viver como toda criança normal vive.
Participação Especial:
Flávio - filho de Solange e Vitor, é um jovem alto astral, estudante de Engenharia Mecânica e possui um grupo de voluntariado para fazer caridade. Namora a carismática Rosa, por quem conheceu há pouco tempo. Entretanto, um acidente vai colocar um fim em sua vida, deixando fortes marcas de dor nos pais, que ficam descrentes pela vida.
Rosa - namorada de Flávio, é uma jovem muito batalhadora. Fica extremamente abalada com a morte trágica do namorado e, comovida com as lembranças do trabalho voluntário exercido por Flávio, ela resolve seguir a carreira de Medicina para tratar de crianças carentes.
Zuleide - governanta na mansão de Solange e Vitor, ela trabalha há anos com eles e tem uma convivência familiar. Ajudou a criar Flávio e fica abalada com sua morte. Fica dividida em apoiar os patrões ou Mirian e Daniel na disputa por Miguel, pois se comove com ambas as partes.
Valquíria - governanta na mansão de Margarida e Rogério, dedicou a sua vida a trabalhar na casa dos pais de Rogério e agora trabalha para ele e sua família. Ajuda a criar Luíza, sendo compreensiva e atenciosa com sua síndrome. É uma mulher bondosa e religiosa, dando apoio ao casal quando eles caem em sofrimento pelo problema da filha.
Dr. Bruno - advogado contratado pelo casal Mirian e Daniel para defendê-los nas audiências pela disputa a Miguel contra Solange e Vitor.
Dr.Marcos - advogado contratado pelo casal Solange e Vitor para defendê-los nas audiências pela disputa a Miguel contra Mirian e Daniel.
Astrogildo - juiz que vai analisar o caso complexo da troca de embriões feita por Dr. Clementino, tendo de decidir qual é a verdadeira família de Miguel.
Dra. Raquel - promotora de justiça, vai auxiliar no decreto final da disputa judicial por Miguel, como parte imparcial.
Capítulo 1
Curitiba, capital do estado do Paraná. 2010.
CLÍNICA DO DR. CLEMENTINO, INTERIOR, DIA.
Mirian e Daniel estão na sala do geneticista, Dr. Clementino, para saber informações sobre o tratamento de fertilização.
(CLEMENTINO): – E então, em que posso ajudá-los?
(MIRIAN): – Bom, nós estamos casados há cinco anos e já estamos querendo ter um filho há algum tempo, mas não conseguimos.
(DANIEL): – Tentamos de todas as formas, mas não deu certo. Fizemos testes para saber se um de nós era infértil, mas não há problema algum quanto a isso.
(CLEMENTINO): Há quanto tempo exatamente vocês estão tentando engravidar?
(MIRIAN): – Mais ou menos, 1 ano, doutor.
(CLEMENTINO): – É um tempo considerável. E quais exames vocês realizaram?
(DANIEL): – Ultrassom, avaliação hormonal, espermograma, avaliação das tubas pela histerossalpingografia, HIV, hepatite B e C, HTLV, sífilis e rubéola.
(CLEMENTINO): – Muito bem, todos os exames que eu precisava. Eu vou analisá-los, mas se não houver nenhuma alteração ou nenhum problema com a fertilidade de vocês, nós poderemos sim realizar um tratamento para a fertilização in vitro. Brevemente, esse processo inicia-se com a coleta das células responsáveis pela formação de um embrião, os gametas. Neste caso, o sêmen e o óvulo. Eu irei fecundar o óvulo com o sêmen e será necessário aguardar de três a cinco dias para implantar no útero e esperar que a gestação siga naturalmente.
(MIRIAN): – Nossa, mas é tão rápido assim? Pensei que demorasse mais dias!
(DANIEL): – E nós vamos coletar as células hoje, doutor?
(CLEMENTINO): – Não, eu preciso analisar os exames que vocês trouxeram. Vocês marquem com a minha secretária para vir se consultar comigo na próxima semana, eu direi se vocês poderão fazer a fertilização in vitro e aí sim nós coletaremos.
(MIRIAN): – Ai doutor, muito obrigado mesmo! O senhor não sabe como me deixa feliz, me abriu uma esperança. Eu sonho no dia em que eu estarei com meu filho crescendo na minha barriga, vai ser o dia mais feliz da minha vida.
Clementino compreende e Daniel sorri, dando um selinho na esposa, pois é seu sonho ser pai também.
MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, INTERIOR, DIA.
Solange e Vitor estão tomando café da manhã na mansão. Zuleide, a empregada da família, trás da cozinha mais alimentos para pôr na mesa.
(SOLANGE): – Amor, o que você achou da namorada do nosso filho?
(VITOR): – O Flávio nos apresentou ela ontem, eu não sei muito sobre ela ainda, mas me agradou o pouco que sei. É uma menina simpática e determinada, além de bonita.
(SOLANGE): – Tive as mesmas conclusões. A Rosa me parece à mulher certa para o Flávio, os dois se dão super bem. Mas é estranho a gente saber que nosso bebê trouxe uma mulher pra dormir com ele em casa…
(VITOR): – Bebê? Ora, que isso, o Flávio já tem 20 anos, tá na hora mesmo de engrenar num namoro sério. A época da farra já foi e nós sabemos bem que ele aproveitou.
Solange sorri e toma um gole de café. Logo, eles ouvem passos na escadaria da mansão e supõem que sejam Flávio e Rosa, dando por encerrado aquele assunto. O casal chega à mesa e sentam-se.
(ROSA): – Bom dia a todos!
(SOLANGE/VITOR): – Bom dia!
(FLÁVIO): – Zuleide, você é um anjo, fez o meu bolo preferido!
(ZULEIDE): – Que isso, Seu Flávio, eu fiz porque era um dia especial, afinal, iríamos conhecer a moça que encantou seu coração!
Flávio e Rosa sorriem e ele corta um pedaço do bolo de cenoura com cobertura de chocolate para ambos.
(SOLANGE): – Bom, Rosa, eu e o Vitor gostaríamos de dizer que estamos felizes pelo namoro do meu filho contigo. Você nos passou uma ótima impressão, desejamos que sejam felizes!
(ROSA): – Muito obrigada, Dona Solange. Eu também gostei muito da senhora e do Seu Vitor. Eu e o Flávio já somos muito felizes e, se Deus quiser, seremos mais ainda!
Flávio sorri e dá um selinho em Rosa. Todos seguem tomando o café e conversando.
CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, DIA.
No subúrbio de Curitiba, morava numa casa muito simples a família Moraes. Mirian e Daniel explicam a Dona Glória como foi a consulta com o geneticista.
(GLÓRIA): – Então o tal médico ficou de dar uma resposta na próxima semana?
(MIRIAN): – Isso mesmo, mãe. A gente marcou a consulta pra segunda-feira. Estou morrendo de ansiedade pra saber se, finalmente, vou conseguir ser mãe!
(GLÓRIA): – Credo, que coisa mais esquisita… Depender de um médico ler uma papelada pra saber se pode fazer um filho no laboratório. Na minha época não era assim.
(DANIEL): – Mas, minha sogra, a senhora sabe como eu e a Mirian tentamos por muito tempo engravidar naturalmente e não conseguimos. O jeito foi recorrer à reprodução assistida, muitas pessoas fazem isso no mundo inteiro.
(GLÓRIA): – Eu sei, mas eu acho esquisito. Na minha época, era pá, pá, pá e pronto, ficava grávida, não tinha essas frescurices de hoje. Eu vou pro tanque porque tem uma pilha de roupa pra lavar, dá licença!
Mirian e Daniel riem das palavras de Glória, que vai pro quintal lavar a roupa no tanque de cimento. Na sala, Mirian pega a mão de Daniel e põem em seu ventre.
(MIRIAN): – Já pensou daqui alguns dias o nosso filho crescendo aqui dentro?
(DANIEL): – Vai ser lindo! Mas devemos pôr os pés no chão também, talvez a gente não consiga realizar esse sonho.
(MIRIAN): – Não diga isso! Nós estamos com a saúde boa, vamos conseguir sim ter o nosso tão sonhado filho.
(DANIEL): – Deus te ouça, Mirian! Agora, eu quero falar sobre outra coisa com você!
(MIRIAN): – É? Sobre o quê, meu amor?
(DANIEL): – Hoje eu quero você lindíssima à noite! Nós vamos comemorar em grande estilo os nossos cinco anos de casamento.
(MIRIAN): – Ai, meu amor, eu achei que você tinha se esquecido que hoje era o nosso aniver de casamento! Todos os anos você lembra quando acorda, mas hoje não.
(DANIEL): – Quis te deixar apreensiva, sua boba! Estou preparando uma surpresa ótima pra você, espero que goste!
(MIRIAN): – E o que eu não gosto em você, Daniel?
Ele sorri e Mirian o beija intensamente, felizes com a data especial.
ASSOCIAÇÃO PARANAENSE DE APOIO À CRIANÇA COM NEOPLASIA (APACN), INTERIOR, TARDE.
No quarto, várias crianças de 4 a 8 anos se encontram deitadas em suas macas, com máscaras e ligadas a soro fisiológico. Algumas enfermeiras estão na sala. Logo, a porta se abre e uma turma de palhaços entra. Um dos palhaços é Flávio, que fundou com seus amigos o grupo voluntário Doces Sorrisos. Esse grupo faz ações recreativas dentro de instituições de caridade, hospitais, asilos, creches, escolas e ginásios, tudo sem cobrar nada, apenas pelo prazer de fazer as pessoas mais felizes com um humor simples. Flávio aproxima-se da maca de uma das crianças e faz várias bolhas de sabão sob ela, além de diversas caretas e cócegas. Seus colegas fazem palhaçadas para outras crianças, que tem um momento de felicidade em meio à dura batalha de ter câncer na infância.
MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, INTERIOR, TARDE.
Zuleide está varrendo o chão da sala da mansão e se espanta ao ver Flávio entrar vestido de palhaço.
(ZULEIDE): – Que isso, menino? Vestido assim outra vez?
(FLÁVIO): – Eu fui na APACN hoje, fazia tanto tempo que não ia lá! Foi lindo ver aquelas crianças, Zuleide.
(ZULEIDE): – É, mas se a tua mãe te vê vestido desse jeito na hora em que você devia estar na faculdade, ela é capaz de ter um treco! Você lembra como foi a última vez que a isso aconteceu?
Flávio ignora e sobe as escandas, indo ao seu quarto. Zuleide volta a varrer, mas logo para com a entrada de Solange na mansão. Ela tira os óculos escuros e põem a bolsa em cima da mesa.
(SOLANGE): – Está um calor hoje em Curitiba! Zuleide, prepara um suco de laranja e leva ao meu quarto, por favor?
(ZULEIDE): – Sim, senhora.
Solange sobe as escadas e Zuleide fica apreensiva.
QUARTO DE FLÁVIO, INTERIOR, TARDE.
Flávio está em frente ao espelho, tirando a maquiagem de palhaço, mas ainda está vestido com a roupa. Solange caminha pelo corredor e fica intrigada ao ver a porta do quarto do filho aberta e vai fechar, mas se surpreende ao vê-lo no quarto e naqueles trajes. Solange entra e fecha a porta com força, assustando Flávio.
(FLÁVIO): – Mãe? Você não ia visitar uma amiga hoje de tarde?
(SOLANGE): – Eu fui, mas ela não estava em casa e eu voltei. Mas quem tem que me dar alguma explicação é você. Que trajes são esses, Flávio? Outra vez isso?
(FLÁVIO): – A senhora sabe que eu gosto de fazer trabalho voluntário…
(SOLANGE): – Eu sei, mas tem que ser na hora da faculdade?
(FLÁVIO): – Hoje a aula era uma chatice, mãe…
(SOLANGE): – Isso não é justificativa pra você se vestir de palhaço ao invés de estudar pra se formar logo em Engenharia Mecânica!
(FLÁVIO): – Tá bom, mãe, desculpa… Mas é que eu não estava com vontade de ir à faculdade hoje, aí o grupo resolveu fazer esse encontro e eu não quis ficar de fora.
(SOLANGE): – Tudo bem, filho, não perca mais tempo: tire essa maquiagem e essa roupa, tome um banho, vista-se e vai pra aula, ainda dá tempo.
(FLÁVIO): – Ah não, hoje eu não vou mais… Aliás, eu queria falar sobre a faculdade contigo. Eu não estou mais satisfeito com Engenharia Mecânica. Sei lá, eu curtia antes, mas agora não curto mais.
Solange fica surpresa com o que Flávio diz. Ela senta na cama ao lado dele.
(SOLANGE): – Como assim, meu filho? Você cursou 2 anos e quer desistir, é isso?
(FLÁVIO): – É isso mesmo, mãe. Nesses 2 anos, eu vi que não é o que eu quero pro meu futuro.
Continua...
Capítulo 2
(SOLANGE): – Mas você tem certeza? Você tá na metade da faculdade, se for desistir tem que ser por um motivo muito forte! Qual é?
(FLÁVIO): – Esse grupo de trabalho voluntário me despertou uma alegria e satisfação imensa, estou afim de prestar vestibular para Serviço Social.
(SOLANGE): – O quê? Largar Engenharia Mecânica pra fazer Serviço Social? Filho, você só pode estar com febre! Trabalho voluntário não enche barriga! Ele é lindo, eu adoro que você faça isso, mas você precisa de um diploma, precisa de salário, não dá pra viver somente de voluntariado, Flávio!
(FLÁVIO): – Mas se eu me formar em Serviço Social, eu poderei trabalhar nas instituições de caridade e vou ter salário para isso, farei as mesmas coisas que eu faço agora no voluntariado, porém com salário. Eu não me vejo sendo um engenheiro mecânico, trabalhando numa fábrica de automóveis, eu não quero isso pra mim.
Solange está pasma e não diz nada. Ela levanta da cama e vai ao seu quarto. Flávio sente-se desconfortável com a situação e volta a tirar sua maquiagem.
RESTAURANTE, INTERIOR, NOITE.
Daniel levou Mirian a um restaurante, numa mesa afastada, para terem um jantar romântico em comemoração ao aniversário de casamento. A mesa, com velas e flores, deixa Mirian emocionada. Ele e o marido sentam e se dão as mãos.
(DANIEL): – Eu preparei tudo isso pra você, meu amor. Gostou?
(MIRIAN): – Tá lindo! Mas deve ter custado muito caro, Daniel…
(DANIEL): – Não se preocupa, eu conheço o dono desse restaurante, fui peão de obra na construção da casa dele. Ele ainda deu desconto!
(MIRIAN): – Nossa, que sorte! Eu sempre quis vir nesse restaurante, mas sendo faxineira não dá né? O dinheirinho que a gente junta é pra pagar as contas e pôr comida dentro de casa, sem luxos.
(DANIEL): – Eu sei, Mirian, meu salário como pedreiro também não é excelente, mas acho que no aniversário do nosso casamento, a gente pode nos dar ao luxo de aproveitar. Bom, agora vamos fazer nosso pedido?
Mirian sorri e beija a mão de Daniel. Logo, eles fazem o pedido e ficam conversando, com carícias e declarações de amor.
CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, NOITE.
Mirian e Daniel entram no quarto aos beijos, fechando a porta abraçados e tirando as roupas. Logo, eles deitam na cama de trajes íntimos e se beijam intensamente, muito atraídos um pelo outro.
(DANIEL): – Eu te amo! Você é a mulher da minha vida, estar a cinco anos casado contigo é uma grande felicidade!
(MIRIAN): – Como posso dizer que não te amo se, mesmo sem abrir a boca, meu coração fala mais alto?
Daniel sorri e começa a beijar o corpo de Mirian, que entra em êxtase. Pouco depois, o casal tem, finamente, sua noite de amor, com muito sentimento e prazer.
CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, MANHÃ.
Mirian, Daniel e Glória tomam café da manhã.
(GLÓRIA): – E então, festejaram muito ontem?
(MIRIAN): – Sim, mamãe, foi uma noite maravilhosa. Acordei uma nova mulher!
Daniel dá uma piscadinha para Mirian, que sorri. Glória levanta da mesa e leva sua xícara para a pia.
(GLÓRIA): – É, na minha época, eu nunca comemorava aniversário de casamento, nunca sobrava dinheiro pra isso. Depois passam por aperto financeiro e não sabem por quê.
(DANIEL): – Eu economizei um dinheirinho no último mês, Dona Glória, além do mais eu conhecia o dono do restaurante e ele me deu um desconto.
(GLÓRIA): – Melhor assim, não quero ver aperto financeiro aqui em casa, já basta o dinheirão que vocês vão usar pra mandar aquele médico fazer o filho no laboratório.
(MIRIAN): – Para de críticas, mamãe! Eu e o Daniel passamos um ano juntando dinheiro pra pagar o tratamento de fertilização, é um sonho nosso ter um filho e fomos à busca de ajuda sem prejudicar a senhora em nada financeiramente.
(GLÓRIA): – Se seu marido fosse homem de verdade, ele fazia o filho em você e não precisava ir atrás de médico nenhum!
Daniel se enfurece, tenta se controlar, mas levanta da mesa e se aproxima da sogra.
(DANIEL): – A senhora dobre a língua antes de falar de mim! Eu sou muito homem, tá! Dificuldade em ter filhos qualquer casal pode ter, isso não significa que o marido seja menos homem. Eu pedi dinheiro pra senhora pra pagar o tratamento? Não, foi fruto do meu suor naquela obra, levantando tijolo, fazendo cimento! Foi fruto do suor da Mirian limpando o chão nas casas, lavando louça, espanando os móveis! Ninguém pediu dinheiro da sua aposentadoria ou das suas costuras, então, não se meta!
Glória fica chocada com a agressividade do genro, mas fica calada. Daniel põem seu chapéu, pega sua bicicleta e vai para seu trabalho.
(GLÓRIA): – Seu marido não precisava ter me tratado assim, Mirian…
(MIRIAN): – A senhora foi longe demais com a sua língua venenosa. O Daniel é um homem bom, trabalhador, honesto, você nunca implicou com ele, só agora nos últimos meses que tem pegado implicância por causa da fertilização.
(GLÓRIA): – Eu não posso dar minha opinião agora? É crime?
Mirian fica calada e Glória vai para se quarto, nervosa.
UMA SEMANA DEPOIS.
Dr. Clementino analisou os exames. O clima entre Glória e Daniel continua tenso. Flávio ainda não contou a Vitor que quer trocar de curso na faculdade.
CLÍNICA DO DR. CLEMENTINO, INTERIOR, MANHÃ.
Mirian e Daniel estão na sala do geneticista para saber o resultado dos exames.
(CLEMENTINO): – Bom, eu analisei todos os exames que vocês me trouxeram e tenho boas notícias. Vocês não possuem problema algum, estão aptos a fazerem a fertilização in vitro.
Mirian e Daniel sorriem e se abraçam, muito emocionados.
(MIRIAN): – Ai doutor, que notícia maravilhosa! Eu estou muito emocionada, finalmente eu vou realizar meu sonho de ser mãe!
(DANIEL): – E quando a gente começa o tratamento?
(CLEMENTINO): – Amanhã mesmo, se vocês quiserem. Vocês marquem com a minha secretária a coleta do material genético de ambos. No caso do Daniel, é mais fácil: o espermatozoide é recolhido através da masturbação. Já no caso da Mirian, você deverá tomar citrato de clomifeno para estimular o seu organismo a produzir óvulos para o dia da coleta.
(MIRIAN): – Tá certo, eu vou comprar esse remédio hoje!
(DANIEL): – Eu não vejo a hora de ver a barriga da minha esposa crescer… Será o momento mais feliz da minha vida!
Dr. Clementino fica satisfeito ao ver a felicidade do casal, que vibra com a notícia de que poderão fazer a reprodução assistida.
JARDIM BOTÂNICO DE CURITIBA, EXTERIOR, TARDE.
Flávio e Rosa passeiam pelo belíssimo Jardim Botânico, no centro da capital paranaense. É um dos pontos turísticos mais visitados da cidade. Eles caminham de mãos dadas, se beijam, comem algodão doce, tiram fotos… Logo, eles sentam-se num banco e observam a paisagem deslumbrante.
(FLÁVIO): – Sabia que eu tenho um segredo pra te contar?
(ROSA): – Segredo? Qual?
(FLÁVIO): – Eu tenho um irmão gêmeo.
Rosa se espanta e Flávio olha sério para o horizonte, com um leve sorriso.
(ROSA): – Deixa de ser mentiroso, seu bobo! Você é filho único que eu sei!
(FLÁVIO): – Mas é sério, Rosa! Você sabia que eu sou fruto de uma fertilização artificial?
(ROSA): – Não sabia… Sério isso?
(FLÁVIO): – Sim. Meus pais procuraram a clínica de um geneticista famoso e pediram para haver uma fertilização artificial. E houve! Só que dessa fertilização, resultou em dois embriões. Ou seja, eu tenho um irmão gêmeo sim.
(ROSA): – Meu Deus! Mas cadê o seu irmão então? Eu não vi ele na mansão e também não vi seus pais falarem dele.
(FLÁVIO): – Claro, pois ele não nasceu, ficou congelado lá na clínica.
(ROSA): – Congelado? Como assim, Flávio?
(FLÁVIO): – Meus pais não quiseram gerar os dois embriões, então pediram que o geneticista congelasse um deles. Eu fui gerado, mas meu irmão tá lá no botijão de hidrogênio da clínica. Se um dia minha mãe quiser gerá-lo, é só ir lá e implantar no útero.
(ROSA): – Virgem Santíssima, mas isso é fantástico! Se a sua mãe gerar esse embrião agora e ele nascer, você terá um irmão gêmeo de 20 anos de diferença. Que loucura!
(FLÁVIO): – Pois é, meu amor, mas eu acho que mamãe não vai querer gerá-lo mais, ela já está com 40 anos e gravidez nessa idade é perigoso.
Rosa concorda, ainda extasiada com o relato de Flávio. Logo, eles se beijam e continuam aproveitando o Jardim Botânico pelo resto da tarde.
CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, TARDE.
Glória está fazendo costura na sala. É quando Daniel chega do trabalho, cansado e suado. Sogra e genro nem se olham ou se falam após a discussão de dias atrás. Ele vai até a geladeira, bebe água e senta no sofá. Porém, Glória não se aguenta e puxa assunto.
(GLÓRIA): – A Mirian me disse hoje de manhã que vocês vão começar o tratamento amanhã. É verdade?
(DANIEL): – É.
(GLÓRIA): – E como é esse tratamento?
(DANIEL): – Muito complexo, difícil explicar tudo.
(GLÓRIA): – Sei… Vão fazer sexo no laboratório, é?
(DANIEL): – Pirou, Dona Glória? Aquilo é uma clínica, não um bordel!
(GLÓRIA): – Que eu saiba, só se faz filho com sexo.
(DANIEL): – Tá bom, Dona Glória, se a senhora não quer entender os avanços da ciência, então eu vou pro meu quarto fazer um cochilo.
Daniel levanta-se do sofá e caminha em direção ao quarto.
(GLÓRIA): – Tem umas pedras no quintal pra trocar de lugar, eu quase caí nelas hoje. Troca pra mim?
(DANIEL): – Faz melhor: não caminha no quintal.
Glória não gosta da ironia do genro, que entra no quarto e sesteia.
MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, INTERIOR, NOITE.
Solange, Vitor e Flávio estão jantando. Alegres, eles conversam sobre vários assuntos, sempre unidos, até que o jovem resolve revelar ao pai algo que lhe perturba.
(FLÁVIO): – Pai, eu gostaria de falar com você sobre um assunto sério. Eu já falei com a mamãe dias atrás.
(VITOR): – É mesmo? Bom, pode falar, meu filho. O que é?
Solange já sabe do que se trata e fica cabisbaixa. Flávio respira fundo e toma coragem.
(FLÁVIO): – Eu quero trocar de curso, pai. Não quero mais ser engenheiro mecânico, agora eu quero fazer faculdade de Serviço Social.
Vitor fica surpreso com a notícia. Ele olha para Solange, que desvia o olhar.
(VITOR): – Serviço Social? Mas Flávio, você já está na metade da faculdade de Engenharia Mecânica, vai trocar agora?
(SOLANGE): – Foi isso que eu falei a ele, Vitor, mas ele não quer entender.
(FLÁVIO): – Eu quero trabalhar naquilo que eu gosto, que eu me sinto bem, e não é mais como engenheiro. Eu amo fazer trabalhos voluntários e quando eu descobri o que significa a faculdade de Serviço Social, eu percebi que a minha vocação estava nela. Vocês ficarão chateados se eu trocar de curso?
(VITOR): – Olha, meu filho, eu não gostaria que você trocasse, mas se isso for te fazer feliz, então troque. Só que eu não vejo futuro a você como assistente social, o mercado de trabalho a esse profissional é muito restrito e mal remunerado.
(FLÁVIO): – Todos os profissionais têm suas dificuldades, não é só assistente social. E você, mamãe, o que diz sobre a minha vontade?
(SOLANGE): – Eu acho uma loucura. Você pode seguir com seu trabalho voluntário após se formar em engenharia, pra quê parar a faculdade?
(FLÁVIO): – Porque eu não me sinto mais bem nela, mãe! É difícil entender isso?
Solange levanta-se da mesa e joga o guardanapo no prato.
(SOLANGE): – Eu não aceito! Eu quero um filho engenheiro!
Flávio fica pasmo e Solange sai da sala de jantar, subindo as escadarias até seu quarto. Vitor fica pasmo com a reação da esposa.
QUARTO DE SOLANGE E VITOR, INTERIOR, NOITE.
Solange está deitada na cama, chorando sem parar. Zuleide entra no quarto e se aproxima da cama.
(ZULEIDE): – Dona Solange, eu estava na cozinha e acabei ouvindo a discussão no jantar. A senhora quer alguma coisa? Um chá de marcela pra se acalmar?
(SOLANGE): – Não, obrigado. Eu não posso acreditar que o Flávio vai trancar a faculdade de engenharia… Desde pequeno ele disse que iria seguir essa carreira!
(ZULEIDE): – Oh, Dona Solange, mas filho é assim mesmo, ainda mais jovem, eles mudam de opinião muito rápido. O Seu Flávio é um filho tão bom, interessa tanto assim a carreira profissional que ele vai seguir?
(SOLANGE): – Interessa sim! Interessa pra mim! Era o meu sonho ser engenheira, sabia? Mas eu não consegui passar no vestibular. Logo depois, eu conheci o Vitor e a gente se casou. Engravidei e aí eu deixei o sonho de lado. O meu mundo floresceu quando eu descobri que o meu filho queria seguir a profissão que eu não consegui, é como se meu sonho tivesse passado pelo DNA… Mas agora ele quer largar tudo? Poxa, Zuleide, eu estou sem chão!
Solange continua a chorar muito, enquanto Zuleide não sabe o que fazer. Ela sai do quarto e deixa a patroa sozinha, remoendo sua tristeza.
CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, MANHÃ.
Mirian e Daniel estão na clínica para fazer a coleta de seus materiais genéticos. Cada um em uma sala, é coletado por enfermeiros os óvulos de Mirian e os espermatozoides de Daniel, sendo levados ao botijão de hidrogênio para congelá-los.
Capítulo 3
CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, MANHÃ.
Mirian e Daniel chegam a casa após a coleta e Glória está cozinhando o almoço. O casal senta no sofá da sala, sorridentes.
(MIRIAN): – O enfermeiro ficou surpreso com a quantidade de óvulos que ele coletou, disse que as chances de fazer o embrião é alta!
(DANIEL): – Pois é. O que eu mais me espantei foi que o enfermeiro me disse que para cada óvulo coletado, há de 100 a 200 mil espermatozoides coletados.
Mirian se espanta e dá um selinho em Daniel. Glória continua a cozinhar, mas não fica calada.
(GLÓRIA): – Nem com essa quantidade toda você não conseguiu engravidar a Mirian? É, teu caso é complicado!
(MIRIAN): – Mamãe, controle-se!
(DANIEL): – É, minha sogra, acho que a senhora precisa de um namorado pra tomar conta, por que eu já tenho a Mirian pra cuidar de mim.
(GLÓRIA): – Namorado? Mas que absurdo! O único homem da minha vida foi o pai da Mirian, que já faleceu há 20 anos. Nunca mais tive homem nenhum e nem vou ter, sou da época em que a mulher tinha apenas um homem à vida inteira.
Glória fecha a panela e vai para se quarto, brava. Mirian e Daniel riem e se beijam, contentes com o tratamento.
QUARTO DE SOLANGE E VITOR, INTERIOR, MANHÃ.
Solange e Vitor estão acordando. Ela senta em frente a sua cômoda para maquiar-se e colocar seus brincos e colares. Vitor coloca seu terno para trabalhar na empresa.
(VITOR): – Meu amor, eu não esperava por aquela sua explosão ontem no jantar. O Flávio ficou muito surpreso também.
(SOLANGE): – Surpreso fiquei eu, com essa vontade de trancar a faculdade. Esse menino não pode fazer isso, Vitor, fale com ele!
(VITOR): – Mas a vida é dele, Solange, a gente tem que deixá-lo viver do jeito que ele quiser! E além do mais, o nosso filho tem vocação pra caridade mesmo, acho que vai ser bom ele ser um assistente social.
Naquele momento, Flávio está passando pelo corredor e, como a porta do quarto dos pais está entreaberta, ele acaba ouvindo a conversa.
(SOLANGE): – Eu sei, mas eu queria que ele se formasse em engenharia.
(VITOR): – Eu sei por que você quer isso ou acha que eu me esqueci que era o seu sonho ter um diploma de Engenharia Mecânica? Meu amor, você não pode obrigar o seu filho a se formar naquilo que você queria!
Solange fica calada e Flávio entra no quarto, tenso.
(FLÁVIO): – Então é por isso que você não quer aceitar que eu troque de curso, mamãe? Quer que eu realize o seu sonho, é isso?
(SOLANGE): – Que isso, meu filho? Você estava ouvindo atrás da porta?
(FLÁVIO): – Foi por acaso. Agora, me responda: você quer que eu me forme em engenharia porque você não se formou?
Solange fica cabisbaixa. Vitor se aproxima de Flávio e põem a mão em seu ombro.
(VITOR): – A sua mãe sempre quis ter um diploma, mas não conseguiu passar no vestibular. Um tempo depois, quando você nasceu, ela dedicou a vida para te criar.
(FLÁVIO): – E por causa disse agora eu tenho que seguir a profissão que ela queria ter seguido? Mamãe, eu não sabia que a senhora era tão mesquinha!
(SOLANGE): – Para, não diga isso! Eu nunca quis que você seguisse o meu sonho, mas quando você disse por livre e espontânea vontade que queria ser engenheiro mecânico, com apenas 7 anos, eu fiquei encantada! Nunca, até hoje, você havia falado em seguir outra profissão a não ser essa! Nunca! Eu apenas alimentei a fantasia de ver o meu filho se formando naquilo que eu sonhei pra mim.
Solange fica cabisbaixa e uma lágrima escorre de seu rosto. Comovido, Flávio vai até ela e a abraça. Solange chora no ombro do filho.
(VITOR): – A sua mãe não é um monstro como certos pais por aí que obrigam os filhos a seguir a carreira que eles querem, ela apenas ficou deslumbrada com a sua vontade de ser engenheiro. Foi uma coincidência você querer ser o que a sua mãe queria, sem ela influenciar em absolutamente nada.
Flávio e Solange se afastam do abraço. Ele limpa as lágrimas no rosto da mãe com sua mão.
(FLÁVIO): – Mãe, eu sinto muito se decepcionei a senhora em querer trocar de curso, mas hoje eu tenho maturidade pra saber que não tenho vocação pra engenharia. Desculpa?
(SOLANGE): – Tá bom, meu filho, faça aquilo que te trás felicidade. E me desculpa por ter sido grossa nas duas vezes em que você me falou sobre troca de curso. Eu não quero que você fique com raiva de mim porque eu te amo demais!
(FLÁVIO): – Oh, mãezinha, eu também te amo muito!
Flávio abraça Solange novamente. Vitor aproxima-se e abraça ambos.
CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, TARDE.
Sozinho na sala de trabalho, Dr. Clementino pega os materiais genéticos de Mirian e Daniel e começa o processo de fertilização. É um trabalho melindroso, que exige paciência e concentração. Após fecundar os óvulos com os espermatozoides, os pré-embriões são colocados em um meio de cultura e ficarão de 48 a 120 horas para ocorrer o desenvolvimento.
DIAS DEPOIS.
Solange aceitou que Flávio troque de faculdade e o filho já trancou sua matrícula em Engenharia Mecânica. Mirian e Daniel seguem trabalhando pesado como faxineira e pedreiro, juntando dinheiro para o futuro.
SHOPPING, INTERIOR, TARDE.
Solange e Rosa caminham pelo shopping, olhando as vitrines e conversando animadas. É a primeira vez que sogra e nora passeiam juntas.
(SOLANGE): – Olha Rosa, você é uma menina muito querida. O meu filho teve sorte em te conhecer!
(ROSA): – Obrigada, Dona Solange! A senhora é uma sogra muito gente boa.
(SOLANGE): – Pois é, nem todas as sogras são terríveis como falam por aí. Aliás, eu queria combinar uma coisa com você: semana que vem é o aniversário do Flávio, o que você acha de prepararmos uma festa surpresa?
(ROSA): – Acho uma ótima ideia! O Flávio merece.
Solange concorda e as duas acertam os detalhes sobre a festa surpresa.
CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, TARDE.
Mirian e Daniel estão na sala de Dr. Clementino, que lhes dá uma boa notícia.
(CLEMENTINO): – Houve desenvolvimento de um embrião. O filho de vocês já está aqui na clínica, só falta colocá-lo no útero da Mirian.
(DANIEL): – Que notícia maravilhosa! Mas o que houve com os outros óvulos fecundados?
(CLEMENTINO): – Nem todos os pré-embriões se desenvolvem, Daniel. É muito comum em haver gêmeos ou trigêmeos em reprodução assistida, mas nem sempre isso acontece.
Daniel compreende e Mirian solta um espirro na sala. Dr. Clementino fica desconfiado.
(CLEMENTINO): – Você está doente, Mirian?
(MIRIAN): – Não, é só uma reação alérgica. Limpei uma casa muito empoeirada ontem, aí acordei assim, bem atacada.
(CLEMENTINO): – Ah, então sinto muito, mas não poderemos realizar a inseminação na senhora hoje.
(MIRIAN): – Porque não? Doutor, se o meu filho está aí prontinho, eu quero ele dentro de mim logo! O que tem demais num espirro?
(CLEMENTINO): – O espirro sinaliza que seu organismo está desequilibrado pela reação alérgica, é perigoso inseminá-la nessas condições porque pode haver um aborto. Você precisa estar com a saúde perfeita para haver o desenvolvimento do embrião dentro do seu útero.
(DANIEL): – Poxa, que pena… E quando poderá haver a inseminação?
(CLEMENTINO): – A sua esposa deve ir até uma farmácia e tomar medicamentos para tratar dessa alergia. Assim que ela estiver totalmente melhor, vocês marquem com a minha secretária o dia que quiserem para inseminar.
Mirian e Daniel ficam desapontados, por acreditavam que sairiam da clínica com o filho sonhado, mas compreendem a recusa do geneticista.
DIAS DEPOIS.
Flávio viajou com amigos para o interior do Paraná para fazer trabalho voluntário e acampar. Mirian se trata da sua alergia. Solange e Rosa preparam a festa surpresa para Flávio. Daniel continua com sua relação melindrosa com Glória.
MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, EXTERIOR, MANHÃ.
O jardim da mansão está todo decorado para a festa de aniversário de Flávio, que completará 21 anos. Muitas mesas com salgadinhos, doces, flores, bebidas no balde de gelo; além de cadeiras decoradas espalhadas pelo jardim e um palco em que sua banda preferida irá cantar. Solange caminha pelo jardim, com seu vestido longo e usando joias.
(ZULEIDE): – A decoração está muito linda, Dona Solange! A senhora sempre teve muito bom gosto pra festas. E olha só, tá vestida como uma rainha!
(SOLANGE): – Muito obrigada, Zuleide. Eu quero que o Flávio chegue hoje de tarde da viagem e tenha uma comemoração como ele merece. Eu não podia ter tido um filho melhor que ele.
Zuleide sorri e vai auxiliar os demais empregados da mansão. Logo, Vitor se aproxima de Solange e lhe dá um beijo.
(VITOR): – Hoje, o nosso filho está completando 21 anos. Quem diria né? Parece que foi ontem o tratamento pra fertilização…
(SOLANGE): – É verdade, meu amor. Naquela época, inseminação artificial assustava as pessoas, você lembra como a minha mãe ficou nervosa quando a gente disse que o nosso filho seria feito no laboratório?
(VITOR): – Lembro sim, ela quase teve um treco! Tadinha da minha sogra, que Deus a tenha… Já pensou se nós tivéssemos gerado o outro embrião também? Hoje, teríamos dois filhos fazendo aniversário. Seria lindo né?
(SOLANGE): – Sim, eu acho lindo ter filhos gêmeos, mas naquela época nós não tínhamos as condições de vida que temos hoje, não dava pra ter gêmeos. Acho que o Flávio bastou pelo irmão que nunca nasceu, ele vale por dois, vale ouro.
Vitor concorda e beija Solange, em meio a belíssima decoração do jardim.
CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, MANHÃ.
Mirian está na sala especial para fazer a inseminação artificial. Vestindo apenas uma roupa verde, típica de pacientes e médicos em salas de operações, ela está deitada na maca e aguarda o procedimento. Dr. Clementino vai até o botijão de hidrogênio e procura no arquivo o embrião de Mirian e Daniel. Os embriões são registrados pelo sobrenome e, neste caso, está como Moraes. Porém, o geneticista se atrapalha e pega o embrião cujo está registrado como Moral. Sobrenomes parecidos, que confundiram Dr. Clementino. Ele fecha o botijão e vai até a sala onde está Mirian. Com muito cuidado, o geneticista introduz o embrião na vagina com um bico de pato e, através do ultrassom, ele consegue se orientar para saber o local certo para depositar o embrião. Mirian sente-se um pouco desconfortável, algo normal nesse tipo de procedimento. Após o término, Dr. Clementino tira as luvas e a máscara, e Mirian senta na maca com ajuda de uma enfermeira.
(CLEMENTINO): – Pronto! A inseminação artificial foi um sucesso.
(MIRIAN): – Então, eu já estou grávida, doutor?
(CLEMENTINO): – Mais ou menos… O embrião está no seu útero, vamos aguardar o período de 12 ou 14 dias para saber se houve desenvolvimento. Aguardarei seu retorno, Mirian. Ficarei na torcida!
Mirian sorri e sai da maca com ajuda da enfermeira, caminhando vagarosamente até uma sala para colocar sua roupa.
CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, SALA DE EXPERIÊNCIAS, INTERIOR, MANHÃ.
Dr. Clementino entra na sala aonde está o arquivo dos embriões, sêmens e óvulos congelados, além de culturas e experiências em andamento nas mesas. Ele registra a inseminação artificial de Mirian no computador. Em seguida, ele vai até o botijão de hidrogênio guardar o frasco vazio do embrião, mas se impressiona ao notar que há um embrião registrado no sobrenome Moraes. O geneticista fica tenso e percebe que o sobrenome seguinte do botijão é Moral; logo, ele percebe que cometeu um erro. Ao notar que no Moral não há nenhum embrião, ele começa a suar frio. Ele larga o frasco vazio em cima da mesa e senta numa cadeira.
(CLEMENTINO): – Eu troquei os embriões… Não é possível! Eu nunca cometi um erro em 24 anos de carreira! O que eu faço agora?
Dr. Clementino limpa o suor de sua testa com um pano, muito nervoso com a situação.
CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, TARDE.
Mirian está deitada em sua cama, descansando após a fertilização. Daniel entra no quarto e dá um copo de água para a esposa, acariciando seus cabelos em seguida. Ela bebe um gole e põem o copo em cima do bidê.
(MIRIAN): – Eu não vejo a hora da minha barriga crescer…
(DANIEL): – Ih, tá cedo ainda, meu amor! E o doutor disse que você terá que fazer um exame pra ver se deu tudo certo.
(MIRIAN): – Eu sinto que estou grávida, Daniel. Eu já sinto o nosso filho dentro de mim. Vai dar tudo certo, eu tenho fé.
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