MANSÃO ASHFORD
Um carro preto parou lentamente em frente à imponente mansão Ashford. As portas se abriram e, primeiro, desceu Aurora que estava no volante, uma morena deslumbrante de olhos e cabelos castanhos, exalando elegância e confiança. Ao seu lado, sua melhor amiga Luísa, de cabelos loiros e olhos azuis cintilantes, que saiu do carro com um sorriso encantador.
As duas caminharam até a entrada principal. Luísa parou por um momento, boquiaberta, olhando para a mansão.
LUÍSA: Uau… Aurora, sua casa é… deslumbrante.
Aurora sorriu, levando a amiga pelo hall majestoso.
AURORA: Bem-vinda ao meu mundo, Luísa. Espero que você goste, porque vai passar bastante tempo aqui comigo.
Luísa olhou para Aurora, com uma expressão preocupada.
LUÍSA: Aurora… você já falou com seu pai sobre eu passar um tempo aqui com vocês?
Aurora sorriu, calma.
AURORA: Sim, eu mandei uma mensagem para ele ontem. Ele disse que você pode ficar aqui o tempo que quiser.
LUÍSA: Ah… obrigada, Aurora. Você é a melhor amiga que alguém poderia ter.
Elas sorriram uma para outra.
AURORA: Aqui em casa vivemos só eu, meu pai e meu irmão, Nicolas.
Luísa olhou para Aurora, um pouco hesitante.
LUÍSA: Sabe, você comentou uma vez que seus pais se divorciaram há dez anos… desde então você não vê mais sua mãe.
Aurora desviou o olhar por um instante, séria, e depois voltou a encará-la.
AURORA: É… foi isso mesmo. Mas… prefiro não falar sobre o assunto agora.
Luísa assentiu, respeitando o silêncio da amiga.
Aurora então trocou de assunto.
AURORA: E… quando você vai ao apartamento que dividia com o Derek buscar suas coisas?
LUÍSA: Ah, eu vou essa semana mesmo. Quero aproveitar para colocar tudo em ordem.
Aurora olhou para Luísa com curiosidade.
AURORA: E… você e o Derek ainda tem chances de voltarem algum dia?
Luísa balançou a cabeça com firmeza.
LUÍSA: Não… nunca mais volto com ele. Perdi três anos da minha vida em um relacionamento horrível. Todo o dinheiro que eu conseguia no meu antigo trabalho, ele pegava e gastava com bebida.
Aurora franziu levemente a testa, preocupada, enquanto Luísa continuava, sua voz carregada de sinceridade.
LUÍSA: Eu simplesmente não aguentava mais lidar com ele. As brigas eram constantes por causa da bebida, e eu não podia mais continuar assim.
Aurora segurou o braço de Luísa, como se quisesse transmitir apoio.
AURORA: Entendo… e você merece muito mais do que isso, Luísa.
Luísa suspirou, um pouco aliviada por poder desabafar com alguém que realmente se importava.
LUÍSA: O apartamento que dividiamos era do Derek… então foi o jeito eu sair de lá. Agora eu não tenho uma casa própria, mas pretendo ter uma em breve.
Aurora a observava atentamente, percebendo a determinação da amiga.
LUÍSA: Antes que ele gastasse todo o meu dinheiro e minhas economias com bebida, eu consegui pegar uma boa parte… para pagar as mensalidades da faculdade de design de moda que vou começar.
Aurora sorriu, orgulhosa da amiga.
AURORA: Isso é incrível, Luísa. Você está pensando no seu futuro e fazendo tudo certo. Tenho certeza de que vai se dar muito bem na faculdade.
Luísa sentiu um leve alívio e sorriu timidamente, grata pelo apoio de Aurora.
LUÍSA: Agora eu só preciso encontrar um trabalho melhor. Um que pague o suficiente pra eu conseguir arcar com as mensalidades da faculdade e, quem sabe, ter minha própria casa.
Aurora parou de andar e olhou para ela com um sorriso tranquilo.
AURORA: Quanto a isso, não precisa se preocupar tanto. Você pode ficar aqui em casa o tempo que quiser, Luísa.
Luísa arregalou os olhos.
LUÍSA: Aurora… eu não quero incomodar.
AURORA: Você nunca incomoda. Essa casa é enorme, e eu gosto de ter companhia. Além disso, você é como uma irmã pra mim.
Luísa sorriu, tocada pelas palavras da amiga.
LUÍSA: Obrigada, de verdade. Eu não sei o que faria sem você.
Nesse momento, passos firmes ecoaram pelo salão. Nicolas, o irmão de Aurora, entrou no cômodo com um leve sorriso nos lábios. Seus olhos verdes tinham um brilho confiante, e o jeito calmo com que caminhava demonstrava segurança.
Aurora o notou primeiro e abriu um sorriso.
AURORA: Nicolas! Olá irmão! Quero te apresentar alguém.
Nicolas se aproximou, curioso, e parou diante delas.
AURORA: Essa é a Luísa, minha melhor amiga. Ela vai ficar um tempo morando aqui com a gente. Terminou recentemente um relacionamento e saiu do apartamento onde morava com o ex-namorado.
Nicolas estendeu a mão para cumprimentar Luísa, mantendo o olhar fixo nela.
NICOLAS: Prazer, Luísa. Seja bem-vinda.
LUÍSA: Obrigada, Nicolas.
Enquanto apertavam as mãos, Nicolas não pôde deixar de reparar o quanto ela era linda, os olhos azuis intensos, o sorriso delicado, a forma suave como falava. Por um breve momento, o olhar dele se demorou mais do que o necessário.
Aurora observou a cena, sem perceber a tensão leve que se formava no ar.
Nicolas manteve o sorriso no rosto, ainda olhando para Luísa.
NICOLAS: Então é você… a famosa Luísa. Aurora falava bastante de você, a grande amiga dela do ensino médio.
Luísa sorriu, um pouco surpresa.
LUÍSA: É mesmo? Engraçado, às vezes ela também falava de você.
Aurora riu suavemente, cruzando os braços. Ela então olhou para Luísa e fez um gesto com a cabeça em direção à escada.
AURORA: Vem, Luísa. Vou te mostrar o quarto em que você vai ficar.
LUÍSA: Claro.
As duas começaram a subir a escadaria elegante, enquanto Nicolas as acompanhava com o olhar, ainda com um leve sorriso no rosto.
Quando subiram as escadas, Aurora abriu a porta de um dos quartos do corredor e fez um gesto para que Luísa entrasse. O cômodo era amplo, com uma grande janela de cortinas claras, móveis elegantes e uma cama macia coberta por lençóis brancos.
AURORA: Esse será o seu quarto, Luísa. Fique à vontade, tá? Eu separei algumas roupas minhas para você usar já que você ainda tem que pegar suas coisas no apartamento, as roupas estão no guarda roupa, ok.
Luísa entrou, olhando cada detalhe com admiração.
LUÍSA: Ok Aurora, o quarto é lindo, obrigada.
Aurora sorriu, encostando-se à porta.
AURORA: Não precisa agradecer. Eu fico feliz por ter você aqui.
Ela olhou rapidamente o celular e suspirou, ajeitando o cabelo.
AURORA: Ah, e só pra avisar… hoje à noite eu vou sair. Tenho um encontro com o Itan, e talvez eu acabe dormindo na casa dele.
Luísa arqueou as sobrancelhas, surpresa.
LUÍSA: Encontro? Então quer dizer que as coisas entre vocês estão ficando sérias?
Aurora riu discretamente.
AURORA: Talvez. Eu ainda estou vendo onde isso vai dar.
Aurora se aproxima de Luísa.
AURORA: Tá tudo bem eu sair hoje? Você vai ficar bem sem mim?
Luísa sorriu, tentando tranquilizá-la.
LUÍSA: Claro que sim, Aurora. Pode ir tranquila.
Aurora assentiu, mas ainda hesitou um pouco antes de continuar.
AURORA: Ótimo… hoje eu vou dormir na casa do Itan. Então você vai ficar aqui na mansão só com o Nicolas, já que meu pai está em uma conferência e só volta amanhã de manhã.
Luísa assentiu calmamente, sem demonstrar preocupação.
LUÍSA: Tudo tranquilo. Pode ir e se divertir, você merece.
Aurora sorriu, aliviada, e a abraçou com carinho.
AURORA: Obrigada, Luísa. Prometo não voltar muito tarde… quer dizer, prometo não voltar muito tarde amanhã.
LUÍSA: Tá kkk
Antes que Aurora saísse do quarto, Luísa deu um passo à frente e falou com um tom doce e sincero:
LUÍSA: Aurora… obrigada por tudo. Por ter sugerido que eu viesse morar aqui um tempo e por ter me recebido tão bem.
Aurora sorriu, emocionada, e se aproximou da amiga.
AURORA: Ei… você é a minha melhor amiga, Luísa. Sempre vai poder contar comigo, pra tudo.
Luísa retribuiu o sorriso, sentindo o coração aquecido.
LUÍSA: Eu sei. E sou muito grata por ter você na minha vida.
Aurora a abraçou com carinho.
AURORA: Agora chega de agradecimentos antes que eu me atrase pro encontro.
LUÍSA: Então vá se arrumar, se diverte, hein?
Aurora piscou para ela e saiu do quarto. Luísa ficou ali por um instante, observando a porta se fechar, sentindo-se acolhida.
LUÍSA DAWSON 21 ANOS
AURORA ASHFORD 21 ANOS
NICOLAS ASHFORD 24 ANOS
Na manhã seguinte, os primeiros raios de sol atravessavam as cortinas do quarto. Luísa se espreguiçou, respirando fundo, e levantou-se com calma. Abriu o guarda-roupa e escolheu uma das roupas que Aurora havia deixado para ela, um vestido leve, elegante e confortável.
Depois de se arrumar, desceu as escadas em silêncio, ainda se acostumando com o tamanho da mansão. Foi até a cozinha, preparou um sanduíche simples e uma xícara de café. Sentou-se por alguns minutos, aproveitando o silêncio, antes de se levantar e seguir para a sala de estar.
Ao entrar, encontrou Nicolas sentado no sofá, lendo algo no celular. Ele levantou o olhar assim que a viu e sorriu.
NICOLAS: Bom dia, Luísa. Dormiu bem?
LUÍSA: Dormi, sim. A cama é tão confortável que mal percebi a hora passar.
NICOLAS: Que bom. Fiquei imaginando se você ia se adaptar bem à casa, já que ela pode parecer um pouco… grande demais no começo.
LUÍSA: Um pouco é pouco… essa casa é enorme. Ainda tô me acostumando com o fato de não me perder pelos corredores.
Nicolas riu também, o olhar dele mais suave e atento.
Luísa se aproximou do sofá e sentou-se ao lado de Nicolas, ainda com o mesmo sorriso tranquilo no rosto.
NICOLAS: Já tomou café?
LUÍSA: Já sim. Preparei um sanduíche na cozinha, está tudo bem com isso?
NICOLAS: Sim. A casa é sua também enquanto estiver aqui.
Houve um breve silêncio, e então Nicolas a observou com curiosidade.
NICOLAS: Sabe, é até estranho pensar que você e a Aurora são tão amigas e só agora veio conhecer a família dela.
Luísa riu de leve, olhando para as próprias mãos.
LUÍSA: Pois é… mas nunca foi por falta de vontade. A vida sempre foi uma correria pra mim. Trabalho, contas, problemas… eu acabava sem tempo pra quase nada.
Nicolas assentiu, compreensivo.
NICOLAS: Entendo perfeitamente. Às vezes a gente se perde tanto nas responsabilidades que esquece de viver um pouco.
Luísa levantou o olhar e o encarou, surpresa com o tom sereno e maduro dele.
LUÍSA: É, exatamente isso.
Nicolas manteve o olhar em Luísa por um instante, com um sorriso leve.
NICOLAS: Você parece ser uma boa pessoa. Dá pra ver o quanto a Aurora gosta de você.
Luísa sorriu, um pouco emocionada com o comentário.
LUÍSA: A gente se dá muito bem. Eu e a Aurora nos conhecemos no início do ensino médio. Estudamos juntas e logo ficamos inseparáveis.
NICOLAS: Dá pra ver que se gostam como irmãs.
LUÍSA: Sim. Depois que o ensino médio acabou, a gente continuou se falando e se encontrando quando dava. Mas aí… eu conheci o Derek.
Ela fez uma pausa, o olhar ficando mais sério.
LUÍSA: E em pouco tempo de namoro, a gente acabou indo morar junto. Na época, parecia um sonho para mim… mas foi um grande erro.
Nicolas a observava em silêncio, atento a cada palavra.
LUÍSA: O relacionamento só piorou com o tempo. As brigas, as bebedeiras, a forma como ele me tratava… nada mais fazia sentido.
Ela suspirou, tentando disfarçar o incômodo das lembranças.
NICOLAS: Parece que você passou por muita coisa, Luísa. Mas ainda bem que teve coragem de sair disso.
Luísa assentiu, forçando um pequeno sorriso.
LUÍSA: É… agora eu só quero recomeçar.
NICOLAS: E os seus pais, Luísa? Eles moram aqui em Nova York também?
Luísa abaixou o olhar por um instante, a voz saindo mais baixa.
LUÍSA: Não… meus pais morreram. Meu pai quando eu ainda era criança… e minha mãe, quando eu estava no ensino médio.
Nicolas se endireitou no sofá, atento.
NICOLAS: Sinto muito.
LUÍSA: Obrigada. Depois que minha mãe morreu, fiquei sozinha. A gente morava de aluguel, então eu precisei começar a trabalhar e estudar ao mesmo tempo pra conseguir pagar o aluguel e me manter.
Ela fez uma pausa, lembrando do passado.
LUÍSA: Mas depois, quando conheci o Derek, acabei saindo daquela casa pra morar com ele. Achei que seria mais fácil… mas não foi.
Nicolas a observava, sério, sem interromper.
LUÍSA: Continuei trabalhando pra manter o apartamento e guardar um pouco pra faculdade de design de moda, que sempre foi o meu sonho. Derek também trabalhava, mas acabou sendo demitido… aparecia várias vezes bêbado no serviço. Então o que eu ganhava, ele exigia que eu o entregasse, ele falava que era para as despesas, mas eu sempre soube que era só pra bebida, quando ele quis pegar as minhas economias também eu decidi terminar o relacionamento e sair do apartamento o mais rápido possível.
NICOLAS: Isso deve ter sido muito difícil pra você.
LUÍSA: Foi. Mas agora tudo isso ficou pra trás. Eu quero recomeçar… e fazer algo bom da minha vida.
Nicolas a olhou por um instante, admirando a força e a calma com que ela falava.
NICOLAS: E vai conseguir. Eu não tenho dúvida disso.
Luísa ajeitou uma mecha de cabelo atrás da orelha e deu um pequeno sorriso.
LUÍSA: Quando eu contei tudo pra Aurora, ela foi quem sugeriu que eu viesse morar aqui por um tempo. Eu... não tinha mais pra onde ir, já que o apartamento era do Derek.
NICOLAS: Foi uma boa atitude da minha irmã. Ela sempre teve um coração enorme.
LUÍSA: Sim… no começo eu recusei, sabe? Não queria incomodar. Mas ela insistiu tanto que acabei aceitando.
Nicolas sorriu de leve.
NICOLAS: Aurora é assim mesmo. Quando põe uma coisa na cabeça, ninguém tira.
Luísa deu uma risadinha, concordando.
LUÍSA: Exatamente. Mas eu quero me organizar o quanto antes. Quero arrumar um emprego que pague melhor e, quem sabe, ter meu próprio lar. Nem que seja alugando uma casa simples no começo... só minha.
Nicolas a olhou com admiração sincera.
NICOLAS: Dá pra ver que você é determinada. E com essa força de vontade, tenho certeza que vai conseguir tudo o que quer.
Luísa sorriu, um pouco tímida, mas o olhar dela mostrava gratidão.
Luísa e Nicolas ainda conversavam tranquilamente quando passos firmes ecoaram pelo hall da mansão. Ao virarem-se, viram um homem alto, de presença marcante, entrar na sala de estar. Seu olhar era sereno, mas carregava uma imponência natural.
LIAM: Bom dia.
Nicolas levantou-se com um sorriso.
NICOLAS: Pai! Achei que só voltaria mais tarde.
LIAM: A conferência terminou antes do previsto.
Ele então voltou o olhar para Luísa, avaliando-a com curiosidade.
LIAM: E você deve ser a famosa Luísa... a amiga de Aurora que está hospedada conosco.
Luísa se levantou rapidamente, um pouco nervosa, mas educada.
LUÍSA: Sim, senhor. É um prazer conhecê-lo, senhor Ashford. E... obrigada por me receberem aqui.
Liam esboçou um leve sorriso.
LIAM: Ora, não precisa me agradecer. Seja bem-vinda, Luísa.
LUÍSA: Obrigada, de verdade.
NICOLAS: E aí, pai, como foi a conferência?
LIAM: Foi boa... Assuntos de investimento, nada muito empolgante, mas proveitoso.
Luísa observava discretamente, havia algo fascinante na maneira como Liam falava, a voz firme, o tom calmo e seguro.
LIAM: E onde está Aurora?
Luísa ajeitou-se, um pouco hesitante, mas respondeu com gentileza.
LUÍSA: Ela... saiu ontem à noite com Itan. Disse que dormiria na casa dele, mas que voltaria hoje de manhã.
Liam suspirou levemente, balançando a cabeça com um meio sorriso.
LIAM: Desde que começou a sair com esse garoto, ela mal para em casa... Mas, pelo menos, sei que Itan é um bom rapaz. Isso já me tranquiliza.
NICOLAS: É, Aurora parece mesmo bem envolvida com ele.
Liam endireitou o paletó e olhou para os dois.
LIAM: Bem, eu vou subir para o quarto, tomar um banho e depois passar um tempo no escritório.... Mas nos encontramos na sala de jantar na hora do almoço, tudo bem?
LUÍSA: Claro, senhor Ashford.
LIAM: Liam, por favor. “Senhor Ashford” me faz parecer mais velho do que sou.
Luísa riu de leve.
LUÍSA: Tudo bem... Liam.
Ele acenou em despedida e saiu em direção à escada, deixando no ar aquele perfume amadeirado e a presença marcante que pareciam preencher o ambiente.
Nicolas observou o pai subir, e Luísa ficou por um instante em silêncio, ainda um pouco impressionada com a postura imponente de Liam Ashford.
LIAM ASHFORD 42 ANOS
...ALGUMAS HORAS DEPOIS...
A mesa estava posta com elegância, louças brancas, taças de cristal e os pratos recém-servidos. O sol entrava pelas janelas altas, iluminando o ambiente com um brilho dourado.
Aurora, Liam, Luísa e Nicolas estavam sentados, conversando entre garfadas.
LIAM: Aurora, acho que o Itan deveria aparecer qualquer dia desses para almoçar conosco.
Aurora sorriu, mexendo na taça de suco.
AURORA: Eu vou chamá-lo, sim. Tenho certeza de que ele vai gostar.
Liam assentiu, satisfeito, e então voltou o olhar para Luísa, com um semblante mais brando.
LIAM: Aurora me contou um pouco do que está acontecendo com você, Luísa.... E eu... lamento muito por tudo o que passou.
Luísa abaixou o olhar por um instante, tocando o guardanapo sobre o colo.
LUÍSA: Obrigada, Liam. Foi bem difícil... mas eu estou tentando recomeçar.
Aurora, ao lado dela, sorriu de forma solidária.
AURORA: E você vai conseguir. Eu sei que vai.
Liam concordou com um leve movimento de cabeça.
LIAM: Às vezes, recomeçar é o passo mais corajoso que alguém pode dar. E, pelo que vejo, você já deu esse passo.
Luísa sorriu, um pouco emocionada com a gentileza inesperada.
LUÍSA: Eu espero estar no caminho certo.
NICOLAS: E você, Luísa... já pensou onde quer trabalhar?
Luísa assentiu, os olhos ganhando um brilho diferente.
LUÍSA: Eu vou começar a fazer a faculdade de design de moda e sempre gostei de desenhar, criar roupas, pensar em combinações. Quero algo que me permita fazer isso. Talvez uma empresa de moda, ou até uma boutique pequena no começo... quem sabe um dia a minha própria marca.
Aurora sorriu, orgulhosa.
AURORA: Ela tem talento, pai. Eu já vi alguns desenhos dela, são lindos!
LIAM: Luísa, pensei em algo que pode ser bom para nós dois.
Luísa o olhou, curiosa.
LUÍSA: O que?
LIAM: Acho que você poderia trabalhar comigo.
Luísa piscou, surpresa, o coração acelerando.
LUÍSA: Trabalhar com você?
LIAM: Sim. Você teria uma renda estável, aprenderia mais, e eu teria alguém com uma visão nova, alguém criativa. Seria uma troca justa.
Luísa pareceu hesitar, passando a mão pelos cabelos loiros.
LUÍSA: Liam, eu... não sei se é uma boa ideia. Você e Aurora já estão sendo tão generosos comigo... eu não quero abusar disso.
Liam deu um leve sorriso.
LIAM: Não é abuso, Luísa. É oportunidade. Eu só ofereço isso a quem acredito que mereça.
AURORA: Essa é uma boa ideia pai!
LIAM: Talvez eu devesse te contar um detalhe importante antes de você decidir... Eu sou o CEO da Ashford Couture.
Luísa arregalou os olhos, surpresa.
LUÍSA: Espera... a Ashford Couture?
LIAM: Exatamente.
LUÍSA: Meu Deus... A Ashford Couture é uma das casas de moda mais populares de Nova York! Eu... eu já li sobre ela várias vezes, vi coleções, campanhas... nunca imaginei que você fosse o CEO.
NICOLAS: Pelo visto você não sabia nada da família da sua melhor amiga mesmo kkk
AURORA: Eu ainda não tinha mencionado isso á Luísa.
Liam soltou uma risada discreta.
LIAM: Pois é. Eu costumo manter um perfil mais discreto quando se trata da vida pessoal.
Luísa ainda parecia abismada.
LUÍSA: Então... quando você disse sobre trabalhar com você... era lá?
LIAM: Sim. Achei que seria bom para você. Já que vai cursar design de moda, nada melhor do que começar ganhando experiência dentro de uma verdadeira casa de moda.
Luísa mordeu o lábio inferior, visivelmente dividida.
LUÍSA: Liam, eu não sei... isso parece... um pouco demais. Eu já estou morando aqui, e aceitar um emprego na sua empresa seria... um abuso da minha parte.
Liam inclinou a cabeça, com aquele olhar sereno, mas firme.
LIAM: Se isso te incomoda, podemos resolver facilmente.
LUÍSA: Como assim?
LIAM: Vá até a empresa e faça uma entrevista, como qualquer outra candidata. Assim, o mérito será todo seu. Se passar, será porque merece, e não porque é melhor amiga da minha filha.
Aurora sorri.
Luísa olhou para ele, surpresa pela sensatez da proposta.
LUÍSA: Isso... isso parece justo.
LIAM: Ótimo... Amanhã, se quiser, posso pedir para o setor de RH agendar um horário.
AURORA: Aceite Luísa... Por favor, é algo justo, uma boa oportunidade pra você recomeçar, profissionalmente e pessoalmente.
Luísa sorriu para a amiga e depois olhou para Liam.
LUÍSA: Eu... aceito. Obrigada, Liam.
LIAM: Não precisa agradecer. Apenas me prometa uma coisa, dê o seu melhor.
LUÍSA: Pode deixar. Eu vou.
Por um instante, os olhares deles se cruzaram novamente, o dela, cheio de admiração; o dele, de um interesse calmo, mas inegável.
Na manhã seguinte. Luísa descia as escadas já vestida, segurando a bolsa.
Ela encontrou Nicolas na sala.
LUÍSA: Nicolas, por favor se a Aurora perguntar por mim avise que eu fui buscar minhas coisas, tá bem?
Nicolas levantou o olhar.
NICOLAS: Vai sozinha?
LUÍSA: Sim de táxi, é rapidinho. Só quero pegar umas roupas e alguns materiais de desenho.
NICOLAS: Então deixa que eu te levo.
Luísa sorriu, surpresa.
LUÍSA: Não, imagina... eu não posso pedir isso a você.
Nicolas se levantou, com um sorriso leve e confiante.
NICOLAS: Você não está pedindo, Luísa. Eu estou oferecendo.
LUÍSA: Mas eu não quero atrapalhar o seu dia.
NICOLAS: Não vai atrapalhar em nada. Além disso, é melhor não ir sozinha.
LUÍSA: Tudo bem... se você insiste, eu aceito.
NICOLAS: Ótimo... Vamos antes que Aurora descubra e queira ir junto.
Luísa riu baixinho.
Nicolas pegou as chaves de seu carro e os dois saíram juntos, o som dos passos ecoando pelo mármore da entrada antes que a porta se fechasse atrás deles.
Nicolas dirigia tranquilamente, o sol da manhã refletindo pelo para-brisa. A rua ainda estava meio silenciosa, e Luísa observava as casas passarem pela janela.
Depois de alguns minutos, ele quebrou o silêncio:
NICOLAS: Você tem a chave do apartamento, né?
LUÍSA: Tenho sim. Eu fiquei com uma cópia… e o Derek com a outra.
NICOLAS: E ele sabe que você vai lá hoje?
LUÍSA: Não… eu não avisei. Prefiro pegar minhas coisas sem precisar encontrar com ele.
NICOLAS: Entendo.
O tom dele foi sereno, sem julgamentos, mas Luísa percebeu que ele prestava atenção em cada detalhe, no jeito que ela desviava o olhar, na forma como segurava a bolsa com força.
O carro seguiu por mais alguns quarteirões até parar em frente ao prédio dela.
NICOLAS: É aqui?
LUÍSA: É.
Ela soltou o cinto e ficou alguns segundos parada, olhando para a fachada do edifício como se fosse algo distante, quase estranho.
NICOLAS: Quer que eu vá com você?
LUÍSA: Não precisa… eu só vou subir, pegar umas coisas e já desço.
Nicolas desligou o carro e soltou o cinto.
NICOLAS: Acho melhor eu subir com você. Assim te ajudo com as malas.
LUÍSA: Não precisa, Nicolas. Eu dou conta.
NICOLAS: Eu insisto. Além disso, não quero ficar aqui embaixo sem saber se está tudo bem lá em cima.
Luísa hesitou por um instante, depois acabou cedendo.
LUÍSA: Tá bom… então vamos.
Eles entraram juntos no prédio e subiram no elevador. Quando as portas se abriram, Luísa caminhou pelo corredor até a porta do apartamento.
Ela girou a chave devagar, respirando fundo antes de empurrar a porta. O ambiente estava em silêncio.
LUÍSA: Parece que ele não está.
NICOLAS: Melhor assim.
Ela deu um passo para dentro e olhou em volta, tudo ainda no mesmo lugar: os quadros, os livros, a caneca azul de Derek em cima da mesa. Por um momento, o peito dela apertou.
Os dois entraram no quarto. Luísa abriu o guarda-roupa e começou a tirar algumas roupas, dobrando rápido, tentando se concentrar. Nicolas, ao fundo, recolhia cadernos e materiais de desenho que estavam espalhados pela escrivaninha.
NICOLAS: Esses são os seus?
LUÍSA: São… não consigo ficar longe dos meus rabiscos.
NICOLAS: Dá pra ver. Você tem talento.
Ela desviou o olhar, sem saber como responder. Por um instante, o silêncio voltou, só o som do zíper da mala e o farfalhar das roupas.
LUÍSA: Eu achei que fosse mais fácil voltar aqui… mas é estranho. Parece que o tempo parou.
NICOLAS: Às vezes o que prende a gente a um lugar não são as paredes, mas o que a gente sente dentro delas.
Luísa parou, fitando-o.
LUÍSA: Você sempre fala coisas assim?
NICOLAS: Só quando quero fazer alguém se sentir melhor.
Ela riu, baixinho, e voltou a dobrar as roupas.
LUÍSA: Então está conseguindo kkk
Luísa estava terminando de fechar a segunda mala quando ouviu o som de uma chave girando na fechadura. Ela congelou. O olhar encontrou o de Nicolas, e o tempo pareceu parar por um instante.
LUÍSA: Ele… ele não devia estar aqui agora.
Os dois saíram do quarto e foram até a sala.
Nicolas endireitou a postura, o olhar firme em direção à porta.
A maçaneta girou, e Derek entrou com o casaco ainda nos ombros e o celular na mão. Parou assim que viu a cena: Luísa com as malas abertas no chão e Nicolas, parado ao lado dela.
DEREK BROOKS 25 ANOS
O silêncio que se formou era quase palpável.
DEREK: Que surpresa… não sabia que tinha visita.
LUÍSA: Derek… eu só vim pegar minhas coisas. Achei que você não estaria.
DEREK: Claramente. E trouxe companhia pra isso?
Nicolas deu um passo à frente, com um tom calmo, mas firme.
NICOLAS: Eu só vim ajudar. Não quero nenhum problema.
Luísa respirou fundo, tentando conter o tremor na voz.
LUÍSA: Derek, por favor… não começa. Eu só quero pegar minhas coisas e ir embora em paz.
DEREK: Em paz? Depois de desaparecer sem dizer uma palavra, e aparecer aqui com outro homem?
LUÍSA: Nicolas é irmão da Aurora, ele só veio me acompanhar.
O olhar dele se fixou em Nicolas, carregado de ciúme e raiva contida.
NICOLAS: Eu não tenho nada a ver com o que aconteceu entre vocês. Só estou aqui porque achei que ela não devia vir sozinha.
Derek deu uma risada seca.
DEREK: Que cavalheiro.
Luísa se aproximou, tentando interromper a tensão crescente.
LUÍSA: Chega, Derek! Eu não te devo explicações. Só quero terminar de arrumar minhas coisas e sair.
Por um momento, os olhos dele se suavizaram, havia algo de ferido por trás da raiva.
DEREK: Então é isso… acabou de vez?
Luísa respirou fundo, sem conseguir encará-lo direito.
LUÍSA: Já tinha acabado há muito tempo.
Luísa se aproximou mais dele.
LUÍSA: Sabe por que acabou, Derek? Porque eu já não suportava mais essa vida com você.
Ele a olhou, surpreso com o tom dela.
DEREK: Vida? Que vida?
LUÍSA: A vida com um homem que vive bêbado, que gasta o pouco que tem em bares e depois volta pra casa fingindo que nada aconteceu! Você acabou com o nosso dinheiro, com a nossa paz, com tudo!
Derek deu uma risada amarga, balançando a cabeça.
DEREK: Eu só precisava sair, me distrair um pouco! Ficava aqui sozinho, enquanto você passava o dia fora, trabalhando, desenhando, fingindo que tinha uma vida perfeita!
LUÍSA: Isso não é desculpa, Derek! Eu estava tentando construir algo pra nós dois, e você… você se afundava cada vez mais.
DEREK: Você acha que é fácil? Achar que não serve pra nada? Que a mulher que você ama mal te olha mais?
LUÍSA: Eu parei de te olhar porque você deixou de ser quem era! O homem que eu amava se perdeu no meio das garrafas, e eu cansei de tentar salvá-lo.
O silêncio caiu por um instante. Nicolas observava tudo de perto, tenso, mas sem interferir.
Luísa enxugou uma lágrima e continuou, agora com a voz firme:
LUÍSA: E sabe o que é pior? Agora você não tem mais nada, Derek. Nem a mim, nem um emprego. Vive aqui só porque esse apartamento é dos seus pais.
Derek fechou os punhos, respirando com raiva e humilhação misturadas.
DEREK: Você acha que está vencendo alguma coisa indo embora assim?
LUÍSA: Não, Derek. Eu não estou vencendo. Eu só estou me libertando.
Ela se abaixou, fechou a mala e a segurou com força. Nicolas deu um passo à frente, pronto pra ajudar.
NICOLAS: Vamos, Luísa.
Ela lançou um último olhar para Derek, um olhar de despedida, sem ódio, mas cheio de cansaço.
LUÍSA: Cuida de você… se ainda souber como.
E saiu pela porta, sem olhar pra trás.
Derek ficou parado, imóvel, ouvindo o som da porta se fechando. Pela primeira vez, o silêncio do apartamento pareceu enorme demais.
Luísa desceu as escadas em silêncio, com as mãos tremendo. Nicolas caminhava ao lado dela, carregando uma das malas, mas sem dizer uma palavra.
Quando entraram no carro, ela respirou fundo, tentando conter o choro, mas assim que Nicolas ligou o motor e o carro começou a se mover, a força que a mantinha firme simplesmente desabou.
LUÍSA: Eu tentei tanto, Nicolas… tanto.
Nicolas olhou pra ela rapidamente, a expressão cheia de empatia.
NICOLAS: Eu sei que tentou.
Ela virou o rosto pra janela, e as lágrimas começaram a cair sem controle.
LUÍSA: Eu me desdobrava pra tudo dar certo, sabe? Trabalhava, economizava… e ele sempre arranjava um jeito de estragar tudo. Eu achava que, se eu amasse o suficiente, ele ia mudar.
NICOLAS: Esse é o erro de muita gente boa, Luísa… achar que o amor conserta o que o outro não quer mudar.
Ela soltou um riso triste, enxugando as lágrimas com a manga da blusa.
LUÍSA: E o pior é que eu me culpava. Achava que a culpa era minha, que eu não estava sendo suficiente.
NICOLAS: Você foi mais do que suficiente. Só que ele não soube ver isso.
Luísa ficou em silêncio por alguns segundos, respirando fundo.
LUÍSA: Eu me sinto… leve e vazia ao mesmo tempo. É estranho.
NICOLAS: É o começo da liberdade. Dói um pouco no início, mas depois vem a paz.
Ela virou o rosto pra ele, e seus olhares se cruzaram, havia ternura no olhar de Nicolas, mas também algo mais, algo que ele disfarçava com cuidado.
O carro seguiu pela estrada, o sol já mais alto iluminando o rosto dela. Aos poucos, o choro foi cessando, e Luísa se recostou no banco, exausta, mas um pouco mais tranquila.
LUÍSA: Obrigada por ter vindo comigo.
NICOLAS: Você não precisa enfrentar as coisas sozinha.
Ela o olhou por alguns segundos, tocada pelas palavras.
O carro estacionou em frente à casa. O som do motor se apagou, e por um instante, o silêncio pareceu trazer alívio. Luísa olhou pela janela o jardim iluminado pelo sol, o portão aberto, e o ar tranquilo daquele lugar que agora parecia um refúgio.
NICOLAS: Chegamos.
Ela assentiu, respirando fundo.
LUÍSA: Finalmente.
Os dois desceram do carro. Nicolas pegou as malas do porta-malas, e os dois seguiram até a porta. Antes mesmo de bater, ela se abriu, Aurora apareceu, sorridente, mas o sorriso sumiu quando viu o semblante cansado da amiga.
AURORA: Onde vocês foram?
LUÍSA: Eu fui pegar minhas coisas no apartamento de Derek, e Nicolas se ofereceu para me levar.
AURORA: E deu tudo certo?
Luísa tentou sorrir, mas a expressão dela denunciava o cansaço.
LUÍSA: Deu sim. Já peguei tudo o que precisava.
Aurora olhou rapidamente para Nicolas, depois de volta para Luísa, preocupada.
AURORA: E o Derek?
Luísa baixou o olhar, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
LUÍSA: Ele apareceu quando eu estava lá… mas foi melhor assim. Eu disse tudo o que precisava dizer.
Aurora deu um passo mais perto, segurando de leve as mãos dela.
AURORA: E agora?
Luísa respirou fundo, e um pequeno sorriso finalmente apareceu, sincero, mesmo que cansado.
LUÍSA: Agora… eu tô livre, Aurora. Livre dele, daquela vida, daquele peso todo.
Aurora sentiu os olhos marejarem e a abraçou com força.
Luísa fechou os olhos, retribuindo o abraço. Nicolas observava a cena em silêncio, um leve sorriso no rosto.
Depois de alguns segundos, Aurora se afastou e olhou para Nicolas.
AURORA: Obrigada por ter ido com ela.
NICOLAS: Eu não ia deixar que ela fosse até lá sozinha.
Aurora assentiu, emocionada, e voltou o olhar para Luísa.
AURORA: Vem, entrem.
Luísa respirou fundo e cruzou a porta, sentindo, pela primeira vez em muito tempo, que o ar ali dentro era leve.
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