Camila Alves olhou pela janela do ônibus enquanto a estrada se estendia à frente, os campos do interior desaparecendo lentamente. Cada árvore, cada casa, parecia dizer adeus a uma vida que ela não podia mais levar. A cidade brilhava ao longe, com arranha-céus que pareciam tocar o céu. Para muitos, aquele era o símbolo do sonho, mas para Camila, era também uma prisão desconhecida, cheia de olhares que poderiam questionar seu passado.
Ela respirou fundo, tentando controlar o nó na garganta. Fugir nunca foi fácil, especialmente quando o passado te persegue com mãos invisíveis. Sua vida no interior tinha sido simples, mas não sem dor. A pequena fazenda da família Alves era tudo que ela conhecia: cheiro de terra molhada, café fresco pela manhã e o som distante de animais. Sua mãe, Dona Helena, sempre foi sua força silenciosa, educando Camila com amor e rigor. Mas seu pai… ele não estava mais lá. Um acidente, disseram, mas Camila sempre sentiu que havia mais.
Na escola, ela era conhecida como a garota calma, sorridente, mas que guardava segredos. O namorado de adolescência, Rafael, foi a primeira decepção dolorosa. Ele prometeu o mundo, mas quando a pressão da família e a ambição própria bateram, ele a traiu com uma das melhores amigas de Camila. Aquela ferida, misturada com outros pequenos episódios, moldou sua decisão de nunca mais depender de ninguém. E agora, aos 22 anos, Camila sabia que precisava recomeçar, sozinha, na cidade.
O ônibus finalmente entrou na cidade, e Camila sentiu o coração acelerar. O barulho era ensurdecedor comparado ao silêncio do interior: buzinas, passos apressados, anúncios luminosos piscando em cada esquina. A primeira sensação foi de desorientação. Cada edifício parecia maior que o outro, cada rua mais confusa. Ela apertou a pequena mochila contra o peito, onde guardava suas economias e documentos importantes. Cada centavo era precioso para ela, cada passo um risco calculado.
Ao chegar à pensão que alugara por um mês, Camila desceu do ônibus com cuidado, respirando fundo o ar pesado da cidade. As ruas estavam molhadas, reflexos das luzes refletindo no chão, dando uma sensação de magia e ameaça ao mesmo tempo. Entrando na pequena recepção, foi recebida por Dona Marlene, uma senhora de meia idade com sorriso acolhedor. “Você deve ser a Camila! Tome cuidado com essa cidade, menina. Aqui ninguém te dá mole,” avisou, enquanto entregava a chave do quarto. Camila sorriu, grata, mas a sensação de alerta permaneceu.
Seu quarto era simples, mas confortável o suficiente para que ela pudesse planejar seus próximos passos. Uma cama pequena, uma escrivaninha e uma janela que dava para o movimento constante da rua. Camila colocou a mochila no chão, tirou os sapatos sujos da estrada e sentou-se na beira da cama. Pensou em tudo que deixara para trás: a fazenda, os amigos, a escola, e a sensação agridoce de liberdade e medo que a cidade trazia.
Ela sabia que precisava de um emprego, algo que pagasse o aluguel e a mantivesse, sem perguntas demais. Folhetos de empregos, anúncios online, tudo parecia uma competição feroz. Camila respirou fundo, lembrando da força que sua mãe sempre lhe ensinou. Ela podia ser do interior, mas não era fraca. Cada desafio, cada obstáculo que enfrentara no passado a havia preparado para aquele momento.
No dia seguinte, Camila vestiu uma roupa simples mas apresentável — calça escura, blusa clara e um casaco leve. Pegou sua bolsa e saiu para procurar trabalho. A cidade parecia viva demais, quase agressiva, com pessoas andando rápido, ignorando umas às outras. Cada esquina era uma mistura de aromas, sons e luzes que a deixavam alerta. Ao passar por uma rua lateral, viu uma cafeteria elegante e decidiu entrar. Precisava de algo para comer e talvez, quem sabe, uma oportunidade surgisse.
Dentro da cafeteria, o cheiro de café fresco e pães assados trouxe uma sensação de aconchego, lembrando um pouco a cozinha de sua mãe. Camila pediu um café e sentou-se em uma mesa próxima à janela. Observava as pessoas, tentando entender aquele novo mundo. Cada gesto, cada conversa, era como uma peça de um quebra-cabeça que ela ainda precisava montar. Ela estava determinada a não se perder, mas sentia o peso do anonimato, da solidão.
Foi então que ela ouviu vozes altas vindo do andar de cima. Curiosa, levantou o olhar e viu um homem entrando na cafeteria. Alto, impecavelmente vestido, cabelo escuro, olhar frio e intenso. Havia algo nele que fazia o ambiente parecer mais silencioso, como se o mundo se curvasse à presença dele. Ele se dirigiu ao balcão com confiança, pedindo algo simples, mas cada movimento carregava autoridade. Camila não conseguiu desviar o olhar. Algo naquele homem a fez sentir uma mistura de medo e fascínio, uma atração que ela não sabia nomear.
Ela não sabia ainda que aquele homem era Julian Blackwell, CEO de uma das maiores empresas da cidade, acostumado a ter controle absoluto sobre tudo e todos. Ela também não sabia que ele estava prestes a entrar na sua vida de maneira irrevogável, oferecendo um contrato que mudaria tudo — e a tentação de se aproximar dele seria tão perigosa quanto irresistível.
Enquanto Camila terminava seu café, pensava em seu passado, na traição, na perda e na coragem que a trouxe até ali. Cada lágrima escondida, cada medo superado, a preparava para o que viria. A cidade podia ser cruel, mas também era cheia de oportunidades. E Camila estava determinada a sobreviver, mesmo que para isso precisasse enfrentar homens como Julian, contratos perigosos e desejos que ela ainda não entendia.
O ônibus, a cidade, a cafeteria… tudo era só o começo. Um novo capítulo de sua vida estava prestes a começar, cheio de segredos, tensão e desejos ocultos. Camila Alves estava pronta para descobrir que, às vezes, fugir do passado significa enfrentar o futuro de frente — e que o contrato do desejo poderia ser a única chance de reescrever sua história.
Camila 22 anos.
Camila segurava a pequena bolsa com força enquanto caminhava pela rua movimentada. A cidade era grande demais, barulhenta demais, e cada esquina parecia uma ameaça nova. Mas ela precisava de dinheiro, precisava se manter e começar a construir uma vida longe do passado que a perseguia no interior.
Ela havia feito algumas pesquisas rápidas antes de sair de casa, procurando qualquer oportunidade que pudesse aceitar: panfletos colados em postes, anúncios online, pequenas lojas e restaurantes. Não queria luxo, queria apenas algo que permitisse pagar o aluguel da pensão e comer sem preocupações.
Um pequeno restaurante de entrega chamou sua atenção. O anúncio dizia:
“Entregadora de moto – experiência não necessária. Treinamento incluso.”
Camila sorriu aliviada. “Isso eu consigo”, pensou. A habilidade de dirigir moto no interior, percorrendo estradas de terra e desvios complicados, podia servir perfeitamente na cidade — mesmo que o trânsito fosse mais caótico do que ela jamais imaginara.
Ela entrou no restaurante, um pouco apreensiva. O cheiro de comida quente misturado com café fresco trouxe uma sensação estranha de conforto, lembrando um pouco a cozinha da mãe. Atrás do balcão, um homem de sorriso simpático olhou para ela.
— Olá! Você veio pela vaga de entregadora? — perguntou.
— Sim, senhor — respondeu Camila, tentando manter a postura firme, mas sentindo a ansiedade borbulhar.
— Ótimo! Não se preocupe com experiência. A cidade é confusa mesmo, mas vamos treinar você. Tem que saber usar o GPS, dirigir com cuidado e cuidar da comida. Está pronta para tentar?
— Sim! — disse Camila, sentindo uma pontada de confiança.
Ele entregou a ela um colete da empresa, um capacete e um pequeno manual de rotas. Camila colocou o capacete, ajustou o colete e respirou fundo.
— Só mais uma coisa — disse o homem com sorriso divertido —. Não se assuste se se perder um pouco no começo. Todo mundo se perde. A cidade é um labirinto.
Camila assentiu, determinada. Ela respirou fundo e deu a partida na moto. O GPS começou a emitir instruções, piscando na tela do celular preso ao guidão. Ela sentiu o coração disparar, mas ao mesmo tempo uma sensação de adrenalina e liberdade.
A primeira entrega seria um desafio, mas Camila estava pronta. Ela desviou de carros, pedestres e até de um cachorro que atravessou na frente da moto. Cada curva, cada semáforo, exigia atenção máxima, mas ela conseguiu chegar no destino sem grandes problemas.
Quando finalmente estacionou e carregou a comida para a porta, sentiu que estava começando algo novo. Algo que poderia ser simples, mas que também poderia mudar sua vida.
Camila respirou fundo, tentando se recompor após o caos do trânsito da cidade. Ela apertou o manual da empresa contra o peito por segurança e bateu na porta do apartamento indicado pelo GPS.
A porta se abriu devagar… e ela quase engasgou ao reconhecer o homem que estava à sua frente. Era ele. O mesmo homem do café: elegante, imponente, olhos penetrantes que pareciam avaliá-la em segundos.
Ele não sorriu. Não disse nada. Apenas estendeu a mão para pegar a bandeja, de forma fria e direta, sem nem mesmo olhar para ela por mais de um segundo.
— Aqui está — disse Camila, tentando soar firme, mas a voz saiu trêmula.
Julian pegou a comida sem nenhum comentário, examinando rapidamente o pacote e colocando-o sobre uma mesa de vidro. Cada movimento dele era calculado, eficiente, sem espaço para emoções.
Ela tentou falar novamente, talvez iniciar uma conversa, mas ele interrompeu:
— Assine aqui — disse, entregando uma prancheta com um recibo. Sem emoção, sem um gesto que indicasse gentileza.
Camila assinou, sentindo o coração disparado. Ele a observava apenas o suficiente para garantir que tivesse cumprido o procedimento. Não havia sorriso, não havia gentileza, apenas autoridade e frieza.
Quando a entrega terminou, ela tentou agradecer:
— Obrigada… pelo pedido…
Julian se virou, abriu a porta e fechou atrás de si sem uma palavra, deixando Camila parada na entrada, segurando o capacete, o coração acelerado e a sensação de que ele era misterioso, frio e absolutamente irresistível.
Ela respirou fundo, ainda sentindo o impacto daquele encontro. Mesmo sem demonstrar nada, ele havia deixado uma marca: o frio, a eficiência e a presença dominadora de Julian Blackwell eram impossíveis de ignorar. Camila percebeu que aquela cidade podia ser grande, perigosa e cheia de desafios… mas Julian seria, de alguma forma, uma constante que ela não poderia simplesmente ignorar.
Enquanto voltava para a moto, ajustando o GPS e evitando o trânsito caótico, Camila repetia para si mesma:
" que cara sem noção"
E naquele instante, sem perceber, a história deles começava a se entrelaçar, mesmo com toda a frieza dele.
Julian 30 anos.
O despertador tocou antes mesmo do sol nascer.
Camila gemeu baixinho e rolou na cama dura da pequena pensão onde estava hospedada. O teto descascado e os sons da rua ainda eram estranhos pra ela. No interior, acordar cedo significava ouvir galos cantando e vento batendo nas janelas… na cidade, eram buzinas, gritos e motos acelerando.
Ela se sentou na cama, prendeu o cabelo em um coque rápido e respirou fundo.
— Segundo dia… vamo lá, Camila — sussurrou pra si mesma.
Tomou um banho rápido, vestiu o uniforme simples da empresa e desceu para tomar um café corrido numa padaria da esquina. O pão estava meio duro e o café forte demais, mas era o suficiente pra acordar.
Pouco depois, já estava na frente do restaurante, ajeitando o capacete. O chefe, um homem simpático de meia-idade, entregou a lista de entregas do dia com um sorriso.
— Ontem você foi bem — disse ele. — Hoje tem mais rotas, mas nada que você não aguente.
Camila sorriu, animada, até que os olhos bateram em um endereço específico no papel.
O mesmo prédio elegante.
O mesmo número de apartamento.
O mesmo homem.
Ela arregalou os olhos e soltou quase sem querer:
— Meu Deus… não… tenho que ir de novo ver aquele cara ignorante?
Uma das colegas ouviu e riu:
— Que cara? Cliente difícil?
— Não… — Camila balançou a cabeça, sentindo as bochechas esquentarem — É só… alguém que não fala nada, pega e fecha a porta na tua cara. Frio… tipo pedra.
— Ahhh, desses — a colega riu. — Boa sorte, novata.
Camila bufou, colocou o celular no suporte da moto e partiu para as entregas da manhã. O trânsito parecia ainda mais movimentado do que ontem, mas agora ela já tinha mais confiança nas curvas e sabia evitar os becos confusos que o GPS insistia em indicar.
Fez duas entregas tranquilas, respirou aliviada… e então chegou a hora do endereço que ela queria evitar.
Ela estacionou a moto em frente ao prédio elegante, ajeitou o uniforme e olhou pro espelho da moto:
— É só entregar… ele pega… fecha a porta… e pronto — murmurou para si mesma. — Ignorante ou não, é só mais uma entrega.
Subiu no elevador, sentindo o coração acelerar sem motivo lógico. Bateu na porta.
A maçaneta girou.
Julian Blackwell abriu, impecável como sempre: terno escuro, olhar penetrante… e a mesma frieza de ontem.
Ele não disse “bom dia”.
Não perguntou nada.
Apenas estendeu a mão para a sacola.
Camila entregou, tentando manter a postura.
— Aqui está… — disse com um sorriso nervoso.
Julian assinou o recibo sem olhar direito pra ela, devolveu a prancheta e simplesmente fechou a porta.
Camila ficou parada por dois segundos, segurando o capacete.
— Uau… simpático como sempre — murmurou baixinho, revirando os olhos, antes de voltar pro elevador.
Enquanto descia, o coração dela batia rápido, e ela não sabia dizer se era raiva, nervosismo ou… outra coisa. A frieza dele mexia com ela de um jeito estranho. Era irritante e, ao mesmo tempo, impossível de ignorar.
De volta à moto, ela suspirou e comentou com o celular preso no suporte:
— Se eu tiver que entregar comida pra esse homem todo dia, acho que vou enlouquecer.
Mas no fundo, sabia que havia algo diferente nele. Algo que fazia aquele endereço ficar gravado na cabeça, mesmo que ela fingisse que era só mais uma entrega.
O resto do dia passou entre entregas, buzinas, quase acidentes e cafés apressados. Quando finalmente chegou em casa, tomou um banho quente, caiu na cama exausta e, mesmo sem querer, a imagem do olhar frio de Julian voltou à sua mente antes de dormir.
Ela bufou e puxou o cobertor até o queixo.
— Sai da minha cabeça, cara chato… — sussurrou, antes de adormecer.
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