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A Divida do Capo

Capítulo 1: O Executor

A Sentença

(Ponto de Vista: Sofia Bianchi)

​O cheiro de couro caro, uísque e ameaça era a primeira coisa que me atingiu. Não o cheiro da violência que eu temia, mas o cheiro da autoridade implacável.

​Eu estava em uma sala que parecia ter sido tirada de um filme, toda escura, emoldurada em ébano e vidro, com uma vista fria para as luzes caóticas de Nova York. E no centro daquela sala, estava ele: Dante Moretti.

​Eu o conhecia apenas pelas fotos borradas dos jornais, chamando-o de "O Capo Frio", mas a imagem não fazia justiça à sua presença. Ele não era apenas um homem; era uma estátua de mármore italiano, esculpida para a guerra. Terno sob medida em cinza-carvão que abraçava ombros largos e uma postura que anunciava que ele nunca, em toda a sua vida, havia se curvado.

​Meu pai estava ao meu lado, um homem antes imponente, agora reduzido a um caco trêmulo. Seu crime? Não ter conseguido "esconder" a quantia estratosférica que devia à Família Moretti. Minha formação em Direito me dizia que isso era extorsão. O meu pânico me dizia que era o fim.

​"Então," a voz de Dante cortou o silêncio. Era grave, sem emoção, como se estivesse lendo um obituário. Ele não olhava para mim, mas para meu pai. "A quantia é inegociável. Você perdeu o prazo."

​Meu pai engoliu em seco. "Dante... por favor. Eu tenho... eu tenho a Sofia. Ela pode..."

​Naquele momento, meu coração parou. Virei-me para meu pai, incrédula. "Pai, do que você está falando?"

​Dante finalmente moveu seus olhos em minha direção. Eram de um verde tão profundo que pareciam absorver a luz da sala, frios e inquisitivos. Não havia desejo, nem atração. Apenas avaliação. Como se eu fosse uma peça de gado.

​"Ela é bonita," Dante murmurou, sem tirar os olhos de mim. "Jovem. Sem ligações com o lado sujo dos negócios de seu pai, pelo que investigamos. Uma tela limpa." Ele fez uma pausa, e o silêncio da sala pesou sobre minha garganta. "O que ela pode fazer?"

​Meu pai agarrou minha mão, suas unhas cravando em minha pele. "Ela pode casar com você, Dante. Para selar um acordo. Você não confia em mim, mas você pode confiar no seu nome. Ela será sua... propriedade. Por segurança, por aliança. O que você quiser. A dívida está paga."

​Eu puxei minha mão de volta como se tivesse sido queimada. Não era apenas uma proposta; era uma venda.

​"Eu não vou me casar com ele!" Minha voz saiu aguda, mas firme, lutando contra o tremor. Era a primeira vez que me dirigia a ele.

​Dante me ignorou completamente. Ele se recostou na cadeira, cruzando os braços no peito, o gesto de um rei entediado. "Seu pai está propondo a troca de uma dívida financeira pela sua vida conjugal, senhorita Bianchi. Eu não estou interessado em romance."

​"Eu não estou interessada em ser uma moeda de troca! Eu sou uma pessoa, não um objeto!"

​Sua mandíbula se apertou, e um vislumbre fugaz de algo perigoso cruzou seus olhos frios. O primeiro sinal de que eu o havia irritado.

​"Sua teimosia, senhorita Bianchi, é perigosa," ele disse, a voz ainda baixa, mas agora com uma borda afiada como aço. "E inútil. Seu pai assinou o acordo. Você acha que a lei pode proteger você aqui?" Ele indicou a sala escura com um movimento da cabeça. "Aqui, eu sou a lei."

​Ele se inclinou para frente, apoiando os cotovelos na mesa. Aproximei-me, determinada a fazê-lo me ver como um ser humano.

​"Eu sou uma futura advogada. Eu sei que um contrato sob coação não é válido—"

​Ele riu. Foi um som seco, sem humor, que me arrepiou.

​"Não estou pedindo sua opinião legal, Sofia," ele corrigiu, usando meu nome pela primeira vez. Ele pegou uma caneta Montblanc da mesa, girando-a distraidamente. "Eu estou te dando uma escolha. Você se casa comigo e vive em segurança, sob as regras da minha casa, e seu pai vive. Ou você me desafia, e você e seu pai desaparecem. A dívida será cobrada em sangue e eu terei o prazer de executar a sentença."

​Olhei para o pavor nos olhos de meu pai. Olhei para a indiferença letal de Dante.

​Ele não era o herói de um livro de romance. Ele era um homem que mataria e dormiria em seguida. E eu estava sendo forçada a dormir ao lado dele.

​Engoli a saliva. Minha vida estava acabada.

​"Tudo bem," eu sussurrei, a voz quase sumindo. "Eu me caso com você."

​A caneta de Dante parou de girar. Ele me encarou por um longo momento, avaliando o custo daquela rendição.

​"Bom," ele disse, e aquilo foi a minha sentença final. "Prepare-se para amanhã. Você agora é propriedade da Família Moretti."

Capítulo 2: As Regras da Casa

A Jaula de Ouro

(Ponto de Vista: Sofia Bianchi)

Eu me senti uma boneca manuseada e vestida. Na manhã seguinte, a Família Moretti não perdeu tempo. Meu pai me deixou no apartamento de Dante com um beijo rápido e covarde na testa, parecendo aliviado por ter me vendido.

A viagem para a Mansão Moretti foi silenciosa, feita em um Mercedes blindado com vidros escuros. Eu esperava um bunker no meio do nada, mas a mansão era uma fortaleza discreta na região mais rica de Long Island. Era um palácio de vidro e pedra, frio e moderno, mas com uma arquitetura que gritava "poder antigo".

Quando a porta se abriu, fui recebida não por Dante, mas por um homem grisalho e austero, com a expressão de quem já tinha visto coisas demais. Era Marco, o mordomo. Ele era o rosto da casa, e sua indiferença era quase mais aterrorizante que a raiva aberta.

"A senhorita Bianchi," Marco me cumprimentou, a voz polida. "Seja bem-vinda à sua nova casa. O Capo a espera no escritório."

"Eu não sou a 'senhorita Bianchi'. Eu sou Sofia," corrigi, minha teimosia surgindo como reflexo.

Marco nem piscou. "Sim, senhorita Moretti. Siga-me."

O título me atingiu como um tapa. Moretti. Eu não era mais Sofia Bianchi; eu era uma extensão de Dante.

Fui conduzida por corredores imensos. A casa era impecável, sem nada fora do lugar. Nenhum calor, nenhuma desordem. Uma jaula de ouro perfeitamente limpa.

O escritório de Dante era ainda mais imponente do que onde nos encontramos. Ele estava parado em frente a uma janela que dava para um jardim de inverno, olhando para o nada, como se o mundo externo fosse irrelevante. Ele usava calças sociais e uma camisa preta perigosamente apertada, com os punhos enrolados nos antebraços.

"Você já foi insubordinada com Marco," ele disse sem se virar. "Primeira lição: aqui, você responde ao nome que eu te dou. Você é a esposa do Capo. Você carrega meu nome e meu peso. Não me envergonhe."

Ele se virou, e eu senti a necessidade de dar um passo para trás. A atração era inegável, uma onda fria e perigosa.

"Sua vida, a partir de agora, é definida por regras," ele continuou, caminhando lentamente em minha direção. "Regras que garantem sua segurança e o meu controle."

Ele parou a um braço de distância. Eu me forcei a não desviar o olhar, a mostrar minha teimosia.

"Diga-me," eu o desafiei. "Quais são as minhas regras?"

Dante sorriu, e o sorriso não alcançou seus olhos. Era uma expressão cruel de poder.

"Regra Número Um: Você não sairá desta propriedade sem a minha permissão expressa e a minha escolta. Você pode usar a biblioteca, os jardins internos e o andar principal, mas os cofres e a adega são estritamente proibidos."

"Eu sou uma refém," declarei, tentando não deixar o desespero transparecer.

"Você é uma proteção, Sofia. A diferença é que os reféns são menos bem tratados." Ele ignorou meu protesto.

"Regra Número Dois: Você não falará sobre os negócios da minha Família com ninguém, sob nenhuma circunstância. Você não tem amigos aqui. Você não tem confidentes. Se ouvir algo, engula e esqueça."

Eu mordi o lábio. "E se eu quiser estudar? Minha faculdade de Direito..."

Dante inclinou a cabeça, considerando. "Você pode estudar no escritório que reservamos para você. Mas qualquer correspondência ou aula será monitorada. Sem contato externo. Você já viu o que a curiosidade de seu pai causou."

"Regra Número Três: Você está casada comigo no nome e na aparência. Em público, você é minha, e agirá como tal. Em público, você sorri, me toca, e me defende. Não há brigas, nem olhares de ódio, nem hesitação. Na frente dos nossos, você é leal."

"E no privado?" perguntei, a voz um pouco mais trêmula.

Os olhos de Dante escureceram. Ele estendeu a mão e tocou minha mandíbula, o toque era surpreendentemente suave, mas a intenção era pura possessão.

"No privado, você me odeia à vontade, Sofia. Eu não ligo. Mas não se iluda. Eu a trouxe para esta cama para satisfazer uma dívida, e você será lembrada disso. Nossos encontros serão quando eu quiser, e como eu quiser. E se você quebrar qualquer uma dessas regras," ele apertou levemente a mandíbula, "a dívida de seu pai voltará a ser cobrada, e dessa vez, eu começo com você."

Ele me soltou. O toque frio, de repente, era mais reconfortante que a ausência dele. Ele havia me marcado.

"Eu entendi," murmurei, a cabeça baixa em falsa submissão.

"Não," Dante corrigiu, com a voz baixa e perigosa. "Você não entendeu, Sofia. Você aceitou. Seu quarto está no meu andar. Agora, vá se preparar para o jantar. Você me acompanhará."

Eu me virei, sentindo-me esvaziada, mas estranhamente acesa pela chama da revolta. Ele podia me forçar a casar e a obedecer, mas nunca me forçaria a sentir. Eu sobreviveria à Jaula de Ouro, e no final, ele se arrependeria de ter me trazido para sua vida.

Capítulo 3: O Teste da Matriarca

Lealdade em Exibição

(Ponto de Vista: Sofia Bianchi)

O vestido que Marco havia providenciado era de seda preta, simples e elegante. Mas parecia uma armadura. Eu estava me preparando para uma guerra.

Quando cheguei ao andar de baixo, Dante já me esperava no pé da grande escadaria, impecável em seu terno. Nossos olhos se encontraram, e ele fez um movimento sutil com a cabeça, lembrando-me da Regra Número Três: em público, você me toca e sorri.

Forcei um sorriso que me pareceu mais uma careta e me aproximei. Ele estendeu o braço; hesitei por um momento de teimosia, mas o medo de desagradá-lo superou o orgulho. Coloquei minha mão na dobra do seu cotovelo. A palma dele estava quente e dura, e a proximidade me enviou um choque elétrico incômodo.

"Bom," ele murmurou, quase inaudível, sem sequer olhar para mim. "Você aprende rápido."

O jantar não era um evento social. Era um encontro da Família Moretti, o círculo interno. A mesa era longa, escura, e a atmosfera, pesada.

O primeiro a me encarar foi Salvatore, o Consigliere. Um homem de meia-idade, com olhos alertas e penetrantes, que me analisava com desconfiança total. Se Dante era o Executor, Salvatore era o Cérebro. Ele me saudou com um aceno frio, mas os olhos dele pareciam dizer: Você é a brecha na nossa armadura.

Mas a verdadeira força estava na cabeceira oposta à de Dante.

Eleonora Moretti. A mãe de Dante.

Ela era a imagem da sofisticação italiana, uma mulher de sessenta e poucos anos, vestida com um rigor impecável, o cabelo prateado em um coque perfeito. Seus olhos, de um tom de verde mais claro que os de Dante, examinavam-me como uma cirurgiã antes de um procedimento. Dante podia ser o Capo, mas Eleonora era a Matriarca.

Dante me puxou para a cadeira ao seu lado. Salvatore se sentou à nossa frente.

"Mãe," Dante começou, sua voz mais suave do que eu a havia ouvido até então, mas ainda com aquela autoridade de Capo. "Esta é Sofia. Minha nova esposa."

Eleonora não sorriu. Ela apenas assentiu, e o silêncio que se seguiu foi constrangedor.

"Sofia," ela finalmente disse, sua voz um pouco rouca, mas com dicção perfeita. "Seja bem-vinda. Espero que esteja à altura do que Dante precisa."

O subtexto era claro: espero que você valha a dívida que pagamos por você.

"Eu farei o que for esperado," respondi, levantando meu queixo. Eu me lembrava do meu papel: lealdade e submissão.

Salvatore interveio, mudando o assunto para um problema de contabilidade. Eles estavam discutindo cifras e acordos em códigos que eu entendia perfeitamente graças à minha formação em Direito. E então, acidentalmente, ouvi a menção de um nome: Ricci.

O rival. A Família que estava pressionando os Moretti.

Minha mão tremeu sob a mesa. Dante, sentindo meu movimento, colocou sua mão sobre a minha. Não era um gesto de carinho, mas um aviso silencioso: Regra Número Dois, Sofia. Engula e esqueça.

Eleonora notou a interação. Seus olhos de águia não perderam nada.

"Salvatore, meu filho," Eleonora interrompeu a discussão de negócios, atraindo toda a atenção. "Nossa nova noiva não parece estar se alimentando bem. Você está pálida, Sofia. Na nossa Família, nós zelamos pela saúde. E pela honra."

Ela inclinou a cabeça, me encarando. Era o teste.

"O que você traz para esta mesa, Sofia?" Eleonora perguntou, a pergunta simples, mas o peso da resposta era monumental.

Eu respirei fundo, sentindo o aperto da mão de Dante.

"Eu trago lealdade, senhora Moretti," respondi, olhando diretamente para Eleonora, ignorando a mão de Dante. "Eu fui forçada a estar aqui, mas uma vez que meu juramento é feito, ele não pode ser desfeito. Eu protegerei o nome de Dante, pois ele é o meu único porto seguro agora. E," adicionei, olhando rapidamente para Dante e depois de volta para Eleonora, "eu sou obstinada. Eu aprendo rápido. E farei o que for preciso para sobreviver."

Um pequeno, quase imperceptível, sorriso surgiu no canto da boca de Eleonora.

"Interessante," ela murmurou.

Dante retirou sua mão da minha, e eu percebi que ele estava segurando a respiração. A resposta não o agradou totalmente (eu o desafiei ao olhar para Eleonora), mas me manteve viva aos olhos da Matriarca.

O jantar prosseguiu. Eu havia passado no primeiro teste de Eleonora, mas o custo era alto: eu tive que engolir minha aversão e jurar lealdade a um homem que eu odiava. Eu era, de fato, a lealdade em exibição de Dante.

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