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UMA HISTÓRIA NO MORRO

primeiro

O sol das dez da manhã já era uma fornalha sobre a laje do Complexo. Mas o calor que apertava o peito de Angel nada tinha a ver com o clima. Tinha nome, título, e um vulgo que era um atestado de perigo: Lúcifer.

​Angel se encolheu ligeiramente atrás da caixa d'água, um ponto de observação discreto de onde podia acompanhar a movimentação do pátio principal. Ali estava ele, Dante, o Dono do Alemão. Não era mais o garoto que a ensinara a subir nos telhados; era o homem que irradiava o poder sombrio de um império.

​Quando Lúcifer se movia, o Morro se dobrava. A camisa preta sem mangas realçava o desenho dos braços, e o silêncio respeitoso que se abria ao seu redor era mais eloquente que qualquer grito de guerra.

​Anjo sabia que o amava com a intensidade de quem cresceu à sombra dele. Ela era a filha do "Sub", uma joia respeitada da comunidade. Mas para Dante, ela sentia ser apenas um troféu a ser guardado, um item da antiga gestão.

​"Por que você me chama de Anjo e me trata como irmã?" Angel sussurrou para o vento, observando-o gesticular ordens secas para seus homens.

​Ele olhou em sua direção. O movimento foi rápido, mas o suficiente para que Angel recuasse, o coração disparando. Ele não a viu; estava apenas verificando o perímetro. No entanto, ela sentiu o peso do olhar gélido.

​Dante deu dois passos em direção à viela, e seu olhar finalmente a encontrou.

​Seus olhos de Angel imploravam: Me veja. Não sou uma menina. Eu não sou sua irmã.

​Dante, Lúcifer, apenas acenou com a cabeça. Um gesto rápido, de quem confirma que a mercadoria está segura no lugar.

​Ele não sorriu. Não piscou. E, então, ele proferiu a palavra que era sua condenação:

​— Está tudo certo, Anjo. Fica na paz.

​[MUDANÇA DE FOCO: O Segredo de Lúcifer]

​Aquele apelido era a mentira mais elaborada que Dante já tinha construído.

​Assim que virou as costas para Angel, Lúcifer sentiu a espinha queimar. Era sempre assim. Um segundo de contato e ele precisava de toda a força do vulgo que lhe deram para não explodir. Anjo. O oposto de tudo o que ele era. O oposto do que ele sentia.

​A verdade era que o amor que ele tinha por Angel não era fraterno, era uma obsessão avassaladora, um fogo que ele escondia sob a frieza do líder.

​Ela é do Morro. Ela é intocável. Ela é minha responsabilidade, ele repetiu como um mantra,

andando rápido para a reunião no barracão.

Ele a chamava de Anjo para que todos soubessem que ela era um ser de luz que não devia ser tocado, nem mesmo por ele. A armadura era para Angel, mas a prisão era para si mesmo.

​Dante encostou na porta do barracão, o barulho da favela sumindo. Ele respirou fundo, tentando apagar o cheiro de sabonete e jasmim que ela deixava no ar.

​— Entre, Lúcifer — a voz de um dos seus homens o chamou.

​Ele fechou os olhos por um instante. Não era o capeta. Mas ele era o Lúcifer do inferno particular que era amá-la em segredo.

​Ele abriu a porta e entrou, o olhar vazio e letal.

segundo

anjo estava no seu quarto com Bella a irmã de dante planejando como faria para chamar sua atenção

O plano era simples: desobedecer. Mostrar a Dante que ela não precisava de proteção e que não ficaria presa em casa.

​— Eu vou à Baixa — Angel decidiu. — E o Biel vai estar lá.

​Bella arregalou os olhos. Biel era um garoto de dezessete anos, vizinho e amigo de Angel, mas a menção dele era como acender um fusível.

​— O Dante odeia o Biel! Por que o Biel?

​— Porque o ódio dele vai me obrigar a sair do papel de criança. É a única coisa que o tira do sério, Bella. O ciúme.

Dante (Lúcifer) estava na base, mas a cabeça estava em outro lugar. A tensão pela carga desaparecida era secundária. A prioridade era manter a Anjo fora de sua mente e de seu caminho. Ele lutava contra o amor que sentia, mas a inocência e a juventude dela (os quinze anos) eram o seu próprio inferno.

​O rádio estava ligado no canal de monitoramento, e a voz seca de um vigia destruiu sua concentração.

​— Dono, Angel tá na Baixa. Com o Biel.

​Dante congelou. Biel. O garoto que o olhava com uma audácia juvenil, cobiçando o que era proibido. A fúria foi imediata, violenta, cega. Ele não era mais o líder. Era apenas um homem consumido pelo ciúme.

​Ele pegou a chave do carro, ignorando os apelos de seus homens.

O Morro podia esperar. A sua protegida não.

A música pulsava na Baixa, e a luz fraca dos postes dava um ar de liberdade que Angel ansiava. Ela estava rindo, os braços em volta do pescoço de Biel, enquanto ele contava uma piada estúpida. Ela sentia-se viva, agindo como a adolescente que ela era.

​De repente, a música pareceu cortar. Um silêncio gélido desceu sobre a rua.

​Dante irrompeu na multidão como um predador. Ele estava com o rosto distorcido pela raiva, e o ar ao seu redor cheirava a perigo puro.

​— ANGEL!

​Angel se virou, o sorriso morrendo em seu rosto. O olhar de Dante não era de repreensão, era de possessão.

—Quem te deu permissão para estar aqui?! E com quem?!

​— Eu não preciso de permissão, Dante! Eu tenho quinze anos, não cinco! O Biel é meu amigo!

​A palavra amigo e a audácia dela apenas alimentaram a fúria dele. O ciúme explodiu a barreira do Dono.

​— Amigo?! Eu te avisei, Angel! Ninguém te toca! Você é minha!

​Ele a puxou para si, a proximidade chocante. Angel sentiu o calor dele, o cheiro de suor e poder. Seus olhos se encontraram, e o que ela viu por baixo da raiva era um desejo que a fez prender a respiração. Era o fogo de Lúcifer que ela sempre suspeitou queimar.

ela olhava nos olhos dele sem saber o que falar afinal ela sempre sonhou com ele confessando o amor por ela, mas ela sabia que ele não a amava, era possessão não amor

terceiro

O tumulto era inevitável. E a chegada de Eduardo (o Sub) e Bella foi o único freio de mão que puxou Dante da beira do precipício.

​— Lúcifer! O que está havendo aqui?! — Eduardo se aproximou, vendo o chefe no limite do controle com a irmã.

​Dante soltou Angel bruscamente, a confissão da palavra "minha" ainda pairando no ar. Ele se virou para Eduardo, o olhar voltando a ser profissionalmente letal.

​— Acontece, Eduardo, que a sua irmã está desobedecendo minhas ordens. E eu não vou tolerar a exposição da minha responsabilidade!

​Ele esmagou a verdade com a mentira da hierarquia.

​— Leve-a para casa! E diga a esse moleque... — Dante olhou para Biel com um ódio que não era fingido. — Que ele é um homem morto se chegar perto de você novamente!

​Eduardo olhou para a irmã, depois para o chefe. Ele pegou Angel pelo braço.

​— Vamos, Anjo. Você cruzou a linha.

​Angel permitiu que Eduardo a levasse, mas não sem antes olhar por cima do ombro. Dante estava ali, o Lúcifer derrotado e vitorioso. Ele tinha agido como o Dono, mas tinha falado como o amante.

​O jogo tinha mudado. O ciúme dele era real. E agora, Anjo tinha certeza de que a maior ameaça à sua inocência não era o tráfico, mas sim o homem que a amava em segredo.

​A viagem da Baixa até a casa do antigo Sub foi feita no silêncio pesado da repreensão. Eduardo estava furioso, não como irmão, mas como o Sub que precisava manter a ordem do Dono.

​— Você ultrapassou todos os limites, Anjo — ele finalmente quebrou o silêncio, a voz baixa, mas tensa. — O Dante, o Dono, ele te trata com luvas. Ele não quer você envolvida, porra! E você o desrespeita na frente de todos, com aquele moleque…

​Angel, calada no banco ao lado, apenas observava as vielas passando. Ela não sentia medo do irmão. Sentia uma euforia perigosa.

​— Eu estava entediada, Eduardo. Você e o Dante me trancam.

​— A gente te protege! — O Sub socou o volante de leve. — Você é a Anjo. A irmã do Sub, a protegida do Lúcifer! Você não percebe o alvo que você é?!

​O alvo que você é. A palavra de Eduardo era o espelho das ordens de Dante, mas Angel só conseguia ouvir o rosnado possessivo na Baixa:

"Você é minha!"

​Ao chegarem em casa, Eduardo a encarou.

​— Não saia. O Dante vai te chamar para conversar. E quando o Lúcifer chama, não é para te dar parabéns.

Menos de dez minutos depois de Eduardo se trancar no escritório para ligar para a base, Bella já estava na porta do quarto de Angel, ofegante.

​— Puta que pariu, Anjo! Eu pensei que ele ia atirar no Biel!

​— Ele quase atirou em mim — Angel corrigiu, os olhos de quinze anos brilhando com uma mistura de susto e triunfo.

​Bella caiu na cama, os olhos arregalados.

​— Não. Você não viu. Eu vi o Dante de um jeito que nunca vi antes. Aquele não era o Lúcifer estressado, Angel. Era o homem com ciúme cego.

​— Ele disse que eu era a "responsabilidade dele" na frente do Eduardo — Angel sussurrou, testando a mentira.

​— Sim, mas antes ele disse que você era "dele"! Eu ouvi! O seu Dante te ama, Angel. De um jeito doentio e proibido, mas ele te ama. A máscara dele rachou.

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