O cheiro de café expresso coado, o aroma familiar de Roma que Manuela tinha adotado como seu, subia pelo apartamento simples. Manuela Ferrari, vestida com seu uniforme de enfermeira, olhava pela janela. O sol da manhã banhava os telhados de terracota e as ruas estreitas, mas seu olhar estava fixo no Brasil, cinco anos atrás, quando perdeu seu marido e pai de sua filha. Mudar-se para a Itália, onde ela e Alice recebiam auxílio-viúva e onde Manuela rapidamente conseguiu um emprego no hospital, tinha sido a decisão mais difícil e necessária de sua vida.
Enquanto a chaleira apitava, o despertador de Alice tocava.
6:00 horas da manhã
Manuela sorriu, balançando a cabeça. Alice no último ano do ensino médio era uma batalha diária.
O som do despertador ⏰ é impiedoso.
na hora que Alice ia desligar e dormir de novo 🥺
Manu entra
Manuela Ferrari: *abre a porta* Alice, figlia mia, levanta, senão você vai se atrasar. E hoje é segunda-feira, último ano.
Alice Ferrari: *falo com os olhos fechados ainda* Mamma, me deixa faltar hoje, por favor. Juro que compenso.
Manuela Ferrari: Nada disso. Você já faltou semana passada. Estamos no último ano, e você precisa focar. E eu preciso que você tome um café da manhã decente.
Manuela Ferrari: Levanta, se arruma e desce pra tomar café.
Manuela Ferrari: É uma ordem. Vai! *saio do quarto*
Alice Ferrari: *me levanto e vou ao banheiro, murmurando* Ótimo último ano. Forza, Alice, aguenta esse último ano.
6:30
Alice desceu e viu Manuela na cozinha, preparando sua lancheira e a própria refeição para o hospital.
Alice Ferrari: *indo em direção a cozinha* Não entendo o porquê eu tenho que levantar tão cedo, sendo que a primeira aula é só às 7:00 e a escola é dez minutos daqui de casa.
Manuela Ferrari: Pra dar tempo de você se arrumar e tomar café, Alice. Eu estou saindo para o hospital agora.
Alice Ferrari: Eu não gosto de tomar café de manhã * falo revirando os olhos *
Manuela Ferrari: Mais você vai comer. Nem que seja uma fruta. Não quero você passando mal de novo, como naquele dia. E você sabe muito bem que não foi a falta de comida que te fez passar mal.
Alice Ferrari: Você sabe muito bem porque eu passei mal. Não vamos falar disso agora.
Alice pegou uma maçã sobre a bancada, olhando para a porta com pressa.
Alice Ferrari: Tchau, eu já estou indo *pego uma maçã e saio*
Manuela suspirou, pegando as chaves do carro. Ela sabia que o desconforto de Alice era por causa do último encontro que teve com a irmã de Giovanna, a empresária. O jeito que aquela mulher olhava para sua filha lhe dava arrepios.
6:50
Alice Ferrari: *na porta da escola* Último ano, a quem eu quero enganar. Queria estar na cama.
De repente, dois braços fortes a envolveram por trás, e um perfume familiar a atingiu.
Giovanna Bianchi: *abraço Alice por trás* Buongiorno (bom dia). Pensei que não ia te encontrar.
Alice Ferrari: Giovanna, você chegou! Ufa. Pensei que teria que entrar sozinha no inferno.
Giovanna Bianchi: Che fai qui così presto? (O que você faz aqui tão cedo?) Você nem ama a escola, eu sei. E a gente tem que ir lá na lanchonete pegar uns doces da minha mãe pra gente antes da aula.
Alice Ferrari: Acontece que é o último ano, então passei a amar. Vem, vamos entrar, biscotto (biscoito) kkkk.
As duas começaram a caminhar para dentro, mas Alice parou de repente. Estacionado do outro lado da rua, estava um carro esportivo preto brilhante, impossível de ignorar.
Alice Ferrari: Gi, o carro... é...
Giovanna Bianchi: Sim. É o carro dela. Minha irmã. Perché?
Alice Ferrari: Por que ela está aqui? A essa hora?
Giovanna Bianchi: Não sei, Alice. Ela deve ter vindo me trazer alguma coisa...
O vidro escuro do carro desceu lentamente. Ali, no banco do motorista, estava a irmã de Giovanna, a empresária: Valentina Bianchi. Seus olhos encontraram os de Alice, e um sorriso lento e predador surgiu em seus lábios.
Valentina Bianchi: Buongiorno, Alice. Que surpresa agradável te ver tão... disposta hoje.
O sorriso de Valentina Bianchi era lento, calculado, e fazia o estômago de Alice dar um nó. Alice sentia o olhar dela como um peso, mas reagiu com uma frieza forçada.
Alice Ferrari: Que surpresa você ter tempo para a nossa disposição matinal, Alice respondeu, a voz perigosamente neutra.
Valentina riu, um som baixo e poderoso. Ela usou a desculpa de entregar documentos sobre o novo projeto de reforma de sonhos à Giovanna, mas estava ali apenas para afirmar sua presença e incomodar Alice.
Giovanna deu um passo à frente, entrando no modo protetor e se interpondo sutilmente.
Giovanna Bianchi: Você não tem uma empresa para gerenciar, Val?
Valentina Bianchi: Tenho sim, mas perder essa oportunidade de observar o rostinho angelical da sua amiguinha, eu não perco por nada.
Seu olhar fixo em Alice era quase predatório.
Giovanna apenas revirou os olhos.
Giovanna Bianchi. Já peguei os documentos. Você está atrasada para o seu jet-set matinal.
Valentina lançou um último olhar carregado de significado para Alice antes de acelerar e partir, deixando Alice visivelmente abalada.
As meninas caminharam para dentro. A tensão diminuiu um pouco assim que se misturaram à multidão de estudantes. Elas se dirigiram à lanchonete da escola e começaram a falar sobre a obsessão de Valentina.
Alice confessou estar cansada de ter que desviar e rejeitar as investidas persistentes da empresária.
Giovanna, embora amasse a irmã, era sincera sobre o quanto Valentina podia ser teimosa, egocêntrica e mal-educada.
Giovanna Bianchi: Calma, Lice. Se você ficar ligando para o que minha irmã fala, vai acabar perdendo a cabeça.
Nessa última frase, Bernardo estava passando por ali na lanchonete, pegando uma garrafa de água. Ele viu a conversa das melhores amigas e parou.
Bernardo Mendoza: Eu ouvi bem? Valentina continua insistindo na amada inacessível dela?
Alice lançou um olhar mortal para o amigo, sentindo o rubor subir ao rosto.
Alice Ferrari: Gente, eu não quero mais saber dessa história. Vamos entrar!
Giovanna se entreolhou com o amigo e concordou. As duas saíram apressadamente da lanchonete e foram direto para a sala de aula.
A primeira aula era de História, a aula que Alice mais odiava.
...ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ...
Enquanto isso, o dia de Manuela não estava sendo diferente.
Manuela Ferrari estava imersa em sua rotina de enfermeira, checando a pressão arterial de um paciente no Hospital San Filippo Neri. O cheiro de álcool e desinfetante era o substituto menos charmoso para o café expresso que ela não teve tempo de tomar.
Ela tentava se concentrar nas tabelas, mas a imagem de Alice, apressada e visivelmente tensa ao revirar os olhos para o café da manhã, teimava em voltar. Não era apenas o último ano que a incomodava, era o último encontro que a filha tivera.
Manuela Ferrari: — Maledizione. — ela murmurou, a palavra italiana escapando com um suspiro.
— Tudo bem, Manu? — perguntou a colega e amiga, Patrizia, ajustando seu oxímetro.
Patrizia: — Você está com a testa franzida. Problemas com a ragazza?
Manuela Ferrari: — Com a ragazza e com o dinheiro, — Manuela respondeu, tentando sorrir, mas a preocupação era palpável. — Ela está no último ano, e os pais dos amigos dela estão falando de faculdades caras.
Patrizia: — Ah! isso é uma pressão, eu sei. Mas a Alice é inteligente, ela consegue bolsas.
Manuela assentiu, mas seu pensamento se desviou para outra coisa, a coisa que a fizera sair de casa com o coração apertado.
Manuela Ferrari: — A propósito, você viu o novo artigo do Roma Oggi? Aquele sobre... a Valentina Bianchi?
Patrizia revirou os olhos com entusiasmo.
Patrizia: — Como não ver? Ela está reformando um dos hotéis mais antigos do Trastevere. A imprensa adora os (Bianchi). São ricas, bonitas e... complicadas.
Manuela Ferrari: — Eu não confio nela, — disse Manuela, a voz um pouco mais dura do que pretendia. — Ela tem essa reputação... egocêntrica, como você diz. E ela tem se aproximado de Alice.
Patrizia a olhou, percebendo a mudança repentina de humor.
Patrizia: — Espera, a Valentina Bianchi, a empresária, está... interessada na Alice?
Manuela assentiu lentamente.
Manuela Ferrari: — Ela já deu uma carona para ela. E depois tentou ligar para a Alice. Minha filha está desconfortável. Eu sinto. O jeito que aquela mulher olha para ela.
Patrizia a encarou, o tom de fofoca divertida desaparecendo e sendo substituído por um lampejo de empatia.
Patrizia: — Manu, ela é uma Bianchi. Eles conseguem o que querem. E ela é conhecida por ser... predadora. Você precisa ter cuidado, especialmente por a Alice ser..... ela é muito pura para esse tipo de jogo.
Manuela Ferrari: — Eu sei. E eu não sei como protegê-la sem sufocá-la. É o tipo de mulher que a Alice nunca entenderia.
Manuela voltou a se concentrar em seu trabalho, mas a conversa apenas reforçou o que ela mais temia: o mundo de Valentina Bianchi era perigoso, e estava se aproximando demais da única coisa que importava: sua filha.
......................
O Telefone Toca
Manuela estava prestes a finalizar seu turno e revisar os medicamentos de um novo paciente. Ela tirou a luva e pegou o celular para checar as horas. Havia uma notificação de uma chamada perdida de um número desconhecido, que ela ignorou.
Segundos depois, o telefone tocou de novo. Manuela hesitou. Ninguém que não fosse do hospital ligava para ela durante o horário de trabalho.
Ela atendeu, a voz baixa e profissional.
Manuela Ferrari: — Pronto? Manuela Ferrari.
A voz do outro lado era grave, com um sotaque romano distinto e um tom de autoridade que não pedia permissão. O sangue de Manuela gelou. Ela se afastou da mesa, indo para um canto mais reservado. O prazer de Valentina era o oposto do seu.
Valentina Bianchi: — Dottoressa Ferrari. Que prazer encontrá-la! É Valentina Bianchi.
Manuela Ferrari: — Sra. Bianchi, porque a ligação? Algum problema com Giovanna ou Alice?
Valentina Bianchi: — Nada que Giovanna possa resolver, Manuela. Eu preciso falar com você sobre um assunto profissional urgente. Sei que este não é o ambiente ideal, mas tenho uma proposta de negócios muito séria para discutir, e ela envolve o futuro da sua filha. E, francamente, a sua situação também me preocupa.
O estômago de Manuela se revirou. Como Valentina sabia da situação dela?
Manuela Ferrari: — Não temos nenhum negócio, sra. Bianchi, — Manuela conseguiu responder, a voz tensa. — E o futuro de Alice é um assunto meu.
Valentina Bianchi: — Tem certeza? Pense bem. Posso fazer com que Alice entre na universidade que você sempre sonhou para ela, sem que você precise se preocupar com o seu auxílio ou com turnos duplos, Dottoressa. Meu escritório amanhã? Às dez da manhã. Podemos chamar isso de 'uma conversa sobre oportunidades'.
Valentina não esperou a resposta. Ela apenas disse um seco "A presto" (Até breve) e desligou.
Manuela ficou ali, o telefone na mão, a testa mais franzida do que nunca. Ela não tinha certeza se sentia mais raiva, medo ou humilhação. Mas uma coisa era clara: Valentina Bianchi havia declarado guerra, e Alice era o prêmio.
Giovanna Bianchi: — Não desista, lice. Nós iremos dar um jeito. Você merece mais do que ter que se preocupar com dinheiro. Você merece a universidade que você quiser.
O apoio de Giovanna era a âncora de Alice, mas, naquele momento, as palavras soaram ocas. O futuro parecia uma porta trancada, e Alice sabia que precisaria de mais do que a boa vontade da amiga para abri-la.
Giovanna, percebendo o humor pesado, decidiu mudar o foco para algo mais leve e familiar.
Giovanna Bianchi: — Aliás, mudando de assunto sério... Sábado! Você não vai me dar o bolo, não é? O jantar na minha casa.
Alice Ferrari: — Jantar? Ah! Gi, não sei... Sabe como é, a mamma está cansada. E eu ainda tenho que ver essas bolsas…
Giovanna Bianchi: — Nada disso! A Teresa Bianchi (minha mãe) fez você prometer. E, olha, a tia Manuela já confirmou a presença. E o Bernardo também vai! Minha mãe precisa de você lá.
Alice Ferrari: — Precisa? O que está acontecendo? O jantar é por algum motivo especial?
Giovanna sorriu, um sorriso estranhamente feliz, mas com um toque de alívio.
Giovanna Bianchi: — É uma comemoração. Minha mãe finalizou o divórcio com o papá.
Alice Ferrari: — O quê?! Mas... como assim? Seu pai é o Carlos Bianchi, dono daquela marca de carros, certo? Pensei que vocês fossem…
Giovanna Bianchi: — Fôssemos o que? O casal-modelo de Roma? Não. Eles se separaram amigavelmente. Sem drama, sem brigas. Vão continuar sócios nos negócios,
Mas não são mais marido e mulher. Meu pai vai continuar rico e minha mãe está comemorando a liberdade. Ela disse que precisa dos "seus amores" por perto. E você e sua mãe são da família.
Alice piscou, surpresa com a naturalidade com que Giovanna falava de um divórcio milionário. Era mais uma evidência do abismo entre as realidades delas: enquanto Manuela lutava por um auxílio de viúva, Teresa celebrava uma separação de forma festiva e cordial.
Alice Ferrari: — Uau. Bem, se a mamma confirmou, acredito que não tenho muita escolha, não é?
Giovanna Bianchi: — Perfeito! Você não pode faltar. Minha mãe está preparando tudo. Só espero que a Valentina não estrague a noite com algum discurso corporativo insuportável.
Ao ouvir o nome de Valentina, Alice sentiu um arrepio. A empresária estaria no jantar? Seria ela capaz de usar a própria casa da família para alguma nova investida?
Alice Ferrari: — A Valentina vai estar lá?
Giovanna Bianchi: — Claro, ela é filha também. Por quê? Não me diga que isso vai te fazer desistir!
Alice Ferrari: — Não. — Alice engoliu em seco. A ideia de passar a noite na mansão Bianchi sob o olhar da empresária era desagradável, mas o olhar determinado da mãe em confirmar a presença dizia algo. — Eu vou. Mas só porque a sua mãe me chamou.
Giovanna a abraçou com força, feliz.
Giovanna Bianchi: — lo sapevo! (Eu sabia!). Sábado à noite, então. Vista algo lindo.
Alice forçou um sorriso, mas a preocupação não era mais sobre o vestido. Ela havia acabado de concordar em entrar, voluntariamente, no covil da mulher que parecia cada vez mais determinada a controlá-la.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!